Este quadro - reproduzido com a devida vénia à Betano e ao Sporting Tático - compara as estatísticas da nossa equipa no campeonato 2021/2022, em que chegámos ao fim em segundo (atrás do FC Porto e à frente do Benfica), com a época anterior, em que nos sagrámos campeões nacionais de futebol.
A nossa exigência aumentou muito em menos de um ano.
É um excelente sinal.
Prova? Aqui está: em Outubro do ano passado, empatámos 2-2 com o FC Porto para o campeonato em Alvalade.
Na análise do jogo, como costumo fazer, abri com o subtítulo "Gostei" . Num texto em que destaco os seguintes futebolistas: Porro (tal como agora), Nuno Santos (também marcador de um golo), Pedro Gonçalves (desta vez ausente), Adán e Palhinha. Sublinhando que vários jogadores se estreavam num clássico português: Adán, Feddal, Porro, Nuno Santos e Pedro Gonçalves. Pela negativa, só Jovane.
Desta vez, nove meses depois, fiz ao contrário. Insatisfeito com o empate 1-1, começo a análise do jogo pelo subtítulo "Não gostei" . Destacando três pela negativa: Paulinho, Feddal e Matheus Reis.
Nem tinha reparado nisto, mas vale a pena comparar. Para percebermos como este Sporting campeão, comandado por Rúben Amorim, nos habituou à vitória como resultado-padrão. Joguemos em que campo jogarmos, seja quem for o adversário.
Antes do arranque do campeonato nacional de futebol 2021/2022, relembro os prognósticos sobre a prestação do Sporting em cada jornada da Liga anterior feitos no És a Nossa Fé.
É um teste à vossa perspicácia que aqui recomeçará, pelo nono ano consecutivo, mal soe o apito de saída da próxima Liga.
A vitória, nesta temporada, coube a um quarteto de felizes vaticinadores que aproveito para cumprimentar agora: a minha colega de blogue CAL, o meu colega de blogue Ricardo Roque, e os leitores Carlos Correia e Pedro Batista. Cada um com cinco palpites certos.
Seguiram-se, com quatro previsões correctas, os leitores António, Fernando e Luís Ferreira (vencedor em 2018/2019).
Com três, um terceto composto pelo meu colega José da Xã (vencedor em 2013/2014 e 2016/2017) e pelos leitores Tiago Oliveira e Verde Protector.
Foi pena ninguém ter acertado em sete dos 34 jogos. Incluindo em duas partidas que o Sporting venceu. Mesmo assim, este foi o ano em que tivemos mais participações em números absolutos e mais resultados certos.
Esperemos que a pontaria se revele ainda mais afinada na Liga 2021/2022. Não apenas a nossa, por cá, mas sobretudo a dos jogadores leoninos em campo.
Aproveito para recordar que na Liga 2013/2014 houve por cá sete vencedores: Bruno Cardoso, Edmundo Gonçalves, João Paulo Palha, João Torres, José da Xã, Lina Martins e Octávio.
No campeonato 2014/2015, apenas um: Leão do Fundão.
Em jeito de balanço, aqui fica a lista dos jogadores que receberam a menção de melhores em campo no último campeonato, em resultado da soma das classificações atribuídas pelos diários desportivos após cada jornada.
Pedro Gonçalves foi o grande protagonista da temporada 2020/2021: liderou destacado as classificações de todos os jornais desportivos. Sucede assim a Bruno Fernandes, que tinha sido primeiro nas três épocas anteriores.
O pódio integra ainda Palhinha e Coates, nas posições imediatas. É consensual: este trio - completado com o guarda-redes Adán - formou a espinha dorsal da equipa do Sporting que conquistou o campeonato nacional após 19 anos de jejum. Comprovando assim que estas classificações da imprensa desportiva fazem sentido.
Recordo que em 2019/2020 o segundo e o terceiro posto foram ocupados por Jovane e Vietto. E há duas épocas foram Raphinha e Nani a fazer companhia ao actual craque do Manchester United neste grupo dos três mais votados.
