Rui Borges deu-se a conhecer aos adeptos, no dia da sua apresentação como treinador leonino, com esta frase que de imediato se transformou numa espécie de lema da actual equipa técnica. E promete tornar-se tão popular, entre os sportinguistas, como aquele mote «Para onde vai um, vão todos» que Ruben Amorim lançou em Dezembro de 2020, quando motivava os seus jogadores para a conquista do primeiro campeonato.
Funcionou com Ruben e não custa apostar que esta funcionará também para o ciclo agora iniciado pelo ex-técnico do V. Guimarães. Outra maneira de dizer algo que emana da antiga sabedoria popular e é muito útil no futebol: fazer das fraquezas força.
Foi uma excelente forma de Rui Borges se estrear ao comando da nossa equipa principal de futebol. Falando claro, de modo compreensível, em tom tranquilo, sem evitar questões incómodas. Sabendo em simultâneo captar as simpatias dos adeptos e mobilizar um balneário que estava desmoralizado quando ele chegou.
É com ele que o Sporting acaba de chegar ao final da primeira volta como líder isolado do campeonato. Até ao momento sem derrotas em quatro jogos ao leme leonino após termos enfrentado com sucesso Benfica (duas vezes), FC Porto e o Vitória que ele anteriormente treinou.
Amorim comunicava bem. Borges, num estilo muito próprio, não lhe fica atrás - como esta frase comprova. Ou muito me engano ou já está afixada na Academia de Alcochete.
Esta escolha, para mim óbvia, presta homenagem ao talento futebolístico de Viktor Gyökeres, maior marcador mundial no ano que passou, com 62 apontados em 63 jogos. Marca extraordinária: honra. orgulha e enobrece ainda mais o símbolo do Leão, que o ponta-de-lança sueco transportou ao peito na grande maioria dos desafios.
As imagens dizem tudo. O craque leonino recebe um fenomenal passe de trivela do pé direito de Debast e progride com a bola logo após a linha do meio-campo: Sempre com ela dominada - primeiro junto à linha esquerda, depois inflectindo para o centro do terreno, já defronte da baliza. Bate em velocidade o lateral, senta um central, dribla o guarda-redes e remata. Após uma vertiginosa corrida de 40 metros, ainda tem força para disparar um míssil.
Aconteceu ao minuto 53 do Sturm Graz-Sporting, desafio da Liga dos Campeões: Era o nosso segundo golo, sentenciando a partida contra o campeão austríaco. Somávamos mais três pontos na prova milionária após impormos derrota ao Lille em Alvalade (2-0) e empatarmos na Holanda frente ao PSV (1-1).
Foi a 22 de Outubro. Como se fosse mais um dia no escritório do campeão sueco. Os génios da bola são assim.
Vale a pena destacar três menções honrosas de 2024, todas para lembrar também:
Depois da nossa primeira vitória simbólica em Londres, ocorrida em 2023 quando ali eliminámos nos penáltis o Arsenal na Liga Europa, uma goleada ao Manchester City para a Liga dos Campeões. Aconteceu a 5 de Novembro, na despedida de Ruben Amorim de Alvalade. O treinador que nos levou à conquista de dois campeonatos nacionais não poderia ter desejado melhor final para o seu percuso de quase cinco anos no Sporting.
Foi um desafio épico e comovente, com as emoções sempre à flor da pele. Um desafio que deu pleno significado ao lema celebrizado pelo fundador do nosso clube: ser «tão grande como os maiores da Europa».
Recebemos, vulgarizámos e derrotámos sem discussão o teatracampeão inglês, orientado por Pep Guardiola, que muitos consideram o melhor treinador do mundo. E com um plantel recheado de estrelas: Haaland, Foden, Ederson, Savinho, Akanji, Kovacic, Bernardo Silva, Gundogan, De Bruyne...
