Rescaldo do jogo de ontem
Não gostei
Do naufrágio em Alvalade. Derrota pesada e humilhante em nossa casa perante uma equipa que há quatro épocas estava ausente do principal escalão do futebol português. O Chaves veio bater-nos por 0-2 - resultado que confirma a nossa péssima entrada em cena na Liga 2022/2023.
Do onze escalado pelo treinador. Trocar Matheus Reis por Nuno Santos é questionável, mas teria lógica num jogo em que passaríamos quase todo o tempo ao ataque. Abdicar de Morita, que parece o melhor reforço desta época, suscitava dúvidas. Entrar com Neto e Esgaio à direita levantava interrogações. Incluir Rochinha pela primeira vez entre os titulares, fazendo recuar Pedro Gonçalves, gerava apreensão. Foram escolhas infelizes. O jogo começou a ser perdido aí.
De Adán. Segunda noite péssima do nosso guarda-redes, que está irreconhecível. Parece preso de movimentos e com reflexos lentos, ainda afectado pela recente lesão sofrida. Tem responsabilidade no primeiro golo, em que está mal posicionado, e saiu de forma disparatada da baliza aos 90', chocando com Gonçalo Inácio, num lance em que o Chaves esteve muito perto de marcar o terceiro. Mais preocupante ainda: o espanhol não tem verdadeiro substituto. Apesar de ontem se terem sentado dois outros guarda-redes no banco de suplentes. Apetece perguntar porquê.
De Gonçalo Inácio. Outra partida calamitosa do nosso jovem central, que foi um dos responsáveis pelo descalabro defensivo. Falha a marcação no primeiro golo (60'), é totalmente ultrapassado no segundo (63') e ficou nas covas no lance que poderia ter ditado o terceiro. Uma noite para esquecer. O facto de Rúben Amorim ter apostado nele para fazer três posições diferentes (começou como central à esquerda, passou para central à direita e acabou a substituir Coates no eixo defensivo) não ajudou nada.
Desta preocupante defesa leonina. Dois golos sofridos em três minutos - o primeiro na marcação de um livre com Steven Vitória a saltar sem oposição, o segundo com Juninho perante a baliza escancarada após colapso de todo o nosso corredor direito. Mais dois. Cinco nestas duas últimas jornadas. Oito, desde o início do campeonato, em apenas quatro jogos. Todos os sinais de alarme devem acender-se em Alvalade.
Da nossa saída com "bola controlada". Passámos grande parte do desafio a usar os mesmos processos que todas as equipas adversárias já conhecem de cor e anulam com facilidade. Saída lenta e mastigada do guarda-redes para o central, deste para o lateral com o lateral a devolver ao colega do centro e este a remetê-la de novo ao guarda-redes. Tudo lento, denunciado, sem chama nem audácia. E aparentemente sem plano B, excepto charutada lá para diante, onde não há ninguém capaz de conquistar uma bola no chamado jogo aéreo.
Das substituições. Ao contrário do que é costume, e também pelo segundo jogo consecutivo, Amorim foi infeliz nas trocas de jogadores. Só fez quatro, em cinco possíveis, e metade delas destinaram-se a corrigir erros na escolha do onze titular. Trocando Neto por Matheus Reis ao intervalo, o que obrigou a linha de centrais a recompor-se, e fazendo enfim entrar St. Juste (por troca com Esgaio) aos 65'. Quanto mais mexia, mais estragava. Tal como sucedeu há uma semana no Dragão.
Das oportunidades falhadas. Novo festival de "quase golos" que quase nos garantiam a vitória e os consequentes três pontos. Anotei estes - falhados ou por imperícia dos nossos atacantes ou por grandes defesas do guardião do Chaves: Nuno Santos aos 4'; Rochinha aos 14'; Pedro Gonçalves aos 19', Rochinha aos 38'; Gonçalo Inácio aos 40'; Trincão aos 43'; Rochinha aos 44' e aos 45'+3; Edwards aos 54'; Rodrigo aos 89'. Além de uma bola ao poste, disparada por Pedro Gonçalves - o "suspeito" do costume.
De ver Coates como "ponta-de-lança" improvisado. Já com 0-2, Amorim deu-lhe ordem para avançar na área e fixar-se lá na meia hora final, aguardando quase em desespero que lhe fossem despejadas bolas para o capitão se impor no jogo aéreo. A mesma péssima solução que nos fez perder pontos em Braga e Ponta Delgada na época anterior. Desta vez não houve "estrelinha": a defesa ficou ainda mais baralhada sem ganharmos nada com a troca. Quando a primeira opção natural como alternativa, Rodrigo Ribeiro, tardou a entrar em jogo.
Da falta de confiança. Evidente na equipa, desde os instantes iniciais. O que suscita legítimas dúvidas sobre a saúde anímica do balneário leonino, somadas às que já existem sobre sucessivas lesões nos treinos.
Dos pontos perdidos. Em quatro jornadas, que valeriam 12, já vimos fugir oito pontos. Quando nas 34 da época anterior só perdemos 17. Seguimos num impensável 13.º lugar na tabela classificativa. Com mais golos sofridos (8) do que marcados (6). Se não é um cenário de catástrofe, imita muito bem.
Gostei
Do Chaves. Equipa bem organizada, bem orientada, com boa dinâmica. Apoiada por uma pequena legião de adeptos que não cessou de incentivar os seus jogadores no estádio. Marcaram dois golos, em três minutos, e estiveram quase a marcar um terceiro. Mereceram a vitória, sobretudo pelo que fizeram no segundo tempo perante um Sporting de rastos.
Do relvado. Após anos de reclamações contra a relva, já ninguém pode queixar-se disto. Alvalade apresenta um dos melhores "tapetes" da Liga portuguesa.
De Rodrigo Ribeiro. Para quê enviar Coates para a grande área do Chaves, onde esteve meia hora plantado como pinheiro, se tínhamos um avançado-centro no banco? De erro em erro, este foi mais um cometido pelo treinador. Que se lembrou enfim de Rodrigo, fazendo-o calçar aos 74'. A verdade é que a nossa maior oportunidade na segunda parte veio dele, aos 89': remate com selo de golo, só travado por grande intervenção de Paulo Vítor entre os postes.
De Pedro Gonçalves. O menos mau dos nossos. Esteve quase a marcar num remate rasteiro, logo aos 13', mas a bola foi embater no poste. Voltou a cheirar o golo aos 19', só sendo travado pelo guarda-redes flaviense, Paulo Vítor. É um enorme desperdício vê-lo jogar em posições mais recuadas, como se fosse um "novo Matheus Nunes" - o que manifestamente não é. Assim perdemos o Pedro goleador, que tanto jeito nos fez e tanta falta nos faz. Outro erro de Amorim que deve ser corrigido sem demora.