Viktor Gyökeres é um caso raro de popularidade instantânea entre os sportinguistas. Conquistada logo na sua primeira aparição de Leão ao peito. Aconteceu a 25 de Julho, num jogo de preparação da época, frente ao Real Sociedad, no estádio do Algarve.
Bastaram 19 minutos para que o craque sueco se estreasse a marcar como artilheiro leonino frente à equipa adversária, participante na Liga dos Campeões. Aproveitando da melhor maneira a sua primeira oportunidade - que foi também a primeira oportunidade da nossa equipa neste desafio frente ao quarto classificado da Liga espanhola 2022/2023.
Houve explosão de alegria nas bancadas. Era natural: confirmava-se que Gyökeres era mesmo reforço. Não só pelo golo, mas por ter lutado sem cessar pela posse da bola. E também pela boa condição física que evidenciou até ao apito final.
Poucas semanas depois, já havia um cântico das bancadas dirigido ao ponta-de-lança que veio do Coventry. Repetindo-se o ocorrido com Bas Dost: o grande artilheiro holandês esteve três temporadas no Sporting, onde marcou 93 golos em 125 jogos.
Tal como ele, Viktor também cativou o coração dos sportinguistas sem aparente esforço. Daí ouvir o seu nome entoado por milhares de gargantas em Alvalade e noutros estádios do País onde se concentram sócios, adeptos e simpatizantes do Sporting. «O estádio vai abaixo quando fazes um golo», entoa-se num desses cânticos.
Mas o mais importante é o refrão, com o nome mágico: «Gyökeeeeeres!»
Sinónimo de esforço, dedicação, devoção e glória. Sinónimo de combatividade. Sinónimo de espírito leonino. Traduzido já em 17 golos e nove assistências. Com inequívoco estofo de campeão.
Foi eleito, sem favor, o melhor da Liga Europa. Golo extraordinário, daqueles inesquecíveis, daqueles que gostaremos de recordar aos nossos netos.
Golo de Pedro Gonçalves, marcado a 16 de Março no empate em Londres (1-1) que nos valeria - após a ronda de penáltis no fim - a eliminação do Arsenal, então líder da Liga inglesa, e a passagem aos quartos-de-final daquela competição europeia. Com ecos em toda a imprensa internacional mais influente.
Aconteceu com Pedro frente aos gunners o que tantas vezes lhe sucede: parecia alheado do jogo, algo escondido, pouco interventivo. Não lhe peçam para correr atrás da bola: ele funciona sobretudo com ela no pé. O golpe de génio ocorreu aos 62': pegou nela logo após a linha do meio-campo, ainda dentro do círculo central, e quase sem balanço, a 48 metros de distância, desferiu um remate mortal para as redes anfitriãs, num magnífico chapéu ao guarda-redes Ramsdale. Golaço de fazer abrir a boca, conforme as imagens documentam. E até valeu ovação de adeptos adversários.
Visto e aplaudido nos cinco continentes. Para gáudio e júbilo de toda a massa adepta leonina. Obra-prima do futebol.
Vale a pena destacar três menções honrosas de 2023, todas para lembrar também:
Nunca tinha acontecido: foi a nossa primeira vitória de sempre em Londres. Vitória não no tempo regulamentar, nem após o prolongamento (em que o 1-1 se manteve), mas na marcação de grandes penalidades - quando fomos mais competentes do que o poderoso rival inglês.
Vitória ainda mais saborosa porque a equipa adversária, à época, liderava de modo inequívoco a Premier League.
Foi a 16 de Março. Disputava-se o encontro da segunda mão dos oitavos da Liga Europa. Contra o adversário mais difícil que nos calhara. Uma semana antes tínhamos empatado 2-2 em Alvalade. Com golos de Gonçalo Inácio e Paulinho. Morita - azarado num autogolo - recebeu um amarelo que o afastou da partida de Londres, tal como sucedeu com Coates.