Até nem começou nada bem: sofremos um golo, por Foden, logo aos 4'. Mas soubemos dar a volta. Demonstrando brio, personalidade, carácter, irreprimível vontade de vencer.
Gyökeres brilhou, confirmando que é hoje um dos maiores pontas-de-lança do futebol europeu. Exibição superlativa do internacional sueco (três golos, aos 38', 49' e 80', estes dois de penálti). Mas também de Pedro Gonçalves (extraordinário, o passe para golo no primeiro de Gyökeres). Destaque também para Israel (impediu três golos, um dos quais de Haaland) e Maxi Araújo (em estreia como artilheiro na Champions, aos 46 segundos da segunda parte, num lance colectivo que merece figurar na antologia dos melhores de sempre do historial leonino). Sem esquecer Diomande, Quenda e Trincão.
Matheus Nunes regressou fugazmente a uma casa onde já foi feliz, desta vez como ala esquerdo do City. Esteve apagado, mas certamente gostou dos aplausos que lhe tributaram nas bancadas de Alvalade. Em noite de simbiose perfeita entre público e equipa. No final, os jogadores formaram um corredor de honra ao técnico que tão bem serviu o Sporting e levantaram-no ao ar, em clima de euforia, numa das mais inesquecíveis manifestações de júbilo que conhecemos no nosso estádio.
Naquela noite gloriosa fechámos a primeira metade da jornada da Champions 2024/2025 no segundo lugar da classificação, com 10 pontos, a par do Mónaco, terceiro, e só atrás do Liverpool, que comandava com 12 pontos. Entre 36 equipas.
Dava-nos toda a esperança de apuramento para a fase seguinte da competição, com jogos a eliminar. Infelizmente, depois seguiram-se duas derrotas - já com Amorim longe, a treinar o Manchester United. Mas isso é outra história, bem diferente desta.
DERROTA DO ANO: 3-4 CONTRA O FC PORTO NA SUPERTAÇA
Àquinta tentativa, o FC Porto conseguiu enfim: a 3 de Agosto venceu o Sporting, conquistando a Supertaça, disputada no estádio municipal de Aveiro.
Vista do nosso lado, esta derrota soou a pesadelo. Estivemos a vencer por 3-0 e deixámos que os portistas conseguissem a reviravolta,triunfando por 4-3 já no prolongamento.
Nada fazia prever este desfecho.
Marcámos o primeiro logo aos 6', por Gonçalo Inácio. O segundo surgiu aos 9', por Pedro Gonçalves.
O terceiro - fantástico golo - aconteceu aos 24', pelo jovem Quenda, em estreia simultânea como titular e artilheiro da equipa principal. Justificando elogio, tal como Gyökeres: o sueco não marcou, mas fez duas assistências.
Aos 28', Galeno reduziu. Fixando o resultado ao intervalo: 3-1.
E depois? Acentuou-se onaufrágio defensivodo onze leonino, que assim se estreou da pior maneira na temporada oficial 2024/2025. Sofremos dois outros golos, aos 64' e aos 66'. Aos 101', consumou-se o descalabro.
Pecámos por desconcentração e excesso de confiança. A soberba é má conselheira - no futebol como na vida. Não afectou só os jogadores e a equipa técnica, mas muitos adeptos. Incluindo alguns imbecis das claques que ao minuto 36 ou 37 desataram a atirar tochas e a fazer estalar fogo de artifício como se tivessem ganho alguma coisa.
O nosso treinador esteve inexplicavelmente passivo: nem parecia ele. Ruben Amorim só se dignou fazer a primeira substituição aos 83': mandou sairTrincão, mandou entrar Edwards. Mera troca posicional, que nada alterou para melhor. Num desafio em que tivemos dois estreantes com prestação negativa: Vladan, com culpas no primeiro e no quarto golo; e Debast, envolvido em duas "assistências" à turma adversária.
