Quem pode, pode
Em Fevereiro de 2013 a Senadora Elizabeth Warren, numa audição à agência federal de fiscalização da banca, quebrou a regra consuetudinária de não entalar em público os interrogados, perguntando-lhes quando fora a última vez que levaram um banco de Wall Street a tribunal. Nenhuma claro, e esse era o grande não-dito que convinha iludir.
A semana passada prescreveu o processo a um ex-banqueiro português em que este haveria de pagar uma coima de 1 milhão de euros ao Banco de Portugal.
A celeuma levantada pela arbitragem, digamos assim, de Vasco Santos em Setúbal é minúscula, e aparentemente alheia, em relação a isto, mas é curioso como obedece à mesma lei da natureza: quem pode, pode.
À impunidade é indiferente a indignição dos lesados. O transigente, o rapace e o vigarista só hesitam em praticar as suas acções se a probabilidade de serem prejudicados for mais elevada que os benefícios. Para este efeito, tanto faz que seja à descarada ou dissimuladamente, até porque a insolência é um dos traços mais evidentes do escroque. Rasgar as vestes, cobrir a cabeça de cinzas, desabafa as angústias dos prejudicados, mas em nada altera esta ordem de coisas.
Alguém pagaria um bilhete para a ópera se soubesse que a récita iria ser cantada em playback? Então burro sou eu que continuo a pagar todos os anos para ir à bola, mesmo sabendo que o espectáculo é uma fraude, que nem se dá ao trabalho de disfarçar.