Dois jogos muito contrastantes. Um bem disputado, com emoção quase até ao fim e uma qualidade técnica superior. O outro, cheio de momentos maçadores, com as defesas a superiorizarem-se sobre os ataques. A tal ponto que o único golo registado foi marcado por um dos centrais na própria baliza.
O primeiro, disputado há dois dias em Berlim, foi o Croácia-Espanha. Com o aliciante de vermos ainda em acção o fabuloso Modric, Bola de Ouro 2018, agora com 38 anos, e por outro lado o adolescente Lamine Yamal, do Barcelona - aos 16 anos, é o mais jovem participante de sempre numa fase final dum Europeu. De imediato escalado para o onze titular espanhol. Extremo canhoto jogando de pés trocados junto à linha direita, fez jus à fama que lhe chegou tão cedo: foi um dos obreiros da vitória. Com uma assistência e uma pré-assistência.
Os croatas, que dias antes tinham vencido Portugal num jogo de preparação para o Euro-24, desta vez não souberam aproveitar as oportunidades. Ao contrários dos espanhóis, bafejados por uma exibição superlativa de Fabián Ruiz, médio-centro do PSG - autor do passe de ruptura de que nasceu o golo inicial, de Morata, e ele próprio autor do segundo, numa extraordinária jogada individual dentro da área que partiu os rins aos centrais adversários antes de fuzilar as redes. Estava encontrado um dos primeiros heróis deste Europeu.
Carvajal, que já se destacara com um golo decisivo no recente triunfo do Real Madrid na final da Liga dos Campeões frente ao Borussia, marcou o terceiro neste confronto com os croatas. Eis um lateral direito com vocação nata para goleador.
Três oportunidades, três golos. Em contraste, a equipa de Modric nem de penálti conseguiu: desperdiçou o tento de honra, aos 81'. Estreia com o pé esquerdo da selecção que em 2018 se sagrou vice-campeã do mundo. Enquanto os espanhóis não deixaram margem para dúvida: são mesmo candidatos. A fúria vermelha está de volta. Se é que alguma vez se foi.
O mesmo não pode dizer-se dos franceses, com pálida exibição esta noite, em Dusseldorf, perante os austríacos. Mbappé destacou-se, mas pela negativa: aos 8', rematou à malha lateral; aos 45'+1, desperdiçou excelente passe de Griezmann a isolá-lo; aos 51', só com o guarda-redes pela frente, pegou mal na bola, atirando ao lado.
Dembélé protagonizava lances sem sentido junto à linha direita, Griezmann exibia gritante ineficácia na conversão de livres e Giroud saltou do banco também para falhar uma emenda junto à baliza. Emblemas de uma França aburguesada, que se limitou a deixar o marfim correr, confiante na inépcia ofensiva dos austríacos. Que até podiam ter marcado, aos 36', por Baumgartner.
Valeu aos gauleses um momento de azar da turma adversária, quando Wöber introduziu a bola na própria baliza, traindo o guarda-redes. Como diria um político português, em contexto bem diferente, foi uma vitória por poucochinho. Num Campeonato da Europa espera-se muito mais.
Vitória ao Sturm Graz desfez a maldição: foi a primeira vez que o Sporting triunfou na Áustria
Foto: Christian Bruna / EPA
Gostei muito da nossa estreia internacional desta época. Fomos vencer ontem (1-2) o Sturm Graz, equipa austríaca que segue em segundo lugar no campeonato do seu país. Não se tratou de uma simples vitória: foi a primeira vez que o Sporting arrancou um triunfo na Áustria - antes tínhamos ali somado dois empates e quatro derrotas. Muito saborosos, portanto, estes três pontos ali conseguidos neste início da nossa campanha na Liga Europa. Outra proeza de Rúben Amorim ao leme do emblema leonino. Balanço da temporada até agora: cinco vitórias e um empate. Melhor ainda: levamos vinte jogos oficiais seguidos sem perder. Nada mal.