Mas vale a pena acrescentar: foi a única vitória do actual treinador portista, Vítor Bruno, contra a nossa equipa. Depois disso o FCP já nos defrontou duas vezes - e perdeu sempre, tanto para a Liga 2024/2025 como para a Taça da Liga, em que foi eliminado pelo Sporting.
Era a última coisa que queríamos. Mas alguma vez teria de ser. Aconteceu no ano que passou, em Novembro: Ruben Amorim, o treinador português que conquistou mais troféus ao serviço do Sporting, disse adeus e partiu. Ou terá dito "goodbye", pois rumou à Premier League, contratado pelo Manchester United. O histórico emblema inglês ultrapassou até a sua cláusula de rescisão, pagando cerca de 13 milhões de euros pelo conjunto da equipa técnica: todos acompanharam o líder.
Amorim partia ao fim de quatro anos e oito meses: nenhum outro treinador aguentou tanto tempo seguido no Sporting. E nenhum outro soube aproveitar tão bem o tempo: dois campeonatos conquistados, tantos como os que o nosso clube vencera nas quatro décadas anteriores. Daí a sensação de perda, entre os adeptos, ter sido ainda mais acentuada.
Do mal, o menos: Frederico Varandas convenceu-o a ficar mais três jogos antes de passar a bola a João Pereira. Ainda sob o comando de Amorim, para o campeonato, o Sporting goleou em casa, por 5-1, o Estrela da Amadora (1 de Novembro) e teve um jogo épico em Braga, igualmente da Liga 2024/2025, com triunfo leonino por 2-4 (10 de Novembro). Com onze vitórias em onze jogos, igualava o melhor começo de sempre da nossa equipa na competição máxima do futebol português. Há 34 épocas que não começávamos tão bem, desde 1990/1991.
Mas a cereja em cima do bolo foi a goleada ao Manchester City, que saiu de Alvalade vergado a uma derrota por 4-1 (5 de Novembro). Uma das páginas mais brilhantes inscritas pelo Sporting na poderosa Liga dos Campeões. Outra noite épica. Infelizmente, a última do jovem treinador no nosso estádio.
Amorim saiu só com cerca de um terço da época disputada. Campeão nacional em título, com a equipa em todas as frentes. No campeonato, isolada no comando: 33 pontos, 39 golos marcados, só cinco sofridos. Invicta na Liga dos Campeões, com três vitórias e um empate - segundo lugar entre 36 clubes.
Não perdeu um só jogo de leão ao peito durante todo o ano de 2024.
Nada voltaria a ser igual. Muitos de nós ficámos com a convicção de que tão cedo não teremos um treinador tão bem-sucedido. Oxalá Rui Borges possa demonstrar-nos o contrário.
Tantas vezes o elogiei aqui - é com mágoa que escrevo hoje estas linhas. Mas não tenho alternativa: Marcus Edwards foi para mim a maior decepção do plantel leonino em 2024. Prometeu muito, deu quase nada. E deixou de contar para o novo treinador. Rui Borges não esgotou substituições contra o Benfica nem contra o Vitória, mantendo-no banco.
Marcus Edwards chegou há quase três anos ao Sporting com aura de craque. Fruto da formção do Tottenham, fez toda a aprendizagem entre os spurs e chegou a alinhar no onze principal, num desafio da Taça da Liga inglesa. Acabou por não ter espaço, rumando no Verão de 2019 a Guimarães, onde rapidamente deu nas vistas. Em Janeiro de 2022, a administração leonina pagou 7,5 milhões de euros para contratá-lo: o atacante esquerdino assinou contrato por cinco anos, com 60 milhões como cláusula de rescisão. Inicialmente o Tottenham manteve metade do seu passe.
Foi-se destacando com Ruben Amorim, espalhando magia nos relvados. Em 2022 mereceu aqui destaque: elegi-o como confirmação do ano. Ele fez por isso, sobretudo nos dois desafios da eliminatória com o Tottenham para a Liga dos Campeões, sobretudo o golaço que marcou na partida decisiva, ao fixar o nosso empate 1-1 em Londres. Quando o histórico emblema inglês seguia em terceiro na Premier League.
