Quente & frio
Gostei muito que o Sporting tivesse assegurado esta noite a qualificação para os quartos-de-final da Liga Europa. Num jogo sofrido, desgastante, no deplorável relvado do estádio do Viktoria Plzen. A equipa checa, que partiu para esta segunda mão com uma desvantagem de dois golos, equilibrou a eliminatória com um par de disparos certeiros - o primeiro logo aos 6', o segundo aos 65', deixando o onze leonino intranquilo. Mas conseguimos aguentar o 0-2 até ao fim do tempo regulamentar, forçando o prolongamento. E só nestes 30 minutos suplementares fomos superiores ao campeão checo. No conjunto da eliminatória merecemos a passagem à fase seguinte. Onde somos o único representante português nas competições organizadas pela UEFA.
Gostei da capacidade de resistência dos nossos jogadores num ambiente adverso e num terreno quase impraticável, com o desgaste da viagem até à quarta maior cidade da República Checa somado às muitas partidas já efectuadas em diversas frentes nesta temporada. Não viraram a cara à luta e tiveram talento suficiente para superar a eliminatória. Destaco os desempenhos de Rui Patrício (o melhor do Sporting), novamente decisivo ao impedir o golo checo numa excepcional defesa aos 107', Battaglia, que nos valeu a presença nos quartos de final com o golo marcado aos 105'+2, e Gelson Martins, sempre o elemento mais acutilante do nosso ataque, capaz de criar bons lances para a finalização de Bas Dost, como aconteceu aos 19' e aos 109' - infelizmente sem aproveitamento por parte do holandês, que hoje foi o rei dos perdulários.
Gostei pouco das inovações de Jorge Jesus para esta partida. Desde logo a colocação de Battaglia como lateral direito, quando estavam no banco Piccini e Ristovski, jogadores rotinados nesta posição. Decisão absurda do técnico, que pareceu apostar na marcha-atrás: só aos 67' o argentino avançou para médio posicional, rendendo o inútil Petrovic, com a entrada de Piccini para o quarteto defensivo. Esta simples mudança operou um duplo benefício na equipa, até aí demasiado passiva: tornou a ala direita mais operacional e o nosso corredor central mais compacto, pois com Petrovic parecíamos jogar só com dez e com Battaglia fora da posição em que mais rende jogávamos com nove e meio. Resta saber por que motivo demorou Jesus tanto tempo a corrigir o erro. E também porque insiste em colocar Bryan Ruiz no onze, apesar da total falta de dinâmica do costarriquenho.
Não gostei das ausências de Coates e William Carvalho, impedidos de participar neste jogo por acumulação de cartões amarelos: ficou bem evidente a falta que fazem ao onze leonino. Também não gostei da meia hora suplementar de fadiga física da nossa equipa, que volta a jogar já no domingo, num difícil desafio frente ao Rio Ave para o campeonato. Vários jogadores terminaram esta partida na República Checa com notórios sinais de exaustão - com destaque para Mathieu, Fábio Coentrão e Bruno Fernandes. Não admira: o Sporting tem sido, de longe, a equipa com calendário mais desgastante das três que aspiram à conquista do título de campeão nacional, com 48 jogos disputados desde o início da época e 20 consecutivos já em 2018.
Não gostei nada de perder este jogo por 1-2, em grande parte devido ao conjunto de falhas inacreditáveis dos nossos jogadores à beira da baliza, em nova roleta de golos desperdiçados. Desde logo um penálti muito mal convertido por Bas Dost, aos 90': o holandês rematou frouxo e à figura do guarda-redes, com Bruno Fernandes a falhar a recarga, ao tentar um chapéu com a baliza aberta. Foram as perdas mais clamorosas, mas houve outras. Bryan Ruiz - para não fugir à regra - conseguiu atirar para fora com o seu melhor pé quando se encontrava isolado, aos 39'; aos 54', muito bem servido por Dost, rematou ao lado; e aos 98', de novo isolado, permitiu a defesa, desperdiçando mais um golo quase certo. Por sua vez Acuña, hoje um dos piores em campo, conseguiu falhar duas vezes aos 49', em recargas sucessivas: primeiro acertou no poste, depois mandou-a para a bancada. Um autêntico festival de golos falhados no batatal de Plzen.