Quem beneficia com isto?
Na véspera do início da Liga 2020/2021, surgiu a decisão da Direcção-Geral da Saúde: o Sporting-Gil Vicente, previsto para amanhã, terá de ser adiado. Devido à proliferação de infecções com Covid-19 no emblema de Barcelos, onde já existem 19 casos diagnosticados.
A DGS é a entidade soberana para o efeito, algo que ninguém discute. Neste caso, alicerçada num parecer da Administração Regional da Saúde do Norte, por sua vez baseado na indicação expressa da Autoridade de Saúde do Agrupamento Barcelos/Esposende.
Mas é precisamente aqui que começam a suscitar-se dúvidas. Mais que legítimas.
Problema? O carácter aleatório destas decisões, que passam a ser confiadas a delegações locais e regionais da autoridade sanitária sem definição prévia dos critérios objectivos para este efeito, traçados a nível nacional.
A partir de que grau de contágio fica o jogo protelado sine die? Um, dois, quatro, seis, dez infecções? Ninguém esclarece. E houve imenso tempo para traçar directrizes claras, concisas e compreensíveis.
Se uma equipa tiver quatro ou cinco jogadores comprovadamente com Covid-19 e outra não tiver nenhum, esta equipa é penalizada, vendo o jogo adiado, comprometendo toda a sua programação desportiva? E para quando, sabendo que o calendário futebolístico 2020/2021 é mais apertado que nunca? Convém não esquecer que esta época começa cerca de cinco semanas depois do prazo habitual e terminará mais cedo do que é costume.
Há uma semana, o jogo Feirense-Chaves, da Liga 2, foi adiado, mesmo em cima do apito inicial, só porque dois jogadores da equipa visitante haviam sido diagnosticados com Covid-19 e estavam já de quarentena, não tendo cumprido a deslocação a Santa Maria da Feira. Esta decisão foi assumida com base no relatório de um clínico, pertencente ao Agrupamento dos Centros de Saúde do Alto Tâmega e Barroso.
Faz algum sentido? Claro que não.
A nova data para o Sporting-Gil Vicente tornou-se uma incógnita. O que é grave, desde logo, pelo precedente que inaugura. E pelo cenário caótico que propicia.
A partir de agora a Liga - organizadora da principal competição de futebol - fica dependente de pareceres avulsos das delegações locais ou regionais da DGS. Nisto, ao menos, a directora-geral da Saúde foi clara: «A decisão será sempre da autoridade de saúde local.»
Mas quem é essa autoridade? Um só médico, como aconteceu no abortado Feirense-Chaves?
O campeonato começa hoje num enquadramento sanitário errático e flutuante, antevendo-se decisões eventualmente tomadas à la carte, ao sabor dos caprichos de um delegado de saúde que até pode ter manifestas inclinações clubísticas.
Quem poderá beneficiar com isto?
Eis um caso que convém acompanhar com a máxima atenção: é o que faremos no És a Nossa Fé. Pela minha parte, fica a promessa.