Fixámos-lhe o movimento favorito: incursões ofensivas do lado direito para o interior, com notável capacidade de drible e algumas fintas de corpo que dificilmente se apagarão da memória dos adeptos. Mas também fomos descobrindo que se trata de um futebolista sujeito a apagões periódicos, infelizmente cada vez mais frequentes. Reservado, pouco expansivo e nada falador, foi ficando mais triste, foi aparecendo menos, parece deslocado no plantel.
Outros jogadores surgiram, remetendo-o para um plano inferior na hierarquia dos talentos em Alvalade. Na temporada 2023/2024 viu cinco colegas ultrapassá-lo na lista dos artilheiros da equipa: Gyökeres, Paulinho, Pedro Gonçalves, Trincão e até Nuno Santos. Ele só marcou seis no conjunto da temporada - incluindo um ao Olivais e Moscavide, na Taça de Portugal.
Pouco, para quem tanto prometia.
Já na época em curso, o apagão acentuou-se. O último golo de Edwards para o campeonato ocorreu em Agosto, na goleada por 5-0 ao Farense. Com Amorim, não mais marcou - e pouco já calçava. No breve interlúdio de João Pereira em Alvalade, o técnico confiou nele e começou por ser recompensado: o inglês bisou contra o modestíssimo Amarante, equipa amadora da terceira divisão, em desafio da Taça de Portugal.
O inglês foi posto à margem. Por demérito próprio. Há um mês que não joga. Fala-se agora dele como um dos prováveis excluídos do plantel em Janeiro. Aos 26 anos, ainda encontrará mercado. Mas o seu destino já não parece passar por Alvalade. Com pena minha, reconheço. As coisas são o que são.
Há apenas cinco dias, na estreia de Rui Borges ao comando da equipa principal do Sporting, ele brilhou no clássico de Alvalade. Marcou o golo que nos valeu os três pontos e foi eleito melhor em campo pela generalidade da imprensa. Actuou como ala-direito, atacando como extremo clássico - à semelhança do que faz na selecção de Moçambique, onde já regista 23 presenças - e seis golos apontados.
Estamos perante uma confirmação: Geny Cipriano Catamo, nascido há 23 anos na Beira, segunda maior cidade moçambicana, tornou-se imprescindível neste Sporting 2024/2025 - na linha do que aconteceu em grande parte da época anterior. É veloz, arrisca o confronto directo, tem bom sentido posicional, coloca as defesas adversárias em sentido com os seus dribles estonteantes. Tem um movimento característico de pegar na bola junto à linha e evoluir com ela para o centro do terreno que já nos valeu vários golos. Ou marca ou assiste.
Gera sempre perigo para as redes rivais. O Benfica que o diga: já por três vezes encaixou golos deste bravo canhoto com vocação para se agigantar nos chamados "jogos grandes".
Poderia repetir hoje isto. Mesmo com forte concorrência no plantel, Geny nunca deixou de contar para os treinadores - antes com Amorim, agora com Rui Borges e até no interregno sob o fugaz comando de João Pereira.
Andou a rodar noutros emblemas - V. Guimarães e Marítimo - antes de regressar a Alvalade, no Verão de 2023. Foi titular na partida inaugural da Liga 2023/2024, contra o Vizela, estreou-se a marcar na equipa principal em Outubro contra o Boavista, no Bessa. E vem seguindo rota ascendente só para surpresa daqueles que andavam muito distraidos.
Assinou contrato até 2028 com o Sporting, estando ligado ao clube com uma cláusula fixada em 60 milhões de euros. Fez bem a administração da SAD em acautelar o futuro: Geny tem nome de craque, tem pinta de craque e é mesmo craque. Comprovadamente.