Gostei da nossa segunda parte, sacudindo a apatia do primeiro tempo, e sobretudo da actuação do Sporting após a vaga de substituições. Desta vez o treinador mexeu muito bem na equipa, em duas fases: aos 62' tirou Matheus Reis e Trincão, mandando entrar Nuno Santos e Pedro Gonçalves; aos 78', Daniel Bragança, Geny e Morten deram lugar a Edwards, Fresneda e Morita. Perdíamos por 1-0 desde o minuto 58, havia que dar a volta à situação. Amorim não hesitou. As alterações trouxeram nova dinâmica e acutilância à equipa, que passou a visar com insistência a baliza adversária. Aí emergiram as figuras leoninas do jogo Com três destaques. Gyökeres, que marcou o primeiro aos 75', em lance de existência premiando o seu esforço incansável: quarto golo em apenas seis jogos de verde e branco - além de ontem ter feito "amarelar" dois adversários. Pedro Gonçalves, que está nos dois golos: pormenor de classe ao tirar um defesa do caminho e fazer o remate inicial antes da recarga do sueco; e marcando de forma exímia o livre de que resultou o segundo, aos 84'. Finalmente, Diomande: vai deslumbrando de jogo para jogo. Também ele participa nos dois golos, primeiro ao centrar e depois ao rematar cruzado, com a bola ainda a sofrer um ligeiro desvio em Coates. Este golo foi creditado ao uruguaio, mas merecia ser do marfinense, que elejo como o melhor dos nossos em campo. Quem diria que há oito meses andava pela Liga 2...
Gostei pouco da nossa falta de intensidade durante todo o primeiro tempo. Com a equipa a acusar os defeitos do costume: lenta na transição, demasiada posse estéril de bola, falta de capacidade de penetração nas linhas adversárias, processos muitos denunciados na construção ofensiva. E sem um só remate enquadrado. Ficou a sensação que devíamos ter posto o pé no acelerador logo nessa fase de jogo, preservando os jogadores da tensa incerteza daqueles 20 minutos finais. O Sturm é uma equipa totalmente ao nosso alcance, como ficou confirmado nestes três pontos que trouxemos da Áustria. Com apenas dois jogadores claramente acima da média: o guarda-redes holandês Scherpen (fez três defesas de grande categoria) e o médio ofensivo georgiano Kiteishvili (iniciou o lance que culminou no golo deles com um tiro disparado ao nosso poste direito).
Não gostei das cinco alterações simultâneas feitas por Amorim face ao jogo anterior, contra o Moreirense. Para poupar vários titulares ao desgaste da Liga Europa. É verdade que o campeonato nacional é a nossa prioridade e o próximo desafio será com o Rio Ave já na segunda-feira. Mas Daniel Bragança (pouco dinâmico, pouco agressivo, falhando passes em progressão) revelou-se claramente inferior a Morita, Geny é muito mais inexperiente do que Esgaio e Matheus Reis não fez esquecer Nuno Santos. Paulinho foi perdulário na hora de visar as redes: rondou o golo, sem sucesso, aos 41', 59' e 67'. Muito pior esteve Trincão, que continua a parecer perdido em campo: ainda não fez uma só exibição bem conseguida nesta temporada 2023/2024. Sem justificar a titularidade, longe disso.
Não gostei nada do estado da relva. O chamado "tapete verde" apresentou-se impróprio para uma grande competição desportiva europeia. Prejudicando os jogadores mais tecnicistas da melhor equipa - a nossa. Tenho a certeza de que o relvado do José Alvalade estará em muito melhores condições quando recebermos a Atalanta na segunda jornada do nosso grupo, a 5 de Outubro.
Já tinha confessado aqui a minha simpatia pela selecção da Dinamarca. Foi portanto com muita satisfação que assisti hoje ao primeiro desafio dos oitavos-de-final do Euro-2021: vitória categórica dos dinamarqueses em Amesterdão, anulando por completo o País de Gales. O onze de Bale e Ramsey foi incapaz de conter o futebol ofensivo da turma nórdica.
