Quente & frio
Gostei muito da vitória do Sporting esta noite, em Alvalade: derrotámos por 2-0 o Viktoria Plzen, campeão em título e líder do campeonato da República Checa. Um jogo em que fomos claramente superiores do princípio ao fim: mais posse de bola, melhor organização, maior movimentação colectiva, mais oportunidades de golo (aliás os checos não tiveram nenhuma). Cumprimos a nossa missão tanto no plano ofensivo, vencendo por dois golos de diferença, como no plano defensivo, mantendo a baliza leonina invicta. Um resultado que nos abre boas expectativas para a segunda mão, a disputar em Plzen, quarta maior cidade checa. Temos grandes possibilidades de nos qualificarmos para os quartos-de-final da Liga Europa. Todos acreditamos nisso, seguramente.
Gostei de ver Montero recuperado como goleador da equipa neste seu regresso a Alvalade após dois anos em que jogou bem longe, primeiro na China e depois no Canadá. Foi ele o homem do jogo ao marcar os dois golos do Sporting - em momentos cruciais da partida. O primeiro aos 45'+1, coroando um excelente lance pelo corredor esquerdo protagonizado por Fábio Coentrão, Bryan Ruiz, novamente Coentrão (com uma assistência acrobática) e finalmente o colombiano, que rematou sem vacilar com o seu pior pé - o direito. O segundo aos 49', dando a melhor sequência a uma oportuna recuperação de bola concretizada por Bruno Fernandes, que o isolou com um soberbo passe: Montero, revelando perfeito domínio técnico, recebeu, driblou e atirou em cheio para o fundo das redes. Estava feito o resultado que anima e encoraja os adeptos leoninos. Com quatro avançados afastados por lesão (Bas Dost, Doumbia, Podence e Rafael Leão), o Sporting só pode congratular-se pela subida de forma do colombiano, que foi derrubado em falta na grande área aos 37': o árbitro bielorrusso fez vista grossa, não assinalando o penálti. Erro inequívoco, que as imagens documentam: era mesmo grande penalidade.
Gostei pouco da falta de intensidade que se apoderou da equipa quando faltavam cerca de 20 minutos para o desafio terminar. A vitória parecia consolidada, a réplica dos checos era frouxa e os nossos jogadores começaram a gerir a condição física, limitando-se a trocar a bola no meio-campo. Com isto permitiram o avanço no terreno dos adversários, que se aproximaram com perigo da nossa baliza e acreditaram que podiam marcar pelo menos um golo. Parte dos 26 mil espectadores que se encontravam em Alvalade assobiaram a equipa, que só então pareceu despertar daquele torpor. Funcionou como um tónico. No final não faltaram aplausos: Coentrão, substituído aos 85' por Rúben Ribeiro, recebeu a ovação da noite. Saiu esgotado, mas com o dever cumprido. Como Bruno Fernandes, William, Bryan, Mathieu, Gelson e o marcador de serviço. Todos com nota alta.
Não gostei que tivéssemos desperdiçado a oportunidade de marcar um terceiro golo, que nos deixaria muito mais descansados quanto ao desfecho desta eliminatória. Não foi por falta de tentativas, diga-se: foi por um misto de inabilidade, azar e grande exibição do guarda-redes checo, Hruska. Gelson, muito bem assistido por Acuña, podia ter marcado logo aos 7'. O extremo argentino atirou um petardo à barra, iam decorridos 22'. Bruno Fernandes tentou a meia-distância sem sucesso aos 39', 43' e 45'. Bryan Ruiz falhou por pouco o golo aos 65'. E Mathieu, numa impressionante corrida aos 90'+1, isolado por Rúben Ribeiro, desperdiçou talvez a melhor ocasião para o terceiro, rematando colocado mas permitindo a intervenção do guarda-redes. Do mal o menos: tem havido jogos em que tentamos ainda mais concretizando bastante menos.
Não gostei nada de saber que Coates e William Carvalho ficarão fora da segunda mão, a disputar na próxima semana, por acumulação de cartões. O uruguaio recebeu o amarelo aos 67', por pontapear sem necessidade uma bola após a marcação de uma falta. O internacional português ficou amarelado cinco minutos depois, na sequência de uma má abordagem a uma bola dividida no meio-campo, muito longe de alguma zona perigosa. Não havia necessidade, em qualquer dos casos. Ambos vão fazer-nos falta. Com André Pinto lesionado, Jorge Jesus terá de improvisar um central para o desafio em Plzen: poderá ser Palhinha, enquanto Battaglia ocupará provavelmente a posição de William. Felizmente poderemos contar com quatro outros jogadores que também estavam à queima e esta noite escaparam incólumes ao quinto amarelo: Acuña, Bruno Fernandes, Coentrão e Gelson Martins.