Quinta vitória em cinco jogos fora de casa
Famalicão, 0 - Sporting, 3
Explosão de alegria de Quenda ao marcar pela primeira vez na Liga: o mais jovem Leão de sempre
Foto: Manuel Fernando Araújo / Lusa
Por motivos óbvios, ligados ao próprio desenvolvimento de outros factos dentro do Sporting, só hoje escrevo esta crónica. Seis dias depois do jogo, mas ainda a tempo - o próximo realiza-se logo à noite.
Era uma partida que muitos receavam.
Sobretudo os do costume: os que antecipam sempre o pior, os que se intitulam leões mas têm mentalidade de gatinhos, os que convivem muito mal com o hábito reiterado de ganhar, os que preferem carpir mágoas em torno do eterno fracasso, os que insistem em proclamar que "o sistema não nos deixa vencer". Mesmo tendo nós vencido metade dos campeonatos já disputados nesta década de tão boa memória.
Defrontámos, nesse dia 26, uma das raras equipas que têm mantido registo ascendente nos últimos anos do campeonato português. Ainda por cima em casa dela - precisamente o mesmo palco em que na jornada inaugural da Liga 2024/2025 o Benfica foi ao charco, perdendo 0-2.
Para azar dos profetas da desgraça, nenhuma negra previsão se cumpriu nesta partida em que o Sporting alinhou de cor-de-rosa como símbolo de combate ao cancro da mama, ainda um flagelo em Portugal.
Voltámos a vencer. Voltámos a convencer. Voltámos a ganhar por mais de dois golos de diferença, como temos feito sempre até agora. Dominámos do princípio ao fim. Israel só fez uma defesa ao minuto 66, passando quase todo o tempo como mero espectador.
Algo insólito, para os padrões a que a melhor equipa portuguesa nos habituou, foram os golos só terem surgido após o intervalo.
Mas vieram muito a tempo.
O primeiro, marcado pelo suspeito do costume. Viktor Gyökeres, aos 57', numa rotação perfeita dentro da área, servido de bandeja por Morita, incansável "carregador de piano", como se dizia na gíria futebolística da geração anterior. Naquele instante, adquirimos todos a certeza de que os três pontos já não nos fugiam.
Só faltava dilatar o resultado.
Assim aconteceu. Por Quenda, aos 63', em recarga após remate inicial de Trincão: justíssimo prémio para o mais recente talento gerado na fábrica de campeões da Academia de Alcochete. Melhor em campo nesta partida, estreou-se a marcar no campeonato. E estabeleceu novo recorde, tornando-se o mais jovem leão de sempre como artilheiro na prova máxima do futebol português. Superando Simão Sabrosa e Cristiano Ronaldo.
Ainda houve tempo e espaço para mais um golo fixando o resultado: 3-0. Autor: Gonçalo Inácio. Com primorosa assistência de Geny, outro jovem talento já de méritos firmados.
Em destaque pela negativa, a lesão de Nuno Santos. Ocorrida no final do longo tempo extra da primeira parte, numa tentativa de disputa de bola sem falta. Sofreu rotura do tendão rotuliano do joelho direito, Já foi operado, mas deve ficar incapacitado para o resto da época. Baixa de relevo no onze titular.
Vai certamente sofrer muito pelos seus companheiros, agora só com estatuto de observador enquanto recupera da lesão.
Mas está de certeza cheio de orgulho por ter contribuído para este Sporting que sonha com o bicampeonato há mais de 70 anos.
Vamos no bom caminho. Nove jornadas, nove vitórias, 30 golos marcados e só dois sofridos. Melhor defesa, melhor ataque, melhor goleador (Gyökeres). Permanecemos inexpugnáveis, tanto em casa como fora. Aliás até com melhor registo fora: cinco triunfos, com 20 golos marcados - média de quatro por partida.
O sonho vai tornar-se realidade. Todos acreditamos nisso.
Todos? Não. Os do costume só acreditam no desaire, no infortúnio, na desgraça, na derrota, na eterna conspiração do destino contra nós.
Nada de novo. Sempre foram assim.
Breve análise dos jogadores:
Israel (6) - Pouco mais foi do que espectador: o Famalicão atacou pouco e viu quase sempre as vias de acesso à nossa baliza cortadas. Fez a primeira defesa aos 66', sem problema.
Debast (7) - Seguro, em duas posições. Começou como central à direita, passando para o meio aos 71'. Inicia o terceiro golo com soberbo passe para Geny a queimar linhas.
Diomande (6) - Regressou de lesão sem acusar problemas motivados pela paragem. Travou vários duelos com Aranda, levando a melhor. Saiu aos 71' para evitar maior desgaste.
Gonçalo Inácio (7) - Após alguma oscilação, volta a evidenciar grande forma. Sobretudo no passe longo: aconteceu aos 29' e aos 77', servindo colegas lá na frente. Marcou o terceiro.
Quenda (8) - O mais jovem goleador de sempre no Sporting em jogos do campeonato, com 17 anos e cinco meses. Aconteceu aos 63'. Festejou - e todos festejámos com ele.
Morita (7) - Regressou a titular. E foi um dos obreiros deste triunfo com cheiro a goleada. Excelente assistência para o primeiro golo num movimento de ruptura.
Daniel Bragança (7) - Já lhe chamam o Pirlo português - e não parece exagerado. Pensa o jogo, temporiza, faz constante pressão sobre a bola. Iniciou construção do segundo golo.
Nuno Santos (6) - Aos 11', centrou com eficácia: foi golo. Mas anulado por deslocação do autor, Pedro Gonçalves. Bom corte aos 29'. Lesionou-se gravemente pouco antes do intervalo.
Trincão (7) - Mesmo quando não marca, como foi o caso, dá espectáculo com o seu virtuosismo técnico. Quase fez golo aos 45'+4. É dele o remate inicial que gerou a recarga no segundo.
Pedro Gonçalves (5) - Regressou de lesão seis jogos depois. Ainda com falhas na dinâmica a que nos habituou entre linhas. Marcou aos 11, mas estava adiantado. Durou uma hora.
Gyökeres (8) - Ele gosta é de jogar. E de marcar. Voltou a acontecer com um golaço aos 57', só ao alcance de grandes talentos. Prodígio de técnica, de intenção e de colocação.
Geny (7) - Fez toda a segunda parte, substituindo Nuno Santos. Dominou ala esquerda, depois a direita, impedindo avanços adversários. Foi dele o centro para o terceiro golo.
Morten (6) - Retomou a braçadeira de capitão ao entrar, no minuto 64', substituindo Pedro Gonçalves. Contribuiu para tornar ainda mais impermeável o nosso meio-campo.
Maxi Araújo (4) - Substituiu Quenda aos 71'. Continua sem encontrar ainda o lugar onde verdadeiramente mais rende. Mas vai-se esforçando por isso.
St. Juste (5) - Substituiu Diomande aos 71'. Parece em boa forma após longas semanas de lesão. Fez corte providencial.
Harder (-) - Entrou aos 82', com a saída de Morita. Já a equipa geria o resultado confortável. Ainda viria a marcar o terceiro, sem intervenção do jovem dinamarquês.