O herói desta goleada foi um suplente: Dolberg, ponta-de-lança do Nice, só entrou no onze por lesão de Poulsen. Em boa hora: foram dele os dois primeiros golos, aos 27' e aos 48'. O terceiro - marcado por Maehle aos 88' - merece ser revisto várias vezes: é um dos melhores deste Europeu. Mas a conta só fecharia aos 90'+3, com golo assinado por Braithwaite: o avançado do Barcelona foi o maior desequilibrador da Dinamarca e um dos artífices desta vitória, certamente dedicada a Eriksen.
Wass, o lateral direito que parece estar na mira do Sporting, nem no banco se sentou - ao que parece devido a uma indisposição. Talvez o vejamos actuar nos quartos-de-final.
Há cinco anos, o País de Gales saiu mais tarde do Europeu, só na meia-final em que defrontou a selecção portuguesa. Desta vez vai embora mais cedo: Bale terá mais tempo para se dedicar ao golfe.
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Enorme sofrimento italiano, esta noite em Wembley, no embate com os austríacos. Aos 90 minutos mantinha-se o empate a zero, foi necessário jogar mais meia hora. Aí impôs-se a superior condição física da squadra azzurra, que descansou mais 24 horas antes desta partida dos oitavos, além de ter poupado vários titulares no desafio contra o País de Gales, quando tinha o apuramento já garantido.
A solução veio do banco: Chiesa, lançado em jogo só aos 85', desfez o nulo no prolongamento, aos 95'. O segundo golo italiano - aos 105' - teve a assinatura de Pessina, outro suplente utilizado. Mas a Áustria, com sólida organização colectiva e melhor exibição do que o adversário na segunda parte, não baixou os braços. Kalazdjic reduziu aos 114' e a hipótese de tudo ser decidido por penáltis permaneceu em aberto até ao fim.
Os austríacos saem de cabeça levantada, os italianos tremeram nesta que foi - de longe - a sua pior exibição neste Europeu. Apesar de contarem com o caloroso apoio de grande parte dos espectadores no estádio. Destaque para as exibições dos dois alas direitos: Alaba pela Áustria e Spinazzola por Itália. Estes sim, eu gostaria de ver jogar pelo Sporting.
Atenção a Itália, como já tinha escrito aqui: apresenta uma selecção fabulosa neste Europeu. Jogando ontem novamente em casa, no Estádio Olímpico de Roma, os italianos fizeram outra extraordinária partida, levando a Suíça ao tapete. Pela mesma marca que Portugal aplicou à Hungria.
Locatelli, médio ofensivo do Sassulo, teve uma partida de sonho: marcou os dois primeiros golos, aos 25' e aos 52'. Immobile, aos 89', fixou o resultado - tendo também já dois apontados no Euro-2021. A Suíça facilitou a missão italiana: passiva, sempre remetida à defesa, incapaz de um lance bem construído.
Décimo jogo seguido da squadra azzurra a ganhar, sem sofrer um só golo. Duas vitórias, com 6-0 no total, até agora no Grupo A. Grandes, enormes, jogadores: Spinazzola, Chiesa, Bonucci, Berardi, Jorginho. Já estão nos oitavos. Foram os primeiros a carimbar o passaporte para a fase seguinte deste Euro-2021.
Também a Holanda transitou para os oitavos, já hoje. Clara superioridade da selecção laranja perante os austríacos. É certo que jogavam em casa, no estádio de Amesterdão, mas a equipa adversária mal conseguiu dar réplica. Desconfio sempre, aliás, das selecções que têm um defesa como principal vedeta - no caso austríaco, o capitão Alaba, prestes a estrear-se no Real Madrid. Foi dele, aliás, a melhor oportunidade dos visitantes, com um forte remate aos 81' que saiu ligeiramente ao lado. Mas também foi ele a cometer o penálti que facilitou a vitória holandesa, logo aos 9': decisão do vídeo-árbitro, instrumento decisivo para a verdade desportiva, como este certame tem confirmado.
