Rescaldo do jogo de ontem
Gostei
Do resultado deste Braga-Sporting. Terceiro embate da época entre as duas equipas, terceiro triunfo leonino. Não pode ser coincidência, numa temporada em que a esmagadora maioria dos comentadores antevia a turma minhota "já como equipa grande" e até "a praticar o melhor futebol" do campeonato português. Palavras que foram levadas pelo vento: agora derrotado por 0-1, o Braga segue na quarta posição da Liga 2020/2021, com menos 15 pontos que o Sporting.
Do golo da vitória. Marcado por Matheus Nunes aos 81', numa combinação perfeita com Porro, na conversão de um livre junto à lateral direita, logo à entrada do meio-campo braguista. Rápido pontapé vertical do internacional espanhol, muito bem colocado, e desmarcação exemplar do luso-brasileiro, que rematou cruzado, fuzilando a baliza à guarda do seu homónimo do Braga. Era o nosso primeiro remate enquadrado, era a nossa primeira oportunidade de golo - e foi golo mesmo. Aproveitamento máximo.
De Coates. Um gigante. Se o Sporting conquistar o título de campeão nacional, como quase todos desejamos, ele será o principal obreiro dessa proeza. Imperial nas alturas, assumindo por inteiro as operações defensivas, com notável maturidade quando alguns colegas pareciam à beira do descontrolo emocional, ele transmitiu força e consistência à nossa organização defensiva, funcionando como muralha intransponível. Impecável no corte, no desarme, na recuperação. O melhor em campo.
De Adán. Cometeu um erro primário que nos custou dois pontos na jornada anterior, frente ao Belenenses SAD. Mas redimiu-se, e de que maneira, neste embate em Braga. Impediu por quatro vezes o golo da equipa anfitriã, travando ou desviando remates de Fransérgio (36' e 80') e Galeno (39' e 62'). Elemento nuclear da nossa coesão defensiva. Nota máxima para o espanhol, outro baluarte do onze titular leonino.
De Feddal. Fala-se pouco dele, mas o marroquino é o complemento perfeito de Coates: jogam juntos apenas há oito meses mas até parece que se conhecem há oito anos. Fundamental para completar a tarefa do uruguaio na manobra defensiva do Sporting numa partida em que jogámos mais de 70' com apenas dez jogadores, o que comprometeu todo o dispositivo táctico que Rúben Amorim havia montado para este jogo.
De Matheus Nunes. Já mencionado acima como autor do golo, saltou muito bem do banco logo a abrir a segunda parte e confirmou que não treme em circunstância alguma: volta a marcar ao Braga, tal como também já tinha marcado ao Benfica. De olhos na baliza e com vocação para se agigantar nos desafios mais decisivos. Merece integrar o onze titular do Sporting. Acredito que assim acontecerá até ao final do campeonato.
Das mudanças operadas pelo treinador. Ao intervalo, com menos um em campo, mandou sair Nuno Santos e Paulinho, trocando-os por Neto e Matheus Nunes. Aos 65', deu ordem de saída a João Mário e Pedro Gonçalves, fazendo entrar Matheus Reis e Tiago Tomás. No fim, já aos 90'+1, trocou um magoado Nuno Mendes pelo regressado Plata só para congelar a bola, tarefa que o jovem colombiano desempenhou na perfeição. O essencial foi cumprido, prevalecendo a palavra de ordem: para onde vai um, vão todos. O colectivo é sempre mais importante do que o individual.
De termos cumprido o 29.º jogo seguido sem perder. Conquista atrás de conquista nesta equipa orientada por Rúben Amorim. Desta vez igualamos um recorde já com meio século de existência, igualando o máximo estabelecido em duas épocas consecutivas (1969/1970 e 1970/1971) pelo Sporting de Fernando Vaz. Somos, há muito, o único emblema invicto no campeonato em curso.
Do nosso palmarés defensivo. Apenas 15 golos sofridos em 29 partidas já disputadas. Praticamente apenas um sofrido de dois em dois jogos - notável estatística que diz muito do comportamento em campo da nossa equipa. Que lidera isolada a LIga 2020/2021 há 23 jornadas.
Dos 73 pontos somados até agora. Quando faltam ainda cinco jornadas, garantimos o terceiro lugar que nos fugiu in extremis na época anterior. Estamos a seis pontos de conseguir o acesso directo à Liga dos Campeões. E a quatro vitórias do título. Continuamos a depender só de nós, neste momento em que levamos sete pontos acima do FC Porto e mais 13 do que o Benfica, equipas que só hoje jogarão.