Em relação ao ano passado, verifica-se uma descida de Jovane (de 14 para 4 pontos) e uma subida muito significativa de Coates - que em 2019/2020 foi considerado o melhor em campo apenas duas vezes, num total de 102 menções dos três diários desportivos, e na temporada anterior nem sequer havia sido mencionado.
Nuno Mendes também sobe (de 3 para 8).
Plata (quarto em 2019/2020), Luís Maximiano e Neto desaparecem deste quadro, ao contrário do que sucedera há um ano.
Uma curiosidade: Sporar mantém a pontuação, apesar de ter jogado apenas meia época desta vez.
Em relação aos reforços, e para além de Pedro Gonçalves, destaque para a entrada directa de Adán (quinto este ano). Além das boas posições alcançadas por Nuno Santos e Porro.
Paulinho, embora tendo chegado mais tarde, está também presente.
Nuno Mendes, Tiago Tomás e Gonçalo Inácio não ficaram esquecidos.
Wendel, que só fez dois jogos de verde e branco, deu nas vistas apesar disso.
João Mário nem aparece. Omissão total.
Finalmente, pequenos apontamentos.
A Bola embirrou claramente com Nuno Santos - foi o único jornal que omitiu por completo o extremo leonino (que tinha passado pelo Benfica) na escolha dos melhores em campo. Enquanto deu duas vezes a melhor nota a Sporar, depois transferido para o Braga.
O Jogo só elegeu Palhinha e Nuno Mendes uma vez cada, em nítido contraste com as opções dos outros jornais. Percebe-se que nenhum deles é muito apreciado pelo diário conotado com o FC Porto. Que - talvez para compensar - atribuiu, em exclusivo, votos isolados a Tabata e Daniel Bragança.
Antes do início do campeonato nacional de futebol 2021/2022, relembro os meus apontamentos da época passada. Para recordar os jogadores que se evidenciaram mais em cada desafio. Esta é a última de quatro partes.
Antes do início do campeonato nacional de futebol 2021/2022, relembro os meus apontamentos da época passada. Para recordar os jogadores que se evidenciaram mais em cada desafio. Esta é a segunda de quatro partes.
Antes do arranque do campeonato nacional de futebol 2019/2020, relembro os meus apontamentos da época passada. Para recordar os jogadores que se evidenciaram mais em cada desafio.
27 de Setembro (Paços de Ferreira, 0 - Sporting, 2): COATES
Com a vitória de hoje do hóquei no Dragão Arena, e com o troféu entregue desta vez em bom estado, o Sporting conquistou o campeonato nacional da modalidade.
Se nos reportarmos ao futebol profissional, ao futebol feminino e às cinco modalidades masculinas mais representativas, no fundo aquelas modalidades que levam multidões aos estádios e aos pavilhões e que permitem julgar da força do clube como um todo, as conquistas da época foram as seguintes (se calhar ainda falta aqui qualquer coisa):
Campeonato Nacional Futebol
Taça da Liga de Futebol
Campeonato Nacional de Futsal
Taça da Liga de Futsal
Campeonato Europeu de Futsal
Campeonato Nacional de Basquetebol
Taça de Portugal de Basquetebol
Campeonato Nacional de Hóquei
Campeonato Europeu de Hóquei
Taça de Portugal de Voleibol
Vamos agora comparar o desempenho dos quatro principais clubes portugueses nestas setemodalidades com base nas posições relativas das respectivas ligas:
1. Futebol:
1. Sporting, 2. Porto, 3. Benfica, 4. Braga
2. Futebol Feminino:
1. Benfica, 2. Sporting, 3. Braga
3. Futsal:
1. Sporting, 2. Benfica, 3. Braga
4. Basquetebol:
1. Sporting, 2. Porto, 3. Benfica
5. Andebol:
1. Porto, 2. Sporting, 3. Benfica
6. Hóquei:
1. Sporting, 2. Porto, 3. Benfica
7. Voleibol:
1. Benfica, 2. Sporting
Vamos ignorar a força do futebol profissional no conjunto, vamos ignorar os orçamentos de cada um. Se atribuirmos 5 pontos ao 1º lugar, 3 ao 2º, 2 ao 3º, 1 ao 4º, 0 à falta de comparência, chegamos ao resultado seguinte:
1. Sporting : 29 pontos
2. Benfica : 21 pontos
3. Porto : 14 pontos
3. Braga : 5 pontos
Estes números traduzem bem a supremacia do Sporting esta época no panorama desportivo nacional. E demonstram que dois clubes nacionais têm o ecletismo que os seus sócios reclamam e espaços próprios para a formação. Demonstram haver dois clubes mais regionais com sucesso relativo.