Mesmo assim, desfalcados de dois titulares, encarámos com optimismo e confiança o desafio do estádio Emirates, testemunhado por 60 mil espectadores nas bancadas. Eufóricos no início, desalentados no fim.
Seguimos em frente, com todo o mérito. Três golos marcados nas duas mãos desta eliminatória. Sem derrotas, melhores nos penáltis. Com cinco artilheiros que não falharam no momento decisivo: St. Juste, Esgaio, Gonçalo Inácio, Arthur e Nuno Santos.
Com seis jogadores muito jovens entre os 16 que participaram nesta partida épica: Diomande (19 anos), Gonçalo Inácio (21), Ugarte (21), Chermiti (18), Dário (18) e Tanlongo (19).
Contra uma equipa com mais de mil milhões de euros no seu orçamento para o futebol, cheia de estrelas: Oregaard, Trossard, Jorginho, Gabriel Jesus, Martinelli, Xhaka, Ben White, Zinchenko, Saka, Gabriel Magalhães e o ex-portista Fábio Vieira. Sem nunca tremermos perante os pergaminhos dos gunners.
Aconteceu a 12 de Novembro. Esteve para ser noite de festa, terminou em noite de pesadelo. Na casa do nosso mais velho rival, cheia para apreciar um dos clássicos do ano. Partida com desfecho absolutamente decepcionante para nós.
Ao intervalo, vencíamos 1-0. Congelando as bancadas do estádio da Luz, onde já ferviam palavras de impaciência e até indignação contra o treinador Roger Schmidt. Autor do golo, o suspeito do costume: Viktor Gyökeres, imparável, fuzilou a baliza encarnada ao conseguir libertar-se do espartilho duplo de Otamendi e António Silva. Foi no final da primeira parte, o que nos abria felizes expectativas.
Aos 52', ficámos reduzidos a dez. Por segundo amarelo exibido pelo árbitro Soares Dias a Gonçalo Inácio. O que forçou a saída de Edwards. Mas aguentámo-nos. Até ao descalabro do tempo extra, em que sofremos dois golos de rajada, aos 90'+4 e aos 90'+6.
Confesso não me lembrar de algo assim. No termo do tempo regulamentar, tínhamos mais 6 pontos virtuais do que o Benfica, reforçando a nossa liderança isolada do campeonato. Quando a partida terminou, estávamos em igualdade pontual - mas abaixo deles no critério do desempate. O SLB virou o resultado quando nas bancadas já esvoaçavam centenas de lenços brancos, acenando à despedida prematura do técnico alemão.
Com todos os seus altos e baixos o ano que ainda agora findou só pode ser considerado bom para o nosso clube.
- Primeiro, o clube e a SAD reportam resultados financeiros positivos num quadro de permanente reforço de infraestruturas e plantéis, estando o valor do plantel do futebol muito próximo (*) de ultrapassar o do FC Porto, de acordo com o TM.
- Segundo, existem resultados positivos assinaláveis no futebol e nas modalidades, dos quais se salienta a boa campanha europeia no Futebol e a conquista da Liga Nacional de Futsal, mesmo em luta directa com dois rivais que gastam duas ou três vezes mais. Chegámos ao fim do ano no topo da classificação nas Ligas de Futebol, Futsal, Andebol, Hóquei e Basquetebol, em 2º lugar em mais duas modalidades.
- Terceiro, porque foram finalmente obtidos com dois bancos privados portugueses os acordos que significam a reestruturação financeira do universo Sporting em termos muito vantajosos. Abrem a porta para a entrada dum parceiro estratégico para a SAD.
- Quarto, porque ao contrário de situações anteriores, no estádio e no pavilhão, as nossas equipas voltaram a gozar do apoio incondicional de todos a começar pelas claques (pirotecnia e javardice muito penalizadora para o clube é outro tema).
- Quinto, porque foi finalmente começado o processo de reabilitação do estádio e zonas circundantes, ainda muito aquém da grandeza do clube.