Em Junho brilhou no Europeu de Sub-17, integrando a selecção nacional que perdeu na final com a Itália. Deu nas vistas ao ponto de Ruben Amorim integrá-lo na equipa principal. Estreou-se ainda na pré-temporada, contra o At. Bilbau, para o Troféu Cinco Violinos. Mostrou logo o que valia, sem se atemorizar entre os grandes. Escrevi aqui, na crónica desse jogo: «Melhor em campo. Foi seta apontada à área bilbaína. Serviu Viktor no primeiro golo, rematou ao ferro (33'), quase marcou aos 40'.»
Nascia outro astro na vasta constelação leonina. «Se jogar assim, não voltará à equipa B», profetizava um sorridente Amorim no final do jogo. O vaticínio concretizou-se.
Ainda adolescente, nascido em Bissau há 17 anos, Geovany Tcherno Quenda é um extremo clássico. Joga de preferência à direita, onde dá melhor uso ao seu habilidoso pé esquerdo. Com boa finta de corpo, capacidade de condução da bola sem recear duelos, actua tão bem em espaços curtos como no ataque à profundidade, sabendo fazer variações de flanco com passes de longa distância, bem medidos.
Estreou-se em competições oficiais já integrado na equipa principal que defrontou o FC Porto na Supertaça, a 3 de Agosto. Marcou um golo extraordinário, aos 24' - o terceiro do Sporting, ainda assim insuficiente para garantir o troféu, que fugiu para os portistas após o prolongamento, que perdemos 3-4. Mas ele foi o melhor Leão em campo.
A estreia na Liga ocorreu seis dias depois, 9 de Agosto, na recepção ao Rio Ave. Quenda deu forte contributo para a nossa vitória por 3-1. Desequlibrador nato, com eficaz leitura no jogo ofensivo, ajudou a construir o golo inicial assinando um milimétrico passe de ruptura que fez levantar as bancadas. Naquele momento assegurou lugar no onze titular. A sua vida, como profissional do futebol, não voltaria a ser a mesma.
Há cinco dias disputou o seu primeiro clássico com o velho rival lisboeta. Superando outro máximo: tornou-se o mais jovem jogador de sempre do Sporting a defrontar o Benfica. Alinhando como médio-ala esquerdo, anulou Bah, internacional dinamarquês dos encarnados e seu antagonista directo nesta partida, que terminou com vitória nossa. Quenda fez pré-assistência para o golo solitário. Não com os pés mas com os braços, em lançamento lateral.
Nesta fase já ninguém duvida que será bem-sucedido. Com muito trabalho, imensa persistência e alguma sorte. O talento está lá, a formação de base é sólida. Traz a marca inconfundível da Academia Cristiano Ronaldo - simplesmente a melhor formação do mundo.
É inevitável: teria de ser ele o eleito. Foi o melhor ano de Ruben Amorim (escrito sem acento em Ruben, como apenas soubemos, insolitamente, no dia em que ele nos deixou) no Sporting. Quando ele conquistou o segundo campeonato nacional para o nosso clube desde que iniciou funções. Conseguindo tanto em cinco anos incompletos como tínhamos alcançado nos 40 anos anteriores.
Soube tão bem como em 2021. Ou ainda melhor. Porque desta vez havia espectadores nos estádios e pudemos apreciar a equipa ao vivo. Mas também porque tínhamos um plantel com mais qualidade, o que bem se reflectiu nas exibições. E fomos mais longe na dimensão do triunfo, conseguindo a nossa maior pontuação de sempre: 90 pontos. Segunda maior de que há registo, em termos absolutos, num campeonato nacional.
Dominámos do princípio ao fim. Numa dinâmica imparável sob a batuta de Amorim. Concluímos as 34 jornadas com 29 vitórias, 3 empates e apenas 2 derrotas. Golos marcados? 96. Sofridos? Apenas 29.
Dez pontos de avanço sobre o Benfica, segundo classificado. Dezoito sobre o FC Porto, que ficou em terceiro.
