Dezasseis golos marcados - mais nove do que o FC Porto, mais 11 do que o Benfica. Só dois sofridos.
Gyökeres já no comando dos artilheiros: meteu-a sete vezes, sem cerimónia, no fundo das redes adversárias. Pedro Gonçalves, rei das assistências: três.
Lampiões a cinco pontos, na sétima posição.
Andrades a três pontos, no segundo posto.
Seguimos no topo, agora isolados. Rumo ao bicampeonato.
Disputadas as três primeiras jornadas da Liga 2024/2025, e mesmo tendo jogado duas destas partidas fora de casa, o Sporting segue no topo da classificação, invicto. Com números concludentes: três vitórias, 14 golos marcados, só dois sofridos.
Vocês, não sei o que pensam. Mas este é o nosso melhor início de campeonato de que me lembro.
O mês de Agosto tinha o número de Viktor nas costas, quando começou o campeonato. Começou bem.
Quatro golos de bola corrida [o contrário de bola parada, expressão em futebolês utilizada para penalties, livres, cantos e lançamentos da linha lateral. Em boa verdade, não há golos de bola parada, tem de existir movimento para a bola entrar na baliza] um jogo sem casos, se excluirmos os agarrões e a pancada que jogo após jogo vitima o sueco, sem isso teria sido uma arbitragem perfeita sem faltas nem faltinhas, a deixar jogar. Da noite no Alvalade temos de sublinhar o segundo golo de Pedro Gonçalves, parece fácil, imagino o Roberto Martinez a dizer: "isso até eu fazia". "Fazias, fazias, Roberto".
Logo no dia seguinte voltaram as arbitragens a que estamos habituados, as duas equipas da cidade do Porto beneficiaram de três penalties e da expulsão de um adversário, as equipas de arbitragem que apitaram FC Porto e Boavista mostraram boa forma e um entrosamento notável. No mesmo dia, na Vila das Aves a equipa de Vila Franca de Xira empatou com o Nacional da Madeira.
O domingo seria sorridente, Sorriso alegrou todos os desportistas excepto os benfiquistas. Em Famalicão houve ainda outro motivo para sorrir, dois sorrisos a zero, portanto. No Estoril a única equipa dos Açores goleou embora, a exemplo das equipas da cidade do Macaco, tenha beneficiado de um penalty. Farense e Braga seriam as grandes desilusões da jornada, os algarvios foram derrotados, vítimas de uma bola parada, apesar do Moreirense ter jogado com menos um quase toda a segunda parte. O Benfica do Minho começa o campeonato a empatar e a despedir o treinador (o Benfica de Benfica não deve demorar a fazer o mesmo, dispensar o "mister").
Ontem foi jogado o Arouca com o Vitória e aí aconteceu a grande surpresa da jornada e, provavelmente, do campeonato, o "ex-futuro melhor avançado português de sempre", Nélson Oliveira, marcou um golo.
Doze golos para os visitados, onze golos para os visitantes, dois penalties e uma expulsão a beneficiar o FC Porto e dois sorrisos que apagaram a Luz, eis o resumo desta jornada.
Nenhuma derrota me faz abalar a crença nem a profunda convicção de que temos a melhor equipa de futebol em Portugal e o melhor treinador de futebol em Portugal.
Há 12 anos seguidos que recebo neste blogue visitas de leitores sempre a profetizarem o pior, sempre a acreditarem mais nos outros emblemas do que nos nossos, sempre a evidenciarem pessimismo militante.
Estive, estou e estarei do lado oposto. Do lado da fé inabalável no Sporting.
Mesmo quando batemos no fundo, há seis anos, não demorámos muito a voltar à tona. Como os factos comprovam.
E nunca uma derrota no primeiro jogo oficial da temporada - como desta vez aconteceu - me levará alguma vez a concluir, logo no início de Agosto, que a época inteira está condenada. Nem pensar nisso.
Dizia algures uma das viúvas carpideiras que "... é visível o definhar do Clube a nível social, desportivo e agora também identitário…" Visível pode ser, com que olhos é que não sei.