Depay meteu-a lá dentro. Aos 67', Dumfries confirmou a vitória. Mas o astro do encontro foi Wijnaldum, médio do Liverpool: é um pilar da selecção, parece actuar no campo todo.
Dois jogos, duas vitórias, comando indiscutível do Grupo C: há que levar em devida conta esta Holanda. Longe do brilhantismo de outrora, mas com inegável eficácia em campo.
Gareth Bale andou desaparecido no jogo inaugural do País de Gales, frente à Suíça. Mas reapareceu ontem, no embate contra a Turquia em Baku, onde foi pedra basilar. Os dois golos do triunfo galês resultaram de assistências dele: o primeiro numa parceria com Ramsey (42'), o segundo com magnífico desfecho, de Kieffer Moore (90'+5).
Estes foram os pontos altos. Em contraste, Bale falhou um penálti atirando a bola para a bancada: acontece aos melhores.
A Turquia - desta vez com Demiral ausente do onze titular - fica quase de certeza pelo caminho. Com duas derrotas nas partidas disputadas no Grupo A. Cinco golos sofridos, nenhum marcado. Quem disse que a Hungria, que defrontou Portugal, era a equipa mais fraca do Europeu?
É um prazer ver em acção o futebol de ataque dos ingleses. O quarteto composto por Sterling, Mount, Foden e Kane teve ontem 25 minutos iniciais estonteantes no confronto com a Croácia em Wembley. Infelizmente sem reflexos no marcador: o melhor que conseguiram foi um tiro aos ferros, disparado aos 6' por Foden, craque do City.
A Croácia tem um fio de jogo semelhante ao português: gosta de transportar a bola e cultiva o passe curto. Falta-lhe, no entanto, poder de fogo lá na frente: o primeiro remate, assinado pelo capitão Modric de meia distância, ocorreu só aos 55'.
O público presente nas bancadas empurrava a sua selecção, procurando desfazer um mito: nunca os ingleses haviam vencido um desafio inaugural de fases finais, tanto no Mundial como no Europeu. Uma tradição que se manteve tempo de mais.
Kane arrastava os defesas adversários, Mount funcionava como acelerador, Sterling confirmava a sua fabulosa capacidade de desmarcação. E foi numa destas manobras ofensivas desenhadas a régua e esquadro que surgiu o golo do triunfo inglês: Kalvin Phillips, numa digonal perfeita, coloca a bola em Sterling, que não perdoou, antecipando-se ao guarda-redes. Era o minuto 57, estava fixado o resultado. As tradições, muitas vezes, servem para isto mesmo: para serem desfeitas.
Para um sportinguista, o Áustria-Macedónia do Norte, ontem disputado em Bucareste, tinha como principal atractivo ver actual Ristovski, ex-lateral direito em Alvalade. Ao serviço do seu país, mantém as qualidades e defeitos que revelou de verde e branco: combativo, voluntarioso, indisciplinado.
Vitória natural dos austríacos, capitaneados pelo astro Alaba, que não tardará a estrear-se no Real Madrid. Há jogadores que fazem sempre a diferença em campo: é o caso deste lateral-esquerdo, um dos melhores do mundo em actividade. Destaque também para o médio Sabitzer: grande exibição a servir os parceiros lá na frente.
Numa partida debaixo de chuva, uma das figuras em foco foi o capitão Pandev, que aos 28' marcou o golo inaugural da Macedónia do Norte numa fase final de uma grande competição futebolística. Passa à história ainda antes de festejar o 38.º aniversário: é um dos jogadores mais velhos neste europeu.
O Sporting discute amanhã com o Lask Linz o 1.º lugar no grupo da Liga Europa, com efeitos directos no sorteio para a eliminatória seguinte.
