Rescaldo do jogo de ontem
Gostei
De outra goleada. A sétima em dez jornadas da Liga 2024/2025. Ontem a vítima foi o Estrela da Amadora, que teve a pretensão de "discutir o jogo" em Alvalade, abrindo espaços à retaguarda que foram aproveitados da melhor maneira pelo nosso ataque letal, com um Viktor em forma estratosférica. Assim, a equipa visitante, em vez de perder apenas por 0-2, como sucedeu ao Casa Pia com autocarro estacionado frente à baliza, saiu ontem de Alvalade vergada ao peso dum 5-1.
De Gyökeres. Está "intratável", como gostam de dizer alguns comentadores, incapazes de usar adjectivos mais fortes e expressivos para qualificar as actuações do grande goleador leonino. Ontem, pela primeira vez na sua carreira, Viktor marcou quatro num só jogo - merecido póquer para aquele que foi, de longe, o melhor em campo. Marcou aos 19', após rápida tabelinha com Pedro Gonçalves, fuzilando as redes em remate corrido: era a primeira oportunidade, não a desperdiçou. O segundo foi aos 31': tiro com assistência de Trincão. O terceiro aos 42', de penálti. O quarto aos 70', novamente com Trincão a assistir. Leva 16 golos no campeonato, 20 no total das provas Tornou-se o maior goleador do momento no futebol europeu e é já o quinto estrangeiro com mais golos facturados no Sporting (após Yazalde, Bas Dost, Iordanov e Jardel). E tem ainda sete assistências. Vale cada cêntimo dos 24 milhões que custou ao Coventry, de onde o Sporting o trouxe há pouco mais de um ano. Quando sair, renderá quatro vezes mais.
De Trincão. Já ficou registado acima: assistiu em dois dos nossos cinco golos. Foi também ele o autor do cabeceamento que deu origem ao desvio com o braço de Bucca, originando o penálti. Merecia golo aos 60', ao desferir um remate em arco que fez saltar a tinta de um dos postes. Destacou-se ainda em várias recuperações. Continua em excelente forma.
De Israel. Sofreu um golo - apenas o terceiro do Sporting em dez jornadas do campeonato e o primeiro com ele entre os postes na Liga. Mas foi gigante na baliza. Enormes defesas aos 26' e aos 35' (esta, infelizmente, sem conseguir travar a recarga perante a apatia dos centrais), grande saída aos 48'. Temos guarda-redes de qualidade: quem resistia a concluir isto até ontem, terá de o reconhecer a partir de agora. Vladan pode esperar: o lugar pertence ao jovem internacional uruguaio.
Da estreia de Maxi Araújo a marcar. Alinhando pela primeira vez no Sporting como ala esquerdo, cumpriu no essencial embora sem fazer esquecer o ausente Nuno Santos. Mas destacou-se ao apontar o quinto golo, com assistência de Daniel Bragança: aconteceu aos 85', já com o Estrela de rastos, num remate cruzado sem hipóteses de defesa. Tem qualidade técnica, é inegável. Com o tempo pode tornar-se dono do nosso flanco esquerdo. Está a fazer por isso.
Do ambiente no estádio. Mais de 40 mil pessoas (número oficial: 41.282) compareceram em Alvalade apesar da noite com chuva. Incentivando sem reservas a equipa e prestando tributo grato - na esmagadora maioria, com fortes aplausos silenciando alguns assobios iniciais - ao treinador, que compareceu no estádio acompanhado do presidente Frederico Varandas. Rúben Amorim deixará o Sporting após mais dois desafios - um contra o City na terça-feira para a Champions, outro contra o Braga no domingo seguinte para o campeonato - mas a massa adepta leonina não esquece que foi ele quem pôs fim ao maior jejum do título de campeão da nossa história e valorizou como nenhum outro o plantel leonino, virando de vez a negra página iniciada com o assalto a Alcochete.
