Rúben Amorim não nos habituou apenas a ser um excelente condutor da principal equipa de futebol do Sporting, campeã nacional em título, em termos tácticos e técnicos. Foi-se revelando também um magnífico comunicador, capaz de dizer muito em fórmulas curtas, simples e claras. E parece fazê-lo sempre sem esforço, como se ter o dom da palavra fosse a coisa mais natural do mundo.
A intenção era óbvia: baixar as expectativas daqueles adeptos que se apressavam a festejar antes de estar garantido o campeonato em campo.
Liderar também é isto: transformar a palavra em instrumento estratégico para mobilizar um grupo de trabalho. Amorim sabe fazer esta pedagogia como poucos treinadores contemporâneos, promovendo uma frase a lema.
Este não foi, seguramente, o golo que merece melhor nota artística nem o que resultou de uma das jogadas mais soberbas. Mas justifica-se que seja destacado como o nosso golo do ano que agora terminou. Porque graças a ele nos sagrámos campeões nacionais de futebol após um insuportável interregno que durou quase duas décadas.
Foi o golo da vitória do Sporting na 32.ª jornada da Liga 2020/2021. O que nos valeu a vitória decisiva, o que nos garantiu o título, o que nos fez explodir de alegria. Na recepção ao Boavista, a duas rondas do fim da prova. Um tiro certeiro disparado por Paulinho ao minuto 36 dessa partida do nosso contentamento.
Um golo que começa a ser construído por João Mário no meio-campo defensivo dos axadrezados: liberta-se de dois adversários e endossa a bola para Nuno Santos, que da esquerda cruza para a pequena área, onde o ponta-de-lança que Rúben Amorim tanto desejou ver de verde-e-branco lhe dá o toque decisivo para o fundo das redes.
A ver e a rever. Sempre.
Vale a pena destacar três menções honrosas, todas para lembrar também:
VITÓRIA DO ANO: CONQUISTA DO CAMPEONATO NACIONAL DE FUTEBOL
Enfim, chegou. O triunfo por que todos esperávamos. Há muito tempo, há demasiado tempo. Desde 2002, o ano da anterior conquista do título máximo do futebol português. Uma geração inteira nasceu e cresceu sem ver o Sporting campeão.
Esse jejum terminou enfim. Foi relegado de vez para os quadros estatísticos. Graças àquele que é hoje, sem favor algum, o melhor treinador a trabalhar em Portugal: Rúben Amorim, que tão bem conduziu o plantel leonino ao ansiado pódio. O segundo técnico campeão mais jovem da história do nosso clube, com apenas 36 anos. Só antecedido por Juca, que conduziu o Sporting ao título na época 1961/1962.
Aconteceu a 11 de Maio, quando faltavam ainda duas jornadas para terminar a prova. Bastou um triunfo por 1-0 frente ao Boavista, no nosso estádio, para consumar a vitória leonina - com golo de Paulinho, aos 36' - e nos fazer saltar de júbilo num ano tristemente marcado pela pandemia.
Durante umas horas, esquecemos as restrições impostas pelo combate ao covid-19 que nos impediram de frequentar recintos desportivos e até de conviver com familiares e amigos durante grande parte de 2021.
Largos milhares de sportinguistas saíram à rua em todo o País, celebrando o título. E também em diversas cidades estrangeiras, confirmando a vocação universalista deste emblema nascido para ser um dos maiores da Europa.
Vencemos a Liga 2020/2021 com a melhor pontuação registada desde sempre à 32.ª jornada (82 pontos) e após 25 rondas consecutivas no comando da prova, em que nos mantivemos invictos até essa data que guardaremos para sempre na memória.
Outra proeza digna de registo: havia 68 anos que não conquistávamos o campeonato num ano ímpar. Desde a longínqua época 1952/1953, ainda com alguns dos Cinco Violinos no plantel.
Ficam os nomes destes campeões que se impuseram sem discussão nos relvados nacionais: Adán, Luís Maximiano, Porro, João Pereira, Gonçalo Inácio, Coates, Feddal, Neto, Eduardo Quaresma, Nuno Mendes, Antunes, Matheus Reis, Palhinha, Dário, Matheus Nunes, João Mário, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves, Plata, Tabata, Nuno Santos, Jovane, Tiago Tomás e Paulinho. No total, 24. Além destes quatro, entretanto já fora de Alvalade, mas que também deram o seu contributo: Borja e Sporar (saídos para o Braga), Wendel (transferido para o Zenit) e Vietto (que passou a jogar no Al Hilal).
