Quente & frio
Gostei muito da vitória do Sporting esta noite, no estádio municipal de Leiria: eliminámos o FC Porto na meia-final da Taça da Liga e disputaremos a final no próximo domingo contra Benfica ou Braga. Foi um triunfo sofrido, esforçado, mas que revelou o melhor da dinâmica leonina e da entreajuda de uma equipa que sabe funcionar em bloco, fazendo das fraquezas força quando é necessário. Mesmo a perder por 0-1, após uma rosca bem sucedida de Marega que traiu Adán aos 80', soubemos ir para cima deles e acreditar até ao fim. Tornando ainda mais saborosa a vitória, conseguida com dois extraordinários golos de Jovane em oito minutos: o primeiro aos 86', com um remate colocadíssimo, em arco, que sobrevoou toda a defesa adversária; o segundo aos 90'+4, coroando um rápido contra-ataque lançado por Coates e prosseguido com assistência de Pedro Gonçalves, a escassos segundos do apito final, fixando o resultado. Desta vez não houve necessidade de apurar o finalista por grandes penalidades. E ultrapássamos um mini-ciclo de dois jogos sem ganhar (derrota contra o Marítimo, na Madeira, para a Taça de Portugal e empate em casa com o Rio Ave para o campeonato).
Gostei das substituições feitas por Rúben Amorim, insatisfeito com o ritmo do nosso jogo - e sobretudo com a nossa incapacidade de ganhar bolas divididas a meio-campo. O treinador acertou nas alterações produzidas, confiando nos jogadores vindos do banco e no brilho da sua estrelinha da sorte, que voltou a funcionar. Matheus Nunes (que entrou aos 69', substituindo João Mário) trouxe adrenalina e velocidade à nossa zona intermédia, impondo-lhe dinâmica ofensiva. Jovane (que entrou aos 78', para o lugar de Tiago Tomás) trouxe golo, bisando contra o FCP neste clássico em que se estreia como goleador e se sagra como figura da partida. Daniel Bragança (que entrou aos 85', rendendo um fatigado Palhinha) veio reforçar a qualidade técnica no corredor central e Plata (que entrou aos 85', substituindo Antunes) causou desequilíbrios lá na frente, sacando um livre muito perigoso aos 90'+2. Também gostei da eficácia que revelámos: em três ocasiões de golo, aproveitámos duas. Quantas vezes podemos gabar-nos disto?
Gostei pouco de algumas exibições da nossa equipa. Sobretudo de João Mário, que voltou a pecar por falta de intensidade. O campeão europeu perdeu quase todos os duelos individuais: muito passivo, foi incapaz de dar verticalidade ao jogo leonino. Também Antunes, que desta vez alinhou a titular, ficou muito aquém daquilo que o Sporting necessita no corredor esquerdo: parece muito mais um lateral à moda antiga, especializado em anular o jogo adversário, do que o ala dinâmico exigido pelo sistema táctico de Amorim. Incompreensível a incapacidade que revelou em dominar bolas que lhe iam chegando ou de fazer um cruzamento bem medido.
Não gostei das ausências de quatro jogadores nossos por Covid-19: Neto, Nuno Mendes, Sporar e Tabata. E ainda gostei menos que dois deles - Nuno e o esloveno - tenham continuado sem ir a jogo mesmo após o laboratório de análises ter admitido um lapso nos testes efectuados e logo desmentidos por dois outros, que se revelaram negativos. Estranho lapso que merece ser investigado até à exaustão, até porque o director-geral da Unilabs é um fervoroso adepto portista. Incompreensível, a decisão tomada pela Direcção-Geral de Saúde de proibir quase à última hora aqueles dois jogadores de disputarem esta meia-final apesar de não haver qualquer indício de que estejam infectados. Cedendo aparentemente à chantagem do FC Porto, que fez birra ao ponto de ameaçar não entrar em campo. Como se fosse Dono Disto Tudo.
Não gostei nada da falta de fair play revelada por Sérgio Conceição, confirmando que continua sem saber perder. Em vez de dar os parabéns ao Sporting por ter vencido, o treinador campeão nacional foi à zona de entrevistas rápidas, logo após o fim da partida, dizer que «o adversário [Sporting] não fez nada para conseguir» este triunfo, que a seu ver terá «caído do céu». O técnico portista tinha motivos para sentir azia: esta derrota frente ao Sporting quebrou-lhe uma sucessão de 17 jogos sem perder. É um facto que jogou sem vários titulares: Marchesin, Otávio, Sérgio Oliveira, Luis Díaz e Taremi estiveram ausentes por castigo, por Covid ou por opção técnica. Mas também é verdade que três dos nossos ficaram igualmente de fora. E fica-lhe muito mal tamanha falta de desportivismo, imprópria de um verdadeiro líder.