Áustria tem sido um país que nos tem dado muitos desgostos, o maior dos quais a derrota que levou ao despedimento da melhor equipa técnica de todos os tempos, Bobby Robson-M.Fernandes-Mourinho-Roger Spry, em pleno avião, por um irresponsável Sousa Cintra.
Alguns jogadores importantes estão de fora: Bruno Fernandes, Mathieu e Vietto não viajaram, para além de Neto e Ristovski. Tudo por razões conhecidas e que não suscitam qualquer questão.
Convocados foram os seguintes:
Guarda-redes: Renan Ribeiro, Luís Maximiano, Hugo Cunha
Defesas: Ilori, Coates, Rosier, Borja
Médios: Eduardo, Wendel, Miguel Luís, Rodrigo Fernandes, Doumbia, Acuña
Avançados: Camacho, Plata, Jesé, Bolasie, Pedro Mendes e Luiz Phellype
Silas teima em "baralhar e dar de novo", completamente alérgico a rotinas e automatismos, e a táctica para amanhã pode ser 4-4-2 losango, 4-4-2 tradicional, 4-3-3, 4-2-3-1, 5-3-2, 5-4-0, enfim, qualquer coisa. Logo se verá. Nem vale a pena tentar adivinhar.
Mas, enquanto esperamos pela tarde de amanhã, gostaria de vos perguntar o seguinte:
Silas à parte, e com os jogadores convocados, qual seria o vosso onze e qual a disposição do mesmo em campo?
PS: Com os votos de rápido restabelecimento para um grande profissional, Luís Neto, que contraiu uma grave lesão numa intervenção que provavelmente evitou um golo do Moreirense.
Como o sorteio da Liga Europa determinou que iremos jogar em Linz, na Áustria, lembrei-me disto:
«Em 2012 a pequena vila de Fucking, na Áustria, uma vila que fica a 33 quilómetros a norte de Salzburgo, junto à fronteira com a Alemanha, tentou mudar o nome por causa do constante roubo de placas, dos turistas inconvenientes e indiscretos e dos telefonemas anónimos de pessoas de todo o mundo que ligam para qualquer um dos cerca 100 residentes a perguntar: ‘Is this fucking Áustria?’»
- Este foi um fim de semana de/em Tomar, com um propósito muito claro, que lá mais para o fim se esclarecerá.
Confesso que vi o jogo um bocado a trouxe-mouxe, mas a ideia com que fiquei, foi que este segundo jogo não teve nada a ver com o primeiro, para melhor, mas logo mais pela fresca, quando o revir na íntegra alapado no sofá a descansar o esqueleto, tirarei as minhas dúvidas.
É certo que ontem, Domingo, numa visita ao café pela manhã passei a vista e vi as gordas dos jornais e foi essa a sensação que tive, que isto de tentar ler o que quer que seja sem as lunetas, já começa a ser tarefa ingrata e até pode levar ao engano. Tão certo como eu ter lido no CM que o melhor de Portugal foi William e o pior foi Moutinho. Só pode ser consequência da minha avançada hipermetropia.
O jogo. Como disse, vi-o en passant, mas vi o suficiente para apoiar o sistema táctico implementado pelo treinador. E confesso que, tendo chegado em frente à pantalha só quando o coro entoava A Portuguesa e a câmara ia mostrando os protagonistas, a minha alma esteve assim a um bocadinho de ficar completamente parva com a argúcia de Fernando Santos. O homem tem um sentido de humor refinadíssimo a que só alguns predestinados, onde de todo não me incluo, têm acesso: Quis ele fazer-nos a partida de que o número da mudança de táctica seria suficiente para mudar tudo e que a malta se riria imenso no final, com este arremedo de stand up. E o que é certo é que com um trinco que trata a bola com uma deferência firme (pode parecer contradição, mas também tenho direito ao meu número) e que consegue, para além de cortar as iniciativas do adversário, fazer com que os companheiros tenham a menina jogável, onde quer que ele os descubra, aquilo corre logo muito melhor. Tal como eu tinha previsto, o "tridente" atacante foi composto por QRN, mas tal previsão estaria ao alcance até de um marciano com as antenas trocadas que tivesse caído na Terra na sexta à tarde; Eu e o presidente do Sporting (numa clara atitude de plágio que um dia destes temos que discutir, eu e ele, que isto não vai ficar assim, ai não não vai, ó Bruninho!) tínhamos previsto a inclusão do meio campo do nosso Clube, numa alusão a WAM. O treinador, que parece ter vindo na companhia do marciano lá de trás, não entendeu nada daquilo-que-a-gente-disse-que-devia-de-ser e voltou a apostar em Moutinho e Gomes. O homem disse logo que não ia haver revoluções! Por ele ainda Marcello Caetano seria presidente do conselho... Bom, mas parece que Gomes até nem jogou mal, tal como no primeiro jogo, em que foi dos menos desorientados, valha-lhe isso!(desculpem os mosquitos, é da placa).