Importa também dizer que o Sporting vive num combate desigual com dois clubes que dispõem de orçamentos bem superiores nas SADs e nas modalidades. E também, custa dizer, com um orçamento votado negativamente por culpa de quem, independentemente das dificuldades ditadas pela pandemia, ficou em casa e não foi defender o clube e as suas modalidades no lugar certo.
Fechada a época desportiva, ficou o Sporting com a enormissima responsabilidade de dar continuidade a estes números, assegurar os projectos ganhadores e transformar os restantes, tomar as decisões certas quanto a aquisições e dispensas, tentar aplicar em todas estas modalidades a fórmula Sporting: grande treinador, grande capitão, grande peso da formação, craques fidelizados.
Para já estamos todos de parabéns, sócios e direcção. Sabe bem ouvir dum amigo benfiquista "Vocês este ano ganham tudo, pá... Como é possível??". Custa-lhes muito perceber, é um facto. Habituem-se.
«A diferença entre as duas equipas não é de 6-2, apesar de ter sido essa a diferença no marcador tanto neste jogo como no da Taça da Liga. O equilíbrio é a nota dominante. O Benfica não merecia ter acabado assim. Jogou muito bem, fez um trabalho enorme, foram uns dignos vencidos e estão de parabéns.»
«O Sporting inicia a época com três juniores como contratações. Faz uma época com quase 50 jogos, sofre uma derrota no prolongamento, conquista todas a scompetições, depois de na fase regular ter sido primeiro, com mais golos marcados, menos sofridos... Um orgulho enorme nesta equipa com tanto miúdo, que fez a melhor época do futsal, provavelmente até a nível mundial. A superar todas as adversidades, como por exemplo com o Cardinal, que se lesiona em janeiro. Chamámos o Neves. Com sofrimento, com uma qualidade enorme... O Guitta, o melhor guarda-redes do Mundo, o Merlim com uma categoria enorme, o Zicky com um crescimento enorme. O Matos que é um grande capitão. O Pany... Todos fizeram um trabalho soberbo. Agora vamos de férias, que estou mortinho para largar o futsal»
O texto que se segue é integralmente da autoria da página Sporting Brasil (o Sporting tem muitos, e muito ativos, adeptos no Brasil). Reproduzo-o aqui na grafia original com a devida vénia.
Alguns fatos:
O Sporting é a equipe com menos gols sofridos (20) nos 10 principais campeonatos europeus. Só indo até o 11.º país do ranking UEFA (Escócia) podemos encontrar o campeão Rangers FC com apenas 13 gols sofridos.
Luís Maximiano é o primeiro jogador da história do Sporting a ser campeão nacional nos iniciados (2013), juvenis (2016), juniores (2017) e equipe principal (2021).
Dário Essugo é o mais jovem campeão na história dos Campeonatos Nacionais. Realizou a sua estreia com apenas 16 anos e seis dias contra o V. Guimarães (24.ª rodada).
Com 37 anos, dois meses e 23 dias, João Pereira é o mais velho campeão nacional da história do Sporting, batendo João Azevedo de 36 anos de idade, oito meses e 24 dias.
11 jogadores formados campeões nacionais em 2020/2021 (Luís Maximiano, Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, João Palhinha, Tomás Silva, Daniel Bragança, João Mário, Dário Essugo, Jovane Cabral e Tiago Tomás). Foi superado o máximo anterior de 10 jogadores formados em Alvalade campeões nacionais em 1981/1982 (Carlos Xavier, Virgílio Lopes, Vitorino Bastos, Zezinho, Augusto Inácio, Francisco Barão, Ademar, Freire, Alberto e Mário Jorge).
