Rescaldo do jogo de hoje
Não gostei
Nem do resultado nem da exibição. Perdemos com o Tondela por 2-1, com o nosso golo solitário resultando de uma jogada às três pancadas já no minuto 76', quando jogávamos contra dez desde os 51', por expulsão de um defesa da equipa beirã. A superioridade numérica de pouco ou nada nos valeu: grande parte do segundo tempo decorreu com a equipa desorganizada nos últimos 35 metros, sem finalizadores de classe, com várias ocasiões desperdiçadas e perante o receio permanente de que o Tondela ampliasse a vantagem numa jogada rápida de contra-ataque, semelhante à que originou o golo da vitória. Terminámos a partida com dois centrais como pontas-de-lança (Coates e Mathieu, marcador do nosso golo), mas o caudal ofensivo nunca se traduziu em qualidade de passe ou decisões correctas no momento de rematar à baliza.
Da ausência de Bas Dost. O holandês ficou de fora, aparentemente, por algum excesso de precaução física já a pensar no desafio do próximo sábado, em Alvalade, quando recebermos o FC Porto. Raras vezes, porém, ele fez tanta falta como nesta noite em Tondela: Diaby, o seu substituto, é fraco cabeceador, define mal junto à baliza e não tem cultura táctica que lhe permita arrastar defesas, possibilitando a intromissão de companheiros dentro da área. Após vermos fugir estes três pontos, o clássico de sábado torna-se muito menos decisivo: o título ficou praticamente a uma distância intransponível. Dost teria feito mais falta agora.
Da ausência de Jovane. Nem entrou no lote dos convocados. Súbita doença? Alguma medida disciplinar? Faltando informação, resta o lamento por não termos visto sequer rasto do irrequieto caboverdiano que várias vezes já serviu de talismã à nossa equipa.
Da ausência de Miguel Luís. Foi o melhor em campo na jornada anterior, contra o falso Belenenses, e até marcou um golo nesse jogo. Desta vez permaneceu no banco e de lá não saiu. Custa-me entender porquê.
Do amarelo exibido a Acuña. O argentino estava à queima, com quatro cartões acumulados, e faltou-lhe o discernimento para evitar nova punição. Foi alvo dela já no tempo extra, quando estávamos só a dois minutos do apito final, e numa zona do terreno que não justificava qualquer falta. Conclusão: Marcel Keizer não poderá contar com ele no clássico de sábado. Uma baixa de relevo.
De Bruno Gaspar. É cada vez mais evidente que não tem categoria para ser titular da equipa do Sporting. Aos 5', o tondelense Xavier fez dele o que quis, driblando-o à vontade e cruzando para o golo inicial da equipa da casa. Desastrado a defender, inofensivo a atacar: na ala dele, os centros perigos partiram dos pés de Raphinha e Bruno Fernandes. Só.
De Gudelj. Uma nulidade no primeiro tempo, em que foi incapaz de dar dinâmicas de transição à equipa nem soube controlar a parcela defensiva do nosso meio-campo, desdobrando-se em passes lateralizados ou à retaguarda. Já não regressou do intervalo, o que não surpreendeu ninguém.
De Montero. A perder por 0-1 no final do primeiro tempo, Keizer procurou mexer na equipa. Deixou de fora Gudelj e apostou numa espécie de 4-2-4, com um meio-campo ocupado apenas por Wendel e Bruno Fernandes. Para substituir o sérvio, entrou o colombiano, que alguns gostariam de ter visto jogar logo de início. Percebe-se agora por que motivo isso não aconteceu: Montero passou praticamente ao lado do desafio. Sem ritmo competitivo, muito apático, deixando-se condicionar pelas marcações, nunca foi o avançado irreverente de que o Sporting necessitava. Interveio na confusa jogada do golo leonino, é certo, mas até nesse momento pareceu com falta de convicção.
Do enorme número de jogos fora de casa em que sofremos golos. Há vinte jornadas, correspondentes a um ano e três meses, que o Sporting deixa a bola entrar pelo menos uma vez nas suas redes em partidas disputadas longe de Alvalade. Há muito a corrigir nos processos defensivos - incluindo já nesta era Keizer: sofremos golos em dez dos onze desafios disputados com o técnico holandês no comando da equipa.
Da nossa incapacidade de superarmos obstáculos aparentemente menos difíceis. Reitero o que já escrevi várias vezes: os campeonatos perdem-se no confronto com equipa consideradas menores. Há três anos, uma derrota contra o modestíssimo União da Madeira contribuiu para nos pôr fora de combate. Na época passada, ainda com Jorge Jesus no comando técnico, saímos derrotados no campo do Estoril, que acabaria por baixar de divisão. A derrota de hoje é bem capaz de deixar um traço negativo semelhante a qualquer destes que mencionei.
Da queda do Sporting na classificação. Em 24 horas, descemos do segundo posto ao quarto lugar, na sequência desta derrota e das vitórias de Benfica e Braga. É um filme que já vimos muitas vezes, demasiadas vezes, ao longo destes quase 17 anos de penoso jejum.
Gostei
De Raphinha. Foi o melhor do Sporting. Excelente cruzamento, logo aos 8', servindo Bruno Fernandes, que falhou o golo. Aos 37', inverteram-se os papéis: Bruno serviu-o da ala direita e o brasileiro cabeceou com muita colocação para o ângulo superior da baliza, com o guarda-redes Cláudio Ramos a impedir-lhe in extremis o golo fazendo a defesa da noite.
De Renan. Sem culpa nos golos sofridos, evitou que a vantagem do Tondela se avolumasse ao protagonizar grandes defesas aos 35', 49' e 59'. Em síntese, merece elogio por ter evitado três golos. No final, já na fase do desespero, só lhe faltou abandonar a baliza e ir ele também pontapear lá para a frente.