Os profetas da desgraça, que nunca escasseiam por Alvalade, já tinham avisado: tudo iria começar da pior maneira. E começou mesmo, com uma derrota em casa frente ao Lask Linz, actual terceiro classificado do campeonato austríaco. Derrota amarga, frustrante, inaceitável, que nos colocou fora da Liga Europa ainda na fase das pré-eliminatórias.
Aconteceu a 1 de Outubro, com o nosso estádio despido de público: quase sete meses antes fora emitida pelas autoridades sanitárias a ordem geral de evacuação de recintos desportivos. Que ainda hoje vigora, em contramão com o que sucede na quase generalidade de todos os outros espectáculos, configurando uma inaceitável discriminação do futebol.
Conhecíamos bem a equipa adversária, que havíamos vencido um ano também antes em casa, na fase de grupos da Liga Europa, por tangencial 2-1 (golos de Luiz Phellype e Bruno Fernandes). Num jogo pautado pela mediocridade da nossa exibição, muito inferior ao resultado, e pelos contínuos assobios dos adeptos aos jogadores - o que viria a ser uma das mais lamentáveis características do público presente nas partidas em Alvalade.
Naquele frustrante Outubro de 2020 não houve assobios. Mas eles teriam sido merecidos, no final do jogo: perdemos por 1-4 numa partida em que apenas Tiago Tomás - marcador do golo solitário, após assistência de Nuno Santos - mereceu nota positiva. Com naufrágio colectivo na segunda parte, quando ao intervalo se registava 1-1.
«Adán orientou uma barreira como se estivesse num interturmas. Neto viu o clássico cartão amarelo que o condiciona para o resto do jogo. Sporar, apesar de ter entrado tarde, ainda conseguiu falhar dois golos fáceis», reclamou o José Cruz num texto deste blogue intitulado Imaturidade total.
«A equipa tentava sair a jogar, perdia a bola e levava com os contra-ataques do adversário. O individualismo veio ao de cima, e Wendel fazia piscinas até perder a bola num choque qualquer e deixar a equipa descompensada atrás. O segundo golo do Lask surgiu assim, o desarme de risco de Coates que levou ao terceiro também, o quarto a mesma coisa, e o quinto e o sexto não apareceram porque não calhou», desabafou o Luís Lisboa, sob o título Uma derrota humilhante.
Naquela quinta-feira de má memória falhávamos o acesso à Liga Europa. Os profetas da desgraça exultaram, as nossas caixas de comentários encheram-se de anónimos a rasgar as vestes, Rúben Amorim foi insultado de "lampião" para baixo, choveram pedidos de destituição imediata dos órgãos sociais leoninos.
E a equipa? Passou a concentrar-se em exclusivo nas competições internas. Acabou por ser um daqueles males que vêm por bem: no final do ano comandávamos isolados o campeonato nacional de futebol, algo que não acontecia desde a época 2001/2002.
Não parece, mas esta frase foi proferida pelo presidente do Sporting, aludindo ao próprio clube e atribuindo-a a um treinador português com prestígio europeu cujo nome não especificou. Numa desastrada entrevista ao Jornal da Noite da SIC em que pretendia incutir tranquilidade aos adeptos, Frederico Varandas espalhou-se ao comprido logo no início, proferindo estas palavras que relegaram para segundo plano qualquer outra mensagem que pretendesse transmitir. Palavras que a partir daí se colaram a ele: será difícil libertar-se delas.
«Ao despedir Keizer, procurámos um treinador português e com um grande currículo europeu. Tentámos. Um mostrou que desejava ter projectos onde pudesse lutar pela Champions. E outro também recusou e até me disse: "Gabo muito a sua coragem, gabo muito a sua paciência, mas eu não tenho a mesma para aturar um clube de malucos, como é o Sporting." Isto [sic] é a visão que muitos treinadores têm hoje do Sporting.» Declarações textuais de Varandas, mencionando José Mourinho e Leonardo Jardim entre os técnicos conceituados que procurou (em vão) trazer para Alvalade.
Foi a 28 de Setembro - um dia em que o sucessor de Torres Pereira e Sousa Cintra certamente recordará pela negativa. Ao declarar o que declarou, Varandas confirmou que Silas esteve muito longe de ser a primeira escolha para orientar o futebol profissional do Sporting - facto que só pode quebrar-lhe a autoridade no balneário. Deixando claro, ao mesmo tempo, que não faltam treinadores que recusam trabalhar em Alvalade - algo nada abonatório para o emblema leonino. Além disso, ficou-lhe mal tornar públicas conversas do foro privado. Ficou-lhe ainda pior admitir insultos ao clube a que preside, venham de quem vierem.