Eu, com os dois olhos que Deus me deu, vejo uma coisa completamente diferente em Alvalade e no João Rocha. Um clube rejuvenescido e pujante, um estádio com as suas limitações estruturais e regulamentares que se tornou pequeno para albergar todos os interessados, qualquer camisola nova que saia é êxito imediato de vendas e esta do equipamento principal é mesmo uma delas, arranjar bilhetes para os jogos fora tornou-se missão quase impossível, os núcleos desesperam por bilhetes, a corrida ao site é impressionante.
No futebol a época arrancou como sabemos. No futebol feminino manteve-se a liderança, perdeu-se a principal figura mas reforçou-se o plantel. No futsal continuamos no topo nacional, tal como no andebol. No voleibol reforçámos uma equipa que ficou muito perto do título no ano passado. No hóquei mantemos a bitola. No basquetebol, de novo com o prof. Luis Magalhães, vamos voltar ao que já fomos com ele. No voleibol feminino vamos ver em que resulta a mudança de ciclo. E depois todas as outras modalidades, a academia de Alcochete e os seus satélites cada vez mais organizados e estruturados, muito Sporting em movimento.
No estádio de Alvalade é visível o trabalho em curso para melhorar dentro do possível uma infra-estrutura com imensas limitações e "taveiradas" inacreditáveis. Na minha zona os WCs masculinos até já têm uma rampinha de acesso para ninguém partir nada ao sair, infelizmente as senhoras foram deixadas à sua sorte e à melhor atenção com o degrau. Os painéis de TV foram retirados e espero que não voltem para aquele local. As "calhas técnicas", ou seja, os cabos das transmissões a passar pelas bancadas abaixo a céu aberto e as tampas metálicas desaparecidas lá continuam.
Entretanto a nova urbanização adjacente está cada vez mais imponente e ameaça engolir o estádio em termos de acessibilidades. Estou para saber como se fará o escoamento automóvel de todos aqueles estacionamentos, se calhar para uma passagem de peões como continua a ser o caso do estádio. A escadaria e as "casinhas" de duas das claques irão desaparecer com as obras, oxalá desaparecessem também do estádio os pirotécnicos da JuveLeo que causaram cenas de pancadaria na curva sul que obrigaram à intervenção do corpo de intervenção da PSP no último jogo.
O campeonato recomeçou, o grande super hiper-candidato Benfica com muita sorte à mistura passou ao lado duma cabazada em Famalicão, enquanto o Porto lá cavou mais dois penáltis, e o Sporting fez uma excelente primeira parte em Alvalade. O primeiro golo é mesmo uma obra-prima colectiva, do melhor que o Sporting conseguiu nos últimos anos.
O Sporting é mesmo um clube a definhar. Volta, Bruno, para nos salvares. Ou então manda o Inácio.
Guarda-redes: Kovacevic já demonstrou qualidades na posição, bom no jogo com os pés, assertivo no jogo aéreo, talvez Israel melhor entre os postes. Aqui a questão não é tanto a diferença de qualidade entre os dois, é a diferença de qualidade entre qualquer deles e os melhores guarda-redes da nossa Liga, Diogo Costa e Trubin. Deveria ter vindo um novo Adán, como De Gea ou um Kasper Schmeichel? Talvez.
Defesas: Debast-Diomande-Inácio fazem um trio jovem de muita qualidade mas falho de maturidade e os erros de posicionamento ou de intervenção começam a acontecer e a dar golos aos adversários. Quaresma, St.Juste e Muniz garantem a necessária rotação e adaptação às caracteristicas dos adversários. Matheus Reis pode ser mais um defesa em caso de necessidade. Os pontos fortes e fracos dos que transitam de época já os conhecemos. Do Debast vamos conhecer. Falta um novo Coates para o centro da defesa ou Diomande vai dar conta do recado? E a CAN e o Ramadão?