Não me lembro de gestão tão caótica no futebol português. E não me falem na pandemia. A pandemia não pode servir de desculpa para tudo.
Primeiro anunciaram que haveria público nos estádios, na última jornada da Liga 2020/2021. A ministra da Presidência fez o anúncio no final de um Conselho de Ministros, alegando que seria um "evento-teste".
A seguir, vem-se a saber que os estádios continuarão interditos aos portugueses até ao último apito do último jogo deste campeonato. Descobriram à última hora que era necessário salvaguardar a equidade.
Anunciaram entretanto que a final da Champions voltaria a ser este ano em Portugal, no estádio do Dragão. Para júbilo do velho crocodilo, que logo lançou farpas a Lisboa. Como se Porto e Lisboa não fizessem parte do mesmo país.
Esta final da Liga dos Campeões terá público. Mas a final da Taça de Portugal será disputada com bancadas vazias, ao contrário do que chegou a admitir-se.
A noite de 11 de Maio de 2021 foi gloriosa, as estrelas foi cá em baixo que brilharam. Primeiro no relvado de Alvalade depois desfilando junto de nós comuns mortais.
Nessas inesquecíveis horas vi-me a caminho do Marquês e dos 50 miúdo. Uma criança só tocada pela felicidade.
Passada larga, ritmo acelerado, sôfrego, assim fui ao encontro dos meus heróis. Nenhum deles de capa e espada ou com super-poderes, apenas super-humanos. E por isso maiores e mais extraordinários que qualquer dos presentes no Olimpo da Marvel. A cada passo entre a multidão que os exultava como eu, o seu heroísmo e a sua heroicidade seguiam em crescendo.
De olhos marejados e postos naquele mar de riscas verdes e brancas fui reconfirmando a imensa grandeza do clube que tem o leão como emblema e que ali recuperava o seu lugar natural. Reconquistava o trono com sangue, suor e lágrimas. À minha volta vozes gritando “Campeão!”, “Campeões!” numa magnífica vozearia existencial. O singular Sporting. O plural nós os do Sporting.
A noite foi do Sporting Clube de Portugal porque foi do Sporting Clube de Portugal a época 2020/2021. Conquistada com o sangue, o suor e as lágrimas deles. Dos 28 magníficos. Os verdadeiros campeões nacionais de futebol. Aqueles que serão heróis leoninos para sempre.
A chegada apoteótica dos nossos realizadores de sonhos assisti na companhia de um grande amigo com quem há anos apoio da bancada do nosso estádio as nossas equipas. Como ele chorei lágrimas iguais às dos milhares comovidos como nós, a emoção confirmando o quanto somos semelhantes: Irmãos, pais, filhos, netos, avós, todos família, feitos da mesma massa, vindos das mesmas dores e frustrações, umas provocadas por sacanices várias que a todos revolta e une, outras causadas pela incompetência que a todos custa e todos pode desunir.
Resistentes devotos e leais dedicados, ali estávamos fruto dos mesmos sonhos. Premiados.
Obrigado.
Que festa maravilhosa fizemos. Que maravilha de festa tivemos. Para trás ficavam cinco horas passadas em inúmeras ligações a pé para trás para frente, para cima para baixo Imaviz/Saldanha/Campo Pequeno/Saldanha/Imaviz. Uma tareia de cansaço e frio aumentada pelo desgaste da espera.
Valeu a pena.
Como coisa própria da magia vendo-os ali tão perto tudo se dissipou. Parecia que ali chegáramos poucos minutos antes. Sim! O que são cinco horas na imensidão de 19 longos anos de uma travessia do deserto? E tivessem sido mais as horas de espera que a recepção teria sido a mesma.