Tudo isto só foi possível :
- Pela estabilidade que se sente a todos os níveis, que começa no presidente e se estende aos plantéis. Em todos existem atletas com muitos anos de casa que sentem a camisola e transmitem aos mais novos o ADN Sporting.
- Pelo comportamento de dirigentes, treinadores e atletas. Calmos, educados, assertivos, focados, sem espaço para personagens rasteiras e sem vergonha como alguns que representam os rivais, com Sérgio Conceição e Pepe à cabeça.
- Pela competência dos técnicos que têm sabido fazer evoluir e projectar jovens formados localmente ou contratados fora, conjugando-os com atletas mais experientes e modelos de comportamento. Nesse aspecto, Rúben Amorim, Nuno Dias e Ricardo Costa, cada com as especificidades da respectiva modalidade, "escreveram o livro" do que é ser treinador do Sporting nos próximos tempos.
Alguns dirão que está de volta o "Campo Grande FC", que este não é o Sporting deles, o da exigência desbragada, da luta contra tudo e todos, da pirotecnia irresponsável, das "associações" desligadas do clube a que dizem pertencer.
Mas é o meu, aquele que conheci com o saudoso presidente João Rocha quando comecei a frequentar as bancadas de Alvalade.
Mas não chega, queremos mais, muito mais!
Vamos então a 2024!!!
A começar pela próxima sexta-feira, dia em que recebemos o Estoril.
(*) Estava mas já não está. À data de hoje:
1. SL Benfica 352,5 M€
2. Sporting CP 315,3 M€
3. FC Porto 280,1 M€ (Mesmo incluindo o David Carmo a 14M€... )
Todos gostaríamos que tivesse passado mais tempo connosco. Acabou por saber a pouco, naquelas duas épocas entre Agosto de 2021 e Junho de 2023. Mas valeu a pena vê-lo de verde e branco: é um futebolista cheio de classe, muito acima da média. Titular absoluto desde a partida de João Palhinha no Verão de 2022, destacou-se de modo irrepreensível. Merecia ter ficado num período de melhor rendimento global da equipa, em vez de pontificar num campeonato em que nos quedámos no quarto posto.
O uruguaio Manuel Ugarte Ribeiro, hoje com 22 anos, não tem culpa disso. Ele cumpriu a parte que lhe cabia, na posição de médio defensivo. Sempre disponível para as dobras dos colegas mais recuados, tanto no corredor central como nas alas. Com inegável capacidade de luta, visão de jogo, robustez física e comprovada capacidade técnica, confirmou em Alvalade a impressão muito positiva que já causara antes, no Famalicão.
Em boa hora foi contratado ao emblema minhoto. Chegou por 12,5 milhões de euros, brilhou de leão ao peito e rumou há sete meses ao Paris Saint-Germain, que lhe adquiriu o passe por 60 milhões. Tornou-se assim o segundo jogador que mais dinheiro proporcionou aos cofres leoninos, apenas superado pelos 65 milhões de euros gerados na saída de Bruno Fernandes para o Manchester United, em Janeiro de 2020.
As suas excelentes prestações no Sporting valeram-lhe ser distinguido para o onze ideal da Liga 2022/2023 por votação dos treinadores e capitães das equipas que participaram na prova. Os números atestaram o seu desempenho: participou em 31 desafios, conseguiu 189 recuperações de bola e protagonizou 122 desarmes - neste caso atingindo novo recorde na competição máxima do futebol português. Ganhou fama como especialista em roubo de bolas - no melhor sentido da expressão.
Estava ainda entre nós quando se estreou como internacional A pelo seu país após ter integrado as equipas sub-20 e sub-23 do Uruguai. Ponto alto, até agora, nesta carreira pela selecção: a convocatória para o Mundial-2022, no Catar. Bem merecida.
Continuamos a acompanhar a carreira dele à distância. O que facilmente se compreende: ele será sempre um dos nossos. Deixou saudades: é a melhor carta de recomendação.
