Andava eu cheio de dúvidas sobre qual a equipa com mais hipóteses de conquistar o campeonato nacional de futebol 2023/2024 quando li umas declarações de Augusto Inácio que me esclareceram por completo.
Pé-canhão do internacional sueco a marcar o segundo golo: estreia de sonho em Alvalade
Foto: José Sena Goulão / EPA
Lá tiveram as aves agoirentas de fechar a matraca. Andaram dois meses a desancar o novo ponta-de-lança leonino nas redes associais, piando contra o preço «demasiado caro» do internacional sueco e gozando à brava com o facto de o ex-avançado do Coventry vir da segunda divisão inglesa. Anteontem, sábado, comprovou-se esta evidência: o Championship é mais competitivo do que a primeira liga tuga. Gyökeres teve uma estreia de sonho no magnífico tapete verde de Alvalade, perante mais de 37 mil adeptos que o vitoriaram. Quem ansiava por um fracasso teve de enfiar a sanfona na bagagem de porão.
Bastaram 14 minutos para o nosso goleador fazer o gosto ao pé. Primeiro com o esquerdo, evidenciando soberbos dotes técnicos. Oitenta segundos depois, bisou - desta vez com o direito, em lance que ele próprio inicia, numa recuperação à saída da grande área.
Delírio em Alvalade neste regresso aos grandes dias da festa do futebol após onze penosas semanas de ausência. Com o nosso megacampeão Carlos Lopes - muito aplaudido antes do jogo - a assistir na tribuna de honra do estádio.
Esta era a novidade mais ansiada: Gyökeres passou com distinção no teste de fogo real, após promissora aparição nos amigáveis da pré-temporada. Uma estreia em jogos oficiais de verde e branco que ele jamais esquecerá.
Nós também não.
Na tribuna, outro reforço assistia com interesse à partida, no próprio dia em que chegou a Lisboa: o dinamarquês Morten Hjulmand, que ontem assinou contrato. É o nosso novo titular como médio defensivo - posição em que estamos absolutamente carenciados por ausência de um profissional experiente formado de raiz para este efeito. Ugarte já cá não mora.
Rúben Amorim, tantas vezes acusado de ser pouco inovador, deu estreia absoluta como titular a Geny na ala direita, concedendo-lhe liberdade para se projectar com ousadia na manobra ofensiva com Diomande atento às dobras na retaguarda. No miolo, um dos melhores médios criativos saídos da Academia leonina: Daniel Bragança, após longo calvário provocado por grave lesão que o afastou 15 meses dos jogos oficiais.
Sinais transmitidos pelo treinador de que confia nos talentos da casa.
O corredor oposto ficou a cargo de Matheus Reis, enquanto Morita assegurava os equilíbrios defensivos em parceria com Daniel. Duo inédito que funcionou até ao intervalo, quando vencíamos por 2-0. Gyökeres ainda tentou o terceiro de cabeça, na sequência de um canto, mas o guarda-redes defendeu.
O sueco não foi importante apenas por se tornar a nova referência atacante do Sporting, permitindo à equipa esticar o jogo com maior rapidez desde o momento em que recupera a bola. Também se destacou pelo que fez jogar, articulando bem com os companheiros - Pedro Gonçalves posicionado à esquerda e Trincão à direita - como se já jogasse há muito em Alvalade. E confirmou-se: é um poço de resistência física.
Sem nunca virar a cara à luta até ao instante final.
Infelizmente a equipa foi tirando o pé do acelerador ao perceber que a vitória acabaria por sorrir sem demasiado esforço. Convicção reiterada pelo facto de o Vizela, ao longo de toda a primeira parte, só ter feito um remate enquadrado, para defesa fácil de Adán.
O panorama mudou na etapa complementar. Daniel já não regressou, por precaução física, na sequência de um embate de cabeça com Nuno Moreira, ex-colega da formação leonina. Para o seu lugar entrou Edwards, que pareceu replicar em campo o comportamento de Trincão: desligado da manobra colectiva, parecendo mais preocupado em recrear-se com a bola do que em servir os colegas, complicando mesmo nas situações mais fáceis. Ambos também com défice na pressão da saída de bola do Vizela, facilitando a tarefa à turma visitante.
