Rescaldo do jogo de ontem
Gostei
De vencer o Nacional em casa. Triunfámos por 2-0 - a mesma marca do épico desafio da primeira volta, realizado na Choupana, em noite de vendaval. Vitória categórica contra três equipas: o onze adversário (reduzido para dez aos 67'), o árbitro que fez vista grossa a uma grande penalidade cometida sobre Paulinho logo aos 7' e o vídeo-árbitro Luís Ferreira, incapaz de detectar um murro na cara de Daniel Bragança aos 45'+1 e um ostensivo agarrão a Coates aos 80'.
De Jovane. Foi o homem do jogo, repetindo a excelente exibição daquela partida na Choupana, em que também fez o gosto ao pé. Rúben Amorim deu-lhe ordem de entrada para render Palhinha aos 62'. Fazia todo o sentido: mantinha-se o zero-a-zero inicial, a turma madeirense já estava remetida ao seu reduto, não precisávamos de um médio com características defensivas mas de um desequilibrador lá na frente. O jovem luso-caboverdiano cumpriu a missão com brilho: esticou o jogo, verticalizou o passe (notável, lançando Porro aos 65'), sofreu falta para expulsão já tardia de um dos sarrafeiros do Nacional. Fez magnífica assistência para golo, aos 83', picando a bola que sobrevoou a área e foi ter com Feddal, que lhe deu a melhor direcção: vinham mais três pontos a caminho. Cereja em cima do bolo: derrubado à margem da lei, na grande área, Jovane converte o penálti e sela o resultado aos 90'+2. Mostrando a alguns colegas como se faz. Parece fácil, mas é fruto de muito trabalho físico e mental.
De Coates. Cometeu um lapso defensivo aos 46', perdendo a bola em zona proibida. Mas em tudo o resto voltou a ser o líder de que a equipa tanto necessita nos mais diversos momentos do jogo. Foi ele a servir os colegas com diversos passes à distância bem calibrados (aos 42' e aos 43', por exemplo). Um desses passes, já no tempo extra, funcionou como autêntica assistência para golo: a bola é recolhida lá na frente por Jovane, derrubado em falta - de que decorreu o penálti e o nosso segundo. Nova missão de sacrificio e demonstração da versatilidade táctica do gigante uruguaio, que voltou a actuar como ponta-de-lança entre os minutos 80 e 87.
De Feddal. Como aqui escrevi no rescaldo da jornada anterior, funciona como complemento perfeito de Coates: o excelente rendimento de um não consegue ser explicado sem o sólido desempenho do outro. É uma das mais perfeitas parcerias defensivas alguma vez existentes no futebol leonino. Ao central marroquino só vinha faltando algum faro de golo nos lances ofensivos de bola parada, imitando o uruguaio. Também nisso evoluiu: é ele a abrir o marcador, de cabeça, aos 83'. Começa a tornar-se num segundo gigante, a justificar aplauso prolongado.
De Pedro Gonçalves. Desta vez não marcou. Mas jogou imenso, a merecer nota muito elevada. Parecia andar em todas as partes do terreno, abrindo linhas de passe, evitando marcações, sem nunca virar a cara a um confronto individual. Volta a estar em excelente forma. Ofereceu três golos a Paulinho: aos 70', aos 79' e aos 90'. E ele próprio esteve quase a marcar, num disparo aos 21', isolado perante o guarda-redes António Filipe, que lhe impediu o golo com bons reflexos.
De Luís Maximiano. Suplente de luxo para o nosso guardião titular, desta vez ausente por acumulação de amarelos(!), algo que só acontece ao Sporting com este sistema de arbitragem. Max estreou-se entre os postes nesta Liga 2020/2021 e correspondeu muito bem ao repto. Não porque tivesse muito trabalho, mas porque manteve sempre a concentração e demonstrou reflexos em momentos de apuro, como quando saiu sem hesitar, aos 46', neutralizando um lance perigoso. Ninguém diria que o seu anterior jogo para o campeonato havia sido a 25 de Julho de 2020.
Das oportunidades de golo. Doze, no total. Este foi o desafio em que dispusemos de mais claras oportunidades de fuzilar as redes adversárias. Objectivo que ficou por concretizar devido à boa exibição do guarda-redes adversário e a uma certa imperícia ou falta de sorte dos rematadores - com destaque para Paulinho. Além das grandes penalidades que ficaram por assinalar.
De outro jogo a marcar tarde. Sofre-se mais, mas assim o desfecho é duplamente saboroso. Esta foi a 12.ª partida em que conseguimos golos e pontos após o minuto 80. Confirmação inequívoca de que o Sporting está muito longe de ser uma equipa "com défice de estofo emocional", contrariando o bitaiteiro Joaquim Rita numa das suas "pérolas" mais desajustadas da realidade.