Alas: Com a aposta em jogadores, normalmente extremos de formação, "de pé trocado" nas duas posições, já não se pode falar em alas direitos e esquerdos, o melhor é mesmo falar em dextros, Fresneda, e canhotos, Nuno Santos, Matheus Reis, Catamo e Quenda. No meu entender um ala fora do seu lado "natural" estará sempre mais desconfortável a defender, e até sujeito a cometer disparates graves como aconteceu com Catamo no Jamor, mas ganha imprevisibilidade no ataque. Como é uma posição de alto desgaste, quase sempre entram quatro alas em cada jogo, ficamos com cinco jogadores para quatro lugares. Fresneda ameaça tornar-se num novo Vinagre, e então à esquerda não rende nadinha nem a atacar nem a defender. Faria sentido "trocá-lo" por um jogador dextro mais experiente tipo Matheus Reis? Acho que sim.
Médios: Morita e Hjulmand defendem, organizam e atacam, Bragança e Mateus Fernandes basicamente atacam. Hjulmand é alto, mete o corpo, rouba a bola, os outros são baixinhos de "metro e meio". Metem o pé e é falta. Penso que é por demais evidente a falta dum outro Hjulmand no plantel. Podia ser Tanlongo ou Essugo esse outro Hjulmand? Talvez, mas não parece ser essa a decisão do Amorim.
Interiores: Aqui a questão do "pé contrário" é essencial pela zona do terreno que ocupam, à semelhança dos laterais do andebol. O dextro Pedro Gonçalves e os canhotos Trincão e Edwards já demonstraram a sua qualidade, em golos e assistências. Falta aqui mais alguém preferivelmente dextro, sendo que Mateus Fernandes pode muito bem avançar no terreno e fazer o papel de Pedro Gonçalves. Se Edwards sair, e ele fez uma excelente primeira volta na época passada, então mais ainda.
Pontas de lança: Gyökeres está na calha para o seu melhor, Rodrigo Ribeiro mostra evolução, mas continua a faltar o substituto do Paulinho.
Além desta análise posição a posição, convém olharmos para as competências da equipa como um todo, nomeadamente intensidade nos 90 minutos do jogo, capacidade de choque, jogo aéreo, remate frontal de meia-distância, conversão de livres directos, definição dos lances ofensivos, eficácia goleadora. Aquelas que me parecem mais problemáticas para já são mesmo as duas primeiras.
Disse Amorim: "Até na mesa das refeições é difícil olhar e ver a perda das referências. A média de idades baixou e isso também é entusiasmante. O importante é não sair mais gente. Nem sempre conseguimos, mas temos um plano."
Tudo certo.
Mas qual é o plano afinal? Ioannidis e já está?
Porque foram contratados Pontelo e Koindredi no ultimo mercado de inverno, se vieram com o perfil certo para posições carenciadas e agora já não contam? Erros de casting?
Porque não contar, em regime de empréstimo dum grande clube europeu, um ou dois jogadores experientes tipo Sarabia para dar resposta às carências mais óbvias do plantel nesta temporada tremendamente exigente?
De começar o campeonato com o pé direito. Estreia absoluta do Sporting a abrir a Liga 2024/2025. Em casa, com excelente ambiente, com mais de 38 mil sócios e adeptos demonstrando toda a confiança na equipa sob o competente comando de Rúben Amorim. Resultado muito positivo: vencemos o Rio Ave por 3-1 e demos espectáculo, sobretudo num primeiro tempo de elevadíssima qualidade. Temos equipa.
De Gyökeres. Começa a nova época com o mesmo fulgor revelado no início da anterior, conquistando a massa adepta leonina logo aos primeiros toques. Foi o dínamo da equipa. Assiste para Pedro Gonçalves brilhar no primeiro golo e aos 63' marca o terceiro concluindo o que Trincão iniciara num remate desviado pela defesa rioavista. Aos 46', mal soara o apito para o recomeço, fez a bola bater na trave. Esteve muito perto de bisar aos 73'.
