Quem não viu, tivesse visto
Com apertos de mão e sem máscara anti-vírus, à moda antiga, lá nos reunimos uma vez mais, à mesa do "nosso" Café Império, em novo convívio descontraído e acervejado.
Havia que pôr a conversa em dia. E não faltava assunto. Desde logo a contratação do treinador mais caro da história do futebol português, que permitiu ao Sporting de Braga, que equipa de vermelho, receber dez milhões em notas verdes - cinco já e outros cinco até Setembro, afiambrando ainda 155 mil euros em juros, à taxa de 6%.
Foram escutadas palavras como "fezada", "loucura", "roleta". E até o sinistro vocábulo "lampião".
A necessidade de serem alterados os estatutos leoninos foi tema que mereceu amigável discussão - incluindo a possível introdução do princípio "um sócio, um voto". Não custa perceber que nada propiciará tanto debate interno do que este tema.
Outro, ainda mais premente, relaciona-se com as perspectivas em torno do sucesso do mandato de Frederico Varandas. Aqui existiu maior consenso à volta da mesa, onde se reuniram treze convivas nada supersticiosos: parecem cada vez mais reduzidas as hipóteses de o antigo director clínico do Sporting ser lembrado no futuro como um presidente que deixou um legado positivo, tanto no clube como na SAD.
Este é um dilema que há-de ser sentido, nos dias que vão correndo, pelo actual presidente da Mesa da Assembleia Geral: Rogério Alves terá de estar cada vez mais atento ao que pensam realmente os sócios, pois não quererá ficar associado à história leonina por maus motivos. Ainda que isso implique a convocação de novas eleições para os órgãos sociais do clube antes do ano regulamentar previsto para o efeito, que é 2022.
Entre os que já declararam a vontade de defrontarem Frederico Varandas em próxima refrega eleitoral figura o nosso colega e amigo Pedro Azevedo, que no seu blogue pessoal deixou isso bem claro. Demarcando-se do silêncio tacticista que vem imperando nas hostes dos candidatos derrotados por Varandas em 2018 - designadamente João Benedito, José Maria Ricciardi, Fernando Tavares Pereira e Rui Jorge Rego, que por estes dias parecem ter feito voto de clausura mediática.
O Pedro Azevedo foi um dos oradores da noite no Império. Mas todos falámos, cada qual na sua vez, para dizermos o que sentimos neste momento atribulado (mais um) da vida do enorme clube que nos serve de traço de união. Por esta ordem alfabética: Edmundo Gonçalves, Eduardo Hilário, Francisco Almeida Leite, João Távora, José da Xã, José Navarro de Andrade, José Teixeira, Luís Lisboa, Ricardo Roque, Rui Cerdeira Branco e Tiago Cabral. Além do escriba desta acta.
Quiseram servir-nos croquetes de entrada, vá lá saber-se porquê. Mas rejeitámos a sugestão, optando em alternativa por umas saborosas chamuças, regadas a imperial loura ou morena. O bife desta vez não gerou unanimidade à mesa: quem optou em alternativa por omelete de camarão ou polvo salteado com batata doce assada não se queixou.
O ponto alto chegou antes dos cafés e descafeinados. Com a entrada em cena de uma sobremesa líquida em dose dupla, proporcionada pela nossa estimada "correspondente algarvia" que da Serra de Monchique nos fez chegar duas apreciadas garrafas - uma contendo aguardente de medronho, outra a original melosa, que adiciona mel e limão ao medronho. (Nem sabes o que perdeste, Pedro Oliveira.)
E o repasto prolongou-se, madrugada de hoje já bem entrada, em novo round de amena discussão no passeio fronteiro ao restaurante. Outra saudável tradição que gostamos de cumprir - também marca registada destes joviais jantares de blogue. Que hão-de repetir-se uma vez e outra, para alegria partilhada de quem comparece e talvez para alguma inveja de quem não vai. Como diria o grande António Oliveira, «quem viu, viu; quem não viu, tivesse visto».