Rei morto, rei posto
Tal como aconteceu no ano passado, o Sporting apresentou o seu novo treinador no dia a seguir ao anúncio da saída do anterior. Rei morto, rei posto. Aguardei esse anúncio oficial para falar da saída de Leonardo Jardim (mais para o final do post perceber-se-á porquê).
Um ano após ter assumido a equipa, Leonardo Jardim parte com o registo de trabalho bem feito e como rosto da recuperação desportiva de um clube moribundo que acabara a época anterior num penoso 7º lugar. Este facto, associado a anos desastrosos, fez com que muitos sportinguistas, perante a sua saída, revelassem uma característica demasiado vista em ocasiões anteriores: o catastrofismo. A última vez que tal tinha acontecido fora precisamente por causa de um treinador. Na época passada, por esta altura, não faltava quem adivinhasse o caos no futuro do Sporting porque o clube abrira mão de Jesualdo Ferreira, treinador que, numa época catastrófica, nos tinha feito passar um pouco menos de vergonha. Não quero comparar a qualidade e o trabalho de Jardim com o de Jesualdo - a saída de Jardim justifica mil vezes mais as angústias e as preocupações dos sportinguistas do que a saída do professor medíocre - mas o mesmo complexo do homem providencial e da inevitabilidade do caos perante a mudança está lá.
Este estado de espírito até poderia fazer sentido num Sporting recente em que as boas opções eram mais excepção do que regra e em que as boas decisões pareciam tomadas por sorte. Mas agora é diferente. Porque se houve coisa que ficou provada na época que agora terminou para além da qualidade de Leonardo Jardim, foi a mudança na forma de funcionar do clube. Goste-se mais ou goste-se menos dos protagonistas, concorde-se ou não com os métodos, é inegável que o Sporting tem um rumo, uma estratégia e demonstra coerência no seu cumprimento.
Por isso, há um ano atrás, mais do que assumir a equipa do Sporting, Leonardo Jardim passou a integrar uma estrutura organizada e funcional. E, ao contrário dos sportinguistas catastrofistas, eu prefiro considerar que o sucesso desportivo da equipa, mais do que dever-se a um homem providencial, deveu-se à estrutura da qual o treinador fez parte, e na qual se destacam também Inácio e o Presidente. Leonardo Jardim foi mais uma peça dessa engrenagem que fez o Sporting funcionar como há muito não se via. Não quero com isto desvalorizar o papel de Jardim e considerá-lo uma peça fácil de substituir. Nada disso. Jardim tem valor e provou-o e não há muitos como ele. Apenas quero evidenciar que é muito mais fácil antever sucesso das mudanças feitas dentro de uma estrutura que funciona, do que num clube onde ela nem sequer existe.
Por isso, acredito que a substituição de uma peça tão importante como Jardim por um treinador competente e capaz será a garantia de que a engrenagem continuará em funcionamento. Marco Silva é esse treinador. Não o digo apenas porque não tenho outro remédio senão ter esta esperança, agora que se confirma que ele é o escolhido. Afirmo-o porque vejo nele há já algum tempo o próximo caso sério do futebol português. Mais até do que Jardim. É feeling, é fé, é o que quiserem. Mas é o que sinto e o que sinto levou-me a dois momentos de angústia durante a época que agora terminou: aquele em que ele foi dado como quase certo no fcporto e aquele em que ele foi dado como quase certo no benfica. A conclusão é a melhor de todas. Vai treinar o meu clube e fazer-me feliz.