Todos, sem excepção, mereceram o nosso aplauso.
Foi um triunfo ainda mais saboroso porque, à partida, poucos acreditavam nele. Os especialistas em prognósticos desportivos, no início do campeonato, atribuíam apenas 4 % de favoritismo ao Sporting.
Não queremos nunca mais estar tanto tempo sem ver o glorioso emblema leonino no mais elevado posto do nosso desporto-rei.
O impensável aconteceu: fomos cilindrados em Alvalade pelo Ajax. Por números humilhantes: 1-5. Acabou por ser a derrota que mais nos custou ao longo de 2021, ano em que apenas perdemos dois jogos nas competições internas.
É verdade que o adversário impunha respeito, tem um longo historial europeu e se transformou numa máquina de fazer golos, como ninguém ignora. Mas também é um facto que este Sporting comandado por Rúben Amorim nos habituou a elevadíssimos padrões de exigência. Daí a decepção ter sido maior.
Se há jogos que correm mal desde o início, este foi um deles. O primeiro golo foi sofrido logo aos 2'. Aos dez, já perdíamos 0-2. Com o corredor direito do campeão holandês a actuar num ritmo alucinante, desorganizando a nossa linha defensiva, onde Rúben Vinagre, em estreia absoluta numa partida da Liga dos Campeões, teve exibição para esquecer. De tal maneira que foi substituído ao intervalo.
Mas o problema não foi só dele. Se aos 33' tínhamos conseguido reduzir para 1-2, com Paulinho a marcar, ainda na primeira parte sofremos o terceiro. Na segunda, outros dois fixaram o resultado, com Haller e Antony exibindo todo o seu talento em campo.
Era também a estreia do nosso treinador numa partida da Champions: as recordações que conservou dela não são nada agradáveis, com toda a certeza. Tornou-se a nossa segunda pior prestação de sempre na Liga dos Campeões, onde não actuávamos desde 2017/2018. Pior só a derrota frente ao Bayern por 0-5 em 2009.
Valha a verdade que houve atenuantes. Desde logo, jogámos desfalcados. Com Coates ausente por castigo, Pedro Gonçalves de fora por lesão, Sarabia excluído por opção técnica. Nuno Mendes, titular absoluto do Sporting 2020/2021, saíra duas semanas antes para o PSG, deixando o nosso flanco esquerdo desguarnecido nessa noite de 15 de Setembro.
No banco de suplentes sentavam-se três futebolistas da equipa B: Geny, João Goulart e Gonçalo Esteves. O plantel parecia curto para tantas frentes competitivas.
Ainda por cima Gonçalo Inácio viu-se forçado a sair aos 21', lesionado.
Mas convém sublinhar que apesar da goleada não se escutaram assobios nas bancadas do nosso estádio - com apenas metade da lotação devido às restrições impostas pela pandemia. Pelo contrário, o apoio foi constante. Como há muito não se via. Prova inequívoca da confiança que os adeptos depositam na equipa.
Outro aspecto positivo: os jogadores cresceram com esta derrota. De tal modo que acabámos por superar com sucesso a fase de grupos da Liga dos Campeões, algo que não nos sucedia desde 2008/2009. Conclusão: a experiência adquirida, mesmo numa derrota pesada, acabou por ser um lado menos mau deste Sporting-Ajax. O caminho faz-se caminhando.
Alguns de nós, devido à pandemia, nunca chegámos a vê-lo jogar ao vivo no Sporting. Mas Nuno Mendes foi essencial na conquista do título, em Maio de 2021. O primeiro campeonato ganho pelo Sporting desde 2002.
Rúben Amorim, dotado de olho clínico, não hesitou em promovê-lo de júnior à equipa principal. Aposta plenamente justificada: este habilidoso lateral foi titular indiscutível na Liga 2020/2021. Imperou no flanco esquerdo com notável domínio da bola, precisão nos cruzamentos, capacidade de recuperar posições. Acelerou o jogo leonino em momentos cruciais com níveis de concentração muito acima da média e uma maturidade competitiva nada vulgar num pós-adolescente.
De Leão ao peito, na temporada anterior, Nuno Alexandre Tavares Mendes cumpriu 35 jogos (num total de 2855 minutos), marcou um golo e fez duas assistências. A 24 de Março, estreou-se na selecção A, alinhando no onze inicial contra o Azerbaijão (vitória lusa, 1-0). Com apenas 18 anos.
