Quente & frio
Gostei muito de ver o Sporting entronizado como campeão de Inverno e o nosso grande capitão, Nani, erguer a Taça da Liga no estádio do Braga, mostrando aos adeptos - ali, em todo o País e nas comunidades portuguesas no estrangeiro - o primeiro troféu conquistado na era Varandas e na era Keizer, o primeiro troféu do futebol português em 2019. Um troféu alcançado em circunstâncias duríssimas (perante um forte FC Porto que dispôs de mais um dia de descanso) na sequência da vitoriosa meia-final frente ao Braga. Depois de afastarmos a equipa braguista, hoje batemo-nos com brio e galhardia perante um valoroso adversário, que vendeu cara a derrota e só foi derrubado nas grandes penalidades finais. Pela segunda vez na mesma semana, a grande força mental da nossa equipa veio à superfície: fomos superiores na hora do tira-teimas. E revalidámos o título: duas Taças da Liga em anos consecutivos.
Gostei da emoção que marcou do princípio ao fim esta final. Um verdadeiro clássico, muito disputado no terreno, com dois fortes dispositivos tácticos enfrentados em campo e um inegável espírito colectivo que animou o onze leonino, apontado à partida como menos favorito por quase todos os especialistas do comentário futebolístico cá do burgo. No momento da verdade, contrariando estas pitonisas, fomos superiores. Bas Dost - homem do jogo - converteu com muita competência dois penáltis com poucos minutos de intervalo: um ao cair do pano, que nos transportou para a decisão após o apito final, e o outro a abrir a ronda das grandes penalidades que ditaram o vencedor do troféu. Renan, que defendera três penáltis na meia-final contra o Braga, bloqueou hoje mais uma, convertendo-se numa figura imprescindível do onze titular leonino. Bruno Fernandes e Nani, dois dos jogadores mais categorizados do actual futebol português, cumpriram também a sua obrigação na marca dos onze metros. Um prémio justo para eles - e também para os milhares de adeptos que compareceram na Pedreira em incentivo permanente aos profissionais deste nosso grande clube.
Gostei pouco de ver, por estes dias, que alguns adeptos e simpatizantes do Sporting continuam a chamar "taça da carica" ou "Taça Lucílio" a esta competição, que nos dois últimos anos teve a nossa marca vitoriosa e nos merece novamente o título de campeões de Inverno, consagrado pela própria Liga de Clubes. Não faz o menor sentido, na era do vídeo-árbitro e numa altura em que a Taça da Liga passou enfim a mobilizar as atenções dos desportistas de todo o País, haver entre nós quem se apresse a desvalorizar este troféu.
Não gostei da excessiva superioridade territorial que concedemos ao FC Porto durante 25 minutos da segunda parte em que permanecemos demasiado acantonados no nosso meio-campo defensivo. Foi nessa fase da partida que sofremos o golo solitário, aos 79', em consequência da forte pressão portista. Mas soubemos reagir muito bem à adversidade. E o treinador reagiu da melhor forma, não baixando os braços: mandou sair o médio defensivo, Gudelj, trocando-o pelo extremo Diaby. Seis minutos depois, a ousadia do técnico foi recompensada: o jovem maliano deu profundidade ao nosso ataque, acabando por ser derrubado em falta na grande área azul e branca: por indicação do vídeo-árbitro, João Pinheiro apontou para a marca de penálti. Era o momento decisivo da final, que nos abria o caminho do troféu com a grande penalidade convertida por Bas Dost aos 90'+2. Também não gostei da substituição forçada de André Pinto, por lesão, aos 53': o defesa, que estava a ser um dos nossos melhores em campo, lesionou-se num choque com Marega e acabou por ceder o lugar a Petrovic, que funcionou até ao fim como central improvisado, dando boa conta do recado.
Não gostei nada da falta de desportivismo da equipa do FC Porto - incluindo aqui o técnico Sérgio Conceição - que abandonou o estádio antes da entrega do troféu ao Sporting, sem retribuir a "guarda de honra" que pouco antes os nossos jogadores haviam dedicado no relvado aos adversários, finalistas vencidos. Precisamente ao contrário do que o Sporting fez em Maio, no Jamor, ao perder a Taça de Portugal para o Aves: a desilusão era imensa, mas nenhum dos nossos então arredou pé. Como diria Nani, noutro contexto, quem não sabe perder também não sabe ganhar.