De Pedro Gonçalves. Pela terceira vez nos últimos cinco campeonatos foi dele o golo inaugural da prova máxima do futebol português. Fez o gosto ao pé logo aos 6', concluindo com irrepreensível técnica um belo lance ofensivo com assistência de Gyökeres. Podia ter repetido a dose aos 21', também com o sueco a servi-lo. Aos 26', atento, recupera a bola após oferta desastrada do guardião Jhonatan e dá-lhe grande finalização num remate em arco para a gaveta. Não foi chapéu, foi cartola: assim surgia o 2-0. Está imparável. acaba de conseguir o 17.º bis da sua carreira. Melhor em campo.
De Quenda. Estreia em casa, num jogo oficial da equipa A, da atracção máxima da formação leonina - arma já não secreta do treinador para a época agora em curso. Rúben confiou-lhe a ala direita e fez muito bem: o rapaz, com apenas 17 anos, deu boa conta do recado. No plano defensivo, já com eficaz leitura de jogo, mas sobretudo a atacar: é dele o milimétrico passe de ruptura que faz a diferença na construção do primeiro golo: magnífica linha de 30 metros desenhada a pensar no golo. Funcionou como pré-assistência. Temos craque.
Do nosso meio-campo. Maturidade plena do duo composto por Morten e Morita: combinam na perfeição. Dominaram por completo o corredor central, forçando a turma de Vila do Conde a esgueirar-se para as alas, onde também eles acorriam sempre que necessário para fazer dobras. Com Morita igualmente activo no apoio à defesa, recuando para compensar o adiantamento dos alas, e também procurando o golo, que quase conseguiu aos 18'. Merecem aplauso.
Da troca de Debast por Diomande. Depois da péssima estreia do central belga na Supertaça, fez muito bem o treinador leonino em deixá-lo no banco com Diomande a entrar para o onze - e logo com a missão de desempenhar a missão anteriormente atribuída a Coates. O marfinense cumpriu no essencial, dominando o jogo aéreo, recuperando bolas, construindo com critério. E ainda tentou o golo, por duas vezes, na sequência de cantos. Pena a desconcentração final, permitindo a desmarcação de Clayton no solitário golo do Rio Ave.
De toda a nossa primeira parte. Jogo de sentido único. Excelente exibição do Sporting, encostando a equipa adversária às cordas, com bola ao primeiro toque, súbitas variações de flanco e exploração do ataque na profundidade. Vimos os três lá da frente em contínuas desmarcações - Trincão menos exuberante do que os colegas mas igualmente com nota positiva. Com 2-0 ao intervalo, o ritmo abrandou no segundo tempo, mas sem perdermos o domínio da partida. E aos 90'+3 ainda mandámos uma segunda bola ao poste, por Rodrigo Ribeiro, que entrara quatro minutos antes para render Morita.
De Rúben Amorim. Mereceu justas críticas na Supertaça, merece agora elogios. Rectificou o que se impunha, manteve os criativos Geny e Quenda nos flancos externos, motivou os jogadores para ultrapassarem o desaire da perda do troféu, incutiu-lhes ânimo de colectivo vencedor. E foi fazendo as trocas que se impunham à medida que ia notando situações de maior desgaste físico fazendo entrar Mateus Fernandes, Edwards, Matheus Reis, Daniel Bragança e Rodrigo.
De terminarmos o jogo com seis da formação. Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Quenda, Mateus Fernandes, Daniel Bragança e Rodrigo Ribeiro. Fica o registo, para mais tarde recordar.
Da arbitragem. Boa actuação de João Gonçalves, impondo o chamado critério largo que imperou no Europeu 2024. Deixa jogar, sem protagonizar nenhum festival de apito. Devia ser sempre assim.
De ver o Sporting marcar há 43 jogos consecutivos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde a Liga 2022/2023. Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.
Da nossa 18.ª vitória consecutiva em casa. Todo o campeonato anterior, mais esta ronda inaugural da Liga 2024/2025. Há 70 anos que não nos acontecia algo semelhante. Saldo destas 18 partidas em golos: 60 marcados e 12 sofridos.
De continuar a ver o Sporting sem perder em casa. Acontece há ano e meio, desde Fevereiro de 2023, quando o FCP nos derrotou então. Não voltou a acontecer. São já 25 partidas sem derrotas no Estádio José Alvalade.