A 31 de Agosto, disse adeus ao Sporting. Ou, pelo menos, um até à vista. Rumou a Paris, emprestado ao PSG, onde não tardou a ser titular. Já cumpriu 19 jogos pela equipa campeã gaulesa. E rendeu de imediato 7 milhões de euros aos cofres leoninos, por taxa de empréstimo. Em França, garantem que o clube irá accionar a cláusula de compra opcional, pagando 40 milhões pela aquisição do passe do jogador formado em Alcochete.
Nuno Mendes tem tudo para ser feliz em França. Ou seja onde for, desde que faça aquilo que mais sabe: jogar futebol. É um talento nato.
Ainda vai muito a tempo de construir uma carreira fulgurante. Mas, para isso, precisa de mudar de atitude. Dentro e fora de campo. Gonzalo Jordy Plata Jiménez, equatoriano de 21 anos, participou na conquista do título leonino em 2020/2021 jogando a espaços mas marcando alguns golos de belo efeito, confirmando os seus dotes técnicos. Um deles, destaquei-o até como um dos nossos melhores de toda a temporada: o que apontou contra o Marítimo, na última jornada desse campeonato.
Na euforia da celebração do título, Plata aproximou-se de um microfone e exigiu ao treinador que apostasse nele com regularidade. Disse-o em tom de brincadeira, mas Rúben Amorim não deve ter apreciado o atrevimento. A verdade é que deu luz verde ao empréstimo do extremo, que a 31 de Agosto rumou ao país vizinho, passando a jogar no Valladolid, da segunda divisão espanhola.
Números do seu desempenho ao serviço deste clube: 13 jogos, quatro golos, 830 minutos em campo. Razoáveis para um futebolista médio, insuficientes para alguém com as suas potencialidades.
No critério de Amorim, que põe a equipa a jogar em permanente transição sobretudo nos corredores laterais, Plata peca por falta de comparência no processo defensivo. Falta-lhe cultura táctica. E alguma disciplina mental - também fora do rectângulo de jogo. Em Dezembro, protagonizou um acidente rodoviário, felizmente sem consequências graves, mas a polícia descobriu que conduzia embriagado.
O caso provocou celeuma entre os adeptos do clube castelhano, que de imediato instaurou medidas de punição disciplinar ao jogador. Não falta em Valladolid quem exija a devolução imediata de Plata ao Sporting. Fora de causa estará a opção de compra por 70% do seu passe, quantia avaliada em 10 milhões de euros.
Em entrevista recente, o futebolista confessou-se arrependido e prometeu ganhar juízo. Bem precisa dele para não desperdiçar o capital desportivo que já alcançou, também ao serviço da selecção do seu país, nomeadamente na Copa América.
Um regresso para jogar no Sporting, quatro meses após ter partido, parece ainda mais problemático. Plata, que várias vezes nos deslumbrou com o seu futebol de rua, não pode queixar-se do treinador nem dos colegas: só pode queixar-se de si próprio.
Este ano que terminou vai ficar marcado na carreira do luso-brasileiro Matheus Luiz Nunes. Foi o ano da consagração dele no Sporting. O ano em que se firmou como titular da equipa, dando forte contributo para nos sagrarmos campeões nacionais após um penoso jejum que durou quase duas décadas. Essencial também na conquista da Taça da Liga, em que renovámos o título de campeões de Inverno - sobretudo na meia-final contra o FC Porto, a 19 de Janeiro: Matheus saltou do banco para trazer adrenalina e velocidade à nossa zona intermédia, impondo-lhe dinâmica ofensiva.
Na memória dos adeptos ficaram outras vibrantes actuações deste médio em jogos decisivos. Como o Benfica-Sporting, a 1 de Fevereiro: foi ele o melhor em campo, marcando o golo do nosso triunfo - o primeiro contra o velho rival em Alvalade desde 2012. Como o Braga-Sporting, a 25 de Abril: foi também dele o solitário golo que nos garantiu os três pontos, num remate cruzado fuzilando a baliza minhota.
Vocacionado para desafios fundamentais. Assim é este jovem de 23 anos residente desde os 13 em Portugal que fomos buscar em Janeiro de 2019 ao Estoril por apenas 500 mil euros - uma das mais sábias aquisições da era Varandas. Tem desenvolvido muitas aptidões sob o comando de Rúben Amorim, que justamente o promoveu a titular indiscutível do onze leonino já nesta temporada, após a saída de João Mário.