Pedro Gonçalves recuou para 8 mas não fez parceria eficaz com Morita. Manteve-se muito encostado à linha dianteira, sobrando para o internacional nipónico, sozinho, o confronto com Diogo Nascimento e Bustamante. Estes foram municiando os alas que se projectavam.
Amorim começou por retirar Geny: Esgaio prometia mais solidez defensiva ao corredor direito. Mais difícil de entender foi a troca de Matheus Reis - autor da assistência para o primeiro golo - por outro jovem da nossa formação, Afonso Moreira, este em estreia absoluta na equipa A. Também com clara vocação ofensiva, contribuindo para ampliar os espaços onde o Vizela fazia circular a bola.
Ao minuto 72', um colega de blogue que assistia comigo ao jogo dizia-me: «Vem aí um duche gelado.» Parecia que adivinhava: vieram mesmo dois golos de rajada, também com minuto e meio de intervalo - aos 75' e aos 77'. O primeiro por Essende, em três toques rápidos desde o guarda-redes, apanhando todo o nosso bloco defensivo desposicionado - incluindo Adán, que saiu mal na fotografia. O segundo por Nuno Moreira após inacreditável atrapalhação de Coates na saída com a bola.
Duche de água gelada, sim. Quando já se escutavam assobios bem sonoros no estádio e a equipa dava sinais de desnorte táctico, sem saber se privilegiava o ataque ou a defesa.
Recebeu então ordem do treinador para atacar em pressão altíssima no quarto-de-hora que faltava. Aí encostámos por completo o Vizela às cordas: o vulcão verde-e-branco reacendeu-se. Os oito minutos de tempo extra incutiram-nos ainda mais ânimo.
Nesta fase o Sporting chegou a actuar com três pontas-de-lança: Gyökeres, Paulinho (que substituíra o ineficaz Trincão) e Coates, também plantado na grande área. Os três acabaram por ter protagonismo, já ao minuto 90'+9: o sueco assiste de cabeça, o capitão vai ao choque com o central e a bola sobra para Paulinho, que à boca da baliza estica o pé direito e a mete lá dentro.
Delírio generalizado na nação leonina: por uma questão de segundos, assegurámos a vitória, garantimos os três pontos na jornada inicial da Liga 2023/2024 e mantivemo-nos invictos perante o Vizela, que nunca pontoou connosco. Embora nos tenha dado muito trabalho: na época anterior só os vencemos também pela margem mínima (2-1 cá e lá), com o desafio de Alvalade a culminar em triunfo só aos 90'+5, de penálti, convertido por Porro.
Em comparação com esse campeonato, já levamos dois pontos de vantagem: há um ano começámos mal, empatando em Braga.
Adán - Grande defesa a uma bomba de Nascimento aos 63. Mas teve uma hesitação fatal ao minuto 74, ao sair muito mal da área, facilitando o primeiro golo do Vizela.
Diomande - Batido no duelo com Nuno Moreira, no segundo golo da turma visitante. Mancha numa exibição que até aí denotava segurança, não apenas no processo defensivo.
Coates - Preso de movimentos, com falta de mobilidade. Fez alguns cortes à sua maneira, mas comprometeu no lance que origina o segundo do Vizela. No fim, ajudou lá na frente como pôde.
Gonçalo Inácio - Devolvido à posição adequada, como central canhoto, foi o melhor do trio defensivo nos passes longos. Mas não está isento de culpa no descalabro daquele minuto e meio quase fatal.
Geny - Noite de estreia, como titular, do jovem moçambicano formado em Alcochete. Começou bem, com projecção ofensiva, mas abusou dos dribles e denotou falta de automatismos a defender.
Morita - Com Ugarte agora ausente, coube-lhe ser médio defensivo improvisado. Recuperou muito, lutou pela posse de bola, articulou bem com Daniel. Na segunda parte, faltou-lhe parceria.
Daniel Bragança- Voltou 15 meses depois, após lesão. Organizou jogo, distribuiu com critério, não perdeu tempo com rendilhados. Saiu ao intervalo, contundido. A equipa ressentiu-se desta ausência.
