Quente & frio
Gostei muito de ver o Sporting qualificar-se ontem, em Leiria, para a final da Taça da Liga, a disputar no próximo sábado contra o Benfica - com menos 24 horas de descanso para o nosso lado. Somos favoritos à conquista do troféu: nas últimas quatro épocas levámos três destas taças para o museu leonino. A maior responsabilidade, portanto, é nossa. Queremos sagrar-nos novamente campeões de Inverno.
Gostei dos primeiros 20 minutos da actuação do Sporting nesta partida contra o Santa Clara, que vencemos 2-1. Pressão alta, velocidade, passes de ruptura, bom desempenho de Matheus Reis e Nuno Santos na ala esquerda. Infelizmente, neste melhor período não construímos qualquer lance de verdadeiro perigo. E foi até a equipa açoriana a marcar primeiro, aos 32', de livre directo, aproveitando a deficiente formação da nossa barreira.
Gostei pouco que só tivéssemos chegado à vitória graças à "estrelinha" do nosso treinador, que ontem voltou a brilhar. Fixámos o resultado sem criar uma só oportunidade de golo. O primeiro, aos 40', entrou na baliza do Santa Clara devido a um caricato lapso do central Villanueva, que apareceu na área como se fosse ponta-de-lança leonino, metendo-a lá dentro na sequência de um cruzamento de Nuno Santos, sem nenhum jogador nosso a pressionar a bola. O segundo resultou de um penálti assinalado por António Nobre, após advertência do VAR, Nuno Almeida: lance que com outros árbitros talvez passasse em claro. Somado a isto, foi expulso Rui Costa, o jogador que fez a falta. Chamado a converter, Sarabia não falhou: a nossa passagem à final deve-se ao internacional espanhol, para mim o melhor em campo também pelos desequilíbrios que criou à frente em jogadas de bom recorte técnico. Além de ter sido ele a pressionar o adversário no lance de que resultou a grande penalidade.
Não gostei da falta de energia anímica dos nossos jogadores, que mesmo em superioridade numérica desde o minuto 65 (e houve oito minutos de tempo extra) quase se limitaram só a trocar a bola no meio-campo ofensivo, sem aproximação à baliza, proporcionando um espectáculo deplorável aos 7332 adeptos presentes no estádio leiriense. E fiquei perplexo por termos entrado em campo com dois médios defensivos, Palhinha e Ugarte. Nada digno de um plantel que é campeão nacional. Atitude de equipa pequena, resultadismo no seu pior.
Não gostei nada de um falhanço inacreditável de Paulinho em recarga à boca da baliza, a um metro da linha de golo e sem opositor pela frente: fez quase o impossível, atirando ao lado com o seu melhor pé. Parecia uma rábula humorística, para os "apanhados". Mas sem graça alguma. Desta vez fora do onze titular, o ex-avançado do Braga entrou aos 67' para substituir Pedro Gonçalves, que andou perdido no campo, sem nada ter feito digno de nota. Paulinho desperdiçou três oportunidades para o 3-1: aos 83' optou por um passe ao guarda-redes; aos 89' rematou sem eficácia, permitindo a defesa; no minuto seguinte, teve aquela perdida incrível. Não nos iludamos: temos um sério problema lá na frente. E a nossa consistência defensiva deixou de ser o que já foi, como comprova o golo sofrido de bola parada. Sem a tal "estrelinha" que costuma acompanhar o nosso técnico, não teríamos vingado ontem a derrota sofrida frente ao Santa Clara para o campeonato a 7 de Janeiro. Foi aí que a maré baixa começou.