Varandas não parece ter reparado que, se o Sporting é um clube de malucos, ninguém será tão doido como o primeiro na hierarquia. Ele.
No dia seguinte, em conferência de imprensa, Silas deu-lhe a resposta: «Sou o mais maluco de todos.» Demonstrando, com muito menos palavras, maior eficácia comunicacional do que o presidente.
Apesar do nosso desencanto e da nossa frustração em parte do ano futebolístico, há que reconhecer: não faltaram excelentes golos de verde e branco em 2019. De tal maneira que desta vez tive alguma dificuldade na escolha. Podia ter seleccionado o de Pedro Mendes contra o PSV, na Holanda (19 de Setembro). O de Mathieu na recepção à mesma equipa, em Alvalade (28 de Novembro). O primeiro de Vietto na partida contra o Belenenses SAD (10 de Novembro). Ou, recuando alguns meses, o de Wendel contra o Feirense para os quartos da Taça de Portugal (16 de Janeiro).
Confesso que a escolha se deveu a diversos factores conjugados: ter ocorrido num dos nossos melhores jogos dos últimos meses, revelar irrepreensível execução técnica, culminar uma excelente demonstração de futebol colectivo e ter sido vital para a conquista do nosso mais saboroso troféu do ano.
Aconteceu em Alvalade a 3 de Abril, na segunda mão da meia-final da Taça de Portugal contra o Benfica. Um golaço de Bruno Fernandes que ajudou a desfazer o nó frente aos nossos mais velhos rivais, que nos haviam batido por 1-2 na primeira mão, a 6 de Fevereiro. O capitão leonino recebeu a bola na ponta direita, libertou-se de marcação pregando um defesa adversário no chão e serviu-se do pé esquerdo para um potente remate, sem defesa possível para o guardião encarnado, Svilar. Já tinha sido ele a marcar na Luz.
Era a nossa primeira vitória frente ao Benfica, em futebol profissional, desde Novembro de 2015. Seguíamos em frente na competição e acabámos por levantar o caneco no Jamor.
Às vezes é preferível assim. As nossas expectativas eram baixas, o que ampliou ainda mais a alegria que sentimos ao conquistarmos dois troféus inesperados. O primeiro logo a 26 de Janeiro, em Braga, numa suadíssima final frente ao FC Porto, em que o rival dispôs de mais 24 horas de descanso: quatro meses após ter sido eleito presidente, Frederico Varandas via o Sporting vencer a Taça da Liga pelo segundo ano consecutivo. E Marcel Keizer igualava a proeza de Jorge Jesus. Com golo marcado de grande penalidade por Bas Dost já no tempo extra, empatando a partida, sendo o título decidido por penáltis. Renan, que defendera três na meia-final contra o Braga, defendeu mais um contra o FCP: foi vital para conseguirmos o troféu.
A final da Taça maiúscula, no Jamor, viria a ser ainda mais emocionante. Foi a 25 de Maio, no mesmo cenário em que tínhamos perdido contra o modesto Aves um ano antes. Desta vez com uma sorte bem diferente. A vítima voltou a ser o FC Porto, treinado por um Sérgio Conceição com eterno mau perder. Com golos, do nosso lado, marcados por Bruno Fernandes (45') e Bas Dost (101'). Fomos novamente a penáltis - e de novo Renan se distinguiu ao defender um.
Aconteceu uma genuína e legítima explosão de alegria verde-e-branca nas vetustas bancadas do Estádio Nacional. Saudando os heróis que, sob o comando do técnico holandês, reeditaram a proeza de quatro anos antes, quando conquistámos a Taça contra o Braga com Marco Silva ao leme - novamente com o emocionante recurso a grandes penalidades, novamente com Sérgio Conceição no lugar da vítima.
Resta anotar o nome dos 15 jogadores que contribuíram para este dia mais empolgante do futebol leonino no irregular ano que agora terminou: Renan, Bruno Gaspar, Coates, Mathieu, Acuña, Gudelj, Wendel, Bruno Fernandes, Raphinha, Diaby, Luiz Phellype, Ilori, Bas Dost, Idrissa e Jefferson.