Matheus Reis - Cumpriu no essencial como ala esquerdo. Momento alto: cruzamento milimétrico para Gyökeres brilhar, no primeiro golo. Substituído aos 64', sem que se percebesse porquê.
Trincão - Regressa aos jogos do campeonato como se despediu do anterior: abusando do individualismo, com fintas e fintinhas. Faltou-lhe eficácia com bola. Devia ter saído mais cedo.
Pedro Gonçalves - Estreia infeliz nesta nova Liga. Nada lhe saiu bem: desperdiçou quatro oportunidades de golo. Rendeu pouco à frente, no primeiro tempo, e nada a meio, na segunda parte.
Gyökeres - Chegou, jogou e venceu. A massa adepta rendeu-se à mobilidade e ao poder de fogo do reforço sueco. Marcou dois golos, ajudou a construir o terceiro. Titular absolutíssimo.
Edwards - Fez todo o segundo tempo, substituindo Daniel. A sua entrada forçou o recuo de Pedro Gonçalves. Pareceu algo displicente, quase desinteressado. Também ele a abusar das fintas.
Esgaio - Entrou aos 55' quando as pilhas de Geny já pareciam gastas. Menos desequilibrador do que o colega mas mais consistente no plano defensivo. Faltou-lhe ousadia na manobra ofensiva.
Paulinho - Rendeu Trincão (64'). Parecia mais do mesmo: segurou mal uma bola, atirou outra ao lado, deixou-se cair dentro da área. Mas, enfim, foi figura do jogo ao apontar o golo decisivo.
Afonso Moreira - Estreia absoluta na primeira equipa após jogar no Sporting B. Entrou nervoso, com propensão atacante, mas também a abusar das fintas inócuas. Saiu a segundos do fim.
Neto - Esteve doze segundos em campo, rendendo Afonso Moreira já com o resultado feito e sem chegar a tocar na bola. Aparição algo insólita. Deu para ouvir aplausos.
Do regresso ao Estádio José Alvalade. Pontapé de saída da Liga 2023/2024 ainda com luz solar (o jogo começou às 20.30) e bancadas muito compostas (mais de 37 mil espectadores). A saudar o novo campeonato que começa após um defeso que nos pareceu demasiado longo.
De começar com uma vitória. Foi muito suada, mesmo no último lance do encontro: três pontos arrancados a ferros, no décimo minuto de tempo extra, esgotados já os oito suplementares decididos pelo árbitro Fábio Melo, em estreia auspiciosa na Liga I - oxalá tenha carreira longa e bem-sucedida. Reeditando, de algum modo, o que acontecera no campeonato anterior, em que só um penálti aos 90'+5, convertido por Porro, nos deu os três pontos - então vencemos por 2-1, agora por 3-2. Confirmando o Vizela (onde há três nossos ex-jogadores) como uma equipa muito complicada.
De Gyökeres. Sim, é reforço. E que reforço! Não estavam esgotados os 14 minutos iniciais da partida inaugural do campeonato para o potente avançado sueco demonstrar ao que veio. Tem faro de baliza, quer muito marcar. Bisou, com 82 segundos de intervalo. No primeiro, a centro de Matheus Reis, tira dois defesas da frente com uma simulação de corpo e fuzila cruzado, de pé esquerdo. O segundo, aos 15', é todo inventado por ele, começando numa recuperação de bola que também protagonizou. Ainda tentou um terceiro, de cabeça, após canto, aos 27'. E tem intervenção decisiva no disparo do triunfo, com uma assistência - também de cabeça. Exibição brilhante, de longe o melhor em campo. Não podia ter começado melhor.
De Morita. Actuou como um todo-o-terreno, procurando suprir a ausência de um médio defensivo de raiz (o reforço dinamarquês, chegado ontem, ainda só estava na tribuna, Tanlongo foi riscado do plantel e Dário nem foi convocado). Esteve em todo o lado, com enorme pulmão: quem diz que não aguenta 90' equivoca-se. Foi o rei das recuperações, aferrolhando o corredor central enquanto formou duo com Daniel Bragança. No segundo tempo, tendo um displicente Pedro Gonçalves como par, viu-se várias vezes isolado perante três adversários nessa zona. Mas nunca baixou os braços, foi sempre à luta.