Do apoio vibrante dos adeptos. Largas centenas de sportinguistas acorreram ao encontro da equipa, saudando-a no trajecto entre Alcochete e Alvalade. E muitos, mesmo ainda impedidos de ver o jogo ao vivo apesar do fim do estado de emergência, foram incentivando os jogadores na garagem do estádio enquanto a partida decorria. Adoptando o lema que Amorim lançou: «Para onde vai um, vão todos.»
De estarmos invictos há 30 jogos consecutivos. Novo recorde batido. Desta vez ultrapassando a marca de 29 desafios do Sporting sem derrotas estabelecida em duas épocas diferentes por Fernando Vaz, no período 1969-1970. Igualamos agora um máximo de 30 partidas invictas do Benfica que remonta à década de 70 (com Jimmy Hagan e John Mortimore ao comando da equipa) e em data mais recente pelo FC Porto (treinado por André Villas-Boas e Vítor Pereira). Recorde que pode ser superado já na quarta-feira, em Vila do Conde.
Do nosso palmarés defensivo. Apenas 15 golos sofridos nas 30 partidas já disputadas. Só um golo nas nossas redes a cada dois jogos. Dezoito partidas sem sofrer um só golo. Isto ajuda a explicar por que motivo lideramos isolados o campeonato há 24 rondas consecutivas - outro máximo absoluto neste Sporting orientado por Rúben Amorim. Nunca nos tinha acontecido com treinador algum.
Dos 76 pontos somados até agora. Falta-nos disputar quatro "finais". Mas estamos apenas a uma vitória de conseguir um lugar de acesso automático à Liga dos Campeões. E faltam-nos duas, acrescidas de um empate, para garantirmos o título. Só dependemos de nós, sabendo que os nossos rivais se defrontarão entre si na quinta-feira: em caso de empate ou derrota na Luz, o FC Porto ficará ainda mais longe. Por agora permanece a seis pontos, enquanto o Benfica segue com menos dez. O Braga, que no início tantos apontavam como "equipa sensação" deste campeonato, caiu a pique: está 18 pontos abaixo do Sporting.
Não gostei
Do árbitro Manuel Oliveira. Sendo o futebol português o que é, e estando a classificação como está, enviam-nos um apitador do Porto - e notório adepto portista - para arbitrar esta partida. Tinha tudo para dar mal. E deu mesmo. Oliveira autorizou o arraial de sarrafada posto em prática pelos pupilos de Manuel Machado em Alvalade. O Nacional fez 30 faltas (assinaladas, fora as restantes) neste jogo mas ao intervalo, já com 25 cometidas, só tinha um jogador amarelado - tanto como o Sporting, pois Paulinho vira o cartão aos 31', por mero protesto, farto de ser carregado sem qualquer advertência aos robocops da Madeira. O mesmo Paulinho que aos 7' foi alvo de falta grosseira na grande área do Nacional sem qualquer consequência contra o prevaricador, um tal Júlio César, que só à oitava falta viu enfim o amarelo. O apitador - acolitado pelo VAR Luís Ferreira - fez igualmente que não viu mais duas faltas que justificavam penálti, por agressão e derrube de Daniel e Coates à margem da lei. Uma vergonha.
De Manuel Machado. Se o paradigma do treinador da "velha guarda" é este, longa vida aos jovens treinadores. Técnicos como o "professor Machado", que dão ordem aos jogadores para travar por qualquer meio - lícito ou ilícito - as equipas adversárias, recorrendo em exclusivo ao jogo faltoso, estão a mais no futebol português. Este Nacional que na primeira meia hora de jogo já tinha feito 17 faltas bem merece a descida de divisão - com bilhete só de ida. E Machado que vá com ele.
Do festival de golos falhados. Excessiva ineficácia ofensiva de alguns jogadores leoninos - com destaque para Paulinho, que continua em jejum de golos. Desta vez até marcou, aos 35', mas não valeu pois Pedro Gonçalves, autor da assistência, arrancara em fora de jogo. Aos 11' mergulhou bem de cabeça para defesa muito apertada de António Filipe. Aos 45'+1, acertou no poste. Aos 70' e aos 90', voltou a estar quase, sem conseguir. Falhanços também de Nuno Santos (62') e Porro (65'), entre outros.
Do 0-0 ao intervalo. O nulo que se mantinha ao fim dos primeiros 45 minutos trazia um travo de injustiça, em nada reflectindo o que se passara em campo. Felizmente foi rectificado na etapa complementar. Tarde de mais, para alguns adeptos impacientes, que gostam de ver tudo resolvido logo de início. Muito a tempo para outros - entre os quais me incluo.
De Daniel Bragança. Exibição modesta do nosso médio de construção, lançado por Amorim como titular em substituição de João Mário, que não saiu do banco. Mas o jovem formado em Alcochete não acelerou jogo, não criou desequilíbrios e desperdiçou o seu talento com passes lateralizados em vez dos lances de ruptura que o desafio exigia. Falta-lhe alguma robustez física para impor os seus inegáveis dotes técnicos.