Rescaldo do jogo de ontem
Gostei
Da goleada na Choupana. Segunda jornada da Liga 2024/2025, primeiro jogo do Sporting fora de casa. Contra o Nacional, mais de três anos depois. Não podia ter corrido melhor. Fomos lá vencer por 6-1, sem dar hipóteses ao adversário. Há cinco anos que, nesta condição de equipa visitante, não vencíamos no campeonato com pelo menos seis golos apontados - desde 5 de Maio de 2019, quando derrotámos B-SAD por 8-1.
Do nosso domínio indiscutível. Protagonizámos um festival de jogo ofensivo: a nossa equipa sempre confiante, motivada e com índices físicos dignos de registo contra o anterior campeão da Liga 2, que não perdia há 14 jogos e se reforçou com sete jogadores. Domínio absoluto registado mesmo sem Morten no onze, por lesão, e mesmo sem ter chegado ainda o anunciado reforço para a frente de ataque.
De Pedro Gonçalves. Voltou a estar em foco: melhor em campo, justificadamente. Foi ele a marcar o primeiro golo, aos 16'. Grande golo, em que o trabalho foi todo dele, conduzindo sabiamente a bola, com súbitas alterações de velocidade e uma simulação, deixando cinco adversários pelo caminho. Fez ainda duas assistências. Para o segundo e o quinto. Atravessa um dos melhores períodos da sua carreira: quatro golos marcados em três jogos da temporada oficial. É imperdoável continuar fora das convocatórias da selecção.
De Gyökeres. Um dos obreiros desta goleada leonina. Incansável, sempre de olhos fitos na baliza. Marcou por duas vezes - aos 51', convertendo um penálti, e aos 76', fechando a contagem, numa bomba disparada pelo seu pé-canhão após fantástica arrancada com assistência milimétrica de Debast. Esteve a centímetros do tri, aos 87', quando recuperou a bola e rematou ao ferro. Pode festejar também por este motivo: foi a sua estreia como artilheiro na Madeira. Tem números galácticos, à nossa escala: já marcou 46 golos em 53 partidas de Leão ao peito.
De Quenda. Confirma-se: temos craque. Grande exibição como ala direito, encarregado sobretudo de missões ofensivas mas fechando sempre também o seu corredor em despique vitorioso com o lateral esquerdo adversário. Com pleno domínio técnico e notável maturidade táctica para um jovem de apenas 17 anos. Aos 49' protagonizou um lance dentro da grande área em que foi derrubado com toque ostensivo no pé de apoio. Daqui nasceria o nosso terceiro golo.
De Daniel Bragança. Com Morten ausente, coube-lhe ser o capitão e gerir a manobra ofensiva do Sporting. Sobretudo na primeira parte quase toda a acção atacante passou por ele, organizando, distribuindo com critério, promovendo variações de flanco. Cereja em cima do bolo: o espectacular golo que marcou. Foi o nosso quinto, aos 66': num espaço curto, conseguiu mudar duas vezes de pé e fazer uma decisiva finta de corpo sem se atemorizar com os três defesas que tinha pela frente, rematando com colocação e força. Golaço que premiou o seu excelente desempenho.
De Trincão. Inicialmente muito vigiado ao actuar nas costas de Gyökeres, foi-se libertando da marcação cerrada até exibir toda a qualidade do seu futebol. Estreou-se como artilheiro neste campeonato, e logo a bisar: o segundo golo, aos 40', num remate cruzado sem hipóteses para o guarda-redes, e o quarto, aos 57', encaminhando-a para as redes em posição frontal, saíram do seu pé canhoto. Com preciosas ajudas de Pedro Gonçalves e Geny, em qualquer dos casos. É assim que queremos vê-lo, de pé quente e com boa pontaria no remate.
De ver quatro da nossa formação no onze inicial. Para alguns adeptos, isto nada conta. Não é o meu caso. Gostei que Rúben Amorim apostasse em Eduardo Quaresma, Gonçalo Inácio, Bragança e Quenda. E ainda entrou Dário, aos 79', quando o resultado já estava construído.
Da arbitragem. Boa actuação de Luís Godinho, adoptando o chamado critério largo que há muito devia vigorar no primeiro escalão do futebol português. Uma espécie de inverso de Fábio Veríssimo, que continua a protagonizar autênticos festivais de apito sem perceber que só árbitros sem nível procedem assim.
De ver o Sporting marcar há 44 jogos seguidos. Sem falhar um, para desafios do campeonato, desde a Liga 2022/2023. Números impressionantes, próprios de um campeão em toda a linha.
De termos disputado 23 partidas consecutivas sem perder na Liga. Marca extraordinária: a nossa última derrota aconteceu na distante jornada 13 do campeonato anterior, disputada em Guimarães, a 9 de Dezembro.
Não gostei
Do golo sofrido. Único falhanço defensivo do Sporting, com Gonçalo fora de posição a dobrar Geny e Diomande também muito adiantado, incapaz de interceptar o passe de ruptura para Thomas, aos 36'. O remate saiu a meia altura e sem força excessiva: ficou a sensação de que Vladan podia ter feito melhor. Já sofreu seis golos em três jogos oficiais na temporada, há motivos para questionarmos o seu desempenho entre os postes.
Da ausência de Morten. O internacional dinamarquês ficou fora da convocatória devido a uma lesão que não é grave. Medida de precaução compreensível: vêm aí desafios muito mais complicados do que este. De qualquer modo, mal se sentiu a sua ausência: Daniel Bragança, chamado a substituí-lo, deu boa conta do recado.
Do 2-1 registado ao intervalo. Sabia a pouco.
Do cartão amarelo exibido a Gonçalo Inácio a segundos do fim. Absolutamente desnecessário. Mesmo a ganhar 6-1, é fundamental que os jogadores percebam isto: toda a desconcentração deve ser evitada, do princípio ao fim.