Médio versátil, que tanto pode jogar a 6 como a 8 e até já actuou como lateral e extremo, Matheus tem características que a massa adepta aprecia: domina bem a bola, sabe transportá-la com qualidade e critério. Além disso, na hora do remate não sofre de complexos perante a baliza: só quer metê-la lá dentro.
Outra consagração chegou-lhe em 2021 ao receber a primeira convocatória para a selecção nacional de futebol: a 30 de Setembro foi chamado por Fernando Santos para se juntar à equipa das quinas. A estreia ocorreu a 10 de Outubro, num desafio em que derrotámos por 3-0 a selecção do Catar. «Estou muito feliz com a minha estreia. Vou trabalhar o máximo no clube para ser chamado aqui», declarou na altura. Para trás ficara a recusa, que assumiu perante o seleccionador Tite, de alinhar pelo escrete canarinho.
Contamos com Matheus Nunes para a revalidação do título - o bicampeonato que nos foge há 70 anos. E para a dobradinha que perseguimos sem sucesso desde 2002. Ele tornou-se uma peça fundamental no xadrez futebolístico de Amorim. Em parceria com Palhinha, Ugarte ou Daniel Bragança, actuando mais em contenção ou mais em transição, tanto faz. Tem fibra de campeão: isso é o que mais importa.
Estreou-se há dias junto aos "grandes", na equipa principal do Sporting. E correspondeu às expectativas dos adeptos. Já o tínhamos visto na pré-época, quando decidiu vir do FC Porto para Alvalade, e essas primeiras impressões foram muito favoráveis. Estamos perante aquilo a que dantes se chamava "um jogador com raça", daqueles que em campo dão tudo quanto têm, nunca regateando esforços em prol do colectivo.
Gonçalo do Lago Pontes Esteves, minhoto de Arcos de Valdevez, ainda não completou 18 anos. Mas já promete muito: este lateral direito com propensão ofensiva é um dos novos valores leoninos que tem vindo a registar ascensão mais rápida.
A 8 de Julho assinou contrato de formação com o Sporting, por opção própria. Separou-se do irmão mais velho, Tomás, que continua de azul e branco. E não revelou qualquer problema de integração no nosso clube. De Leão ao peito, nestes seis meses incompletos, teve oportunidade de actuar na equipa B, na Liga Jovem, na Taça da Liga e na Taça de Portugal. A 7 de Dezembro, Rúben Amorim não hesitou em indicá-lo como titular no Ajax-Sporting. «Realizei um sonho de menino», congratulou-se o caloiro nas redes sociais. Com motivos de sobra para se sentir feliz: acabara de estrear-se na Liga dos Campeões.
Onze dias depois, outra estreia: actuou como titular no campeonato, em Barcelos. Aproveitando as ausências de Porro (por lesão) e Esgaio (covid-19). Esteve 77 minutos em campo e cumpriu no essencial, revelando as suas melhores características: velocidade, boa técnica individual, capacidade de criar desequilíbrios, ousadia nos confrontos individuais sem complexos de qualquer espécie.
«Não custa augurar-lhe uma carreira de grande sucesso», escrevi aqui no rescaldo desse Gil Vicente-Sporting, que vencemos 3-0. Reiterando tal prognóstico, destaco-o como nosso jogador revelação em 2021. Convicto de que Gonçalo Esteves tudo fará para merecer a confiança que depositamos nele.
Este ano tinha de figurar aqui de novo. Por motivos acrescidos aos do ano passado. Porque se confirmou como enorme mais-valia do Sporting. Porque devolveu em definitivo a esperança à massa adepta leonina. Até àqueles que urraram de indignação quando Frederico Varandas o foi buscar a Braga. Até àqueles imbecis que ainda não há muito faziam trocadilhos sem graça com o apelido dele e insistiam em chamar-lhe «lampião».
A esses e a todos os outros, Rúben Amorim reagiu com bonomia e desportivismo. Convicto de que o verdadeiro campeão não é aquele que faz exercícios gratuitos de bazófia ou berra aos quatro ventos afirmando-se melhor do que os adversários. O verdadeiro campeão exibe o seu valor em campo, respeitando os adversários. Olhando mais para o colectivo do que para as individualidades. Dizendo muito mais vezes a palavra "nós" do que a palavra "eu". Acreditando que o todo é sempre mais vasto do que a mera soma das partes. Jogo a jogo, sem queimar etapas. Sem dar o passo maior do que a perna.