Amorim não se limitou a imprimir categoria, talento e classe aos seus jogadores campeões na Liga 2023/2024. Fez o mesmo nas onze jornadas da Liga seguinte, agora quase a meio.
Liderou essas rondas só com vitórias, somando 33 pontos. Mais oito do que o Benfica e mais seis do que o FC Porto.
Uma das maiores proezas de sempre do Sporting em competições da UEFA. Sem precisarmos do calcanhar do Xandão.
Amorim deixou-nos a 11 de Novembro rumando à Premier League, onde estão outros compatriotas: Marco Silva (igualmente ex-técnico do Sporting), Nuno Espírito Santo e agora Vítor Pereira. Foi um trauma para os adeptos.
Mas saiu como o treinador português com mais títulos e troféus alcançados em Alvalade. Com números quase inacreditáveis. Não perdeu qualquer jogo da Liga em 2024. E alcançou 71% de vitórias durante os quatro anos e oito meses que permaneceu entre nós - nenhum outro português aguentou tanto tempo no Sporting.
Em comparação, recorde-se que José Peseiro conseguiu 64%, Silas não foi além dos 61%, Marcel Keizer ficou-se pelos 60% e João Pereira - fugaz sucessor de Amorim - quedou-se nuns ínfimos 37,5%.
Mais ainda: legou-nos um plantel em grande parte escolhido por ele que continua a dar cartas no campeonato nacional. Basta referir alguns nomes: Morten, Morita, Gyökeres, Diomande, Geny, Harder, Nuno Santos e Pedro Gonçalves. Multifuncionais, em vários casos. Jogarão bem em qualquer sistema táctico.
Quem faz o que pode, a mais não é obrigado. Amorim fez muito. Por mim, ser-lhe-ei sempre grato. Aconteça o que acontecer.
Tinha de ser ele. Cá está de novo, pelo segundo ano consecutivo. Aos 26 anos, Viktor Einar Gyökeres encontra-se no auge da carreira. Continua a ser o maior trunfo do plantel leonino após ter sido um dos obreiros da conquista do título máximo pelo Sporting na temporada 2023/2024. Sagrou-se rei dos marcadores, com 29 golos convertidos no campeonato anterior e 43 no conjunto das competições futebolísticas portuguesas.
Bastaria isto para lhe dar lugar perpétuo na galeria dos grandes artilheiros leoninos - ombreando, neste século, com Jardel, Liedson e Bas Dost.
Sagrado campeão em Portugal - e cobiçado por diversos emblemas da alta-roda europeia - o avançado sueco que Frederico Varandas contratou há ano e meio ao modesto Coventry, da segunda divisão inglesa, tornou-se atracção máxima da massa adepta verde-e-branca. Consta que os do Benfica também o queriam. Chegaram tarde. Têm um tal Pavlidis, com apenas quatro golos na Liga.
Esta época, Viktor continua a fazer jus ao nome: faz tudo para ir somando vitórias, projectando cada vez mais longe o nome do Sporting. Leva já 18 golos no campeonato - liderando isolado a lista dos marcadores - e 27 no conjunto das competições.
Quando não marca, dá a marcar.
Foi o que sucedeu há dois dias no clássico, com um cruzamento perfeito para Geny, solicitando o moçambicano para o golo do triunfo após deixar nas covas o central encarnado Tomás Araújo. Com enorme robustez física, grande destreza atlética e um insaciável apetite pelas balizas adversárias, o n.º 9 leonino sabe trabalhar para a equipa.
Hoje bateu novo máximo: soube-se que é o jogador mundial com mais golos apontados em 2024. Um total de 62 neste ano civil, entre clube e selecção sueca. Quase à média de um por desafio disputado. Meia centena de pé direito, oito com o canhoto e quatro de cabeça. Superando largamente o norueguês Haaland (Manchester City), com 49, e o inglês Harry Kane (Bayern de Munique), com 46.
