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És a nossa Fé!

Sem pontapés na língua portuguesa (10)

COM VÍRGULA, sim

SEM VÍRGULA, não

«Deus me salve já que tu és mau!»

Duas leituras. Obrigatório virgular. Ou: "Deus me salve, já que tu és mau!" Ou: "Deus me salve já, que tu és mau!"»

Do livro O Mundo pelos Olhos da Língua, de Manuel Monteiro (Objectiva, 2022). P. 161

13 comentários

Pedro Oliveira 29.12.2022

Terceira via:
Deus, me salve já que Tu és mau!
Anónimo 29.12.2022

Deus te salve!? Mas tu ainda tens alguma absurda salvação?
Anónimo 29.12.2022

Ó Tó Sardinha agora deu-te para ser anónimo.
Pedro Correia 29.12.2022

Anónimo, sem salvação me pareces tu.
Tanto tempo depois continuas sem encontrar o paradeiro do teu nome e do teu apelido.
Pedro Correia 29.12.2022

Há quase sempre uma terceira via, mesmo em frase luso-brasileira.

Leão de Queluz 29.12.2022

Matar o Rei não é pecado.

Matar o Rei não, é pecado
Pedro Correia 29.12.2022

Pois, lá está: a importância de uma vírgula.
Lino Faria 30.12.2022

Viva a nossa língua!
Venham mais e mais exemplos.

João Palha 29.12.2022

Caro Pedro
Fico muito satisfeito por ver que um blogue destinado, no essencial, ao Sporting e ao desporto manifesta esta preocupação com a correcta utilização da língua portuguesa. A começar, como é óbvio, com a proscrição, pelo menos, por parte de muitos colaboradores, do chamado "acordo" ortográfico. Que de acordo só tem o nome e é, como está mais do que demonstrado à saciedade, a fonte de um enorme desacordo.
As monumentais cavalidades que todos os dias ouvimos na televisão, lemos nos jornais, mesmo nas primeiras páginas dos auto-proclamados órgãos de referência, e com que podemos diariamente alimentar um repositório tão lamentavelmente cómico, ainda são, de vez em quando, em casos limite, assinaladas num ou noutro local. Mas, gostava de chamar a atenção para outro manancial inesgotável de disparates, dislates e absurdos com que somos permanentemente brindados e que, só por si, daria munições para um muito completo dicionário da asneira. Estou a falar das traduções de uma grande, mesmo muito grande, quantidade de livros publicados por muitas, infelizmente quase todas, as editoras.
Tenho pena de não ter vindo, há longos anos, como muitas vezes me apeteceu, a tomar notas sobre o dilúvio de manifestações de ignorância de tradutores, revisores, se é que existem, responsáveis das editoras e, em geral, de todos quantos estão envolvidos no negócio. Essas notas dariam, certamente, para um êxito humorístico e perco-me em congeminações sobre os locais e instituições onde alguns destes tradutores são recrutados.
Sem referir o nome do tradutor ou do livro - não me apetece, a não ser que a isso seja obrigado, a lançar o opróbrio sobre uma pessoa em particular, sendo o problema e a sua gravidade de carácter geral - vou dar o exemplo de um romance que acabei há pouco tempo de (re)ler. Além dos inúmeros erros de concordância, que podemos encontrar, praticamente, em todas as páginas, deliciemo-nos com esta pérola: "Se (nome de personagem) tivesse dito não, (nome de personagem) teria-o imediatamente excluído." Verdadeiramente extraordinário! E, mais à frente: " A minha opinião pessoal é que o terror faz parte dos meios empregados como uma técnica sistemática pelos rebeldes, desde o primeiro dia, e os senhores assistem aqui ao drama de que (nome de cidade) foi a repetição geral." Esperar-se-ia (ou, no que seria a versão correspondente à conjugação do verbo ter acima citada, esperaria-se) que um tradutor conhecesse, pelo menos, duas línguas: a de partida e, no caso, o português. Parece haver alguns que não conhecem a primeira, outros que mal dominam a segunda e, ainda, outros, mais ousados , que não entendem nenhuma. A tradução de que estou a falar é de um romance francês, de um dos grandes escritores do século XX, e mereceria, como, de resto, qualquer outro, uma atenção muito cuidada. Pergunto: como é que um tradutor de um texto em francês não sabe que répétition, além de repetição, significa ensaio? Como é que ao ler a frase, tal como foi traduzida, não vê que ela é totalmente destituída de sentido e que há que procurar outra solução, que, no caso, seria, como é evidente, ensaio geral?
Trata-se de uma gravíssima situação, em que um dos principais ou, atrevo-me a dizê-lo, o principal meio de transmissão da cultura serve, sem vacilar e sem quaisquer inquietações, ainda que de forma inconsciente, o propósito oposto. Por acaso, o livro a que me refiro será, suponho eu, esperando bem estar enganado, lido maioritariamente por pessoas cujo conhecimento da língua as torna imunes a tal tipo de tropelias. Mas não é isso que acontece com a grande maioria dos livros que se transformam em sucessos editoriais. Com estas traduções e este português, só servem para ajudar a desaprender.
Acresce que considero toda esta despreocupação um enorme abuso dos consumidores (mesmo que apenas consideremos os leitores enquanto tal). A tradução a que me referi está publicada pela Livros do Brasil, uma editora que, desde muito novo, me habituei a respeitar e que está na origem de muitas e muitas horas, semanas e meses de imenso prazer à volta da leitura e de que espero um muito maior cuidado nas suas publicações.
Pedro Correia 29.12.2022

Meu caro, se formos para traduções, esse é um terreno inesgotável. São cada vez piores e com erros mais arrepiantes. Tenho feito várias anotações e escrito até um texto ou outro sobre esse tema, que continua a interessar-me.
Esta série, que concebi com a preciosa ajuda do livro do Manuel Monteiro (que muito recomendo), visa sobretudo melhorar alguma escrita que vou vendo por cá, sobretudo ao nível das caixas de comentários.
Entretanto, é com muito gosto que o vejo novamente por cá, lembrando o seu excelente contributo numa determinada fase deste blogue (nomeadamente a que vou recordando na rubrica diária "Nós, há dez anos").
Desejo-lhe um bom ano de 2023, com muita saúde.
João Palha 29.12.2022

Obrigado Pedro. Desejo-lhe também um óptimo 2023.
Grande abraço,
João Paulo Palha
Lino Faria 30.12.2022

Extraordinária rubrica! Parabéns a Pedro Correia.
Lino Faria 30.12.2022

Excelente comentário.

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