Subitamente no verão passado
Foi assim que terminou o processo Cashball, que esteve para o ataque a Alcochete e para o desvario final de Bruno de Carvalho como o atentado a Carlos Lacerda esteve para o Manifesto dos Generais e para o suicídio de Getúlio Vargas. Desta vez ninguém morreu, felizmente, e Bas Dost foi o único a sofrer ferimentos, ainda que os prejuízos para o Sporting decorrentes disto ameacem ser incalculáveis.
Quem tiver curiosidade sobre o que aconteceu entre o atentado a Carlos Lacerda e o suicídio de Getúlio Vargas pode ler o belíssimo romance "Agosto", de Rubem Fonseca. Já o Cashball foi criado por um ficcionista muito menos capacitado, mas com um "agente literário" tão bom ou tão influente que ainda assim logrou a suspensão da descrença de alguns daqueles que ouviram o seu relato de uma rede de resultados combinados no futebol e no andebol em benefício do Sporting.
Mais do que uma narrativa bem articulada que ajudou a arrasar o meu clube e a colocá-lo nas mãos de quem se tem servido dele, o Cashball fica para mim como uma nódoa no trajecto profissional. Embora ainda hoje queira acreditar que aqueles que propagaram as vergonhosas invenções de um desqualificado mal-aventurado o fizeram sem conhecimento de estarem a validar invenções desprovidas de ligação à realidade (um dos supostos "corrompidos" pelo Sporting fez algumas das melhores defesas que já vi um guarda-redes fazer no jogo em que supostamente recebeu para deixar entrar golos), a minha incapacidade de travar o comboio desgovernado que me apareceu pela frente ainda hoje me custa.
Devo ao Cashball e ao que se passou naqueles meses de 2018 a abrupta necessidade de encontrar um novo rumo para a minha vida profissional, e ainda por cima para melhor. Espero que um dia também o Sporting possa dizer o mesmo, mas temo que esse dia não esteja para breve.