Dos regressos muito aplaudidos. Nani e Jovane voltaram ontem a Alvalade. Desta vez na condição de adversários, o que não os impediu de ouvir muitas palmas. Sobretudo o primeiro, inesquecível campeão europeu por clubes (em 2008, pelo Manchester United) e pela selecção nacional (no Euro-2016). Deu nas vistas o forte abraço antes do jogo trocado entre ele e Amorim, também prestes a rumar ao United. Nani (que ontem alinhou pelo Estrela a partir do minuto 52) será sempre um dos nossos. Passou três vezes pelo Sporting. Talvez passe uma quarta, ainda como jogador ou como já como elemento de uma futura equipa técnica.
Dos sentidos aplausos a Nuno Santos. Ocorreram ao minuto 11 - número da camisola do nosso ala esquerdo, agora com lesão que deverá afastá-lo até ao fim da temporada. Nesse minuto o estádio levantou-se ovacionando o craque ausente. Um dos momentos mais bonitos da noite.
De termos disputado 31 jogos em sequência sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota (1-2) aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, em Guimarães, a 9 de Dezembro. E vamos com 19 triunfos nas últimas 20 partidas disputadas para a maior competição do futebol português.
De ver o Sporting marcar há 52 jogos seguidos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde Abril de 2023, perante o Gil Vicente (0-0). Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.
Da nossa 22.ª vitória consecutiva em Alvalade. Todo o campeonato anterior, mais cinco rondas da Liga 2024/2025: há 70 anos que não nos acontecia algo semelhante.
De continuarmos inexpugnáveis, tanto em casa como fora. Sem uma derrota no ano civil em curso, já a escassas semanas do fim.
Do balanço após mais de um quarto da prova. Melhor ataque (35 golos), melhor defesa, melhor goleador: Gyökeres, agora com mais golos do que 15 equipas da Liga. Comando isolado. Desde 1973/1974 que não facturávamos tanto nas primeiras dez rondas. Ainda não vencemos, até agora, por menos de dois golos de diferença. Temos a equipa mais forte do campeonato português, cem por cento vitoriosa. Perseguimos um objectivo que nos foge há sete décadas: a conquista do bicampeonato. Acreditamos nele com mais força do que nunca. Pelo menos eu acredito. E tenho a certeza de que não estou só.
Não gostei
De termos sofrido o terceiro golo neste jogo n.º 10. Mas as nossas redes, para o campeonato, permaneceram invioladas durante 715 minutos. Outra marca leonina nesta Liga 2024/2025.
Da apatia do nosso sector mais recuado. Lapsos defensivos raras vezes vistos no Sporting. Debast tardou em acorrer às dobras de Quenda no lado direito. Gonçalo - tocado numa perna e substituído por St. Juste ao intervalo - esteve longe do acerto a que nos habituou. Mas o pior foi Diomande, que revelou desconcentração e falta de reflexos. Deixou Danilo movimentar-se à vontade dentro da área aos 26' e nove minutos depois foi incapaz de travar a incursão de Rodrigo Pinho, autor do golo do Estrela.
Da ausência de Geny. Nem no banco se sentou. Terá sido por gestão de esforço, já a pensar na recepção ao Manchester City, para a Champions, do próximo dia 5.
Da ausência de Nuno Santos. Mas todos acreditamos na sua recuperação. E desejamos muito que regresse, em devida forma, tão cedo quanto possível.
De Edwards. Outros jogadores têm altos e baixos, mas o inglês, nesta temporada, teima em não sair da maré baixa. Entrou aos 73', substituindo Pedro Gonçalves. Aos 83', falhou intervenção ao segundo poste com a bola bombeada na sua direcção. Aos 90', atirou ao lado. Com bola e sem ela, pareceu sempre algo perdido em campo.
Da nostalgia antecipada. Foi o último jogo de Rúben Amorim para o campeonato em Alvalade, como treinador principal do Sporting. Um ciclo prestes a fechar-se, outro vai começar. Este durou quase cinco anos e teve nota muito elevada. Inesquecível.