De termos disputado 22 jogos consecutivos sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, disputada em Guimarães, a 9 de Dezembro.
Não gostei
Do golo sofrido. Na única ocasião de que o Rio Ave dispôs, aos 90', também único momento em que a defesa leonina perdeu um duelo nesta jornada inaugural do campeonato. Diomande deixou escapar Clayton, colocando-o em jogo e o avançado vilacondista desferiu um remate que Vladan - sem conseguir fazer a mancha, apanhado a meio caminho já fora dos postes - foi incapaz de defender.
Da ausência de Coates. É certo que desta vez o bloco defensivo cumpriu, mas não deixou de se fazer sentir a falta do capitão uruguaio, melhor central do Sporting neste século XXI. Comandou a nossa defesa durante oito temporadas. Merece registo. E ovação grata.
De iniciarmos o campeonato ainda com uma importante lacuna na equipa. Será muito complicado encontrar um substituto para Paulinho? Um segundo avançado é assim tão difícil de encontrar? Já não há paciência para o folhetim do grego que faz-que-vem-mas-nunca-mais-chega.
Cada maluco com a sua mania, e uma das minhas manias é associar as épocas (boas ou más) do Sporting ao último algarismo. Como têm sido as épocas terminadas em 5? Mistas: não desastrosas, mas não as melhores. Desde que me lembro, em 1985, segundo lugar mas sem troféus. Jejum total também em 2005 (a famosa "época do quase" de José Peseiro), com muitos sonhos mas um terceiro lugar no campeonato. Melhores foram 1995 e 2015, em ambos os casos com saborosas conquistas da Taça de Portugal que puseram fim a longos jejuns de troféus. Mas nada de campeonato. Nunca, em toda a sua história centenária - nem no tempo dos "violinos" - o Sporting foi campeão num ano acabado em 5. Para o melhor e para o pior, Rúben Amorim tem quebrado muitas tradições no Sporting. A última foi há uma semana: pela primeira vez o Sporting perdeu uma supertaça para o FC Porto. Nesta época 2024/25, esperemos que Rúben quebre duas más tradições: a do bicampeonato que foge (que dura há 70 anos), e a de não ser campeão num ano acabado em 5. Força, leões!
Quem seja dos tempos de Malcolm Allison, com certeza se recorda bem de Manuel Fernandes, de Jordão e de António Oliveira, mas dos outros terão dificuldade em dizer os nomes.
Nem farão ideia de quem era um Eurico, um Barão, um Virgílio ou um Nogueira. O Esgaio ao pé deles é um predestinado do futebol.
Numa equipa de futebol nem todos podem ser estrelas, para alguns poucos tocarem piano todos os outros o terão de carregar.
Por isso aplaudo a azia de Gyökeres no final da Supertaça. Os pianistas Gyökeres e Pedro Gonçalves estiveram lá.
Por onde andaram os carregadores de piano?
Alguns não aguentaram o peso e andaram por lá, outros deixaram-no cair com estrondo aos 60 minutos.
Não há lugar para cinco Braganças/Mateus/Catamos/Quendas/Trincões/Ribeiros/Nuno Santos. Muito menos para oito.
Com a saída de Coates e Paulinho, dois carregadores de piano de excelência, o equilíbrio do plantel ficou comprometido.
E quando adicionamos às características físicas a resistência, a maturidade e a liderança, então não se fala.
Sou um fervoroso apoiante da formação, mas não sou irrealista. Os jovens têm de ser complementados com jogadores experientes e fisicamente diferenciados. Mais altos, mais fortes, mais intensos.
Foi exactamente dentro desses princípios que ganhámos dois títulos nacionais. Enquanto as hienas berravam contra os Feddais e os Paulinhos, íamos ganhando.
A pré-época terminou mal.
O Sporting parte para a época com um plantel falho de equilíbrio, fisico e emocional. Os jogos podem facilmente tornar-se numa roleta russa com resultados que poderão ser problemáticos.
