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Sustentabilidade - as Contas dos 3 Grandes

Infelizmente, só ontem consegui analisar os Relatórios&Contas, referentes ao semestre terminado a 31 de Dezembro de 2017, dos 3 Grandes, publicados no pretérito 28 de Fevereiro. Aqui ficam algumas notas, bem como uma tabela comparativa de rúbricas relevantes:

 

No combinado entre investimento e custos com o pessoal, o Sporting foi o clube que mais "despendeu" no período compreendido entre 30 de Junho de 2017 e 31 de Dezembro de 2017. No entanto, e antes que soem as trombetas, é preciso explicar esse(s) valor(es). Assim, o Sporting parece estar apenas a tentar recuperar a "décalage" que tem para os seus competidores. Nesse sentido, analisando as Contas dos 3 clubes, verificamos que o valor bruto do plantel do Benfica é de 222M€ - a que corresponde uma amortização acumulada de 114M€ e uma amortização+imparidades no exercício de 19,6M€ - , o do FC Porto é de 179,7M€ - a que corresponde uma amortização acumulada de 86,4M€ e uma amortização+imparidades no exercício de 17,6M€ - e o do Sporting Clube de Portugal é de 97,7M€, a que corresponde uma amortização acumulada de 31,8M€ e uma amortização+imparidades de 11,4M€ no exercício semestral findo a 31/12/2017, este último um valor consideravelmente mais baixo do que o dos seus concorrentes, o que na comparação melhora a sua Demonstração de Resultados. Importa explicar que a compra de um jogador é considerada um investimento. Como tal, afecta apenas a Demonstração de Resultados através da rúbrica de amortizações, sendo este um valor anual que corresponde ao valor de aquisição dividido pelo número de anos de contrato de cada jogador.

 

Um ponto que tem sido de alguma discórdia, relacionado com o Factoring a que o Sporting tem recorrido, como forma de antecipação de futuras receitas de DireitosTV (acordo NOS), mostra que este número reduziu-se para 22M€. Como comparação, o FC Porto tem uma dívida com o Factoring de 66,3M€. O Benfica não tem Factoring(*), mas tem um programa de Papel Comercial (financiamento de curto-prazo), em vigor, no valor de 56,9M€.

 

Expurgando dos Resultados, as vendas de jogadores (Proveitos Extraordinários), verificamos que o Sporting seria o clube com o melhor Resultado antes de impostos, no valor de -15,8M€. O Benfica perderia 20,8M€ e o FC Porto teria um resultado negativo de 28,7M€. Em resumo, todos os clubes são deficitários na sua exploração e necessitam de vender activos intangíveis (jogadores) para equilibrarem as suas contas. 

 

O investimento global do Sporting nesta época desportiva de 17/18 foi até agora de 63,7M€, dos quais 26,8M€ (aquisições de Bruno Fernandes, Doumbia, Battaglia, Piccini e Mattheus) entraram ainda nas contas semestrais referentes a 30 de Junho de 2017. No período a que se refere o R&C em análise, houve um investimento de 21M€, em jogadores (Acuña, Mathieu, Ristovski e outros). Já posteriormente a este período, os números correspondentes às aquisições do mercado de Inverno (entrarão no R&C semestral a 30/6/2018)- envolvendo os jogadores Ruben Ribeiro, Wendel, Misic, Montero e Lumor - foram de 15,9M€ (informação privilegiada enviada à CMVM em 12 Fev 2018 - mais um bom exemplo de transparência e boas práticas de gestão), colocando o investimento total efectuado na época desportiva de 17/18 nos 63,7M€ (inclui comissões e encargos), o valor mais elevado de sempre do clube.

 

Vale a pena, também, abordar o tema da liquidez, algo tantas vezes apontado como o "calcanhar de Aquiles" do Sporting: olhando para os números inscritos no Activo, na rúbrica de Caixa, verificamos que o Sporting tem um valor de 12,8M€ (dos quais 5,1M€ numa conta restrita para pagamento de VMOCs), o Benfica de 4,7M€ e o Porto de 12,1M€.