Inebriados saltámos e pulámos avenidas abaixo, cachecol no ar, totalmente indiferentes à chuva, entregues ao papel que nos cabia na guarda de honra aos campeões. Envoltos em fumo verde, iluminados pelo incessante fogo de artifício, sobre nós desceu ainda o espírito eterno de Maria José Valério e marchando leoninos demos também graças por não termos nascido lampiões. Confirmámos ao mundo que o mundo sabe que por este amor somos doentes e que faremos o nosso melhor para o ver sempre na frente. Faremos o que pudermos pelo nosso Sporting.
Mas a coroa da minha glória foi ter conseguido agradecer aos campeões. Era esse o meu maior desejo. Gloriosos eram eles. O lugar no Olimpo leonino é deles. A mim restava-me rebentar de orgulho e de emoção enquanto que da minha boca pouco mais saía que a palavra Obrigado! Obrigado!
Em bom rigor a minha linguagem foi sobretudo a não verbal. No meio dos festejos, do ruidoso entusiasmo, tolhido por emoções à flor da pele e por baixo dela, abafadas as palavras, a mímica apresentou-se-me como a melhor voz para lhes dizer o que tinha para dizer. O punho cerrado atirei-o dezenas de vezes contra o meu peito, ao encontro do leão, do lindíssimo emblema, das letras SCP.
Sorte a minha! Os verdadeiros guerreiros retribuíram a comunhão e como eu cerraram o punho e atiraram-no sobre o peito ao encontro do leão, do lindíssimo emblema, das letras SCP. Eles lá em cima eu cá em baixo, juntos, gritando Sporting! Família. Todos da mesma família.
Estive a um palmo dos nossos heróis e tive muita sorte. Olhei para o nosso capitão Coates e ele olhou para mim. Acredito que houve cumplicidade entre os dois. Que ele percebeu o quanto lhe estou grato. Igual ao que dele vemos em campo, mesmo no meio do rebuliço, do gigantesco alvoroço, Coates mantinha-se Coates. Discreto, sem bazófia ou vaidade, ele era mais uma vez a figura de referência, o comandante. Também ali o patrão da defesa se apresentava compenetrado, sério, solene, totalmente alinhado com o marco histórico celebrado. Dentro e fora de campo capitão e imperial, porque a representação cabal de toda a equipa. A taça era ele que a segurava e a imagem disso dava-nos a garantia de que o troféu, o tão ansiado e desejado título será bem defendido. Mais facilmente continuará em Alvalade do que o contrário.
Não teremos de esperar novos 19 anos para sentir esta alegria imensa. Acredito nisto. Acredito num futuro radioso para o nosso Sporting. Garantido pela formidável liderança de Amorim e do presidente Varandas, acima dele. Assegurado pela grandeza deste emblema comprovada pelos milhares e milhares de miúdos, alguns crianças, que vi desfilar noite dentro cachecol verde e branco no ar cantando emocionados as músicas com que todos vibramos. Também eles certos que o Sporting é campeão. E se o é sempre será. Seja-o durante anos consecutivos. De dois em dois anos. De cinco em cinco anos. Ou de dezanove em dezanove anos.
O Sporting é campeão. O Sporting sempre será campeão.
Sporting ciclotímico: não faltaram adeptos - até nas nossas caixas de comentários - a resmungar e reclamar após o Benfica-Sporting de sábado. Dizendo, entre outras coisas, que se perdeu uma excelente oportunidade para se "fazer história".
Alguns dos que agora resmungam, subitamente muito exigentes, são os mesmos que no início da época davam como garantido que seríamos ultrapassados pelo Braga e nos arriscávamos a discutir o quarto lugar com Paços de Ferreira e V. Guimarães.
Esses, apostados já em denegrir o treinador e os jogadores que repuseram o Sporting na rota dos títulos, acabam por dar razão a quem argumenta que o campeonato só conseguiu ser conquistado por não haver adeptos no nosso estádio.
Por mais que a equipa faça, nunca estão satisfeitos.
Antes criticavam João Mário porque jogava, agora criticam porque ficou no banco. Antes criticavam o técnico por não "dar oportunidades" a Daniel Bragança, agora criticam porque Amorim integrou o jogador no onze titular do clássico.
Só apoiam no fim de tudo, quando a vitória se consuma E mesmo assim, poucos dias volvidos, começam de imediato a denegrir a equipa campeã. Como se vê.
