Rúben Amorim e a aposta na formação
Não me recordo dum treinador do Sporting tão atento à formação como Rúben Amorim. Isto é dito por gente com conhecimento do que se passa em Alcochete, mas recordo-me facilmente de dois outros treinadores que, feitas as contas, lançaram mais jovens de forma definitiva na primeira equipa do que ele.
A explicação é simples. Paulo Bento foi campeão de juniores com João Moutinho, Nani e Miguel Veloso, em Alcochete estavam o Rui Patrício, o Djaló, o Pereirinha e o Carriço. E durou como treinador enquanto os conseguiu segurar no clube. Já Leonardo Jardim desfrutou da melhor equipa B de sempre, mais William Carvalho e Rúben Semedo.
Rúben Amorim chega ao Sporting com Alcochete completamente ultrapassado pelo Seixal durante os cinco anos de Bruno de Carvalho, e consequentemente com uma enorme falta de quantidade de qualidade de jovens com 17-20 anos para lançar. Das duas equipas de sub19 e sub17 campeãs nacionais muito poucos se aproveitaram, afinal formar a ganhar significou o final da carreira para muitos.
Havia de facto um "grupo de elite" que já tinha feito a pré-época com Keizer e contratos renovados por Frederico Varandas que incluia Nuno Mendes, Gonçalo Inácio, Quaresma e Tiago Tomás. Foi com eles que se partiu para a conquista do título nacional. Depois foi esgravatar até encontrar jovens de 15 ou 16 anos com potencial mas muita estrada para andar, como Essugo ou Rodrigo Ribeiro.
Quatro anos depois, a selecção sub17 de Portugal vice-campeã da Europa já teve o Sporting como primeiro clube fornecedor. Dessa selecção, Quenda já integra a pré-época. Além dele, estão lá Callai, Diogo Pinto, Francisco Silva, Muniz, Travassos, Miguel Alves, Nel, Moreira, Rodrigo Ribeiro, Essugo, Mauro Couto, Samuel Justo. Não sei se me esqueci de algum.
Não estão lá nem o António Silva nem o João Neves que o Schmidt lançou nestes dois anos? Pois não, estão lá os melhores que existem em Alcochete, e é com eles e não com os do Seixal que Rúben Amorim tem de trabalhar. Se lá estivessem também os lançava. Se lá estivessem Moutinho, Veloso, Nani, William ou João Mário, também.
Salvo uma ou outra situação que terá explicação que desconheço, Rúben Amorim está a trabalhar com o melhor que existe em Alcochete. Se não há melhor, a culpa não é dele. Mais: está a dar prioridade aos "formatados" em Alcochete relativamente àqueles contratados fora jovens, como Marsà, Gonçalo Esteves, Marco Cruz e Diogo Abreu. Ou a jogadores adultos com dificuldades a corresponder, como Jovane, Vinagre, Sotiris, Tanlongo e Koindredi.
Pois, pois, mas leva-os para os estágios e não os põe a jogar depois. Pois não, perdeu em Arouca há dois anos com Nazinho e Essugo, ia empatando com o Vizela com o Moreira na época passada, perdeu a taça no Jamor com Catamo e Diogo Pinto a asneirarem. O que seria se os pusesse a todos? Era bar aberto na tasca dos ressabiados, guerra civil em Alvalade.
O Sporting de hoje não é o do tempo do Paulo Bento nem o do Leonardo Jardim. Foi campeão nacional duas vezes em quatro anos, já ganhou outros títulos também, a Champions tem uma importância maior do que nunca, e são os jovens que agora levou a Lagos que têm de demonstrar serem soluções viáveis. Muniz tem de demonstrar que pode fazer o papel de Inácio, ou o Moreira a fazer o papel de Trincão sem a equipa perder capacidade.
A forma como Amorim conseguiu recuperar Eduardo Quaresma, Daniel Bragança e Geny Catamo não é para todos. Só para alguns. Porque um Nuno Mendes até o Jorge Jesus põe a jogar.
SL