No seu primeiro ano civil completo ao serviço do Sporting, Rúben Filipe Marques Diogo Amorim comprovou os pergaminhos que já lhe reconhecíamos no final de 2020. Em Janeiro, levou o nosso emblema à reconquista da Taça da Liga. Em Maio, suprema alegria: sagrávamo-nos campeões nacionais de futebol, recuperando um título que nos fugia desde 2002. Em Julho, cereja em cima do bolo: também foi nossa a Supertaça.
Fiel ao sistema táctico que implantou em Alvalade - e que outros não tardaram a imitar, com muito menos sucesso - o jovem treinador, hoje com 36 anos, deu sequência ao lema "onde vai um, vão todos". Jogue quem jogar, adapta-se na perfeição à dinâmica que ele idealizou. Mesmo com futebolistas que jogam ou jogavam recentemente nos escalões da formação, vários do quais lançados este ano: Gonçalo Esteves, João Goulart, Nazinho e Geny. Incluindo o mais jovem de sempre: Dário, em estreia absoluta na nossa equipa principal no dia 20 de Março, uma semana após festejar o 16.º aniversário.
Com Amorim ao leme, despedimo-nos de 2021 ainda com melhor registo pontual na Liga do que um ano antes, quando já rumávamos ao título máximo. Somamos 11 triunfos consecutivos em desafios do campeonato, igualando marca alcançada em 1990/1991. Não sofremos qualquer derrota caseira nas competições internas ao longo de todo o ano civil. E continuamos a marcar presença em todas as frentes competitivas.
É obra. Vão escasseando adjectivos para catalogar um dos três melhores treinadores que o futebol do Sporting conheceu nas últimas quatro décadas. Todos queremos que ele permaneça muito tempo entre nós. Para sempre, se for possível.
Pelo segundo ano consecutivo, figura aqui como elemento mais destacado. Agora por motivos reforçados. Porque 2021 foi memorável, inesquecível. Um ano em que o Sporting não registou qualquer derrota em casa nas competições internas. O ano da reconquista do título máximo do futebol português que nos fugia desde 2002.
Pedro Gonçalves, um dos obreiros dessa campanha vitoriosa que devolveu o emblema leonino ao posto máximo do nosso desporto-rei. Elemento crucial da imparável dinâmica que além do campeonato nos rendeu também a conquista da Taça da Liga, logo a 23 de Janeiro, e da Supertaça, a 31 de Julho.
Campeões de Inverno, campeões de Verão, equipa-sensação em todas as estações. Muito graças a ele, Pedro António Pereira Gonçalves, transmontano de Chaves, 23 anos de idade. Médio ofensivo com irresistível atracção pelas balizas adversárias. Sem este seu talento, o percurso vitorioso do Sporting não teria a mesma eficácia nem o mesmo brilho.
Os números confirmam: 34 golos marcados nestas duas épocas por Pedro Gonçalves - que o jornal Record, estupidamente, insiste em nunca mencionar pelo nome de baptismo, designando-o sempre por uma velha alcunha do tempo de escola. Apetece perguntar aos membros da direcção deste jornal se preferem ser tratados por alcunhas em vez dos nomes profissionais que lhes são reconhecidos.
No futebol, desporto colectivo, há lugar garantido ao mérito individual. Daí Pedro ser hoje um dos maiores ídolos da massa adepta verde-e-branca. Sem favor algum: basta lembrar que na temporada 2020/2021 sagrou-se rei dos marcadores do campeonato, com 23 golos. Há um quarto de século - desde Domingos Paciência, em 1996 - que um jogador português não figurava no topo da lista dos goleadores da nossa Liga. E foi a primeira vez que a Bola de Prata coube a um médio de raiz.
Como se isto não bastasse, o jovem oriundo do Famalicão que assinou contrato com o Sporting em Agosto de 2020 já leva onze golos apontados na temporada em curso - 21 em todas as competições disputadas ao longo deste ano civil. É imperioso que Fernando Santos o convoque para a selecção nacional. Não para aquecer o banco ou ver os desafios da bancada, mas para jogar. A equipa das quinas precisa dele no local certo: o relvado.
Excelente – e feliz – vitória contra um Carvalhal que achava que estava no papo, só que não estava.
Amorim teve sorte durante alguns punhados de minutos, mas soube ler o jogo e fazer as substituições certas que neutralizaram o Braga de vez. Excelente jogo de Porro, como que a compensar com a sua energia alguma falta de confiança de Pote, Nuno Mendes e até Nuno Santos. Jogo incrível e adulto de Matheus Nunes, não houve lance em que tenha estado mal. Surpreendente (para mim) aquele sprint de Sporar e (menos surpreendente) a forma adulta como aceita ser nesta altura segunda escolha e dá tudo o que tem.