Do balanço muito positivo no confronto com os principais adversários. Até agora, nesta época, enfrentámos sete vezes FC Porto, Benfica e Braga. Balanço: cinco vitórias, dois empates e nenhuma derrota. É assim que se conquistam títulos.
Não gostei
Do desempenho do árbitro. Começo a acreditar que não é coincidência: o Sporting tem sempre azar com Artur Soares Dias. Voltou a acontecer: houve uma chocante dualidade de critérios do juiz portuense já destacado para apitar no Campeonato da Europa. Estragou de vez o espectáculo desportivo logo aos 18', fazendo expulsar Gonçalo Inácio ao exibir-lhe o segundo amarelo quando no minuto anterior tinha perdoado uma entrada de pitons em riste de Fransérgio a derrubar Palhinha e aos 60' fez vista grossa a uma grande penalidade cometida pelo intratável Raul Silva contra Coates. Dois pesos, duas medidas. Mau no capítulo técnico, péssimo no capítulo disciplinar. Dizem que é "o melhor árbitro português". Por aqui já se percebe o nível dos restantes.
De ver o nosso treinador fora do banco. Não aconteceu com nenhum outro neste campeonato, nem sequer com os maiores arruaceiros reconhecidos e comprovados: Rúben Amorim esteve três jogos seguidos impedido de orientar a equipa na sua área técnica, cumprindo o terceiro em Braga. É assim a nossa "justiça desportiva", que continua sem penalizar Sérgio Conceição por ter dirigido graves injúrias ao seu colega Paulo Sérgio, com quem quase se envolveu à pancada no decurso do Portimonense-FC Porto, disputado há mais de um mês.
De Gonçalo Inácio. Entrou extremamente nervoso, como se lhe pesassem as pernas e o emblema do Braga fosse um bicho-papão. Ser esquerdino a alinhar como central mais deslocado à direita não ajuda: diminui-lhe os reflexos e a capacidade de reacção quando o adversário o apanha de pé trocado. Fez falta a justificar amarelo logo aos 10', num derrube a Gaitán, e oito minutos depois viu o segundo cartão, que o afastou do jogo, ao tocar em Galeno - a quem momentos antes entregara a bola. Soares Dias exagerou na admoestação, pois o lance desenrolava-se ainda longe da nossa baliza e Palhinha estalava lá também, a controlar o portador da bola. Mas Gonçalo foi imprudente por excesso de intranquilidade, aliás já revelada no jogo anterior. Neto saltou do banco para o seu lugar e cumpriu.
De João Mário. Voltou a demonstrar que está fora de forma e merece uma cura de banco. Continua a actuar com extrema lentidão, incapaz de verticalizar e agilizar o jogo. O primeiro cartão exibido a Gonçalo surge na sequência de um passe à queima do campeão europeu, virado para a baliza errada. Matheus Nunes e Daniel Bragança espreitam-lhe o lugar.
De Paulinho. Esteve toda a primeira parte em campo e novamente quase não se deu por ele. Mesmo no quarto de hora inicial, em que mantínhamos onze em campo, o ex-artilheiro do Braga só deu nas vistas aos 14', quando falhou uma emenda na sequência de um canto. Depois, sem bola disponível, desapareceu de vez do jogo e já não voltou do intervalo.
Do cartão exibido a Adán. Deve ser caso único: o nosso guarda-redes fica fora do próximo jogo por acumulação de amarelos. É quanto basta para se perceber como o Sporting é alvo preferencial da arbitragem. O quinto foi ontem exibido por Soares Dias, aos 90'+6, tendo o juiz portuense mostrado também cartão a Pedro Gonçalves, então já devolvido ao banco de suplentes. Na próxima partida, em que recebemos o Nacional, Max será pela primeira vez titular da baliza nesta Liga 2020/2021. Ausente estará também Tiago Tomás (que ontem viu igualmente o quinto cartão), além de Gonçalo Inácio.
Do campo inclinado. Soares Dias matou o desafio como espectáculo competitivo aos 18', fazendo expulsar Gonçalo. Isto condenou o Sporting a fechar-se no seu reduto, praticando apenas jogo defensivo enquanto aguardava a oportunidade de conseguir pontos - como viria a acontecer - em lance de bola parada. Um teste à resistência física e psicológica do onze leonino, que actuou mais de uma hora num inédito 5-4-0. Nove jogadores atrás da linha da bola. Um teste também à resistência anímica dos adeptos.