Sobre as propostas de Poiares Maduro
Miguel Poiares Maduro, ao que parece representando um grupo alargado de sócios, vem agora propor um conjunto de alterações estatutárias a que o jornal Record dá destaque na edição de hoje, com chamada de capa e uma página inteira no interior.
Há quem considere que este não é o momento para promover grandes alterações aos estatutos leoninos. Penso o contrário. Se há ocasião indicada, é esta mesmo. Terminou uma temporada desportiva, o próximo campeonato de futebol só começa na segunda quinzena de Setembro, não concebo melhor altura para debatermos estas questões. Antes de a bola começar novamente a rolar.
Tudo deve ser debatido. Sem tabus.
Li com atenção as propostas de Poiares Maduro e confesso alguma decepção. Salvo erro de interpretação da minha parte, o documento é omisso num tema fundamental: a adopção tendencial do princípio "um sócio, um voto". Não adianta empurrar com a barriga: este é um assunto que não deixará de figurar na agenda leonina dos próximos anos.
Porque não começar a debatê-lo já?
O antigo ministro rejeita o voto electrónico à distância, que já defendi aqui, optando por uma solução muito conservadora, quase imobilista: quer manter o voto presencial em exclusivo, forçando todos os sócios a deslocarem-se a Lisboa, embora admitindo que "quatro núcleos" possam funcionar também como futuras mesas eleitorais. Não especifica, no entanto, por que motivo só abre a excepção a quatro núcleos nem menciona em que zona do País se situarão, o que não adianta grande coisa ao debate.
Mas o que me merece mais reservas, entre as propostas agora apresentadas por Poiares Maduro, é a criação de dois novos órgãos na estrutura directiva leonina. Um Conselho de Ética e Disciplina, que funcionaria apenas no âmbito do Clube, para «avaliar, sanar e punir situações relacionadas com falta de transparência», e um Conselho Geral e de Supervisão, em exclusivo para a SAD, com a missão de «garantir o cumprimento dos princípios e das regras previstos e reportar aos associados do Clube sobre aspectos estratégicos da sociedade».
Isto parece replicar o pior das instituições políticas: quando há um problema por resolver, cria-se mais uma comissão. Ou duas.
Ora, salvo melhor opinião, o Sporting não carece de novas estruturas orgânicas, que acabariam por colidir com as já existentes, conduzindo à paralisia dos processos de decisão.
O Sporting necessita, simplesmente, de dirigentes mais competentes e de órgãos que funcionem melhor. Multiplicar conselhos e comissões, numa espécie de fuga para a frente, não resolverá nenhum problema actual e poderá desencadear outros. É a última coisa de que precisamos.
ADENDA: Propostas detalhadas aqui.