A solução? Não é agora que vão encontrar um Palhinha ou um Oceano algures. A solução só pode ser pôr no onze os mais altos e fortes e deixar os dois pianistas tratar do resto.
Com Rúben Amorim, de época para época o modelo de jogo do Sporting sofre alterações, de acordo com a evolução da sua ideia de jogo, a maturidade do plantel dentro desse modelo e as características dos jogadores. O 3-4-3 de Amorim é apenas o ponto de partida para diferentes dinâmicas e posicionamentos ofensivos e defensivos.
Esta época a ideia de jogo parece ser atrair à pressão para atacar rápido, um pouco como no primeiro ano de Amorim. Através do recuo dos médios e dos interiores e um extremo ou falso ala de pé trocado bem projectado no corredor.
Catamo ou Quenda têm as características certas para ficarem esquecidos lá longe e depois aparecerem em velocidade a enfrentar o defesa, inflectir para dentro e rematar com o melhor pé. Para isso têm a cobertura do defesa desse lado (Quaresma ou St. Juste) e de Hjulmand, que cobre o espaço entre esse defesa e o defesa do meio.
Quanto ao atacar rápido isso tem muito a ver com as características dos avançados: Pedro Gonçalves, Gyökeres, Trincão, Edwards, todos mais confortáveis com espaço para correr, todos menos confortáveis a defrontar defesas bem fechadas.
O problema de jogar assim é que a posse de bola é menor, o desgaste maior, mais facilmente se perde o controlo do jogo e a defesa fica mais exposta. Dos cinco médios do plantel, apenas Hjulmand tem características para ir atrás de adversários em corrida e tentar o desarme sem falta metendo o corpo. Já com Essugo é falta e cartão: esse é o grande problema que ele ainda não conseguiu corrigir. Morita chega lá e faz falta. Bragança e Mateus correm atrás e apenas.
Por isso continuo a insistir no reforço da equipa no eixo central. Parece-me que faltam ali kgs e cms para compensar os levezinhos talentosos do plantel. Faltam ali outros Palhinhas, Ugartes ou Matheus Nunes.
Nesse contexto, e apenas considerando o perfil técnico dos jogadores, não percebo porque é que Koindredi, Tanlongo e Sotiris continuam a treinar à parte...
Em 2020/2021 fomos campeões e vencemos o Troféu Cinco Violinos no arranque da época seguinte.
Esta época está a começar com algumas indefinições no plantel, o que não parece positivo.
Dos quatro da imagem só Pedro Gonçalves parece contar para Rúben Amorim. Vamos ver o que acontece até ao último dia de transferências mas o facto do transmontano ter estado apagado no Euro 2024 pode ter esfriado o interesse de possíveis compradores.
Respondendo à pergunta que fiz lá em cima, que comecemos com a conquista de um troféu hoje e que acabemos a época de 2024/2025 a comemorar sob o Leão do Marquês.
Para isso precisamos de onze violinos dentro do campo, de outros onze fora do campo, prontos a substituir os titulares e dois ou três tocadores de bombo, vá.
Hoje é dia de não haver lugares cativos, saem uns jogadores, entram outros. O importante não é o ego de cada um é a equipa. O futebol não é um desporto individual como o golfe, como o atletismo ou como a natação, é um desporto colectivo.
Hoje é dia de termos no nosso banco um treinador que não ganha quatro milhões mas que faz campeões.
Hoje é dia de vermos os nossos jogadores, a selecção de todos nós.
O sorteio não foi meigo para o Sporting. Vamos ter um início de campeonato bem complicado com Rio Ave (C), Nacional (F) e Farense (F) antes de receber o Porto (C).
Temos de contar que Coates saiu já com a pré-época a decorrer. Gyökeres, Hjulmand e Inácio não começarão a época nas melhores condições.
Mas as outras quatro equipas terão os seus problemas também.
A escolha da nova estrutura de capitães está feita e para mim muito bem feita. Hjulmand envergará a braçadeira e terá dois sub-capitães formados em Alcochete, Daniel Bragança e Gonçalo Inácio, a ajudá-lo na tarefa. Qualquer um dignifica o Sporting e encarna os valores do esforço, dedicação e devoção para alcançar a glória, mas Hjulmand foi realmente um achado extraordinário algures em Itália.
