Quente & frio
Gostei muito da vitória desta noite, em Alvalade, por 2-1, contra o Lask Linz - equipa que segue em segundo lugar no campeonato austríaco. Uma vitória imerecida, conseguida apenas com muita sorte, num desafio que o adversário dominou em larga medida, dispôs claramente de mais oportunidades de golo e foi para o intervalo a vencer por 1-0. O Sporting só esteve por cima durante cerca de um quarto de hora na segunta parte, mas aproveitou da melhor maneira esse período, marcando os dois golos - por Luiz Phellype, de cabeça, na sequência de um canto apontado por Bruno Fernandes aos 58', e pelo capitão leonino, numa boa desmarcação com assistência do ponta-de-lança brasileiro, aos 63'. Muito melhor o resultado neste confronto da Liga Europa do que a exibição. Há noites assim.
Gostei das mudanças operadas pela equipa técnica ao intervalo, fazendo entrar desde logo Vietto para o lugar de Neto no recomeço do jogo e trocando Wendel por Eduardo aos 57'. A equipa tornou-se mais compacta, ganhou dinâmica e deixou de ser tão permeável no meio-campo, onde os austríacos fizeram o que quiseram, ponto e dispondo durante toda o primeiro tempo. Também gostei da exibição de Renan (de longe o melhor em campo: aos 15' já tinha evitado dois golos e salvou os três pontos com uma defesa soberba aos 78') e, a espaços, de Acuña (poupado a um cartão vermelho pelo árbitro e substituído aos 73' por Borja, para evitar males maiores), Vietto e Luiz Phellype. Bruno Fernandes, apesar do golo, teve uma das suas exibições mais irregulares no Sporting, falhando imensos passes, tal como Mathieu. Sinais evidentes de que a condição anímica da equipa está longe de ser a melhor.
Gostei pouco que o onze titular não correspondesse durante quase uma hora às aspirações dos mais de 30 mil adeptos que acorremos a Alvalade nesta noite amena de Outono, consentindo 22 remates adversários no total da partida enquanto nós só fazíamos dez. Na primeira parte, com o Sporting a ser sucessivamente ultrapassado pelos austríacos, chegou a pairar a sensação de que sairíamos goleados do nosso estádio tal era a diferença exibicional entre as equipas que se movimentavam no relvado e tão evidente se tornou a incapacidade de vários jogadores vestidos de verde e branco para darem a volta ao resultado.
Não gostei do nosso meio-campo, que esteve muito longe de constituir um tampão para as acções ofensivas de Lask Linz e foi quase sempre incapaz de construir lances ofensivos com cabeça, tronco e membros. Wendel revelou-se uma nulidade: perdeu diversas vezes a bola em confrontos individuais e quando a tinha em seu perder e mostrava-se incapaz de a colocar em zonas adiantadas do terreno, preferindo devolvê-la às linhas mais recuadas. Idrissa, sem o menor sentido posicional, limitava-se a marcar com os olhos ou a abusar das faltas por carência de técnica. Miguel Luís, que começou como médio-ala e terminou como lateral direito, foi vítima desta indefinição posicional, concedendo demasiada liberdade de movimentos aos adversários. E a linha de três defesas concebida por Silas para o início do jogo nunca funcionou: Coates, Mathieu e Neto, presos de movimentos e sem rotinas neste dispositivo táctico, estiveram várias vezes à beira do naufrágio. O golo austríaco, marcado aos 16', resulta de um desses momentos de notório descalabro defensivo. E vão dez jogos a sofrer golos, em onze que o Sporting já disputou nesta temporada 2019/2020. Preocupante.
Não gostei nada de ouvir os frequentes assobios dos adeptos à equipa, sobretudo a Renan, durante o jogo: considero este comportamento uma inqualificável estupidez. Fez-me igualmente muita impressão ver o nosso treinador quieto e calado no banco, evitando assim ser multado pela UEFA: Silas, que não detém o diploma de nível 4, viu-se forçado a delegar o comando técnico no adjunto Emanuel Ferro, que vinha treinando os jogadores sub-23 em substituição de Leonel Pontes - eis algo que nada facilita a comunicação entre o onze leonino e a equipa técnica. Também não gostei nada de saber que o nosso grande Rui Jordão - inesquecível bicampeão pelo Sporting na década de 80 - enfrenta problemas de saúde. Mereceu inteiramente a ovação que se escutou no estádio, ao minuto 11 deste jogo, em grata memória do número que ele usava quando pôs todo o seu talento futebolístico ao serviço deste clube que nunca o esquecerá.