Já somávamos várias decepções recentes: basta lembrar Marsà, Tanlongo e Sotiris, por exemplo. Chegaram como meteoros e partiram tão depressa como vieram. Mas este jovem espanhol parecia um caso diferente: apareceu em Alvalade aureolado de "novo Porro", seu compatriota que tão bem se adaptou ao Sporting. E tantas saudades deixou.
Iván Fresneda Corraliza, madrileno de 19 anos, fez parte da formação nas escolinhas do Real Madrid. Veio do Valladolid, onde esteve três épocas - na última, participou em 22 partidas da Liga do país vizinho. Internacional sub-19 por Espanha. Em Agosto, foi apresentado como reforço do Sporting. Custou nove milhões de euros, quantia que pode subir para 11 milhões caso se cumpram certos objectivos ao serviço da nossa equipa. Contrato até 2028, cláusula fixada em 80 milhões.
Vinha para sentar Esgaio, dizia-se. Mas não sentou, longe disso. E até foi ultrapassado por Geny como ala direito verde-e-branco. Estreou-se em 3 de Setembro, num jogo de má memória para nós: fomos empatar a Braga. Só entrou aos 85', rendendo precisamente Esgaio. Mal deu para observá-lo em campo.
A 21 de Outubro, outra avaliação negativa. Contra o modesto Olivais e Moscavide, emblema das distritais de Lisboa. Para a Taça de Portugal. Vencemos 3-1, mas eles foram os primeiros a marcar e havia empate ao intervalo, graças a um penálti convertido por Edwards mesmo ao terminar a primeira parte. A reviravolta só surgiu no segundo tempo.
Nova exibição apagadíssima - contra o Raków, para a Liga Europa. Fresneda parecia, de longe, o elo mais fraco do trio de reforços leoninos do Verão passado. Ao contrário de Viktor e Morten, que alguns olharam inicialmente com alguma desconfiança mas cujo mérito hoje já ninguém discute.
Utilizo o verbo no passado porque entretanto se lesionou. Em Novembro foi operado ao ombro esquerdo e tem-se mantido inactivo desde então, sendo incerta a data para o seu regresso à equipa.
Que em 2024 o espanhol possa enfim mostrar o que vale, assim espero. Ano novo, vida nova.
O calvário deste jovem jogador chegou ao fim: ei-lo renascido para o futebol. No Sporting, seu clube de sempre. Após um ano de inactividade forçada, imposto por uma grave lesão na pré-temporada de 2022: entorse traumática com lesão do ligamento cruzado anterior, num particular com o Estoril, a 9 de Julho. Foi sujeito a intervenção cirúrgica e a um período pós-operatório que parecia interminável.
Mas não há mal que sempre dure. Em Maio, com a época desportiva quase no fim, voltou a trabalhar com os colegas da equipa. Após 305 dias sem fazer o gosto ao pé. Aperitivo para a temporada agora em curso: pudemos enfim voltar a ver Daniel Santos Bragança, ribatejano agora com 24 anos, na sua posição de médio criativo, encarregado da construção ofensiva com qualidade técnica, precisão de passe e apurada visão de jogo. Foi entrando aos poucos até cumprir várias partidas como titular. Fazendo parceria com Morten ou com Morita: compõem o trio mais habitual do nosso meio-campo.
Desde 2007 no Sporting, onde fez toda a sua formação, Daniel é fruto da excelência da Academia de Alcochete, evidenciado sob o comando de Rúben Amorim. Já sénior, esteve emprestado ao Farense e ao Estoril. Com presença regular nas selecções jovens, sobretudo na sub-21, às ordens de Rui Jorge. Em 2021, sagrou-se subcampeão europeu: a equipa das quinas só perdeu a final frente à Alemanha.
Mas o seu melhor desempenho está a ser agora, de novo no Sporting. Só se surpreende quem andou alheio ao seu percurso ou preferiu ignorar os dotes deste médio tão inteligente como hábil no domínio da bola.