Na sequência da época passada, o onze de referência também está definido. Se nenhum deles entretanto sair temos um bom onze:
Kovacevic; St.Juste, Diomande e Inácio; Catamo, Hjulmand, Morita e Nuno Santos; Trincão, Gyökeres e Pedro Gonçalves.
Agora importa ter jogadores que possam substituir qualquer destes numa época de Champions, bem mais exigente do que foi a época passada, acrescentando novas coisas à equipa.
Guarda-redes: Para mim um guarda-redes em final de carreira como Rui Patrício seria muito bem vindo para disputar com Kovacevic a titularidade, como Beto foi com o mesmo Rui Patrício, libertando Israel para jogar com regularidade num empréstimo. Depois se veria qual o o futuro titular. Diogo Pinto tem muita estrada para andar, tal como Callai.
Defesas: Quaresma, Debast e Matheus Reis garantem a rotação necessária no trio. Vamos ver a evolução do belga. Quaresma e Matheus Reis já demonstraram a sua utilidade e os seus pontos fortes e fracos. Pontelo e Muniz deverão ser emprestados. Falta alguém? Para já não, a não ser que algum destes faça falta noutro lado.
Alas direitos: Saindo Esgaio, fica apenas Fresneda, que tem condições físicas para a posição muito superiores a Catamo, muito mais um extremo que um defesa lateral, ainda por cima de pé contrário. Penso que deveria vir mais alguém com valências em falta na equipa, como o jogo aéreo e remate de meia-distância. Ou então pensar mesmo na adaptação de Quaresma ou St. Juste à posição, abrindo espaço para Debast na defesa.
Alas esquerdos: Matheus Reis substitui sem problemas Nuno Santos, em muitos jogos até rende mais do que ele. Falta alguém? Que se passa com o Pedro Bondo da B?
Médios: Bragança e Mateus Fernandes são mais alternativas viáveis a Morita do que a Hjulmand. Falta mais um médio destruidor de jogo tipo Palhinha, que poderá ser ou não Essugo, que poderia ser o Tanlongo se Rúben Amorim não o tivesse reprovado algures, ou que poderá ser um reforço experiente. Não era esse o caso do Koindredi? Pelos vistos não.
Interiores: Edwards é o "abre-latas" que faz sempre falta, Catamo joga perfeitamente na posição, o lado direito está assegurado. No lado esquerdo falta alguém para substituir Pedro Gonçalves. Eu gostaria que não fosse mais um baixinho, mas alguém forte no jogo aéreo e com chegada à área. Depois temos Quenda para dar minutos aqui e ali, mas sem pressões descabidas.
Pontas de lança: Faltam dois avançados trabalhadores e goleadores para alternar com Gyökeres, o homem não é de ferro e os joelhos já começaram a dar de si. Quem pensar que vai andar nas cavalgadas heróicas a época toda engana-se, e tipo "pinheiro" ele não rende.
Resumindo: no meu entender faltam um ala direito, um médio "nº 6", um interior de pé direito, e dois avançados goleadores.
Algum dos miúdos que estão a fazer a pré-época vai explodir esta época? Rodrigo Ribeiro, Nel, Moreira? Esperemos que sim, mas ainda não vi nada nesse sentido.
Enfim, Amorim já demonstrou que nos consegue surpreender pela positiva. Vamos andando e vendo. Os jogos agendados já vão dizer alguma coisa. Estes quatro iniciais da Liga são muito importantes, importa começar de prego a fundo.
Deixo o convite a cada um de vós para dizer o que falta para o Sporting ser novamente campeão e passar à fase final da Champions.
Já não falta muito para o início da próxima época em que na primeira metade vamos ter de alternar entre duas competições, defender o título nacional ao mesmo tempo que defrontamos na Champions oito diferentes adversários.