 

Em termos de Passivo, todos os clubes reduziram o seu endividamento, sendo que o Benfica, na medida do desinvestimento que fez esta época desportiva, foi o que abateu mais dívida, no caso 52,9M€. Segue-se o Sporting, com uma redução de 40,4M€ e o Porto, que cortou apenas 7,3M€. No entanto, o Sporting foi o que reduziu mais a dívida bancária, no montante de 16,8M€ (adicionalmente, as provisões cairam 9,6M€ e a dívida a Fornecedores desceu 12,9M€) . O Benfica apenas reduziu este item em 7,9M€ e o Porto em apenas 1,6M€.

 

Em termos do Activo, este diminuiu em todos os clubes. No Sporting, 29,5M€; no Benfica, 33M€ e no Porto, 31,3M€. No Sporting, destacam-se os abatimentos na rúbrica Clientes - dívidas de outros clubes - , essencialmente devido aos pagamentos de 20M€, pelo Inter de Milão (João Mário), e de 8,5M€, pelo Villareal (Ruben Semedo). Na rúbrica "outros Activos correntes", onde constavam os 17,1M€ retidos pela Uefa, 11M€ foram pagos à Doyen, sendo os restantes 6,1M€ restituidos ao clube.

 

O Volume de Negócios (PO+PE) do Sporting foi de 81,6M€, enquanto o do Benfica foi de 109,6M€ e o do Porto foi de 70,8M€. Por outro lado, em termos de Fornecimentos e Serviços Externos (FSE), o Sporting gasta sensivelmente metade do que Benfica e Porto despendem, o que tem consequências positivas, comparativamente falando, nos Resultados Liquidos da Sociedade e, em termos gerais, nos seus Resultados Operacionais.

 

Será de prever, dado o afastamento dos 3 clubes da Champions, que os resultados de todos piorem substancialmente no 2º Semestre (os Resultados Operacionais descerão por certo), devendo tal ser colmatado com mais vendas de jogadores. Sublinhe-se, no entanto, que o Sporting ainda terá os proveitos inerentes a estar na Liga Europa, pese embora essas receitas sejam bastante inferiores às da Champions a não ser que o clube chegue à final da competição, facto que lhe garantiria mais cerca de 10M€.

 

Em resumo, não me parece que o Sporting fique a perder na comparação com qualquer dos seus concorrentes, antes pelo contrário, não justificando de todo o apodo de ter "descoberto um poço de petróleo", que me parece ter sido dado por quem não soube (ou não quis) fazer o trabalho de casa. A operação de conversão de dívida bancária em VMOCs, no valor de 127,9M€ e as melhorias substanciais do Volume de Negócios criaram condições que viabilizaram um maior investimento. No entanto, uma eventual não presença do clube na Champions do próximo ano obrigará certamente a refrear futuros investimentos e aconselhará alguma redução nos Custos com Pessoal, apesar de entrar em vigor o novo contrato com a NOS, que nos fará crescer na rúbrica de Proveitos Ordinários. Relembro que, nas duas primeiras épocas de Bruno de Carvalho, este valor (Custos com Pessoal) estava em 25M€ e, projectando o valor semestral para o ano, agora triplica. Por outro lado, não deixa de ser extraordinário que o clube em 3/4 anos tenha criado este tipo de condições. 

 

Uma última nota para, uma vez mais, enaltecer a elaboração do R&C do Sporting, o qual na minha opinião continua a ter um nível de detalhe superior aos do Benfica e Porto, constituindo uma muito boa prática que merece aqui ser destacada.

  contas.png

 Legenda: (valores em milhões de euros-M€) 

PO=Proveitos Operacionais; VPS=Vendas de Produtos e Serviços; OPO=Outros Proveitos Operacionais; FSE=Fornecimentos e Serviços Externos; CP=Custos com Pessoal; RO=Resultados Operacionais; PE-COM=Proveitos Operacionais menos Comissões e encargos; RL=Resultados Liquidos; Div Banc.=Dívida Bancária; Div Obrig=Dívida Obrigacionista; Inv=Investimento; K próprio=Capitais Próprios

 

2 comentários

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    Carlos Silva 08.03.2018

    Segunda maior dívida, não é ?
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