Fechamos o ano com quase um milhão de visitantes e perto de dois milhões de visualizações.
Concretamente, ao longo de 2019 recebemos 846.220 visitas e registámos 1.873.242 visualizações.
Prova reiterada do interesse que este blogue continua a suscitar junto dos leitores. A oferta é plural e em vários tons, a procura mantém-se incessante.
Os nossos agradecimentos a todos pelas provas de confiança que insistem em transmitir-nos. Prometemos não abrandar o ritmo em 2020.
Há jogos que definem uma época. Foi de algum modo o que sucedeu na Supertaça, disputada a 4 de Agosto no Estádio do Algarve. Um desafio que, contrariando os nossos desejos e os prognósticos de muitos, redundou na vingança do Benfica face à derrota que havíamos imposto ao velho rival, na mesma competição, quatro anos antes. E essa desforra foi-nos cobrada com juros.
Esse reduto que foi palco do nosso triunfo por 1-0 em 2015 (golo de Slimani) funcionou desta vez como cenário de um pesadelo para a massa adepta leonina. E viria a custar ao cargo, como depois se saberia, ao técnico Marcel Keizer.
O pior não foi a derrota, mas os expressivos números em que se traduziu: uma goleada por 0-5. Sucumbimos numa segunda parte aterradora e saímos do Algarve vergados perante um SLB sem as duas estrelas da época anterior (Jonas e João Félix).
Parecia o que acabou por ser: uma partida de péssimo agoiro para o conjunto da época. Chegamos ao fim do ano civil em terceiro no campeonato, mas já a 13 pontos do Benfica. Fomos eliminados da Taça de Portugal pelo Alverca, clube da terceira divisão. E começámos da pior maneira a defesa do título na Taça da Liga com uma derrota em casa frente ao Rio Ave. Em quatro meses, vamos no terceiro técnico: Silas, após Keizer e o interino Leonel Pontes (incapaz de vencer um jogo).
Na análise imediata a esta Supertaça de má memória, escrevi isto: «Marcel Keizer, mostrando a sua pior face de treinador medroso, fez entrar em campo na Supertaça um onze hiperdefensivo contra um Benfica desfalcado de vários titulares da época passada e cheio de miúdos da formação, um dos quais em estreia, de pé trocado, pela ausência do habitual lateral direito. Medroso, repito. Como se o Sporting fosse o Paços de Ferreira a jogar na Luz.»
Causou perplexidade o facto de termos entrado apenas com um reforço - Luís Neto, por sinal o único adquirido a "custo zero" - apesar dos 25 milhões de euros em aquisições já desembolsados. E custou-nos ver em campo só um jogador da nossa formação - Thierry, que não tardaria a abandonar Alvalade. Em flagrante contraste com os históricos rivais. «Também no capítulo do aproveitamento da formação e dos reforços saímos derrotados do Algarve», foi outra amarga conclusão que extraí desse confronto.
No final, numa das mais infelizes declarações proferidas nestes 16 meses que leva de mandato, Frederico Varandas aproximou-se por instantes dos jornalistas para lhes comunicar que estava «chateado, mas não preocupado». Ao naufrágio em campo, somava-se o desastre comunicacional. Há dias em que mais vale ficar em casa.
Nos 22 destaques feitos pelo Sapo em Dezembro para assinalar os dez blogues mais comentados nesta plataforma ao longo do mês, És a Nossa Fé recebeu 22 menções. Fazendo assim o pleno, pelo sétimo mês consecutivo.
Além disso, figurámos 20 vezes no pódio dos mais comentados - com 11 "medalhas de ouro", sete de "prata" e duas de "bronze". Fomos primeiros, portanto, em metade dos dias que estiveram sob escrutínio.
Recorde-se que os textos publicados ao fim de semana são agregados aos de sexta-feira para este efeito, o que leva o número de destaques a ser inferior ao número de dias.
Com um total de 1275 comentários nestes postais. Da autoria do António de Almeida, do Pedro Boucherie Mendes, do Paulo Guilherme Figueiredo, do José Cruz, do Edmundo Gonçalves e de mim próprio.
Fica o agradecimento a quem nos dá a honra de visitar e comentar. E, naturalmente, também aos responsáveis do Sapo por esta iniciativa.
