Rejoice, benfas
Não sou dado à Schadenfreude (o gozo com a desgraça alheia) nem à inveja pelo sucesso do outro. Compreendo perfeitamente a alegria benfiquista. Eu sei que a coisa vem logo embrulhada naquela realidade paralela benfiquista ("o Benfica é anti-fascista", "o Benfica é o Povo", "o Benfica é um clube planetário", "o Benfica é Portugal", "o Benfica é o universo", sei lá, todos conhecemos a conversa...), mas a verdade é que a alegria deles é muito compreensível, talvez até por razões de que eles não se apercebam bem. É que, se repararmos com atenção, a vida deles não tem sido muito diferente da nossa (apesar de eles acharem que tem): desde que começou o século (e podíamos prolongar a coisa até mais uns anos atrás), ganhámos dois campeonatos e eles três; ganhámos três Taças de Portugal e eles uma; fomos a uma final na Europa, que perdemos, eles a duas, uma que perderam, a outra ainda não se sabe (e na mesma prova da 2ª divisão europeia) - faço-lhes o favor de não contar a Taça da Liga... Também eles tiveram os seus anos horríveis, em que, tal como nós o ano passado, se chegou a pensar na falência, para além de terem ficado duas épocas seguidas sem jogar na Europa. Ou seja, também eles não têm tido muitas alegrias. Este ano estão a encher o papinho. Estão legitimamente contentes. Tenho memórias suficientes da minha alegria em 2000 e em 2002 para compreender a deles. Sinceramente: divirtam-se, gozem. Pelo menos enquanto dura. Espero que dure pouco.