Rescaldo do jogo de anteontem
Não gostei
Da péssima estreia de João Pereira como técnico principal na Liga. Correu tudo mal neste desafio em casa com o Santa Clara (0-1): o onze convocado, a dinâmica dos jogadores no terreno, a deficiente leitura do jogo, algumas substituições insólitas e a ausência de uma voz de comando junto ao banco. Nem o técnico principal, com olhar vago e errante, nem nenhum dos seus adjuntos transmitiam instruções para dentro do campo, rectificando as movimentações erradas, a ausência de linhas de passe, a manifesta incapacidade de acelerar o jogo, a pavorosa inconsistência defensiva. Nada a ver com os nossos onze desafios anteriores deste campeonato, designadamente o épico triunfo em Braga. Foi só a 10 de Novembro, mas parece ter sido há muito mais tempo.
Do golo sofrido. Em evidente inferioridade numérica, aos 32' o Santa Clara ganhou a bola no meio-campo e já não a largou até a ver no fundo das redes. Morten, irreconhecível, limitou-se a marcar com os olhos, vendo-a passar, conduzida por Matheus Pereira: logo se instalou o pânico na nossa defesa, com Debast e Diomande atropelando-se enquanto Matheus Reis se juntava à molhada abandonando a posição e rasgando uma avenida para a turma forasteira, com Vinicius a apontar o golo que lhes valeu três pontos. Erros primários, dignos de equipa amadora.
De Vladan. Entrou como titular, substituindo o engripado Israel, mas continuou a demonstrar falta de categoria para integrar o plantel leonino. Numa monumental fífia logo aos 7', entregando de bandeja a bola a Vinicius dentro da área, deu o primeiro sinal do nervosismo extremo, da desconcentração e da ansiedade que se apoderou da equipa. No golo, a principal culpa não foi dele, mas estava mal posicionado e ficou estático, vendo-a passar sem esboçar reacção.
De Edwards. Erro lapidar do técnico, ao incluí-lo no onze pelo segundo jogo consecutivo após a sua péssima actuação na goleada que havíamos sofrido cinco dias antes contra o Arsenal. João Pereira convenceu-se que pode fazer dele outro Pedro Gonçalves. Está profundamente equivocado: o inglês não demonstra cultura táctica nem energia anímica para substituir o melhor jogador português do plantel leonino, ausente por lesão. Extremamente inseguro, incapaz de construir um lance ofensivo consistente, até na recepção da bola parecia um aprendiz. Substituído ao intervalo após 45 minutos a mais em campo.
De Quenda. Outro jogador irreconhecível. O técnico atribuiu-lhe a missão de comandar as operações no nosso corredor direito, mas o benjamim da equipa foi incapaz de um único rasgo individual. Chegava a meio e passava para o lado, não penetrava nas linhas, não arriscava duelos, não cruzava, não gerou o menor incómodo ao Santa Clara. Parecia ausente. Já não veio do intervalo, sem surpresa para ninguém.
De Maxi Araújo. O uruguaio tarda a impor-se no Sporting. Desta vez jogou toda a segunda parte, substituindo Quenda mas como ala esquerdo, sem no entanto fazer melhor. Falhou passes, entregou mal, nem conseguiu marcar cantos de modo competente. Parecia que a bola lhe queimava os pés.
De chegar ao fim só com uma situação de golo. Desperdiçada aos 69' por Gyökeres após centro certeiro de Harder. E nem um remate enquadrado digno desse nome. Parecia mais o Sporting B - que João Pereira anteriormente treinou - do que o Sporting A.
Dos cantos e livres ineficazes. Marcámos muitos, sem levar perigo às redes adversárias. Com um momento patético: aos 64', um livre na meia-direita terminou numa absurda perda de bola, que nem chegou a entrar na área. Sinal inequívoco do desnorte colectivo. Com 41.681 espectadores incrédulos a assistir no estádio.
Da posse estéril. Chegámos ao fim com 74% da chamada "posse de bola" - não há estatística mais enganadora. Grande parte desse tempo foi preenchido por inócuos passes para o lado e para trás, em ritmo de caracol cansado.
Do árbitro. Cláudio Pereira enganou-se a dobrar, poupando o Santa Clara a dois penáltis. Primeiro por derrube a Geny, aos 16': Vinicius desinteressou-se da bola, só quis atingir o nosso ala. Depois, aos 45'+2, quando Safira se atira para o chão e ali usa o braço para desviar a bola rematada por Gyökeres. Erros imputáveis sobretudo a Helder Carvalho, o VAR de turno: nem se deu ao incómodo de alertar o árbitro.
Que tivéssemos perdido pela primeira vez em Alvalade com o Santa Clara. Aconteceu só agora, após nove confrontos com a turma açoriana disputados no nosso estádio. Desde 2020 que não perdíamos dois jogos seguidos em casa.
Dos recordes absolutos que ficaram por atingir. Desperdiçámos a oportunidade de conseguir o melhor início da história do clube no campeonato nacional de futebol e uma série inédita de 33 jogos sem perder também na Liga.
Gostei
De terminar esta jornada ainda no comando da Liga. Resta ver por quanto tempo.
De Geny. Muito castigado pelo jogo faltoso da turma açoriana, pareceu sempre o mais inconformado dos nossos. Melhor na ala direita: dali fez um grande centro que Gyökeres desperdiçou.
De Harder. Consolida-se a sensação de que merece ser titular neste Sporting agora tão oscilante. Voluntarioso, com vontade de sacudir o marasmo, falhou nos remates directos na área superpovoada, mas protagonizou dois cruzamentos muito bem medidos (69' e 79'), infelizmente desperdiçados.