Quente & frio
Gostei muito da aposta de Leonel Pontes em jovens jogadores, derrubando assim o veto que lhes tinha sido imposto por Marcel Keizer, o treinador holandês que veio para o Sporting aureolado com a fama de "valorizar a formação". Nunca a valorizou, pelo contrário. Só agora o seu sucessor interino, nesta sua estreia internacional ao comando técnico do Sporting, começa a repor o rumo que jamais devia ter sido abandonado. Se a aposta inicial em Miguel Luís como médio-ala neste jogo em Eindhoven não resultou, já as entradas de Jovane (um regresso que se saúda), aos 64', rendendo Vietto, e sobretudo a estreia absoluta de Pedro Mendes, goleador da equipa sub-23, foram muito bem sucedidas. O luso-caboverdiano abriu espaços na muralha defensiva holandesa e quase marcou com um remate forte e bem colocado, aos 77'. Mendes teve uma aparição em grande: substituiu Miguel Luís aos 80' e bastou-lhe minuto e meio para marcar um golão, servido por Bolasie. O nosso segundo: grande recepção da bola, impecável rotação e formidável disparo, indefensável.
Gostei do quarto-de-hora inicial da nossa equipa, compacta e bem organizada, fechando os corredores à transição adversária e travando a mobilidade ofensiva do PSV. E gostei mais ainda da nossa meia hora final, em que jogámos com arrojo e destemor em casa alheia, sem complexos de qualquer espécie. Podíamos ter virado o resultado neste período em quatro ocasiões: aos 72', num grande remate em arco de Bruno Fernandes que quase traiu o guarda-redes; aos 75', com um tiro do nosso capitão para defesa incompleta de Zoet; logo a seguir, numa recarga desperdiçada por Miguel Luís; e aos 77, no disparo de Jovane. Este domínio da nossa equipa, que teve como corolário o golo de Pedro Mendes, reflectiu-se também na posse de bola: 53% para o Sporting. Destaque também para o bom desempenho de Bruno Fernandes, que marcou o nosso primeiro golo aos 38', de penálti, a castigar falta sobre Bolasie: foi ele sempre o mais inconformado, com mais fome de baliza. O melhor Leão em campo, uma vez mais.
Gostei pouco que ao sétimo jogo oficial da temporada, por força das circunstâncias, o técnico recém-chegado tivesse de construir uma equipa com remendos. Foi inédita, esta formação leonina que jogou na Holanda. Coates e Neto nunca tinham feito parceria no eixo da defesa, Miguel Luís e Jovane não alinhavam no onze principal desda a época anterior, Rosier e Bolasie jogaram só pela segunda vez de verde e branco, Pedro Mendes foi um caloiro bem-sucedido, Rafael Camacho teve direito a mais uns minutinhos, rendendo Wendel à beira do fim. A nossa pré-temporada de Julho desta vez transferiu-se para a segunda quinzena de Setembro. Nada mais insólito.
Não gostei da nossa acção defensiva, que voltou a pecar pela mediocridade, com momentos calamitosos: não admira que já tenhamos 15 golos sofridos em sete jogos nesta temporada 2019/2020. Neto e Coates estiveram muito aquém daquilo que se exige numa equipa que sonha com troféus e títulos: ambos dividem culpas no primeiro golo, sofrido aos 19' em lance muito rápido; Coates fez de ponta-de-lança do PSV com um autogolo aos 25'; Neto falha a marcação ao artilheiro do terceiro golo holandês, a partir dum canto (47'). Mathieu, que foi poupado já a pensar no difícil confronto com o Famalicão na próxima segunda-feira, fez muita falta. Mais à frente, Wendel e Vietto tiveram actuações frouxas e apagadas: falta-lhes intensidade e poderio físico - características que se notam mais nestes confrontos com equipas estrangeiras. Também não gostei do resultado, claro: perdemos por 2-3, entrando com o pé esquerdo na Liga Europa.
Não gostei nada que a SAD leonina, por indesculpável incúria, tenha perdido a oportunidade de inscrever Pedro Mendes como jogador da Liga portuguesa. Um erro monumental, agravado pelo facto de não termos no plantel nenhum ponta-de-lança alternativo a Luiz Phellype, agora lesionado. Como este PSV-Sporting bem demonstrou, o melhor marcador da Liga Revelação (sete golos em seis jogos) far-nos-ia agora imenso jeito no campeonato nacional. «Irá Leonel Pontes contar com ele?», questionei aqui há quatro dias. Resposta afirmativa e bem-sucedida, como vimos. Infelizmente, não poderá fazê-lo nas provas da Liga NOS - aquelas em que faria mais falta.