Rescaldo do jogo de ontem
Gostei
Da nossa organização defensiva. Há números que não se alcançam por acaso: levamos sete jogos consecutivos sem perder. Isto deve-se ao facto de o actual técnico estar a construir uma equipa, como mandam as regras: de trás para diante. Mesmo tendo perdido o grande esteio do nosso bloco defensivo - Mathieu, internacional francês ex-Barcelona - Rúben Amorim tem sabido apetrechar o sector mais recuado de um dispositivo táctico eficaz, traduzido em números: apenas quatro golos sofridos nos últimos sete jogos, contra 12 marcados. Apenas sofremos em três desses sete desafios. Ontem, fora de casa contra o Moreirense, a nossa baliza manteve-se intocável (0-0).
De Coates. Destacou-se no jogo como baluarte da defesa, dando-lhe voz de comando. É o mais veterano desde a saída de Mathieu, que abandonou o futebol por lesão. Atento, sempre que foi necessário, a limpar qualquer investida adversária - assim foi, com cortes providenciais, aos 15' e aos 53'. E ainda foi o mais perigoso lá à frente, nas bolas paradas. Venceu um lance aéreo aos 37', cabeceando por cima, e viu-se impedido de disputar uma bola ao ser ostensivamente agarrado dentro da grande área, mesmo no fim da partida, num lance que o árbitro ignorou. Num jogo em que quase todos os seus colegas estiveram abaixo do nível que nos habituaram, foi dos raros que se mantiveram em bom estilo e grande classe. O melhor em campo.
De Wendel. Ficou, estranhamente, sentado no banco e só entrou aos 61'. Erro do técnico, que viu a equipa jogar mais de uma hora sem o seu pêndulo no meio-campo, que organiza jogo e transporta a bola com qualidade. Mal entrou, viu-se a diferença: a equipa ganhou fôlego ofensivo, subiu o patamar de qualidade e só não alcançou os três pontos por imperícia na finalização e incompetência do dono do apito.
De Nuno Mendes. Outro jogador que devia ter alinhado de início. Difícil de entender a opção de Rúben Amorim, que o manteve sentado no banco de suplentes até ao minuto 61', quando entrou para render o inoperante Borja. Só aí passámos verdadeiramente a ter um ala esquerdo: Acuña, ontem muito apagado, nunca pareceu combinar com o colombiano e funcionou melhor quando recuou para a posição de central esquerdino, enquanto o jovem da formação leonina se adiantava no terreno, acelerando o jogo no corredor e cruzando com intenção deliberada de servir os companheiros na grande área.
Das substituições. Contra uma equipa que não fez um só remate enquadrado à nossa baliza e ficou reduzida a dez aos 51', só conseguimos ocupar com eficácia o corredor central após mais de uma hora de jogo, quando o treinador fez as substituições que há muito se impunham. Tempo desperdiçado, quando a energia física já não era a mesma e a capacidade anímica do colectivo leonino estava longe do seu melhor. Além das já mencionadas, registou-se ainda a troca de Ristovski pelo ainda júnior Joelson, em campo desde os 66'. Benjamim do plantel, teve bons pormenores, dinamizando o flanco direito do nosso ataque e ganhando mais meia hora de experiência entre os adultos.
De Plata. Foi sempre um dos mais inconformados, causando sucessivos desequilíbrios ao transitar da ala para o centro, com a bola dominada no pé esquerdo, na habitual manobra que costuma confundir os defesas adversários, tentando servir Sporar - e assim foi, num bom centro aos 33´, infelizmente desperdiçado. Alvo de faltas consecutivas: uma delas levou à expulsão de Halliche, aos 51'.
Da contínua aposta na formação. Terminámos o jogo com cinco jovens oriundos da Academia em campo: Luís Maximiano (que não fez qualquer defesa digna desse nome durante toda a partida), Matheus Nunes, Jovane, Nuno Mendes e Joelson. Só assim, dando-lhes oportunidades, estes jovens conseguirão evoluir e mostrar aquilo que realmente valem.
Da "estrelinha" do treinador. Rúben Amorim, técnico com fama de sortudo, soma agora dezasseis jogos sem perder no campeonato. Só é pena que nove desses jogos tenham sido ao serviço do Braga. No Sporting, regista cinco vitórias (Aves, Paços de Ferreira, Tondela, Belenenses SAD e Gil Vicente) e dois empates (em Guimarães e Moreira de Cónegos).
Do empate a zero. Não apenas pela ausência de golos mas também pela quase inexistência de verdadeiras oportunidades de os criar. Só fizemos dois remates dignos desse nome: aos 69', quando Sporar, num remate cruzado da direita, atirou com força mas à figura do guarda-redes, e aos 84', quando Wendel também foi incapaz de ludibriar o guardião do Moreirense. Voltámos a perder pontos, quatro jogos depois: soube a muito pouco.
De Sporar. Terceiro jogo consecutivo do internacional esloveno sem marcar. Pareceu estar sempre no local errado à hora errada, sem abrir linhas de passe, incapaz de se libertar das marcações. Como se lhe faltasse instinto goleador. Demorou mais de uma hora a conseguir o primeiro remate e, quando o fez, permitiu intervenção fácil do guarda-redes. De algum modo símbolo da partida, nesta que foi a pior exibição do Sporting na era Rúben Amorim.
De Battaglia. O técnico apostou nele como titular, enquanto médio mais próximo do eixo da defesa, numa partida em que não precisávamos de um trinco, dadas as características da equipa adversária, nada vocacionada para o ataque. O argentino está em manifesta quebra de forma: nunca combinou com Matheus Nunes, seu parceiro no meio-campo, foi incapaz de fazer passes de ruptura e pareceu perdido naquela função de funcionar como tampão de um fluxo ofensivo que nunca existiu.
De Matheus Nunes. Amorim continua a confiar nele, mas desta vez o jovem brasileiro não correspondeu: falta de intensidade no transporte de bola, falta de criatividade para desenhar lances, manifesta incapacidade para ligar sectores. Passe disparatado aos 60', péssimos remates para a bancada aos 72' e aos 75', pontapé sem nexo aos 78'. Custa perceber por que se manteve em campo durante todo o jogo.
De Borja. Central improvisado desde a saída de Mathieu neste rígido sistema de defesa a três (ou a cinco) imposto pelo novo treinador, o colombiano nunca sai da chamada "zona de conforto", incapaz de acelerar o jogo ou de iniciar a construção com qualidade. Disto se ressentiu Acuña, o elemento que actuava mais próximo dele no corredor esquerdo e que acabou por substituí-lo quando o técnico alterou enfim o inoperante onze inicial. Cada vez se percebe com mais nitidez que precisamos de um verdadeiro central esquerdino como reforço do plantel.
Do árbitro Tiago Martins. Deixou passar em claro uma grande penalidade cometida sobre Jovane, logo aos 3', sendo ainda mais incompreensível que o vídeo-árbitro (ontem era Jorge Sousa) não o tenha advertido para este lance. Quase ao cair do pano, voltou a fazer vista grossa a outro penálti, sobre Coates, numa bola disputada dentro da área. Aqui foi avisado e ainda se dignou espreitar as imagens, mas manteve a decisão inicial: tratou como "casual" um derrube à margem das leis do jogo. Péssima actuação, confirmando ser um dos piores apitadores que se pavoneiam na Liga portuguesa.