Ele não merecia ter saído como saiu. Já com a época a decorrer, sem ter podido despedir-se em campo de sócios e adeptos, a uma semana de se esgotar o prazo para o fecho do mercado estival de transferências. E sobretudo por um preço irrisório, até ridículo para o seu valor. Em nome da «contenção de custos», alegou-se como justificação para tal desfecho. Como se ele não gerasse receita e só provocasse despesa.
Bas Dost deixou o Sporting, transferido para o Eintracht Frankfurt, por meros sete milhões de euros. Quantia que causou admiração até ao presidente do clube alemão, que viria a a admitir o seu espanto por desembolsar tão pouco por um dos maiores goleadores dos campeonatos europeus: escassas semanas antes, Dost "custava" o dobro.
Os números falam por si: nas três temporadas em que prestou serviço no Sporting, o holandês marcou 93 golos em jogos oficiais - à pendular média de um golo a cada 90 minutos. Tornou-se um ídolo da massa adepta, sobretudo entre os mais jovens, que vibravam de maneira muito especial a cada remate vitorioso que lhe saía dos pés ou da cabeça. Puro ponta-de-lança posicional - a posição de que andamos mais carentes nesta frustrante época que vai quase a meio.
Dost, pai de um menino nascido há 17 meses em Portugal, tornou-se um dos três maiores artilheiros do nosso clube no século XXI, integrando com Jardel e Liedson este restrito lote. Chegou a ser o terceiro maior goleador das competições europeias na temporada 2016/2017, sendo ultrapassado então só por Messi (Barcelona) e Cavani (PSG). E revelou-se também um dos jogadores mais consensuais no balneário leonino, sem a menor demonstração de egoísmo em campo, sempre pronto a felicitar e a incentivar os colegas.
Deixou-nos bruscamente, no Verão passado. Carentes de golos e de vitórias, impossíveis sem eles. Sentimos falta daquela camisola n.º 28 e dos cânticos de euforia que nos suscitava o seu desempenho. Gostaríamos de voltar a escutar "Thunderstruck", dos AC/DC - a música que lhe fica para sempre associada no nosso imaginário.
Quatro meses depois, o seu lugar continua infelizmente por preencher.
Se há jogador da formação leonina que dispôs de oportunidades para mostrar o que vale na equipa principal foi ele. Lançado por José Peseiro ao mais alto nível do futebol profissional do Sporting a 21 de Outubro de 2018, previa-se que o ano que agora acaba fosse o da explosão de Miguel Luís, na linha das promissoras exibições que fizera no Sporting B, entretanto extinto, e sobretudo nas selecções jovens, tendo-se sagrado campeão europeu sub-17 (em 2016) e sub-19 (em 2018).
No final da época passada, sentindo-se pouco aproveitado, o jovem médio, com 20 anos, deu sinais de que pretendia abandonar Alvalade, jogando por empréstimo noutro clube. Mas o então treinador Marcel Keizer fechou as portas a essa possibilidade, mantendo-o integrado no plantel principal, onde foi um dos escassos sobreviventes da formação leonina, ali reduzida à expressão mínima no início da época em curso.
A 19 de Setembro, durante a liderança interina de Leonel Pontes, dispôs enfim dos primeiros minutos de competição na temporada. Foi a 21 de Setembro, frente ao PSV na Holanda para a Liga Europa, e a partida correu-lhe mal: teve claras responsabilidades em dois dos três golos marcados pela equipa anfitriã. A estreia no campeonato 2019/2020 ocorreu quatro dias depois, contra o Famalicão em Alvalade: voltou a não correr-lhe bem esse jogo em que fomos derrotados em casa.
Já sob o comando de Silas, a 17 de Outubro, desperdiçou a maior das oportunidades num dos nossos jogos de mais triste memória deste ano: aquele em que fomos derrotados por uma equipa do terceiro escalão, o Alverca, e saímos eliminados da Taça de Portugal. Miguel Luís tinha especiais responsabilidades nesse desafio, em que actuou com a braçadeira de capitão face à ausência de Bruno Fernandes do onze titular. E voltou a passar ao lado da partida, com nova exibição para esquecer.
«Exibição marcada pela dificuldade em fazer cruzamentos ou contribuir de forma decisiva para um desfecho diferente daquele que mostrou aos sportinguistas que continua a haver mais túnel no fundo do túnel», escreveu o Leonardo Ralha na crónica desse jogo. Eu, igualmente decepcionado, incluí-o entre os que «se arrastaram sem préstimo em campo».