Claro que Adán não é o melhor do mundo com os pés, mas já se dava algum crédito e se parava com as críticas de cada vez que passa menos bem. Tem segurado resultados e pontos muito importantes. Ótimo jogo de Feddal e Coates. E de Neto, os três muito solidários.
João Mário foi um príncipe e Palhinha demonstrou que tem lugar nos escolhidos de Fernando Santos.
O Braga é uma ótima equipa, tem um ótimo plantel, mas ganharia em ser menos dado a simulações, rebolanços no chão e pau no adversário. Parece ser um clube que procura o lance polémico, só para ter capital de queixa no final dos jogos. O modo como os centrais e o guarda-redes se atiram para o chão aos berros em todo e qualquer lance é muito irritante, devo dizer.
Hoje, o Sporting foi muitas vezes menos forte que o Braga, mas Amorim (e a sua equipa) muito mais sagaz que Carvalhal (e a sua equipa).
Próxima paragem, a Madeira, onde defrontamos o Nacional. Na viagem, podem assistir ao jogo com o União da Madeira de Norton de Matos aqui há uns anitos.
Em 2021 o Sporting tem de estrebuchar, a melhor equipa, o futebol com melhor nota artística, o futebol mais consistente, mais objectivo, mais concretizador, a equipa com mais golos marcados e com menos golos sofridos, não será suficiente para vencermos, para alcançarmos a glória.
A fotografia que ilustra este texto foi obtida na Calçada da Glória em 2005.
Ano de triste memória, ano em que Veiga e Vieira fizeram do Benfica campeão, ano em que o treinador bateu com a porta e disse que era uma vergonha vencer assim: "sou italiano mas comparado com isto a máfia é uma brincadeira de crianças, mamma mia" terão sido as suas (dele) palavras.
A Calçada da Glória fica, relativamente, perto da nossa primeira sede, do outro lado da Avenida da Liberdade e muito perto de outro edifício onde estivemos sedeados, o Palácio Foz.
Assim, como quem não está anestesiado, estrebucha, por muitas vacinas que o sistema nos queira dar, estejamos atentos, com esforço, dedicação e devoção caminhemos no passadiço da glória, estrebuchemos mas que no final alcancemos a foz do triunfo, do triunfo transparente, inequívoco, conquistado em campo, e que o nosso treinador no final da época não tenha vergonha de ser campeão.
Que melhor maneira de terminar o ano do que com a conquista de um título? O Sporting venceu ontem a sua oitava Taça de Portugal em futsal, a terceira consecutiva.
Sim, foi um ano complicado a todos os níveis. Desde a perda de receita à contestação, passando pelos estádios vazios. Mas, acima de tudo, foi um ano onde o Sporting mostrou que está vivo. O primeiro lugar no campeonato de futebol, os primeiros lugares na maior parte das modalidades e o discurso afirmativo #OndeVaiUmVãoTodos só nos pode encher o coração. Uma espécie de combustível para o provavelmente ainda mais duro 2021.
Jogo a jogo lá chegaremos, onde quer que o "lá" seja. Uma coisa é certa, pelo menos chegaremos de cabeça levantada. Sem dirigentes a serem chamados a Comissões de Inquérito no Parlamento, sem adeptos a serem julgados por assassinato e sem a sombra do Café com Leite e Chocolatinhos a cada jogo. Sabemos que as nossas vitórias são honestas como nós. Nem todos podem sequer pensar o mesmo, quanto mais dizê-lo...
Boas entradas e um grande 2021, Sportinguistas. Para os outros, um ano assim-assim que também não vos quero mal.
Este ano, a tradição não é o viver que nos habituámos a ter. É mau, bastante até, mas suportável. Em contrapartida, que bom a tradição ter sido rasgada! O nosso Sporting passará o Natal e receberá o Novo Ano em primeiro lugar! E em défice pontual, dado que (neste aspeto, a tradição ainda é o que era) já subtraíram quatro pontos à nossa equipa…
A todos os autores e leitores de És a nossa fé, desejo um Natal feliz, na medida em que cada um de nós o possa ter e sentir. Desejo também, e mais ainda, um 2021 que nos sorria, com saúde e alegria.
Que seja um 2021 verde e branco!
{ Blogue fundado em 2012. }
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