Quente & frio
Gostei muito desta conquista da Taça da Liga - o nosso terceiro título de campeões de Inverno em quatro temporadas, primeiro conseguido sem recurso ao desempate por grandes penalidades. Uma vitória que culmina a excelente organização colectiva do futebol leonino, com reflexos dentro e fora do campo. E que é um triunfo, acima de tudo, do actual treinador. Rúben Amorim, em apenas 11 meses, conseguiu renovar por completo a equipa, incutindo-lhe dinâmica e força competitiva sem perder qualidade técnica. Apostou nos jovens, acreditou na formação, trouxe ambição para Alvalade. Não por acaso, lideramos o campeonato, onde somos o único emblema sem derrotas à 14.ª jornada. Não por acaso, deixámos para trás o FC Porto nas meias-finais desta competição que voltamos a ganhar após um ano de interregno, batendo o Braga na final disputada em Leiria. Uma final com exibição magnífica de Coates, pilar da nossa estrutura defensiva, verdadeiro patrão do onze, capaz de travar todo o fluxo ofensivo adversário. Neste jogo decisivo protagonizou 14 recuperações de bola e quatro intercepções. Um gigante. Sem favor, o melhor em campo.
Gostei do desempenho de Porro, autor do único golo da partida, que carimbou a conquista do título. Golo marcado aos 41', com um soberbo remate cruzado após magnífica assistência de Gonçalo Inácio, hoje alinhando como central descaído para a direita apesar de ser esquerdino: aquele livre convertido em passe vertical de 35 metros para o internacional sub-21 espanhol equivaleu a meio golo. Palhinha foi outro pilar desta conquista, incansável nas acções de cobertura do nosso meio-campo defensivo: é de uma falta indiscutível que sofreu, junto à linha divisória, que surge aquele livre. Lá atrás, Feddal complementou muito bem o trabalho de Coates. Adán - cada vez mais indiscutível na baliza - fez quatro grandes defesas (26', 69', 90'+4, 90'+6). Nuno Mendes revelou acerto e acutilância como ala esquerdo neste regresso à titularidade. Já na frente, Pedro Gonçalves fez magia numa jogada individual ao findar a primeira parte, com Matheus a rubricar a defesa impossível da noite. E Tiago Tomás, muito castigado por faltas que ficaram sem sanção (ao ponto de o árbitro ter marcado contra ele uma cotovelada que lhe abriu o sobrolho e o forçou a sair do campo por estar a sangrar), mostrou-se inexcedível nos duelos lá na frente. Estes foram os jogadores que mais se distinguiram numa final que infelizmente não contou com um relvado à altura e ficou manchada por uma actuação medíocre do árbitro, que tudo fez para estragar o espectáculo.
Gostei pouco novamente de João Mário. Numa partida em que se impunha muito esforço físico, muita luta tenaz pela posse de bola, muita capacidade de choque, o campeão europeu voltou a revelar défice competitivo: quando foi substituído por Matheus Nunes, aos 69', dava a sensação de que já saía demasiado tarde. Outro jogador que ficou aquém do que lhe era exigido foi Nuno Santos: actuou em toda a segunda parte, rendendo Jovane, mas transmitiu a ideia de que nunca chegou a entrar verdadeiramente na partida, talvez por inadaptação àquele lodaçal a que só por ironia alguém poderia chamar relvado. Finalmente, uma vez mais, nota nada positiva para Sporar, que aos 59' entrou para o lugar de Tiago Tomás. O esloveno não pressiona, não rouba a bola, não ganha uma dividida, não causa perigo. E, pior que tudo, continua sem marcar golos. Ontem, servido por Matheus Nunes num cruzamento atrasado em que só lhe bastaria empurrar a bola, aos 81', matou o lance com um passe ao guarda-redes. Para esquecer.
Não gostei que esta final tivesse sido disputada quase sempre sob chuva incessante e num terreno em condições impróprias para a prática desportiva. É difícil compreender como é que a Liga de Clubes escolhe para palco de uma final um ervado que vira charco, sem um sistema de drenagem eficaz: a bola não rolava, ficava presa nas covas que se iam cavando à medida que chovia, potenciando eventuais lesões e prejudicando de modo irreversível a qualidade do espectáculo, transformado num festival de chutões sem passes de ruptura nem dribles. Algo inaceitável num país que é detentor do título de campeão da Europa em futebol. Os jogadores não mereciam isto. E nós, espectadores, também não.
Não gostei nada da miserável actuação do árbitro Tiago Martins, nosso velho conhecido, que fez tudo para tirar brilho a esta final - como se já não bastasse aquela lama outrora chamada relva. Aos 24' este senhor exibiu um cartão amarelo a Jovane num lance em que a falta ocorre ao contrário: foi o nosso jogador a ser empurrado e pisado, passando a jogar condicionado até ao intervalo, quando Amorim decidiu prescindir dele. Deixou passar impunes duas agressões a Tiago Tomás - uma delas, com um murro na face, devia ter valido a expulsão imediata de Fransérgio. Mas o momento mais negro ocorreu aos 33': assumindo-se como protagonista da final, Martins expulsou em simultâneo o nosso treinador e o técnico braguista, Carlos Carvalhal, por palavras que trocaram entre eles e lhe terão ferido os delicadíssimos tímpanos - ambos foram brindados com vermelho directo. É a terceira expulsão de Amorim desde que está ao comando do Sporting - ele que nunca tinha visto um cartão desta cor em toda a sua carreira como jogador nem no anterior percurso enquanto técnico, o que diz quase tudo sobre a perseguição que nos move esta gente do apito. Mais esclarecedoras ainda são as estatísticas do jogo: o Sporting fez 22 faltas, que geraram sete amarelos e dois vermelhos; o Braga, com 24 faltas, ficou-se por dois amarelos e um vermelho. Números que dizem tudo sobre a chocante disparidade de critérios.