A esses, que queriam "fazer história" no penúltimo jogo de um campeonato já conquistado, tenho a dizer o que vai seguir-se.
- Fazer história é vencer o campeonato após o nosso mais longo jejum de sempre - que perdurou nas presidências de Soares Franco, Bettencourt, Godinho Lopes e Bruno de Carvalho.
- Fazer história é termos o mais longo período (32 jornadas) sem derrotas alguma vez registado no campeonato nacional. Sagrámo-nos campeões invictos.
- Fazer história é termos concluído 20 partidas (em 33 já disputadas) sem sofrer um só golo nesta Liga 2020/2021.
- Fazer história é liderar o campeonato isolados desde a jornada 6, como este ano aconteceu.
- Fazer história é chegarmos à Luz já campeões a duas jornadas do fim.
Tudo isto é fazer história.
Agora há que preparar desde já a próxima época. Tão bem como esta foi preparada.
Apoiando jogadores, equipa técnica e dirigentes do princípio ao fim. Apoiar só na linha da meta, como alguns este ano fizeram, não vale nada.
Também não faço ideia, mas durante os últimos dois meses consigo dizer que sou do Sporting, que somos campeões e que, para aqui chegar, sofremos juntos, no cantinho de cada um. Já acabou, somos campeões, estamos campeões.
Entre o fim do inverno e o princípio desta primavera, houve momentos em que não me apeteceu ser do Sporting, em que desejei nem sequer ligar a futebol, o disparate de passar os dias ansioso, inquieto e irritadiço, são onze homens de calções atrás de uma bola, que valor naquilo pode haver que valha a pena. Ninguém fala disso, mas ser espectador, observador, testemunha, custa e faz adoecer. Como outros, há semanas que venho dormindo mal, exausto pelo sofrimento de jogos vencidos nos últimos minutos, com a cabeça a fumegar pela aritmética de pontos e jogos que faltam e pela espionagem aos próximos adversários, nossos e deles, tudo centrifugado por otimismos, pessimismos, ilusionismos e realismos. A sportinguite, quando é aguda, toma conta de nós e não larga.
No princípio desta história, a ideia nem era acreditar. Não ia ser desta, naturalmente. Noutro maio, o de 2018, o clube sucumbiu à cólera e perdemos tanta coisa que ninguém justo nos exigiria mais do que sobreviver para depois sim, enrijecer. Regeneramos, mas passou tão pouco tempo que os projetos desta temporada eram projetos para o futuro. Estávamos todos de acordo que não ia ser este o maio em que seríamos campeões. É preciso ter o coração aberto à felicidade, mas não se viam nesta equipa os epígonos dos grandes jogadores que haviam de nos levar ao campeonato. Tudo bem. Estávamos preparados. Este haveria de ser mais um ano na vida do sportinguista. Nestes anos, aconteceu-me de tudo, até coisas inimagináveis, como a tanta gente. Se isto do sportinguismo fosse de ser medido, nem sempre tive o ponteiro no máximo, em especial depois do que nos aconteceu. A única utilidade da barbárie e a violência é permitir que pensemos sobre o que andamos a fazer. Apesar da consciência da importância da pacatez, mantive-me adepto e sócio. Nunca vivi, por exemplo, a bipolaridade de ligar e desligar a Sport TV, esse termómetro de fezada, porque há mais para ver que futebol doméstico, com as suas peculiaridades, o seu caciquismo e os seus pelotões de medrosos, que obsta a modernidade e a civilidade.
Não pequei em atos e omissões, mas em pensamentos não poderei dizer o mesmo. Enquanto víamos jogos, olhei muitas vezes para o meu filho e pedi-lhe desculpa em silêncio por tê-lo feito do Sporting. Do meu sportinguismo nunca duvidei, mas queremos o melhor para os filhos e olhá-lo a sofrer, a chorar de tristeza, por vezes era demasiado. Julguei, nos momentos escuros, que eu e ele nunca seríamos, afinal, campeões juntos. Ele chegou cá em 2003, já o último campeonato ia longe. Dos pensamentos terríveis que temos sobre o futuro, este era o que mais me custava e quando me acometeu, há meia dúzia de anos, recordo ter-me sentido infinita e irremediavelmente triste.