Visto sem a atenção devida, ou talvez por isso, o jogo pareceu-me mais emocionante, e a haver ali um vencedor, teríamos que ser nós. É galo, duas bolas no poste e um ror de defesas do guarda-redes adversário a remates com selo de golo, alguns da autoria do melhor jogador do Mundo, que consta já ter feito mais remates que metade das selecções que estão em França. Pois, parece que os outros já marcaram. Um aparte para dizer que melhor jogador do Mundo, não é sinónimo de o jogador mais infalível do Mundo. Esse foi claramente Moutinho, como está demonstrado aqui.
Apenas dois apontamentos finais:
1 - O empate nunca dará o apuramento, por muitas contas que se façam, portanto é ganhar e... ganhar!
2 - Por entre a confecção de uns caracóis com alho e camarão, outros à la guilho, ou com ovos remexidos, ou caracoletas fritas, ou grelhadas, ou até o simples caracol cozido, lá fui tendo tempo para piscar o olho à televisão. Só vos digo, entre duas centenas de quilos do gastrópode e o constante rodar da coluna para o lado da pantalha, estou aqui com umas dores nas cruzes que nem posso.
Tanto domínio territorial e tanto remate para tão escassa e deficiente concretização. Nesta frase pode resumir-se o desafio que terminou há pouco no Parque dos Príncipes, em Paris, com Portugal a empatar pela segunda vez. Em dois jogos, apenas um golo marcado - na partida inaugural, frente à Islândia. Esta noite, contra a Áustria, saímos do estádio com um nulo que castiga novamente o desperdício dos nossos jogadores. Sobretudo de Cristiano Ronaldo, a maior decepção da selecção das quinas precisamente no dia em que destronou Luís Figo do posto de jogador português mais internacional de sempre ao vestir pela 128.ª vez a camisola das quinas.
Ronaldo teve cinco oportunidades de marcar, mas não conseguiu concretizar nenhuma. Incluindo um penálti, ao ser derrubado claramente em zona proibida. Por excesso de pressão ou défice de confiança, o astro madeirense rematou ao poste, gorando-se assim a melhor oportunidade portuguesa de todo o jogo. Já antes, aos 29', Nani cabeceara à madeira.
De nada valeu, portanto, Portugal ter sido seis vezes mais rematador do que a equipa adversária, que aliás denotou sempre muitas fragilidade na manobra ofensiva. Mas não falemos em falta de sorte: Ronaldo também esteve mal na marcação dos livres. Foram seis: nenhum levou perigo à baliza austríaca.
É verdade que o meio-campo português esteve mais dinâmico do que no desafio anterior. Para isso muito contribuiu a troca do apático Danilo por William Carvalho, que esticou sempre o jogo com os seus passes longos, permitindo à selecção nacional ganhar vários metros de terreno. O problema principal residiu na zona mais adiantada, onde o 4-3-3 hoje posto em prática por Fernando Santos simplesmente não funcionou. Também por Quaresma - titular desta vez - ter estado vários furos abaixo do que se esperava.