Gyökeres custou 20 milhões de euros, revelando-se a aquisição mais dispendiosa de sempre do Sporting. Na altura, por cá, alguns puseram-se aos gritos por acharem "muito caro". Preferiam um tal Navarro, que acaba de ser emprestado pelo FC Porto ao Braga por manifesta falta de uso no Dragão. Ainda bem que a SAD leonina não é gerida por estas luminárias, que nada percebem de futebol. Hoje todos reconhecem que o preço até foi módico para um futebolista com tanto valor. Não faltam clubes a pretendê-lo na Premier League.
Avós, pais e netos festejam os seus golos. Milhares de crianças e jovens reforçaram a militância leonina vibrando com a sua actuação em campo. A "máscara" que compõe com os dedos, cada vez que a mete lá dentro, tornou-se marca inconfundível. Os craques são assim.
O Manel, nosso eterno capitão e do melhor que a margem sul deu ao Mundo (que me desculpem os demais), foi talvez o último dos sonhadores e "injénuos" da bola. Um miúdo que tinha como objectivo de vida desportiva jogar no Sporting, nem que fosse um jogo apenas e que ficou por largos doze anos, recusando propostas aliciantes que lhe dariam um outro estatuto, talvez não desportivo mas económico, não tem explicação, a não ser pelo seu indefectível amor à camisola e ao emblema. Ao clube!
O Manel tinha apenas mais nove anos que eu, ou oito e uns pozinhos, vá lá, portanto eu sou um dos privilegiados que o viu jogar de verde e branco e estava lá na chamada bancada nova, naquela tarde/noite meio chuvosa dos sete a um à lampionage em que ele enfiou quatro batatas no gol do Silvino que, coitado, até fez uma excelente exibição.
Era sempre uma delícia ver este rapaz jogar, lá dentro não era só ele que jogava, com ele jogava também o seu sportinguismo, a sua enorme paixão pelo Sporting.
Terá sido dura a sua saída, porque tenho a certezinha absoluta que a sua vontade era jogar até de cadeira de rodas ali, com a listada no corpo em defesa das nossas cores, mas foi o melhor que fez, sair em grande e pela porta grande, que é por onde saem os heróis. Foi para Setúbal, onde ainda fez umas belas jogatanas e prosseguiu como treinador, tendo como maior registo a subida do Santa Clara à primeira divisão, sendo no Sporting treinador de vários escalões e adjunto de Bobby Robson.
Era um olheiro de primeira água. Lembro-me de uma vez, já no novo estádio, estarmos à conversa num dos camarotes onde fui ver um jogo a convite de uma empresa de cervejas que não é a Sagres, ele me ter dito sobre um jogador recentemente contratado por quem "pagámos bem, mas este miúdo não vai dar nada" explicando porquê. Estava certo, infelizmente, o não interessa o nome não deu nada e acabou por sair pela porta pequena no final dessa época.
Entretanto a sua vida foi o Sporting.
Não lhe imagino melhor sentido para a vida do que aquele que escolheu.
Mais uma vitória, mais uma noite de sofrimento atroz.
Este ano então tem sido demais. Mas sofrer e estar na frente é bem melhor que estar com menos não sei quantos pontos que o primeiro classificado!
Depois dos jogos contra o Casa Pia, Vizela, Farense, Estrela da Amadora, Arouca, Famalicão, Portimonense parece-me que este ano estamos destinados a sofrer a bom sofrer para ver o Sporting ganhar!
Provavelmente a tag #ondevaivaotodos que em 2020/2021 tanto gostámos deveria ser substituída por #sofrerparaganhar.
Já comprei um DAE portátil para ter em casa.
E pronto para o ano haverá mais e até lá desejo a todos os meus companheiro do blogue, para os leitores e comentadores uma passagem de ano repleta de muita alegria e que esta seja a antecâmara pde Maio (se for Abril melhor ainda!).
Óptimo 2024.
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