Já marcou três golos em competições oficiais desta época. Os primeiros contra o Olivais e Moscavide para a Taça de Portugal (21 de Outubro) e contra o Estrela da Amadora para o campeonato (5 de Novembro).
Sem favor algum: é jogador que há muito admiro. Está vinculado até 2025 ao Sporting, com 45 milhões de euros de cláusula de rescisão. Até lá, estou convicto, continuará a demonstrar o seu talento em campo. Os adeptos agradecem desde já.
É um dos futebolistas mais promissores do plantel leonino neste ano quase a terminar. Geny Cipriano Catamo, nascido há 22 anos na Beira (Moçambique), marcou presença regular na equipa principal em 2023 e chegou a ser apontado como melhor em campo. Indício de que o aguardam novos voos, cada vez mais ambiciosos. Concretizando um sonho que aos 18 anos, em Junho de 2021, o fez assinar pelo Sporting, vindo do Amora.
Podia não ter dado certo, como acontece a vários outros. Mas Geny - como prefiro chamar-lhe em vez de tratá-lo pelo apelido, pois tem nome próprio de craque - é jogador claramente acima da média. Estreou-se no primeiro escalão faz hoje dois anos, em Alvalade contra o Portimonense, num desafio que vencemos por 3-2. Como as primeiras impressões contam muito, fiquei logo com boa imagem dele.
Depois esteve emprestado ao V. Guimarães e ao Marítimo. Em boa hora regressou a Alvalade, no Verão passado, estreando-se como titular na partida inaugural da Liga 2023/2024, contra o Vizela. A 21 de Outubro, outra estreia, desta vez como artilheiro de leão ao peito: marcou ao Olivais e Moscavide, para a Taça de Portugal, e deu outro golo a marcar. Os três jornais desportivos elegeram-no melhor em campo. Com justiça.
«Não custa prever que será uma das nossas estrelas da temporada em curso», antecipei aqui, comentando esse jogo. Assim tem sido, sempre em rota ascendente: estreia a marcar no campeonato (contra o Boavista, no Bessa), participando até agora em 20 jogos desta temporada como ala direito, às vezes quase apenas lá na frente - lugar onde mais rende, ao estilo dos extremos clássicos. Pouco antes do Natal, renovou com o Sporting: tem agora contrato até 2028 e cláusula de rescisão fixada em 60 milhões de euros.
Sinal inequívoco de que Rúben Amorim aposta mesmo nele. E faz muito bem. Com dois golos e duas assistências, bom no drible, capaz de criar desequilíbrios no momento certo, Geny vai-se tornando imprescindível. Falta-lhe ganhar maturidade táctica no momento defensivo, mas também neste aspecto vem fazendo visíveis progressos. Tem tudo para singrar. A massa adepta sabe puxar por ele.
Ano agridoce para Rúben Amorim: começou mal, termina muito bem. Com o Sporting no comando do campeonato - como aconteceu na gloriosa época 2020/2021, em que conquistámos o título máximo do futebol português.
O problema da temporada anterior foi o péssimo arranque, ainda em 2022, com a saída de Matheus Nunes já com o campeonato em andamento. A equipa demorou a corrigir a rota e a conseguir novas rotinas sem o mais influente membro do onze titular. Mas os 14 jogos finais dessa Liga 2022/2023 decorreram já sem derrotas (11 vitórias e três empates), com triunfos contra Chaves, Estoril, Portimonense, Boavista, Santa Clara, Casa Pia, V. Guimarães, Famalicão, Paços de Ferreira, Marítimo e Vizela. O que não bastou, no entanto, para nos tirar do quarto posto.
A boa preparação da nova época, com as contratações de Viktor e Morten, fez toda a diferença. Seguimos em primeiro, isolados. Derrotámos o FC Porto em Alvalade por 2-0 num jogo em que o vídeo-árbitro Tiago Martins conseguiu anular-nos dois golos limpos para impedir a goleada. Chegamos ao Natal em todas as frentes, qualificados para as meias-finais da Taça da Liga e os oitavos da Taça de Portugal. E mantemo-nos na frente europeia: iremos defrontar o Young Boys em Fevereiro.
