Rescaldo do jogo de ontem
Trincão marcou o nosso segundo, autêntica obra de arte, rasgando a defesa do Estoril
Foto: José Sena Goulão / Lusa
Gostei
Da vitória em casa frente ao Estoril. Domínio total do Sporting neste embate em Alvalade que só pecou pelo resultado escasso (2-0) face à exibição muito conseguida. Futebol de ataque, bem ligado, alternando a condução da bola pelos flancos e pelo espaço interior, baralhando as marcações estorilistas.
De Bellérin. Recém-chegado para substituir Porro, já marca. Titular ontem, assumiu-se como dono do flanco direito. Mas foi em incursão no corredor central que fez o golo inaugural da nossa equipa, em estreia absoluta como artilheiro de Leão ao peito - como se fosse um avançado, com toda a calma do mundo. Há dois anos que não marcava: na última vez, ainda actuava no Arsenal. No Barcelona e no Bétis ficou em branco. Em boa hora interrompeu o jejum. Ganhámos com isso.
De Edwards. Grande partida do ex-Tottenham combinando muito bem com Bellerín no corredor direito: parece que jogam juntos há muito tempo. Vários dos nossos lances mais perigosos partiram dos pés dele: cruzamento perfeito para a cabeça de Paulinho (18'), outros centros dignos de nota aos 58' e aos 90'+3. Ele próprio esteve a centímetros de marcar um golaço num remate em arco para o canto superior direito da baliza estorilista (39').
Do golo de Trincão. Após onze jogos em branco, o ex-Braga mostrou enfim um rasgo de génio. Aos 51' pegou na bola junto ao flanco esquerdo, levou-a em progressão, foi rasgando a defesa, tirou quatro do caminho e deixou o guarda-redes pregado - num lance à Messi, com a diferença de ter marcado com o direito, que é o seu pior pé. Mas nem parecia. Só para ver esta obra-prima valia a pena ter ido ao estádio. Podia ter bisado aos 63' e colocou muito bem a bola em Chermiti aos 90'. Após uma primeira parte em que pareceu desaparecido, despertou no segundo tempo - e de que maneira. Melhor em campo.
De St. Juste. Após meses de inactividade forçada devido a uma série de quatro lesões, parece enfim totalmente recuperado. E vai agarrando a titularidade como central à direita. Seguro, confiante, exibiu-se em alto nível. Agora já podemos dizer que é reforço.
De não termos sofrido qualquer golo. Dos 22 desafios já disputados neste campeonato 2022/2023, só mantivemos as nossas redes intactas em oito. Este foi um deles.
Da clara superioridade no nosso estádio. Até agora, onze jogos da Liga em casa com um balanço largamente positivo: nove vitórias. As partidas contra Chaves e FC Porto foram excepções à regra. Oxalá pudéssemos dizer o mesmo dos desafios já disputados longe de Alvalade.
Dos aplausos a Francisco Geraldes. O nosso antigo médio, formado na Academia de Alcochete, continua a ser muito estimado pelos adeptos. Aos 57', quando foi substituído, recebeu uma calorosa e espontânea salva de palmas. Merece este carinho.
Do árbitro Manuel Mota. Facto raríssimo no nosso campeonato: chegou ao fim do jogo sem exibir qualquer cartão. Critério largo, à inglesa, deixando a bola rolar sem interromper a partida ao menor contacto físico nem confundir futebol com festival de apito. É hoje dos poucos a mostrar-se assim em Portugal, valorizando o espectáculo e propiciando mais tempo útil de jogo. Ao contrário de Artur Soares Dias, João Pinheiro e mais uns quantos.
De termos vencido em três estádios nesta ronda. Continuamos em quarto lugar, mas agora mais perto dos postos que dão acesso à próxima Liga dos Campeões. Aproveitámos as derrotas do FC Porto no Dragão frente ao Gil Vicente (1-2) e do Braga em Guimarães (2-1).
Não gostei
Da ausência de Ugarte. O uruguaio ficou fora desta partida devido a uma falta totalmente escusada que lhe valeu um amarelo - o nono neste campeonato. Mas a posição 6 foi bem entregue a Morita, que desempenhou a tarefa sem problema e ainda arriscou várias incursões para zonas mais adiantadas do terreno.
De ver Pedro Gonçalves fora do trio ofensivo. Após bisar em Chaves, jogando onde melhor exibe a sua veia como finalizador exímio, o maior marcador da Liga 2020/2021 voltou a ser remetido ao meio-campo. Ali parece escondido do jogo, mas está apenas a cumprir a missão táctica que o treinador lhe confia. Gostava de o ver de novo lá na frente nos próximos desafios.
Do tangencial 1-0 ao intervalo. Sabia a pouco após várias oportunidades que ficaram por concretizar. Pelo menos quatro.
De Paulinho. Outro jogo em branco. Desta vez teve uma boa oportunidade, quando Edwards lhe pôs a bola na cabeça em posição frontal: o remate saiu forte, mas de modo a permitir uma boa defesa do guarda-redes. Ficou-se por aí. Mas só cedeu lugar a Chermiti aos 67'. Nos 89 desafios que já cumpriu de verde-e-branco nestes dois anos, marcou 28 golos atá agora. Número escasso para um avançado-centro.
Das enormes clareiras nas bancadas. Apenas 22.300 espectadores viram ao vivo este Sporting-Estoril, iniciado às 19 horas de ontem, segunda-feira. Muito poucos: há cada vez mais gente a perder o hábito de ir ao estádio. Foi a mais fraca assistência para o campeonato nesta época.