Sempre pela verdade desportiva
Para quem ainda tivesse dúvidas, o vídeo-árbitro no recente França-Espanha dissipou-as de vez: sem perda de tempo, a verdade desportiva foi recolocada. Um golo ilegal da selecção francesa, que falsearia o resultado, acabou por ser anulado. E um golo espanhol, inicialmente invalidado, mereceu afinal luz verde. No fim, os espanhóis venceram 2-0.
O recurso à tecnologia, em dois momentos cruciais desta partida, permitiu à equipa de arbitragem recolocar as decisões no plano correcto. Griezmann, ao marcar o golo francês, estava em fora de jogo. E Deulofeu não estava deslocado num lance de golo espanhol inicialmente invalidado pelo árbitro auxiliar. Assim se comprovou aquilo que alguns inconformados – com destaque para o presidente do Sporting – há muito vêm sustentando na praça pública: é fundamental pôr os dispositivos tecnológicos ao serviço da transparência no futebol.
Alguns velhos do Restelo criticam a medida, considerando que retira “emoção” e “dinâmica” ao futebol. Que retire desde logo credibilidade ao desporto-rei parece ser pormenor de somenos para essas aves agoirentas, sempre prontas a contestar qualquer inovação. Quanto à dinâmica, estamos conversados: como sabemos, há jogos do campeonato português (lembremos o recente FC Porto-V. Setúbal, com um quarto de hora de paragem) em que os jogadores passam grande parte do tempo estendidos no relvado, simulando lesões para fazer escoar o tempo. Este mau teatro pode suscitar emoção, admito. Mas de teor negativo.
Ferramenta que não tardará a tornar-se indispensável nos estádios, o vídeo-árbitro é aplicado em três tipos de lances: golos (apurando-se se houve alguma infracção), penáltis (para desfazer dúvidas sobre a justiça do chamado “castigo máximo) e cartões vermelhos (permitindo detectar erros de identidade dos visados nestas medidas punitivas).
Deixou de ser possível a falta de sintonia entre a constante melhoria dos factores técnicos, tácticos e físicos no futebol moderno e algumas regras desta modalidade, que ficaram ancoradas num passado cada vez mais remoto, sem a indispensável adaptação aos novos tempos.
Diminuir o erro humano na avaliação de situações cruciais do jogo é absolutamente prioritário. E se noutras modalidades – basquetebol, râguebi, ténis – o vídeo-árbitro funciona, sem afectar a qualidade do espectáculo, nada permite concluir que o mesmo não possa ocorrer também no futebol. Partindo sempre do princípio de que a verdade é um valor supremo em qualquer desporto. Contra todas as formas de aldrabice, que – elas sim – adulteram o espectáculo e afastam os adeptos.