Das mais recentes aparições deste jogador fica-nos a imagem frustrante de alguém que se esconde em campo, só faz passes laterais ou à retaguarda, mostra-se incapaz de criar desequilíbrios e falha em momentos decisivos, nomeadamente no capítulo da finalização. Onde estão os passes de ruptura que lhe vimos em anos anteriores? Onde está o jogador inteligente e criativo a que nos habituou nos escalões jovens?
Esperamos todos que 2019 tenha sido apenas um triste interregno numa carreira que vai muito a tempo de se recompor.
Já se esperava a notícia, era apenas uma questão de data. E ela chegou, a 26 de Setembro, quando Luís Maximiano se estreou na equipa principal a defender a baliza leonina. Num confronto que terminou mal para as nossas cores: perdemos com o Rio Ave na primeira jornada da Taça da Liga. Mas que ficará como marco na carreira do jovem guarda-redes a quem muitos auguram um percurso na esteira de um Rui Patrício, seu ídolo assumido.
O ano encerra com Max - o nome pelo qual é mais conhecido entre colegas e adeptos - já no onze titular. Culminando uma subida a pulso. Com muito esforço, muito trabalho, muita dedicação e muito mérito.
«É um guarda-redes com uma margem de progressão enorme. Sabe ouvir, sabe trabalhar. Quer sempre mais. É muito preocupado com os detalhes, com os pormenores. E isso é importante porque ele tem de perceber que tem de continuar a crescer, a melhorar, e não pode relaxar.» Palavras do capitão Bruno Fernandes há três dias, em entrevista ao Record. Palavras que expressam a confiança do grupo de trabalho neste talentoso guardião que aprendeu tudo quanto sabe no Sporting e é fruto da excelência da nossa Academia.
Já como guarda-redes titular, teve actuação louvável nos jogos desta época em que o Sporting mais brilhou: a 28 de Novembro, na goleada que impusemos em Alvalade ao PSV para a Liga Europa; e a 21 de Dezembro, na espectacular reviravolta leonina frente ao Portimonense, no Algarve, para a Taça da Liga.
Nada que surpreenda quem tenha acompanhado com atenção o percurso de Luís Manuel Arantes Maximiano, iniciado em 2012 de verde e branco, ligado por contrato ao Sporting Clube de Portugal até 2023.
Pois já chegou. A uma semana de completar 21 anos, Max é hoje mais uma confirmação do que uma promessa. Se prosseguir como até aqui, pode continuar a sonhar alto. Com a certeza antecipada de que o futuro vai sorrir-lhe.
Irá singrar no Sporting? Sou capaz de apostar que sim. E ele já deu um indício claro disso, ao apontar um extraordinário golo no mais recente jogo da nossa equipa - o segundo contra o Portimonense na Taça da Liga, que contribuiu para virar a partida, quando tínhamos um jogador a menos e recuperávamos de dois golos sofridos na meia hora inicial.
Rafael Euclides Soares Camacho fez o início da sua aprendizagem futebolística nas escolinhas do Sporting antes de rumar com os pais a Inglaterra, onde actuou nos escalões de formação do Liverpool. Jurgen Klopp, que o conhece bem, apostou nele não apenas como extremo direito - posição preferida do jovem de ascendência angolana nascido há 19 anos em Lisboa - mas também como lateral. E foi precisamente a percorrer todo o corredor direito, fazendo duas posições, que ele se destacou no recente confronto em Portimão em que saiu enaltecido pela imprensa como o melhor em campo.
Regressou ao Sporting em Junho, como aposta da SAD leonina para reforçar o plantel após duas partidas pelo plantel principal do Liverpool, onde treinou ao lado de craques como Firmino, Mané e Salah. «Gosto de ter liberdade para jogar, fugir dos defesas, driblar, assistir e fazer golos.» Assim se definiu numa das primeiras entrevistas concedidas após assinar o contrato que o faz jogar de Leão ao peito, a troco de uma generosa quantia: o Sporting pagou cinco milhões de euros para o ver de verde e branco.
Demorou a dar nas vistas, com uma lesão pelo meio, mas vem conquistando claramente a confiança de Silas, que não hesita em atribuir-lhe cada vez mais responsabilidade. Ele tem respondido, com notável aptidão técnica e capacidade de desequilíbrio nos confrontos individuais. O golaço a que me referi é um excelente exemplo disso.