Percebe-se mal a reiterada aposta do seleccionador num João Moutinho sem dinâmica no miolo do terreno. Percebe-se ainda pior a justificação para as substituições tão tardias. Para quê insistir em Éder, um avançado que nunca marcou um golo num jogo oficial pela selecção? Para quê fazer entrar Rafa aos 89', quando o desfecho da partida já estava anunciado?
Questões em que Fernando Santos certamente vai ponderar até quarta-feira, dia em que enfrentaremos a Hungria. Um jogo decisivo, ninguém duvida.
Portugal, 0 - Áustria, 0
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Os jogadores portugueses, um a um:
Rui Patrício - Teve pouco trabalho, mas não deixou de estar atento. Revelou reflexos rápidos quando Pepe lhe atrasou mal uma bola, logo aos 3'. Boa defesa nos momentos iniciais da segunda parte.
Vieirinha - Voluntarista e dinâmico, mas continuando a revelar problemas nos cruzamentos em apoio do nosso ataque: foram raros os que lhe saíram bem. Salvou um possível golo aos 41', quase na linha da baliza.
Pepe - Muito assobiado nas bancadas, entrou nervoso e desconcentrado. Viu um cartão amarelo aos 40'. Melhorou no segundo tempo, quando foi um dos mais inconformados. Grande recuperação de bola, galgando terreno aos 59'.
Ricardo Carvalho - Impecável no sector mais recuado da selecção, onde foi um pilar da nossa organização defensiva. Sem necessidade de recorrer a faltas. Cortes soberbos aos 12' e 82'.
Raphael Guerreiro - Voltou a destacar-se pela dinâmica e pela qualidade de passe, superior a Vieirinha no flanco oposto. Protagonizou um dos melhores lances do jogo aos 22', numa excelente tabelinha com Nani.
William Carvalho - O seleccionador apostou nele em vez de Danilo. Aposta ganha: William deu mais mobilidade à equipa, colocando bem a bola em passes longos. Muito do jogo central passou por ele. Terá sido o melhor em campo.
João Moutinho - Melhorou em comparação com o jogo anterior mas continua aquém do nível a que nos habituou noutras épocas. Falta-lhe intensidade no transporte de bola e maior capacidade de abrir linhas.
André Gomes - Pautou-se pela regularidade, embora sem grandes rasgos. Mas é um daqueles jogadores que a todo o momento podem protagonizar um bom lance. Aconteceu aos 29', quando serviu Nani, que rematou ao poste.
Nani - Foi o melhor jogador em campo na primeira parte. Com um cabeceamento ao poste e um excelente cruzamento para Ronaldo (35'). Podia ter marcado logo aos 12'. Apagou-se na segunda parte. Substituído por Rafa só aos 89'.
Quaresma - Entrou no onze titular - outra novidade nesta partida. Mas não correspondeu às expectativas. Desperdiçou vários cantos e os centros não lhe saíram bem. Cartão amarelo por protestos, aos 31'. Deu lugar a João Mário aos 71'.
Cristiano Ronaldo - Vinte remates à baliza. Em vão. Podia ter marcado aos 22', 38', 55' e 56': a bola ou saiu ao lado ou foi defendida. Chamado a converter um penálti aos 79', atirou ao poste. O cansaço de final da época explicará tudo?
João Mário - Rendeu Quaresma aos 71' e voltou a dar a sensação de não ter pegado bem no jogo. Rende muito mais do que demonstrou contra a Islândia e nestes 20 minutos contra a Áustria, como bem sabemos.
Éder - Entrou aos 83', substituindo André Gomes. Uma substituição inútil. O jogador do Valência, mesmo cansado, rendia mais em campo do que este ponta-de-lança que se tem especializado em não marcar golos.
Rafa - Fernando Santos fê-lo entrar aos 89', rendendo Nani. E a verdade é que mexeu com o jogo, protagonizando um dos lances individuais mais vistosos da segunda parte. Que mais poderia ter feito em escassos quatro minutos?
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