Apresentamos também o melhor futebol da temporada, como é reconhecido pelos comentadores mais insuspeitos de simpatias pelo Sporting. Já havíamos mostrado isso na época anterior, nomeadamente na épica eliminatória contra o Arsenal, em Março - culminando no afastamento da turma inglesa, derrotada nos penáltis no seu próprio estádio para a Liga Europa após empate 2-2 em Alvalade) quando liderava a Premier League. Nunca a nossa equipa tinha saído de Londres com um triunfo - outra conquista do actual técnico a par de vitórias inéditas na Alemanha e na Áustria - esta em Setembro do ano em curso.
Em Outubro, Rúben Amorim tornou-se o treinador do Sporting com mais vitórias neste século: 117, marca igual à de Paulo Bento mas alcançada com muito menos jogos. Passou a ser também o treinador mais vitorioso que passou por Alvalade nas últimas sete décadas. Melhor do que ele, apenas Joseph Szabo (1896-1973), húngaro que esteve onze temporadas no nosso clube - primeiro de 1935 a 1944, depois entre 1953 e 1955. O que faz já dele o português mais vencedor na história do nosso clube.
Nesta época, com 24 desafios disputados, Rúbem conduziu a equipa a 18 vitórias (com três empates e três derrotas) em todas as provas. Percentagem global de triunfos: 75%. Em casa, para a Liga, folha limpa: oito partidas, todas ganhas. Números de equipa grande. Tão grande como as maiores da Europa, cumprindo o lema do fundador.
Todos queremos que prossiga neste rumo.
Todos? Todos não. Uma ínfima minoria de letais ao Sporting torce para que ele perca sempre. Mas Rúben insiste em contrariar essa turba de ressabiados. Vai voltar a acontecer.
Internacional sueco, em boa hora descoberto pela competente estrutura de prospecção do Sporting, Viktor Gyökeres não tardou a tornar-se o elemento mais popular do plantel leonino na temporada em curso. Pela intensidade do seu futebol, pelos dotes técnicos que revela, pela sua capacidade de empurrar a equipa para a frente e pôr os adversários em sentido. E, sobretudo, pela sua capacidade concretizadora: em 20 jogos de leão ao peito, já leva 17 golos marcados, mais sete assistências.
Viktor Einar Gyökeres, 25 anos, signo Gémeos, confirma assim em Alvalade a fama de artilheiro que levou a administração da SAD a contratá-lo para colmatar a mais importante lacuna do nosso plantel: faltava-nos um homem-golo. Chermiti saiu para o Everton em Agosto por 12,5 milhões de euros - mais 2,5 milhões por objectivos - após três golos e duas assistências em apenas dez jogos como titular pela equipa principal. Foi uma das mais rentáveis transferências de sempre de um jogador saído da Academia de Alcochete. Paulinho, por sua vez, teve números decepcionantes na época passada: apenas marcou cinco. Cifra insuficiente para um ponta-de-lança de equipa com aspirações ao título.
Havia um problema: Gyökeres foi a solução. Jogava no Coventry, na segunda divisão inglesa. Foi de lá que os responsáveis leoninos o trouxeram. Já com alta rodagem na mira à baliza: tinha protagonizado 40 golos nas duas temporadas anteriores ao serviço deste emblema do Championship. Chegou em Julho e não foi barato: 20 milhões de euros, revelando-se a aquisição mais dispendiosa de sempre do Sporting. Contratado por cinco temporadas, até Julho de 2028, e cláusula de rescisão fixada em 100 milhões. Também a mais elevada de que há memória em Alvalade.
Alguns adeptos logo questionaram este preço. São dos que disparam primeiro e só pensam depois. Hoje todos reconhecem que até foi módico para um futebolista com este valor, já cobiçado por clubes da Premier League. Esses adeptos agora receiam que o sueco acabe por sair demasiado cedo. Passam quase sem transição do oito para o oitenta.