Ganhar não é tudo, ser do Sporting chega bem e todos os anos, no verão, íamos comprar a nova camisola à loja Verde, até que deixámos de ir, porque se meteram outras coisas, novos hábitos. Aquele 2018 adubou em nós este sportinguismo não praticante e construiu a convicção de que o sofrimento de outrora jamais viria a ser sentido. Mais valia parar com isto, a vida quer-se calma, há outros desportos, outras afinidades, outras adesões, no caso dele, um mundo inteiro para viver. Cada um tem a sua relação, a minha cinde-se entre a imensa alegria, na plenitude, no orgulho, na partilha da tradição e do legado, na memória das conquistas e a resignação enervante e prolongada, vivida como uma maldição que transformei em parte de mim. Fui adepto de posters colados no quarto, com fita cola de má qualidade, de saber o nome completo dos jogadores, de onde eram, quanto golos marcaram. Fui adepto de comprar jornais cedo no verão, para decorar o sortido de novas estrelas. Morreu há pouco tempo o Saucedo, e ainda me lembrava que vinha do Desportivo de Quito, que fora o melhor marcador no Equador. Eu era desses.
Em setembro, coisas começaram bem e continuaram bem, mas haveria de voltar a acontecer (não era?), que interesse tinha o Sporting estar à frente à quinta jornada? Ou continuar à sexta, à sétima, oitava, nona, à décima…? Ou até dobrar a primeira volta em primeiro. Não é o primeiro milho que é dos pardais? A este Sporting, com alguns veteranos e muitos miúdos e um treinador sem carta, não faltavam pardalitos. Erros nossos, má fortuna, não haveria de haver amor ardente que nos valesse. No princípio de março, uma vitória nas barbas do cronómetro contra o Santa Clara sucedia a um empate no campo do Porto. A seguir outra vitória escassa em Tondela, bis com o Guimarães, até que a 5 de abril, o cão morde a cauda, deixamos dois pontos em Moreira de Cónegos e mais quatro contra Belenenses e Famalicão.
O fim da ilusão está próxima, misericórdia, haveria ser como sempre tem sido.
O sportinguista aprende a ver o lado positivo, se não ganhássemos o campeonato, ao menos o sofrimento acabava. Alguns adeptos iam cantando “façam-nos acreditar”, uma das canções de apoio ao clube, tão portuguesa na sua transferência de responsabilidade, e cantavam muito bem. Caramba, o avanço ainda era grande, mas a sombra do passado era maior e, atravessando abril, terei ativado todos os mecanismos de defesa emocional conhecidos pela psiquiatria para domar o meu sportinguismo.
A 25 de abril, de noite, no fim do jogo em Braga, o Sporting marca no único remate à baliza e ameaça vencer um jogo improvável. No fim do jogo, chorei de raiva e alívio, de alegria imensa pela vitória, lágrimas e soluços de quem ou explode de vez ou sobrevive. O que nos está a acontecer é real. É justo e apropriado. Toda uma equipa a fazer-nos acreditar, liderada por Ruben Amorim, já um dos maiores heróis dos sportinguistas.
Nos tempos da cólera, para sermos campeões, era de Amorim que precisávamos. Um homem novo, ambicioso, determinado, de ideias fixas, disposto a lutar por elas, sem tempo ou paciência para olhar para o nosso passado. Que lhe interessa a ele que o Sporting não vencesse há 19 anos? No dia em que chegou e lhe perguntaram como seria se “corresse mal”, deu a resposta que o melhor dos poetas não escreveria. “E se corre bem”, devolveu o nosso Ruben à pergunta. Meses depois, foi ele o poeta que nos ofereceu a divisa, onde vai, vão todos, só por isso merecia estátua, busto e placa.