De Paulinho. Ausente do onze inicial, em campo desde os 64', desta vez resolveu - ao minuto 100 do jogo, e logo com o seu pé "cego", o direito. Transformou um mais que provável empate numa quase miraculosa vitória. Tributado com merecida ovação no estádio.
Da aposta de Rúben Amorim em jovens. Além de Geny, titular como ala direito, e do regressado Daniel Bragança (boa primeira parte, saiu ao intervalo por precaução após um choque), o treinador fez alinhar também Afonso Moreira, que rendeu Matheus Reis aos 64'.
Do resultado ao intervalo. Vencíamos por 2-0, somávamos quatro outras oportunidades de golo. O Vizela fez o primeiro remate enquadrado já no tempo extra da etapa inicial. Tudo apontava para goleada. Ou, pelo menos, para um triunfo tranquilo, sem o alucinante sufoco do quarto de hora final.
De termos cumprido 15 jogos seguidos sem perder. Se somarmos o de ontem às 14 rondas finais da Liga 2022/2023, é este o número de desafios que já levamos sem conhecer o mau sabor da derrota em jogos oficiais.
Da nossa folha limpa perante o Vizela. Já os defrontámos em onze partidas - sempre a vencer. Caso inequívoco de maioria absoluta.
De já levarmos três pontos de avanço sobre o Braga. Os arsenalistas foram derrotados em casa (1-2), na ronda inaugural, pelo vizinho Famalicão.
Da "estrelinha". Nem Amorim, na conferência de imprensa final, negou a evidência: estes três pontos após termos consentido a reviravolta do Vizela em minuto e meio, já perto do fim, assinalam o regresso da abençoada deusa da fortuna que nos foi acompanhando durante o inesquecível campeonato 2020/2021. Antes assim.
Não gostei
Da displicência da equipa após a meia hora inicial. Vários jogadores actuaram sem intensidade, sem genica, sem entrega ao jogo. Como se já tivessem cumprido mais um dia de rotina no escritório. Isto deu ânimo aos vizelenses, que foram avançando no terreno e somando investidas perigosas à nossa baliza. Podiam ter marcado o primeiro aos 63', por Ricardo Nascimento: Adán desviou o disparo com a ponta das luvas.
Do nosso colapso defensivo. Os dois golos da equipa visitante, aos 75' e 77', resultaram de clamorosas falhas colectivas. Com os de Vizela a fazer o contrário do que vínhamos produzindo: bola a rolar rápida, ao primeiro toque, ataque eficaz à profundidade, contragolpe veloz em contraste com a lentidão dos nossos. No primeiro, Adán é também mal batido: saiu não só da baliza como da grande área e só conseguiu meia-defesa com os pés enquanto Coates defendia com os olhos. No segundo, o capitão uruguaio entregou a bola ao adversário, deixando os colegas desposicionados. Dois jogadores formados na nossa Academia (Tomás Silva e Nuno Moreira) construíram esse golo em poucos segundos.
De Pedro Gonçalves. Partida calamitosa do nosso ex-n.º 28, agora tendo nas costas o número oito, que pertenceu a Bruno Fernandes. Arrastando os pés, com aparente falta de energia, desperdiçou quatro golos. Aos 22', isolado por Gonçalo Inácio, deixou a bola fugir pela linha de fundo. Aos 27', bem servido por Trincão, deixou-se antecipar pela defesa. Aos 57' atirou para a bancada após assistência milimétrica de Edwards pelo lado esquerdo. Aos 81', novo balão para a bancada. O melhor que fez foi um remate rasteiro, aos 57', que o guarda-redes interceptou com facilidade.
De Trincão. Faz sempre mais uma finta, ensaia sempre mais um rodriguinho, vai dando voltas ao carrossel. Embrulhando o jogo. Incapaz de seguir a pedalada de Gyökeres, nem acelerou nem demonstrou intensidade. Prestação falhada: saiu aos 64', dando lugar a Paulinho.
De Edwards. Espécie de cópia de Trincão, em campo durante toda a segunda parte - foi ele a substituir Daniel Bragança. Enquanto o minhoto gira no carrossel, o inglês cola-se à bola e parece querer levá-la para casa. Esquecendo-se de jogar para a equipa.