Klopp telefonou-lhe quando viu na televisão as imagens desse golo. Rafael certamente sentiu orgulho ao receber um elogio daquele que muitos consideram hoje o melhor treinador do mundo. Fazemos votos, da nossa parte, para que ele nunca se arrependa de ter trocado Anfield por Alvalade. Seria excelente por vários motivos - até para sacudir de vez a maldição do n.º 7, que vem assombrando o Sporting desde a partida de Luís Figo.
As modalidades leoninas vivem um dos melhores momentos de sempre, dando incontáveis alegrias aos adeptos. Incluindo aquelas que durante anos permaneceram adormecidas em Alvalade, como sucedeu com o hóquei em patins, uma das mais populares entre os portugueses. Há cinco anos, em boa hora, Bruno de Carvalho decidiu recuperá-la. Na presidência de Frederico Varandas, o nível tem-se mantido e até acentuado. Graças a um timoneiro exímio na orientação da equipa: Paulo Freitas, oriundo do Óquei de Barcelos - onde venceu duas Taças CERS - e nosso treinador pela terceira época completa consecutiva.
Com ele ao leme, logo em 2017/2018, o Sporting sagrou-se campeão nacional. Mas as maiores proezas ocorreram já este ano. Primeiro, a 12 de Maio, com a conquista da Liga Europeia, máximo troféu da modalidade ao nível de clubes, reeditando a façanha de 1977, quando fomos campeões europeus com um elenco titular de luxo: Ramalhete, Rendeiro, Sobrinho, Chana e Livramento. Depois a 29 de Setembro, com o inédito triunfo na Taça Continental, ao derrotarmos o FC Porto num vibrante Pavilhão João Rocha com casa cheia.
Mais duas páginas inesquecíveis no vasto historial de êxitos de um clube fundado em 1906 para ser tão grande como os maiores da Europa. Páginas a que este treinador de 51 anos ficará para sempre ligado ao comandar uma equipa onde brilham Ângelo Girão, Pedro Gil, Caio, Ferran Font e Gonzalo Romero. Paulo Freitas confirma-se assim como o homem certo no lugar certo. Levando o Sporting não apenas a vencer mas também a convencer pela qualidade do hóquei que pratica, tanto na construção ofensiva como na segurança defensiva.
Honrando da melhor maneira o lema do nosso fundador.
Muitos adeptos não hesitam em classificá-lo como um dos melhores médios criativos que já passaram pelo Sporting. Aos 25 anos, Bruno Fernandes é não apenas o capitão da equipa mas o prolongamento do treinador em campo, transmitindo constantes indicações de posicionamento aos colegas e dando ele próprio o exemplo de como deve comportar-se um futebolista que traz o emblema do Leão ao peito.
Tem um perfeito domínio técnico tanto a receber a bola como a construir lances ofensivos. Desenha jogadas colectivas na cabeça antes de lhes dar execução prática, denotando uma notável leitura de jogo. Exibe uma invejável capacidade física, surpreendendo aqueles que se deixam iludir pela sua compleição franzina. E revela uma inesgotável fome de golo, bem traduzida em números: nas três épocas que já leva em Alvalade somou intervenções em mais de cem golos, tanto a marcar como a assistir.
Bruno Fernandes é a jóia da coroa do futebol leonino. Não por acaso, foi o único jogador a actuar em Portugal a ser nomeado, muito recentemente, para o onze ideal das competições organizadas pela UEFA.
Terminou a época passada em grande, como médio mais concretizador de sempre no futebol europeu, com um registo de 31 golos: dezanove no campeonato, seis na Taça de Portugal, três na Taça da Liga e três na Liga Europa. Esta temporada segue pelo mesmo caminho: já marcou 13 e fez 12 assistências. Lidera isolado a lista dos goleadores da nossa equipa no campeonato e é o rei da participação em golos, à escala continental, na Liga Europa, com média de um marcado por jogo. Compensando assim, em boa parte, o facto de contarmos apenas com um ponta-de-lança, aliás nem sempre disponível, para as competições internas.
Em boa hora regressou, recusando o bónus de cinco milhões de euros a que teria direito. Comporta-se em cada jogo com o entusiasmo de um estreante e a sabedoria de um atleta em fim de carreira, conciliando o melhor de dois mundos. E está a tornar-se um jogador cada vez mais influente também na selecção nacional: muitos vaticinam que será titular no próximo Campeonato da Europa, onde Portugal vai defender o título.