Se corre bem? O que sinto em mim, sem a angustiosa espera, é que se acabou a melancolia, o lamber das feridas, este ano é nosso. É dos velhos engelhados, dos que sempre acreditaram, dos moderados e excessivos, dos derrotistas e dos fanfarrões, dos céticos e dos otimistas. É dos homens e mulheres que mesmo sem acreditar sempre, nunca deixaram de ser leões, dos jovens adultos e dos adolescentes a quem o futuro pertence e dos muitos, e são tantos, miúdos que andam por aí, de camisola vestida, a gritar pelo nosso Spotingue.
Correu bem, o campeonato é nosso, Ruben, és o maior, obrigado!
Há muitos, muitos anos, um homem bom, numa cave, ouvia o relato de um Sporting em noite europeia. O rádio era excelente, apesar da antena entortada, um Panasonic, com botões em aço e as cidades do mundo escritas no sintonizador. Nunca se sabe se um dia não seria preciso ouvir a onda curta de Adis Abeba ou as rádios da Escandinávia. Os filhos estavam noutro país, provavelmente desinteressados do Sporting europeu, ocupados com a viagem e as maravilhas do país onde estavam.
O jogo deve ter sido emocionante, talvez um daqueles comentados pelo Alves dos Santos, dos que enchiam a capa de A Bola do dia seguinte, porque houve um tempo em que só as quartas-feiras eram europeias e só A Bola do tamanho de toalhas de banho saía no dia seguinte. Ali sozinho, com o seu Sporting, o homem lembrou-se dos filhos e gravou o relato numa cassete Sonovox que por ali havia.
Hoje, sempre que o Sporting joga, é do meu pai que me lembro e daquele relato em cassete que ele gravou. Um relato de futebol gravado numa cassete, podem imaginar uma coisa assim?
Sporting? Sporting, sempre.
(Texto que publiquei na Tribuna, na quarta-feira, a seguir ao jogo com o Boavista)
Sei que ainda faltam duas jornadas para o fim do campeonato, mas se no cimo da tabela as coisas estão definidas, na cauda ainda há muita coisa para decidir. Seja como for, e tendo em consideração a vitória de ontem no jogo e consequentemente no campeonato, sinto que é a hora de fazer um balanço, obviamente muito pessoal, desta época leonina.
Realisticamente o Sporting ganhou esta época dois títulos ou se preferirem um troféu e um título: a Taça da Liga e o Campeonato Nacional. Para uma equipa quase destroçada não foi pouco. Rúben Amorim entrou em Alvalade já tarde na época 2019/2020, mas ainda a tempo de perceber com que ingredientes iria trabalhar no futuro. Na conferência de imprensa da sua apresentação o treinador pergunta: “E se corre bem? O que podemos mexer com esta gente…”
E correu bem… Como foi então possível? Eis as minhas razões:
Liderança – Rúben Amorim desde cedo soube transmitir aos seus jogadores as suas ideias, não de forma impositiva, mas sendo um verdadeiro pedagogo;
Crença – Acreditar no seu trabalho é meio caminho andado para a vitória e deste modo o treinador do Sporting mostrou sempre muita crença;
Conhecimento – ter sido jogador é sempre um factor a somar, pois percebe os sentimentos de quem está no campo;
Visão de jogo – quantos jogos o Sporting esteve em desvantagem e conseguiu superar o adversário após alterações, provando deste modo que saber ler o jogo é muito importante;
Comunicação – o modo que Rúben Amorim arranjou para se bater com os jornalistas semanalmente tornou-o num mestre de comunicação. Jogo a jogo foi sempre a fórmula correcta, não criando com isso anseios desmedidos;
Querer – a maneira como o treinador leonino festejava os golos leoninos mostrou a força e o querer que havia na sua alma;
Humildade – o assumir alguns dos erros da equipa (por exemplo contra o Marítimo que culminou na eliminação do Sporting da Taça de Portugal) mostrou quão importante é percebermos onde erramos, libertando com isso responsabilidade dos jogadores.
É assim de Rúben Amorim a maior quota-parte dos sucessos leoninos. Sem este verdadeiro líder de homens, provavelmente, nenhum sportinguista estaria hoje tão feliz.
Agora basta manter a atitude!
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