De Afonso Moreira. Estreia em jogos oficiais entre os maiores. Rendeu Matheus Reis, numa substituição algo insólita pois o brasileiro estava a cumprir e tinha até feito a assistência para o primeiro golo. O jovem ala esquerdo decidiu quase sempre mal, embrulhando-se em fintas que resultaram em desarmes fáceis. Veremos quando voltará a ter nova oportunidade. Esta foi desperdiçada.
Da aparente lesão de Daniel Bragança. Após choque de cabeças, numa bola disputada com Nuno Moreira, o nosso médio criativo, pareceu atordoado. Já não regressou do intervalo. A equipa ressentiu-se. No primeiro tempo, foi ele o principal estratego e organizador do onze, fazendo boa parceria (inédita) com Morita. É verdade que falhou um golo cantado, aos 43', atirando para a bancada após assistência de Gyökeres. Mas também ofereceu outro, num excelente passe picado a isolar Trincão, que desperdiçou.
Das vaias. Decorria o minuto 54, vencíamos por 2-0. Mesmo assim, escutaram-se estrondosos assobios no estádio. Visado: Trincão, por ter perdido duas vezes a bola em lances consecutivos. Nunca entenderei esta atitude do "tribunal" de Alvalade, rasgando a própria equipa enquanto decorre um jogo. Mantém-se a péssima tradição: enerva os nossos, moraliza os adversários. Quem tanto gosta de assobiar, devia fazê-lo em casa.
Foto minha, minutos antes do jogo, ontem no regresso a Alvalade
Se persistir sem ganhar com clareza aos rivais mais bem cotados, o Sporting jamais terá estatuto permanente de candidato ao título.
Nos últimos dez anos, para o campeonato nacional, em 20 jogos só vencemos oBenficatrês vezes. Perdemos sete, empatámos dez. Saldo negativo em golos: 25 marcados, 28 sofridos. Melhores marcadores: Slimani e Pedro Gonçalves, cada qual com três.
Nos últimos dez anos, para o campeonato nacional, em 20 jogos só vencemos oFC Portocinco vezes. Perdemos nove, empatámos seis. Saldo negativo em golos: 19 marcados, 33 sofridos. Melhores marcadores: Slimani (6) e Nuno Santos (3).
Na época passada, com Benfica e FC Porto jogámos cinco vezes (o quinto jogo foi a final da Taça da Liga, frente aos portistas). Sem vencermos qualquer destes confrontos.
Com o Braga, vencemos duas vezes e empatámos outra. Tem de ser esta a proporção mínima com SLB e FCP. Desígnio estratégico. Quem vence os grandes, por maioria de razão fica mais habilitado a vencer médios e pequenos.
Quase um mês depois do último post que fiz sobre este assunto, a situação do plantel ficou substancialmente mais clarificada:
Saídas confirmadas:
Papuna Beruashvili (19) - Sem justificar a contratação definitiva.
Alcantar (19) - México - Defesa central com potencial, para mim o melhor da B. Sem acordo para contratação.
Gilberto Batista (19) - Moreirense
Martim Marques (19) - Lugano - Actuou na Youth League sem grande destaque.
João Ferreira (19) - Santa Clara - Defesa esquerdo que actuava na B
Joelson Fernandes (20) - Hatayspor
José Marsà (21) - Andorra
Tiago Tomás (21) - Wolfsburgo
Ugarte (21) - PSG - Mais uma venda por números colossais dum jogador projectado por Rúben Amorim.
Sotiris (21) - Empréstimo ao Olimpiakos c/ opção de compra
Arthur Gomes (24) - Cruzeiro
Idrissa Doumbia (25) - Al Ahli
André Paulo (26) - Mafra
Rochinha (28) - Empréstimo ao Al-Markhiya SC, c/ opção de compra
Bellerín (28) - Betis?- Sem justificar a contratação definitiva.
