Quente & frio
Morita, dínamo da nossa equipa com exibição de luxo contra a Juventus em Turim
Foto: Marco Bertorello / AFP
Gostei muito da nossa grande exibição em Turim. Neutralizámos a Juventus na primeira parte, vulgarizando-a. A histórica equipa italiana - vencedora de duas Ligas dos Campeões e 36 vezes campeã do seu país - mal conseguiu sair da sua área, empurrada pelos nossos jogadores em constante posse de bola e domínio claro nos dois corredores, com Esgaio a deter Chiesa e Nuno Santos a pôr Cuadrado em sentido. No primeira metade do segundo tempo, até por opção táctica após o empate a zero que se mantinha ao intervalo, a partida esteve equilibrada, mas com o Sporting a manter mais posse, a construir mais oportunidades e a beneficiar de mais cantos. O jogo terminou, após terem-se escutado assobios das bancadas à turma liderada por Massimiliano Allegro, com a vecchia signora toda remetida à sua área, como equipa pequena, sob pressão intensa do onze leonino.
Gostei das exibições de vários jogadores. Com destaque muito especial para Morita, que parecia ocupar o campo inteiro. Sem Ugarte, ausente por castigo, o internacional japonês foi dono e senhor da zona intermédia, cortando numerosas iniciativas de construção atacante dos italianos, mas também se assumiu como médio criativo, aparecendo com frequência em posições mais adiantadas, e funcionou como pronto-socorro em missões defensivas: calou de vez aqueles que ainda suspiram por Matheus Nunes. Também gostei de Coates, irrepreensível como patrão da defesa (até no lance do golo que sofremos) e a mandar a equipa para a frente, dando ele próprio o exemplo. Nuno Santos esteve em grande nível, Pedro Gonçalves foi batalhador do princípio ao fim em duas posições diferentes e Arthur voltou a dar sinais de ser um elemento positivo ao saltar do banco. Sem esquecer a extrema mobilidade de Trincão, disponível como nunca para apoio à defesa, algo que ainda não lhe tínhamos visto.
Gostei pouco das excelentes oportunidades de golo que desperdiçámos na noite de anteontem. Umas por mero azar, algumas por imperícia no momento da decisão e outras tantas devido a grandes defesas dos dois guarda-redes da equipa anfitriã presentes neste desafio dos quartos-de-final da Liga Europa - primeiro o polaco Szczesny, depois o italiano Perin. Contei oito: Morita aos 19', Coates aos 29', Pedro Gonçalves aos 30', Nuno Santos aos 33', Pedro Gonçalves aos 47', Morita aos 89', Pedro Gonçalves e o reaparecido Bellerín em sequências do mesmo lance, aos 90'+1. As duas últimas, sobretudo, foram de bradar aos céus: disparos à queima-roupa a curtíssima distância da baliza e com o guarda-redes em desequilíbrio. Devemos a nós próprios não ter saído de Turim com um empate ou até com uma vitória folgada. Viemos de lá com uma derrota tangencial (1-0), mas mantêm-se em aberto as expectativas para irmos às meias-finais.
Não gostei da troca de Nuno Santos, que estava a ser um dos nossos melhores, pelo trapalhão e desastrado Matheus Reis. Incompreensível decisão de Rúben Amorim - que esteve muito bem em quase tudo o resto, começando pela leitura minuciosa da equipa adversária - assumida aos 62', quando o 0-0 inicial se mantinha. Nuno saiu visivelmente insatisfeito e compreende-se porquê. Tinha a noção clara de que estava a desempenhar muito bem a missão, municiando o ataque a partir da ala esquerda e tentando também ele o golo, com os italianos postos em sentido. A nossa equipa piorou com o brasileiro em campo.
Não gostei nada de Adán. Após a brilhante exibição em Londres, frente ao Arsenal, o guarda-redes volta a prejudicar a equipa - como já tinha feito nas duas partidas da Liga dos Campeões, contra o Marselha, no jogo inicial do campeonato, no estádio do Dragão, e na final da Taça da Liga, entre outros jogos. Agora com uma saída em falso, abandonando a baliza numa tentativa falhada de socar a bola sem estar sequer sob forte pressão adversária, permitindo o golo de Gatti (73'). Estes lapsos em momentos decisivos começam a ser demasiado frequentes, ao ponto de se tornar necessário prepararmos desde já um sucessor para o espanhol na baliza leonina.