Rescaldo do jogo de ontem
Não gostei
Dos primeiros pontos perdidos no campeonato. Desde que o Famalicão subiu novamente ao primeiro escalão do futebol português ainda não vencemos esta equipa. A tradição recente cumpriu-se: ontem fomos lá empatar 1-1. E estivemos a perder a partir dos 68'. Conseguimos anular a desvantagem, aos 82'. Mas foi um ponto arrancado a ferros. Numa partida em que o onze leonino teve uma exibição decepcionante.
Do festival de passes falhados. Há muito que a nossa equipa não claudicava tanto no capítulo do passe - sobretudo na transição do meio-campo para o ataque. Quase nenhum titular está isento de culpas neste domínio.
De Jovane. Rúben Amorim apostou nele para o onze titular, mas o luso-caboverdiano não correspondeu a mais esta prova de confiança. Logo aos 2', teve o golo nos pés, isolado perante o guarda-redes, mas recebeu a bola com displicência e nem conseguiu dominá-la. Este lance marcou-o: foi incapaz de dar um contributo positivo à equipa. Saiu tarde, estavam já decorridos 56'.
De Matheus Nunes. Perdeu-se demasiado tempo, na semana que agora termina, a discutir se o luso-brasileiro merecia integrar a selecção nacional ou a "canarinha". Esta é daquelas discussões inúteis que volta e meia despontam no futebol português. Com a péssima exibição nesta partida em Famalicão, onde foi um dos piores em campo, o debate entre os adeptos deve ser outro: Matheus merece ou não ser titular no Sporting?
Do autogolo de Nuno Mendes. O jovem lateral esteve muito longe das melhores exibições a que nos habituou de verde e branco. Foi infeliz ao introduzir a bola na baliza, culminando uma série de intervenções atabalhoadas nesse lance iniciadas com uma perda de bola a meio-campo e consequente abertura de uma avenida para a cavalgada do Famalicão. Outros jogadores do Sporting tiveram responsabilidade neste golo sofrido, nomeadamente Gonçalo Inácio: é ele quem remata contra a perna de Nuno, que sem querer introduz a bola na baliza.
Da posição de Gonçalo Inácio. Terceiro golo sofrido pelo Sporting esta época, terceira vez em que o jovem central tem alguma responsabilidade nesses lances. Gostaria muito de voltar a vê-lo actuar na sua posição natural, como central à esquerda, e não nesta adaptação de pés trocados que começou por ser provisória e se vai tornando definitiva.
De Paulinho. Outra exibição de fraco nível do nosso "ponta-de-lança" que parece jogar cada vez mais longe da baliza. Uma vez mais, não pode queixar-se de ter sido mal servido pelos colegas. Aos 53', recebeu muito mal a bola que lhe fora endossada por Nuno Mendes. Aos 84', a passe de Porro, cabeceou à figura. No último minuto, aos 90'+7, atirou muito por cima em posição frontal, desaproveitando uma assistência de Pedro Gonçalves. Com prestações destas, não admira que em cinco jogos oficiais o ex-Braga leve apenas um golo marcado na temporada em curso.
Da primeira parte. Nem uma oportunidade de golo para o Sporting durante os 45 minutos iniciais. Actuámos neste período como se nos pesasse a condição de sermos campeões em título. Irreconhecíveis. A primeira oportunidade surgiu apenas aos 58', quando já estavam em campo dois jogadores que saltaram do banco: Porro (em vez de Esgaio) e Nuno Santos (em vez de Jovane). O primeiro cruzou, o segundo atirou ao poste.
Do árbitro. Não teve influência no resultado nem faz qualquer sentido atribuirmos a perda dos dois pontos a este senhor, um dos mais fracos apitadores que se pavoneiam nos estádios nacionais. Mas Fábio Veríssimo voltou a cometer um delito de lesa-futebol ao exibir três cartões amarelos antes de haver decorrido o primeiro quarto de hora. Por lances casuais, sem qualquer justificação para este absurdo critério que estraga o espectáculo e contradiz em absoluto as orientações dadas aos árbitros na sequência do recente Campeonato da Europa, em que houve poucas interrupções de jogo e foram exibidos escassos cartões. Alguns árbitros portugueses não parecem ser deste continente. É o caso de Veríssimo, que exibiu oito amarelos, incluindo cinco a jogadores nossos: Esgaio (5'), Palhinha (14'), Nuno Mendes (41'), Pedro Gonçalves (75') e Tabata (90'+5).
Gostei
De Adán. Pela segunda jornada consecutiva, o melhor Leão em campo. Salvou a equipa de sofrer três golos com intervenções decisivas aos 27', 39' e 90'+5. Começa a merecer a inclusão no lote dos melhores guarda-redes de sempre do Sporting. A ele devemos ter saído de Famalicão com um empate em vez de uma derrota.
De Porro. Amorim preferiu manter Esgaio como titular na ala direita, mas o reforço leonino - talvez por ter sido amarelado muito cedo, de forma injusta - esteve demasiado retraído, contribuindo pouco para a dinâmica ofensiva da equipa. Com o espanhol em campo, a partir do minuto 56, o nosso jogo acelerou muito naquele corredor, de onde surgiram sucessivos lances de perigo, fazendo o Famalicão encostar enfim às cordas. Aos 58', já servia Nuno Santos, que atirou ao ferro. Aos 60', tentou marcar de chapéu a mais de 40 metros de distância ao ver adiantado o guarda-redes, que defendeu in extremis: teria sido o golo mais espectacular deste campeonato. Aos 84', outro grande cruzamento, que Paulinho desperdiçou. Todas as dúvidas ficaram desfeitas: Porro merece regressar ao onze titular.
De Palhinha. Esteve longe do seu melhor, nomeadamente no capítulo do passe, mas foi um dos raros sportinguistas que se destacaram da mediania ou até da mediocridade. Mesmo com amarelo a partir do minuto 14, não virou a cara à luta, batalhando sempre pela bola. Devemos-lhe o golo do empate, aos 82', dando a melhor sequência a um pontapé de canto ao colocar-se junto ao segundo poste. E leva dois já marcados neste início de temporada.
De Daniel Bragança. Também ele entrou bem, mostrando-se muito mais em jogo do que Matheus Nunes, que rendeu aos 73'. Bom passe longo aos 90'+2. Passe teleguiado para Pedro Gonçalves aos 90'+7: foi a nossa última oportunidade real de golo.
Do Famalicão. Boa exibição global da equipa dirigida por Ivo Vieira - um dos melhores treinadores da Liga portuguesa. Destaco os desempenhos de Iván Jaime, Marcos Paulo e Ivo Rodrigues.