Tiago Ilori (30) - Rescisão
Entradas confirmadas:
Pedro Bongo (19) - Petro Luanda
Gyokeres (25) - Coventry
Hjulmand (24) - Lecce
Empréstimos prováveis de jovens com contrato longo:
Gonçalo Esteves (19) - Contrato até 2026
Fatawu (19) - Contrato até 2027
Tanlongo (19) - Contrato até 2027 - Empréstimo ao Valladolid ?
Renato Veiga (19) - Contrato até 2025
Flávio Názinho (19) - Contrato até 2025
Saídas definitivas em negociação:
Rafael Camacho (23) - Contrato até 2024
Eduardo Henrique (28) - Contrato até 2024
É mesmo muita gente a sair, com reflexo directo na folha salarial e no que vão ser os planteis das 3 equipas seniores. Vamos ter uma equipa A com muitos jovens que rodaram na B, uma equipa B maioritariamente composta de juniores, uma sub23 com juniores e juvenis, a de juniores com juvenis, e assim sucessivamente.
Pelos vistos continua a ser difícil para o Sporting encontrar clubes nacionais ou estrangeiros onde pôr a rodar jogadores jovens sem opção de compra. Por isso Gonçalo Esteves, Fatawu, Tanlongo, Renato Veiga e Flávio Nazinho continuam por colocar.
Catamo depressa fez esquecer Gonçalo Esteves, outra maturidade e outro andamento.
Tanlongo com o dinamarquês jogaria muito pouco e existe Essugo para fazer crescer. Uma temporada a jogar seria óptimo.
Renato Veiga rendeu na Alemanha, se conseguiu por intensidade no seu futebol se calhar já está num plano superior que o próprio Essugo. Só vendo.
Nazinho depois daquele falhanço na Champions em frente ao golo desapareceu do radar. Na B jogou pouco e mal.
Fatawu aparentemente será mais um caso de falta de cabeça do jogador para perceber o que Rúben Amorim espera dele, dentro e fora do campo, diferente do que gosta e está habituado a fazer na selecção e até na B. Assim é complicado. Exigir a Amorim que abdique da disciplina e comprometa o espírito de grupo para acomodar os egos de Slimanis e Fatawus é um disparate. O que já não é disparate é questionar qual é o acompanhamento que estes jovens mais complicados mas de grande potencial têm em Alcochete, e que cuidados se tiveram aquando da contratação para deixar claro o que era pretendido.
Com a chegada do dinamarquês e a recuperação de St. Juste, o onze padrão do Sporting poderia ser o seguinte:
Adán; Diomande, Coates e Inácio; St.Juste, Hjulmand, Pedro Gonçalves e Nuno Santos; Edwards, Gyökeres e Trincão.
Seria um onze ao meu gosto, com peso e altura no eixo central, e velocidade e imprevisibilidade nas alas.
Mas em cada jogo podem entrar em campo 16, existem lesões e castigos, importa ter no plantel um onze sombra de qualidade próxima do base. Neste caso seria o seguinte:
Israel (Callai); Quaresma, Neto e Matheus Reis (Muniz); Esgaio (Catamo), Essugo, Morita (Bragança, Mateus Fernandes) e Afonso Moreira; Catamo (Jovane), Paulinho e Rodrigo Ribeiro.
Aqui nota-se que existem dois ou três que muito pouco jogarão esta temporada e que poderiam também ser emprestados para rodar e voltar mais fortes.
Este plantel é melhor ou pior do que os anteriores do tempo do Amorim? Daquele que nos deu o título, com Palhinha e João Mário, a segunda posição no ano seguinte, com Palhinha e Matheus Nunes, e a quarta do ano passado, com Ugarte e Morita, no centro do terreno? Eu diria que em termos de guarda-redes, defesas e atacantes é mesmo o melhor, já nas alas e meio-campo penso que não. Falta um novo Matheus Nunes no meio e falta um novo Porro/Nuno Mendes na direita.
Péssimo indício. Espero que os horários dos jogos não sejam tão nocturnos em vésperas de dias de trabalho nesta nova temporada como foram na anterior. Quem não perceber que isto tem fortíssima influência na ida aos estádios, não percebe nada. Fará melhor em mudar de ramo e dedicar-se a outra actividade qualquer.
A 11 de Maio - há 75 dias - ficou claro, pelas palavras do seu empresário, que Manuel Ugarte sairia do Sporting no final da época. As palavras foram públicas e não deixaram dúvidas a ninguém.
