Quente & frio
Gostei muito que a má exibição e o péssimo resultado do Sporting ontem, na Madeira, perante o Marítimo não tivessem contado para o campeonato. Na Liga 2020/2021 continuamos invictos, lideramos a classificação com mais quatro pontos do que o segundo, temos a defesa menos batida e o melhor marcador da prova. Perdemos pela primeira vez na actual temporada contra uma equipa portuguesa e esta derrota no Funchal por 0-2 afasta-nos da Taça de Portugal ainda nos oitavos-de-final da competição, é certo. Mas antes assim do que sairmos derrotados na final do Jamor contra Académica ou Aves, como nos aconteceu em 2012 e 2018. Ao menos poupamos energias para as 21 jornadas que faltam da prova que mais interessa.
Gostei da actuação de Palhinha, que voltou a ser o melhor Leão em campo. Batalhador incansável, foi o pêndulo do nosso meio-campo e o principal responsável pelo facto de o Marítimo não ter causado uma só jogada de perigo em toda a primeira parte. Grandes recuperações de bola aos 27', 38', 59' e 63'. Se o Sporting comanda a Liga, prova de regularidade por definição, a ele muito se deve. Até por isso lamentei aquela sua escorregadela no relvado em zona frontal que facilitou o golo inicial da equipa madeirense aos 68', marcado contra a corrente do jogo.
Gostei pouco que a prova de confiança do técnico nos jogadores menos utilizados, ao mudar seis dos onze que entraram em campo sexta-feira contra o Nacional, não tivesse sido correspondida. É verdade que tínhamos seis sub-23 entre esses titulares (Max, Plata, Nuno Mendes, Matheus Nunes, Tabata e Tiago Tomás), mas isso pouco atenua a frustração desta derrota, que poderia ter conhecido um desfecho bem diferente. Bastaria que aquela bola à barra de Tiago Tomás, a passe de Matheus, fosse uns centímetros mais abaixo para estarmos a ganhar logo ao minuto 7' em vez de termos ido para intervalo empatados a zero.
Não gostei da tardia decisão do treinador em mexer na equipa, o que só aconteceu quando já perdíamos, aos 70', com a troca de Tabata por Pedro Gonçalves. As entradas de João Mário (76'), Sporar (76'), Porro (76') e Coates (80') também já nada remendaram. Aliás a última, ocorrida após sofrermos o segundo, desorganizou por completo o nosso fio de jogo, que passou a desenrolar-se num inédito 3-3-4, com o experiente central uruguaio actuando em desespero como segundo ponta-de-lança. Infelizmente sem qualquer consequência prática.
Não gostei nada desta segunda eliminação frente ao Marítimo para a Taça de Portugal - algo que antes apenas sucedera na distante temporada 1989/1990. Mas este nosso afastamento prematuro da segunda prova mais relevante do calendário futebolístico nacional até pode facilitar o nosso desempenho no campeonato. Muito pior é termos como referência no ataque um ponta-de-lança como Sporar, que mantém péssima relação com o golo. Ontem falhou um a metro e meio da baliza, aos 90'+1, num lance em que Plata lhe serviu pela direita uma bola que só precisava de ser empurrada mas acabou a sobrevoar a barra por inépcia do esloveno. Parecia que o Bryan Ruiz de 2016 regressara ao Sporting. Precisamos com urgência de um avançado que não necessite de doze oportunidades para converter uma, como acontece neste caso. Dava-nos jeito alguém como Rodrigo Pinho, que marcou logo à primeira pelo Marítimo, é o segundo goleador do campeonato e está prestes a rumar ao Benfica.