Em entrevista à edição de ontem do Record, Gyökeres deixou claro que se sente realizado no Sporting e quer jogar de verde e branco pelo menos até ao final da época. Certamente com o sonho de ser campeão nacional -- e talvez também de contribuir para a dobradinha, algo que não conseguimos desde 2002 no futebol.
Aconteça o que acontecer, apreciemos as exibições deste grande jogador, o maior obreiro do posto de comando em que estamos agora. Não por acaso, foi eleito melhor avançado do campeonato em quatro meses consecutivos, de Agosto a Novembro. E gerou-se já unanimidade: é ele, por enquanto, a grande figura da Liga 2023/2024.
Em cinco meses, entrou por mérito próprio na galeria suprema de pontas-de-lança que envergaram as nossas cores. Só neste século já ombreia - ou supera até - Liedson, Wolfswinkel, Montero, Slimani e Bas Dost. Só lhe falta ultrapassar Jardel. Mas quem sabe se isso não acaba mesmo por acontecer?
Sporting tropeça no "caldeirão" dos Barreiros: tudo se torna cada vez mais difícil
Foto: Homem de Gouveia / Lusa
Tinha tudo para dar certo. Mas deu errado. Desde o primeiro minuto neste embate com o Marítimo, anteontem, no Funchal. A equipa da casa, que ocupa o penúltimo lugar do campeonato e só tinha registado uma vitória (fora) até esta 15.ª ronda da Liga, encostou o Sporting às cordas, impossibilitou-nos de sair com a bola controlada, condicionou a táctica de Rúben Amorim e derrotou-nos com um golo de penálti - castigando falta infantil, totalmente escusada, de Mateus Fernandes.
Entrámos assim da pior maneira em 2023. Perdendo (0-1) contra uma equipa que ainda não tinha vencido no seu estádio, jogando a meio-gás, sem vitalidade nem ânimo. Como se receássemos progredir na tabela classificativa após termos visto o Benfica perder com o Braga (na jornada anterior) e o FC Porto empatar frente ao Casa Pia (nesta ronda).
Está visto que não temos equipa para situações de pressão alta. Parece que estes jogadores comandados por Rúben Amorim se dão melhor quando andam quase a meio da tabela, sem o stress dos lugares de topo. Algo incompatível com o lema fundador do clube - ser «tão grande como os maiores da Europa». Algo inconcebível para um emblema que tem como senha estas quatro palavras de ordem: «Esforço, dedicação, devoção e glória».
O esforço andou ausente do relvado funchalense. A dedicação foi mínima, a devoção foi residual, a glória foi nula.
Quinta derrota em 15 jornadas - perdemos uma em cada três. Temos agora o Benfica 12 pontos à nossa frente. o Braga seis pontos acima de nós, o FCP com mais cinco. E atenção ao Casa Pia, que continua a morder-nos os calcanhares: está apenas com menos um.
Rúben Amorim parece ter abdicado daquela ideia do «jogo a jogo», que tão bom resultado teve há dois anos, quando vencemos o campeonato. Desta vez abdicou totalmente ou parcialmente de três titulares, já a pensar no desafio seguinte, contra o Benfica. Pedro Gonçalves fez-se "amarelar" na jornada anterior para limpar os cartões nesta, Nuno Santos só saltou do banco de suplentes aos 57' e Coates saiu aos 75' - estes dois também estão à queima.
A verdade é que o Sporting, para não tropeçar na Luz, naufragou nos Barreiros. Péssima opção do treinador.
Morita, que chegou do Catar lesionado e ainda não recuperou, é outro titular indisponível. St. Juste, um dos "reforços" mais dispendiosos de sempre, até hoje só cumpriu um jogo inteiro: desta vez actuou só nos 20 minutos finais. O argentino Talongo, médio defensivo recém-chegado, assistiu à partida do banco de suplentes sem calçar.