Ora, daquilo que me recordo nos últimos 50 anos, nunca nos aconteceu sermos campeões nacionais numa época em que disputamos a Champions/Taça dos Campeões Europeus. O que por diversas vezes aconteceu é que o desgaste da competição europeia se fez sentir e bem na competição interna, e o resultado final foi uma classificação final na Liga muito abaixo do desejável. Como aconteceu na época passada, quando a uma boa campanha europeia com vitórias perante Tottenham e Eintracht Frankfurt e a eliminação do Arsenal, na altura líder da Premier League, correspondeu o quarto lugar na Liga. Se calhar já ninguém se recorda do onze com que o Sporting perdeu em Arouca na época passada, três dias depois da derrota de Marselha.
Foi o seguinte:
Adán; Inácio, Coates e Matheus Reis; Esgaio, Pedro Gonçalves, Essugo e Nazinho; Trincão, Rochinha e Arthur Gomes.
Obviamente não chegou.
A permanência de Rúben Amorim é fundamental para as coisas correrem bem, pela sua liderança tranquila e competente, pelo seu modelo de jogo afinado e completamente absorvido pelo plantel, pela polivalência treinada de muitos jogadores dentro do sistema táctico.
Mas para que o fracasso interno não volte a acontecer, é necessário que o plantel tenha uma quantidade de qualidade que não teve nem este ano nem nos anteriores, e que a equipa possa mudar quatro ou cinco jogadores entre jogos consecutivos sem quebra de rendimento.
O princípio-base de constituição dum bom plantel é assegurar dois jogadores de rendimento aproximado dentro das características de cada um. E a melhor forma de avaliar isso é comparar o onze titular com o suplente.
O melhor onze do Sporting este ano terá sido:
Adán; Diomande, Coates, Inácio; Catamo, Hjulmand, Morita e Nuno Santos; Trincão, Gyökeres e Pedro Gonçalves.
O onze suplente, ou melhor dizendo o onze de suplentes, aqueles que para além dos anteriores mais entraram em jogo este ano, terá sido:
Israel; Quaresma, Neto, St. Juste; Fresneda, Koindredi, Esgaio e Matheus Reis; Edwards, Paulinho e Bragança.
Ora destes 22 jogadores, já sairam dois, Adán e Neto, e pelo que se vai lendo poderão sair mais estes: Paulinho (Toluca?), Koindredi (empréstimo?), Diomande (Inglaterra?), Inácio (Inglaterra?), Edwards (Inglaterra?) e St. Juste (PSV?).
Entradas, para já, temos quatro: Kovacevic (Raków) e Debast (Anderlecht), a que se juntam o regressado Mateus Fernandes e o promissor Quenda.
Depois temos outros regressados de empréstimo como Diogo Callai, Dário Essugo, Afonso Moreira, Samuel Justo, mais Pontelo, que poderão fazer a pré-época e depois seguirem para novos empréstimos. Talvez seja também esse o caso de Rodrigo Ribeiro.
Estranhamente ou talvez não, a equipa B parece não contar em termos de reforço efectivo do plantel. De saída estão os mais velhos como Chico Lamba, Miguel Menino e Tiago Ferreira, e de saída a custo zero (!!!) está o promissor Marco Cruz, "comprado" por 10M€ ao FC Porto (e lá está a dívida ao Sporting no mapa das dívidas de curto prazo daquela SAD). Diogo Abreu sairá também?
Depois temos os "restos de colecção", Rúben Vinagre, Sotiris, Tanlongo, Jovane, que também parecem não contar. O que no caso de Sotiris e Tanlongo é pena, pois estamos a falar de internacionais pela Grécia e pela Argentina. Falta ali mentalidade/adaptação ao clube e ao futebol português como também ainda falta a Fresneda, mas a qualidade está lá.
Que dizer de tudo isto?
A fórmula de poucos mas bons reforços funcionou muito bem esta época. Hjulmand e Gyökeres duraram toda a época quase sem lesões, mas será um grande risco começar a próxima da mesma forma. Não se trata apenas de compensar as saídas, o plantel precisa mesmo de ser reforçado.
SL
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