Segunda goleada: difícil começar melhor
Farense, 0 - Sporting, 5
Gyökeres acaba de a meter lá dentro, de penálti: foi o segundo dos três golos que marcou
Foto: Luís Branca / Lusa
O jogo não foi em Faro, mas no Estádio Algarve, já no concelho de Loulé. Permitindo ao Farense triplicar a receita de bilheteira (passando do máximo de 6 mil espectadores para os quase 18 mil deste desafio) só nas recepções às chamadas "equipas grandes" - o que mereceu o duvidoso aval da Liga. Duvidoso por ferir um princípio básico de equidade desportiva.
Isto acabou por beneficiar o Sporting: até parecia que jogávamos em casa. Era diminuta a falange de apoio ao clube de Faro e muitos dos adeptos que lá se deslocaram não esconderam o descontentamento. Se eu estivesse no lugar deles, faria o mesmo.
Incompreensível também o facto de este jogo ter decorrido menos de 24 horas após o fim de outra partida, entre norte-irlandeses e gibraltinos, para a Liga Conferência. Com os consequentes estragos no relvado.
Mas o que interessa é isto: ao vivo ou pela televisão, assistimos anteontem a uma das melhores exibições que recordo de uma equipa do Sporting. Superioridade esmagadora do primeiro ao último minuto, pressão constante com bola ou sem ela, ligação perfeita entre todos os sectores, movimentos automatizados ao primeiro toque e sempre de olhos fitos na baliza.
Um verdadeiro espectáculo.
A pressão atacante era tão forte que apenas supreende o golo inicial ter ocorrido só aos 27'. Principal responsável: Ricardo Velho, eleito melhor guarda-redes do campeonato anterior. Começou por negar o golo a Pedro Gonçalves aos 4' num remate cruzado que ia lá para dentro. Depois a Gyökeres, servido de bandeja aos 16' por Trincão. No próprio lance do golo, faz uma defesa quase impossível a um remate de Daniel Bragança - mas o craque sueco não perdoou no ressalto, atirando-a lá para o fundo.
Não adormecemos, nem nos pusemos a "gerir o resultado", como talvez acontecesse noutros tempos. Pelo contrário, a equipa quis sempre mais. Numa das acções ofensivas protagonizadas por Pedro Gonçalves, aos 37', há um desvio da bola dentro da área. Penálti. O VAR Veríssimo teve dúvidas, mas o árbitro Tiago Martins manteve a decisão após visualizar as imagens. Chamado a converter, aos 41', Gyökeres não perdoou.
Sabia a pouco, o 0-2 ao intervalo. No recomeço, o Farense viu-se forçado a avançar as suas linhas em desesperada busca do tento de honra, mas sem nunca incomodar verdadeiramente o nosso guarda-redes.
Isto facilitou-nos a vida pois permitiu ao Sporting explorar a profundidade. À direita por Quenda, à esquerda por Geny, com Trincão e Pedro Gonçalves endiabrados como nunca arrastando marcações e baralhando o sistema defensivo adversário. Daniel Bragança juntava-se ao quinteto que tinha Gyökeres como ponta-de-lança: chegámos a ter seis envolvidos em simultâneo na manobra ofensiva.
Mais atrás, Morita chegava e sobrava para unir as pontas, recuperar bolas e apoiar o trio de centrais sempre que se tornou necessário. Com manifesto sucesso.
Os golos sucederam-se a um ritmo imparável. Gyökeres fuzilou as redes de longe, aos 66', sem defesa possível. Nuno Santos regressou após um mês de lesão e fez um daqueles cruzamentos teleguiados ao seu jeito que funcionou como assistência para um infeliz autogolo de Lucas Áfrico. O primeiro de que beneficiamos nesta época.
Ainda haveria um quinto golo, à Maradona, marcado por Edwards após conduzir a bola em slalom durante 50 metros. Um a um, os adversários iam ficando pelo caminho. Golaço digno de aplauso até por parte de adeptos farenses. Candidato a golo do mês.
Vencemos, convencemos. Estamos ainda mais sólidos no primeiro posto do pódio. Mesmo ainda sem o tal reforço para a frente de ataque. Mesmo com Morten, titular indiscutível, ainda fora do onze. As trocas fazem-se e a qualidade de jogo subsiste. Confirmando-se que temos banco de suplentes, ao contrário do que sucedia noutros tempos.
Confirma-se também que treinador e jogadores querem muito conquistar o bicampeonato que nos foge há 70 anos. Provam-no em campo, desafio após desafio.
Ficou bem demonstrado, sem margem para dúvidas, nesta goleada no Algarve. A segunda consecutiva em apenas três jornadas. Seria difícil começar melhor.
Breve análise dos jogadores:
Vladan - Muito pouco trabalho. Aos 76', saiu a soco afastando a bola cruzada por Belloumi, o melhor da turma algarvia.
Eduardo Quaresma - Exibição irrepreensível. No posicionamento, na concentração, na maturidade, na qualidade do passe.
Diomande - Claro domínio do jogo aéreo. Impõe-se pelo físico, fechando as linhas de passe à turma adversária.
Gonçalo Inácio - Central actuando também como lateral, faz dois passes decisivos para golo: aos 66' descobrindo Gyökeres no flanco oposto, aos 81' servindo Edwards.
Quenda - Inicia a construção do primeiro golo com técnica apuradíssima e perfeito domínio da bola, tirando três defesas do caminho. Trabalha para a equipa.
Morita - Grande obreiro da solidez do nosso meio-campo. Notável precisão de passe: serve sempre bem, com critério. Apoiou a defesa quando foi preciso.
Daniel Bragança - Aos 22' já tinha sofrido três faltas - confirmando como é útil. Quase marcou aos 27': na recarga, surgiu o primeiro golo. Entrega constante à luta, excelente nas recuperações.
Geny - Interventivo como ala esquerdo, melhorou mais ainda ao transitar para o flanco oposto a partir dos 63'. Aos 85' ofereceu um golo que Gyökeres desperdiçou.
Trincão - Um dos criativos da equipa. Desposicionou os defesas em movimentos de rotação, sempre com a bola dominada. Abrindo auto-estradas para os colegas. Só lhe faltou um golo.
Pedro Gonçalves - Ninguém como ele joga tão bem entre linhas. Esteve muito perto de marcar aos 4'. "Assiste" Daniel aos 27'. Foi ele a cobrar o livre de onde nasceu o quarto golo.
Gyökeres - Leva seis golos à terceira jornada: caso muito raro de eficácia. Marcou três (um de penálti) e podia ter marcado mais dois, aos 16' e aos 85'. Melhor em campo.
Nuno Santos - Entrou aos 63', rendendo Quenda. Está de volta após lesão, cheio de força e energia. Mostrou-o logo aos 69' no cruzamento que deu autogolo.
Debast - Substituiu Eduardo Quaresma aos 71'. Voltou a exibir qualidade no passe longo, bem colocado, com visão de jogo.
Edwards - Substituiu Daniel Bragança aos 71'. Já havia 0-4, mas o inglês fez questão de mostrar serviço. Com um golaço aos 81'. Há sete meses que não marcava. Redimiu-se.
Matheus Reis - Rendeu Diomande aos 86'. Limitou-se a controlar o lado esquerdo do trio de centrais, com Gonçalo remetido ao eixo.
Dário - Entrou para o lugar de Pedro Gonçalves aos 86'. O resultado estava construído, só havia que gerir com bola. Cumpriu.