A inédita dupla Ugarte-Mateus Fernandes foi impotente para travar o ímpeto ofensivo do Marítimo - com novo treinador, novo guarda-redes e um novo ala esquerdo (o brasileiro Leo Pereira) que promete brilhar na Liga portuguesa. A célebre "saída em construção" do Sporting começa a ser neutralizada por qualquer equipa adversária que saiba estudar a lição: voltou a acontecer. Sem plano B, enquanto o Rúben Amorim assistia, com aparente resignação, ao péssimo desempenho dos seus jogadores.
Nos minutos finais, o desespero do costume: todos à frente, a ver se pingava uma bola perdida que pudesse entrar. Até Adán lá foi. Quando o mais experiente nestas situações, Coates, já não estava em campo. E víamos mais três jogadores amarelados por protestos: Porro, Matheus Reis e Esgaio (este, caso insólito, no banco de suplentes).
É verdade que o árbitro Helder Malheiro fez vista grossa a um penálti sobre Porro, ao minuto 50. Mas a derrota do Sporting frente ao antepenúltimo não se explica por isto. O problema é muito mais profundo e parece ser bastante mais grave.
Breve análise dos jogadores:
Adán - Passou parte do tempo a jogar com os pés, tentando aliviar a bola da nossa área. Sofreu o golo solitário da marca dos 11 metros: continua sem conseguir defender penáltis.
Gonçalo Inácio - O mais seguro e tranquilo dos nossos jogadores, com cortes providenciais, compensando falhas dos companheiros. Competente nos passes longos, desaproveitados.
Coates - Transmite segurança: não foi por ele que a equipa claudicou. Quando poderia ser mais útil, impondo a sua estatura na busca de um golo de bola parada, já tinha saído.
Matheus Reis - O mais audaz dos nossos centrais, mas também o mais intranquilo. Alterna momentos de bom futebol com lapsos de desconcentração difíceis de entender.
Porro - Veloz, combativo, fez um centro primoroso aos 17', afastando a pressão adversária com um centro milimétrico para Paulinho marcar. Foi sempre um dos mais inconformados.
Ugarte - Regressou após castigo. Competente como médio defensivo, fracassou na parceria com Mateus Fernandes: faltou-lhe Morita para fazer a diferença. Continua infeliz no remate.
Mateus Fernandes - Estreou-se como titular na Liga. Tentou mostrar serviço, sem conseguir. Falhou passes, intercepções, ligação com o ataque. Fatal, o penálti que cometeu aos 53'.
Arthur - Substituiu Nuno Santos, poupado a pensar no clássico do próximo domingo. Tão discreto como ineficaz. Foi anulado como ala esquerdo. Saiu aos 57': o lugar é de Nuno.
Edwards - Recebeu um amarelo muito cedo, logo aos 11. Parece tê-lo afectado. Foi-se retraindo, sem fazer a habitual diferença, até se tornar inoperante e ser substituído.
Trincão - Uma das suas piores exibições pelo Sporting. Nada lhe saiu com precisão. Também não fez grande esforço nesse sentido. Ou passava mal ou recebia mal a bola.
Paulinho - Teve uma oportunidade (17'), travada por grande defesa do guarda-redes Carné. Depois revelou fragilidades no posicionamento, desaproveitando o pouco que lhe surgiu.
Nuno Santos - Só aos 57' Amorim se convenceu que era mesmo preciso colocá-lo em jogo. Ele correspondeu, aguerrido como sempre. Mas sozinho não conseguiu fazer a diferença.
Rochinha - Rendeu Mateus Fernandes aos 65'. Frágil nos confrontos individuais, movimentou-se muito mas foi quase sempre inofensivo. Falta-lhe envergadura física.
St. Juste - Após longa ausência, provocada pela quarta lesão desde que chegou, substituiu Coates (75'). Actuou mais à frente, quando o Marítimo já não saía do seu reduto. Em vão.
Jovane - Substituiu Edwards (75'). Displicente, desconcentrado, parece apostado em não vingar no Sporting. Marcou um canto de modo caricato, atirando a bola para fora.
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