Rescaldo do jogo de ontem
Não gostei
Do banho de bola que levámos do Benfica em nossa própria casa. As dinâmicas colectivas não funcionaram, não vencemos um confronto individual, o nosso corredor direito era um autêntico passador, só em teoria tínhamos um médio defensivo em campo, fomos incapazes de ganhar bolas divididas.
Do treinador. Tal como sucedera em Tondela e em Guimarães, Marcel Keizer estudou insuficientemente o adversário e artilhou muito mal o nosso onze titular. Tem uma pose inacreditável em campo, permanecendo durante todo o jogo estático e de mãos nos bolsos. E vem gerindo de forma cada vez mais desastrada as substituições. O cúmulo do caricato ocorreu ontem por volta do minuto 80, quando mandou entrar Petrovic, um médio defensivo, quando estávamos a perder 1-4. Seria para "segurar o resultado? Brindado com uma vaia monumental, optou afinal por Jovane, mandando sentar o sérvio. Esta hesitação nas escolhas diz quase tudo sobre a (in)capacidade de liderança do holandês.
Da troca de Nani por Diaby. O instinto do treinador foi testado - e chumbou - na decisão assumida ao intervalo: excluir o capitão da equipa enquanto fazia entrar o jovem maliano que tem sido uma autêntica nulidade nos jogos disputados em 2019. Um erro colossal, não apenas pela capacidade que Nani - mesmo fatigado - tem de resolver um jogo, a qualquer momento, com um lance de inspiração. Sobretudo pelo sinal que deu para dentro de campo: o internacional formado em Alcochete tinha acabado de inventar um grande golo, oferecido de bandeja a Bruno Fernandes. Que prémio recebeu? Ter ido tomar duche mais cedo.
De Bruno Gaspar. Intriga-me por que motivo Keizer, confrontado com falta de recursos no plantel, não recorre aos sub-23. Desde logo para a lateral direita, desguarnecida pelo injustíssimo castigo aplicado a Ristovski pelo apitador Helder Malheiro. Bruno Gaspar, está mais que provado, não tem categoria para jogar no Sporting: foi uma das mais desastradas contratações do último ano. Incapaz de articular com Raphinha, foi ultrapassado vezes sem conta por Grimaldo, que o transformou num monumento à impotência.
De Gudelj. O meio-campo defensivo estava, em teoria, entregue ao sérvio que veio da China. Na prática, ficou desguarnecido: Gudelj parece ter emigrado para parte incerta, afogado no fluxo ofensivo encarnado, liderado pelo miúdo João Félix. Não restam dúvidas que não tem talento nem rotinas para assegurar a posição, apesar de Keizer teimar em mantê-lo ali. Mais incompreensível se torna ainda que Miguel Luís e Idrissa Doumbia tenham ficado ausentes da convocatória.
Do desastre da nossa defesa. Levamos já mais golos sofridos do que o V. Setúbal e tantos como o Marítimo.
De ver a nossa formação marginalizada. Ontem, durante quase uma parte inteira (a segunda), voltámos a jogar sem nenhum elemento formado em Alcochete. Miguel Luís foi de novo remetido para a bancada, Francisco Geraldes só serve para promover gameboxes na Sporting TV e Jovane entrou à beirinha do fim, só para iludir as estatísticas. Acontece que Keizer veio para o Sporting, entre outros supostos atributos, por valorizar a formação. Onde está essa mais-valia?
Do resultado. Esmagadora e humilhante, a derrota por 4-2 em Alvalade. Desde a época 1997/1998 que não perdíamos por números tão arrasadores, mesmo num dérbi destes, onde existe uma lamentável tendência já claramente desenhada: nos últimos dez anos, só por uma vez vencemos o Benfica no nosso estádio para o campeonato. Dá que pensar. E não é um pensamento lisonjeiro para as nossas cores.
Do nosso percurso recente no campeonato. Apenas vencemos um dos últimos cinco jogos da Liga 2018/2019: uma vitória esforçada e tangencial em casa com o Moreirense. De resto, dois empates (com V. Setúbal e FC Porto) e duas derrotas (com Tondela e Benfica). Se somarmos a estas partidas os dois desafios da Taça da Liga que também não vencemos no tempo regulamentar (embora tenhamos conquistado o troféu nas grandes penalidades), a margem negativa aumenta: só uma vitória em sete jogos.
Gostei
Do nosso único golo de bola corrida. Aconteceu aos 43', o que nos fez reduzir a desvantagem para 1-2, nascendo daí a ilusão de que a segunda parte poderia ser muito disputada. Um golo que emerge do talento e da criatividade de Nani ao desenhar uma bela diagonal do centro para a direita enquanto Bas Dost fazia a manobra inversa à sua frente, arrastando dois defesas e ampliando terreno para o pé-canhão de Bruno Fernandes. Um golaço, infelizmente sem sequência. O segundo seria marcado no declinar do jogo, de penálti, por Bas Dost, que reduziu para 2-4.
De termos, apesar de tudo, evitado a goleada. Na segunda parte, quando perdíamos por 1-4, chegou a pairar no estádio o espectro da repetição dos famigerados 3-6, sofridos há um quarto de século, ainda no tempo em que João Vieira Pinto jogava na equipa errada.
Do público que encheu o estádio. Éramos ontem 45.503 oficialmente contabilizados em Alvalade. Prontos a puxar pela equipa e a aplaudir os nossos. Saímos de lá com uma imensa frustração. Pelo resultado, pela péssima exibição e pela esperança que vai morrendo: depois do adeus ao título, o adeus ao acesso à Liga dos Campeões, quase o adeus à qualificação directa para a Liga Europa. E temos o V. Guimarães pronto a morder-nos os calcanhares, à distância de sete pontos do quarto lugar - tanta como a que nos separa do Braga, que ocupa o último lugar do pódio.