A 27 de Maio - há 59 dias - Ugarte fez o último jogo de verde e branco, defrontando o Vizela. Era ponto assente que rumaria a um clube que batesse a cláusula dos 60 milhões de euros.
A 15 de Junho - há 40 dias - o presidente do Sporting assumiu, em entrevista à televisão do clube, que o internacional uruguaio iria mesmo sair «para um de dois grandes clubes europeus».
A 7 de Julho - há 18 dias - Ugarte foi oficialmente apresentado como reforço do Paris Saint-Germain para a nova temporada.
Hoje, 25 de Julho, à hora a que escrevo, o talentoso médio defensivo ainda não tem sucessor no plantel do Sporting. Apesar de a sua posição ser nevrálgica em qualquer equipa que ambiciona conquistar títulos e troféus.
Com os jogadores que estiveram presentes no dia do início da nova temporada, os que não estiveram presentes, os que vêm mais tarde e as transferências confirmadas e por confirmar, pode-se começar a fazer um pequeno esboço do plantel para 2023/2024:
Jogadores que se apresentaram no dia do regresso:
Guarda-Redes: Antonio Adán, Francisco Silva, Diego Calai
Alas-Direitos: Ricardo Esgaio
Centrais: Sebastián Coates, Matheus Reis, Ousmane Diomande, Gonçalo Inácio, João Muniz, Luís Neto, Eduardo Quaresma, Jeremiah St. Juste
Alas-Esquerdos: Nuno Santos
Médios: Mateus Fernandes, Dário Essugo, Daniel Bragança
Extremos: Pedro Gonçalves, Marcus Edwards, Jovane Cabral, Francisco Trincão, Geny Catamo, Afonso Moreira
Pontas-de-Lança: Youssef Chermiti, Paulinho
Jogadores que se apresentam mais tarde, por terem jogado pela selecção:
É fundamental planificar desde já a próxima época. Rúben Amorim está a trabalhar nesse sentido, até no plano táctico - como ficou patente no modo como dispôs a equipa num inédito (para ele) 4-4-2 no quarto de hora final do jogo em Paços de Ferreira.
Bom sinal? Seguramente. Para mim, sem sombra de dúvida.
Falta o mais importante: saber quem fica e quem sai do actual plantel. O treinador já exigiu três reforços a Frederico Varandas: um lateral direito (Bellerín não permanecerá em Alvalade), um médio ofensivo e um avançado.
Suprindo assim lacunas óbvias no núcleo de jogadores titulares.
Entre as incógnitas que subsistem, destacam-se as possíveis saídas de Ugarte (cobiçado pelo Liverpool) e Nuno Santos.
Se assim for, o caderno reivindicativo do técnico leonino amplia-se: precisará também de um novo médio defensivo e de um novo ala esquerdo.
Veremos o que acontece. Para já, confirma-se algo já esperado: Rúben está consciente de que houve erros de planificação da época prestes a terminar. Erros de quantidade (o plantel era demasiado curto) e de qualidade (houve posições fundamentais que ficaram desguarnecidas com as saídas de Sarabia, Palhinha, Matheus Nunes e Tabata, além da lesão prolongada de Daniel Bragança).
Sinal positivo, pois. Gosto de ver o copo meio cheio. E é mesmo assim que o encaro.
Gostava muito que Rúben Amorim ficasse no Sporting pelo menos mais uma temporada - e que essa temporada fosse coroada de êxito.
Para tanto, a época tem de começar a ser muito mais bem preparada do que a anterior. Caso contrário o cenário desta que ainda decorre tende a repetir-se.
Recordo que em relação à época anterior perdemos quase de imediato cinco jogadores, todos acima da média: Sarabia, Palhinha, Daniel Bragança, Tabata e Matheus Nunes. Por motivos diferentes, é certo. Mas foi excessivo.
Dos que vieram, só Morita e Diomande (este já em Janeiro) podem ser considerados verdadeiros reforços. St. Juste já vai na quinta lesão e Arthur tem jogado pouco.
Claramente insuficiente. Há que fazer mudanças, quanto mais cedo melhor.
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