A gente sabe que se o golo da vitória na final tivesse sido do nosso sócio 100.000, a "chinfrineira" ainda não tinha acabado.
Posto este ponto de ordem à "mesa", sou só eu, ou ultrapassa já as marcas o "escarcéu" que está a ser feito com Éder?
Tudo na vida deve ter o seu peso e a sua medida, e ambos devem equivaler-se em ordem a manter um equilíbrio estável e com sentido. Éder teve o seu justo reconhecimento, terá porventura a gratidão eterna de muitos adeptos e do futebol português pelo feito alcançado, mas na minha modesta opinião, tudo o que é a mais é exagerado e tende a quebrar aquele equilíbrio que atrás referi.
Éder não passará a ser melhor ponta de lança depois deste golo. Não passará a ser imprescindível na selecção.
Podem argumentar que todas as homenagens são poucas e todas elas justas. Admito que sim, a minha é feita com este postal, mas às tantas, com a banalização de tanta coisa em seu redor, não sairá o próprio prejudicado com tanto "barulho"?
Ou esta onda de carinho em torno do, por ora, cisne, não passa de uma manobra para fazer esquecer outras figuras da final?
O defesa esquerdo Raphael Guerreiro, apenas com seis internacionalizações, já marcou dois golos pela selecção. Tantos como o ponta-de-lança Éder, que já vai na 24.ª internacionalização. As coisas são o que são.
Oiço por aí uns comentadores da treta, que fogem da polémica como o diabo da cruz, apressar-se a dizer que "as escolhas de Fernando Santos na convocatória para França não oferecem discussão". Já deixei aqui a primeira crítica: levar Bruno Alves em vez de Daniel Carriço parece-me uma opção absurda.
Segue já a segunda: convocar Éder (ou Ederzito, seu nome de baptismo) constitui um inexplicável prémio à mediocridade. Quase tão (i)móvel dentro da grande área como Hugo Almeida e ainda menos concretizador que ele, o avançado nascido na Guiné-Bissau que agora joga no Lille por empréstimo do Swansea tem números aterradores ao serviço da selecção: actuou 21 vezes com a camisola das quinas e apenas marcou um golo, num jogo particular, frente a Itália. Um golo conseguido apenas à 18.ª internacionalização, o que diz muito do seu desempenho.
Ao nível de clubes, a sua melhor época foi a de 2012/13 actuando pelo Braga, com 13 golos marcados - menos de metade da marca do nosso Slimani no campeonato que agora terminou.
Parafraseando a célebre expressão de Churchill aplicada à Rússia estalinista, a chamada de Éder ao Euro-2016 é para mim um mistério dentro de um enigma. Se eu fosse jornalista desportivo já teria perguntado ao seleccionador o que esteve na origem desta escolha. Mas vou calar-me, não vá um dos tais comentadores da treta acusar-me de quebrar a unanimidade nacional.
Gostava de saber por que motivo Éder e Danny continuam a ser convocados para a selecção nacional. Admito que exista uma razão qualquer. Mas não a vislumbro.
Algum brincalhão convenceu o Éder que teria jeito para ponta-de-lança. A piada tem graça, mas já foi demasiado longe: Fernando Santos é o segundo seleccionador nacional a levá-la a sério.
Como este facto importantíssimo para o futebol português não foi aqui referido por mais ninguém, tenho que prestar uma justa homenagem aos jogadores da selecção nacional que venceram a Itália ontem, mais de trinta anos depois dos dois golos sem resposta de Néné em Alvalade. Foi a feijões, mas não interessa!
Não queria também deixar passar em claro o primeiro golo de Éder(zito?) ao serviço da selecção! Quase trinta jogos depois. A isto sim, chama-se porfiar! Em manuelmachadês: "acreditar que porfiando e acreditando no seu próprio e intrínseco valor, alguma vez uma ocasião inolvidável lhe daria o mote para catapultar a sua carreira a um patamar que ele próprio desejaria". Temos homem! CR, põe-te a pau!
A meio da primeira parte do jogo amigável contra o México, na madrugada de ontem, Éder recebe a bola na grande área, após grande passe de Vieirinha, faz uma rápida rotação para o seu lado esquerdo e remata por instinto com o pé direito. A bola rasou o poste do guardião mexicano.
Foi um lance em que o irrequieto avançado bracarense demonstrou a Paulo Bento que merece a confiança que o seleccionador nele depositou ao abdicar de outros dianteiros - por exemplo, Bebé, do Paços de Ferreira - para o integrar no lote dos jogadores escolhidos para o Mundial do Brasil.
A dúvida inicial prendia-se com a condição física do jogador nascido há 26 anos em Bissau. Éder, nesta segunda época ao serviço do Sp. Braga, passou largas semanas imobilizado: fracturou os dois pés, em ocasiões diferentes, e sofreu uma lesão nos ligamentos cruzados, revelando "grande capacidade de sofrimento", como dele disse o seu ex-treinador Jesualdo Ferreira.
Numa selecção carente de goleadores o contributo deste bracarense formado na Académica será bem-vindo. Paulo Bento tem apostado nele desde que o convocou para os jogos iniciais na rota do apuramento para o Campeonato do Mundo, realizados em Setembro de 2012 contra o Luxemburgo e o Azerbaijão. Será concorrente directo de Helder Postiga e Hugo Almeida, esperando-se desde já que revele maior veia goleadora do que o segundo, mais famoso pelos lances que falha do que pelos que acerta, mesmo quando depara com a baliza escancarada.
Em Braga, nem as lesões o impediram de registar um saldo positivo na relação com o golo: já marcou 20 ao serviço do clube. Falta-lhe a estreia como goleador na selecção, onde já actuou em oito desafios - nenhum de tanta responsabilidade como aqueles que enfrentará ao serviço das cores portuguesas no Brasil. Inicialmente no banco, ao que tudo indica, mas pronto a entrar em campo a qualquer momento.
Tenho sido uma formiga tão pacífica quanto uma formiga pode ser pacífica entre tantos insectos hostis. Passei os últimos vinte anos a ver guerreiros da linfa azeda a fazer guerras contra todos os outros formigueiros como se fossem uma nova espécie de insectos na cadeia da evolução. Estas formigas-soldado têm agido eficazmente nos subterrâneos lamacentos e triunfado sobre todos os outros formigueiros: mandíbulas hostis e mesotórax que impõe respeito. Muitos formigueiros deixam que as suas formigas sejam recrutadas sem mexer uma antena ou segregar uma reacção. Toda a gente sabe que uma formiga sem odor é uma formiga sem identidade, mas já me cheira a Éder no Porto. Eu sei, posso estar enganado, afinal, eu sou apenas uma formiga, mas ainda me lembro de ter batido as patinhas ao Rúben Micael em Alvalade e no dia seguinte ele lá estava no formigueiro dos outros. Cá no nosso formigueiro estamos habituados aos néctares e às papas reais, mas talvez um dia tenhamos que aprender a mostrar as nossas mandíbulas.
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