Que plantel vamos ter?
Na época passada por esta altura deixei aqui bem claro que o plantel apresentado aos sócios me parecia curto e desequilibrado para as necessidades da época. Depois da troca de Matheus Nunes por Sotiris ainda mais curto e desequilibrado ficou, e todo o esforço de Rúben Amorim para obviar a situação não chegou para conseguir o desejado sucesso.
Mas, além dos jogadores em si, havia uma nova ideia de modelo de jogo, esboçada contra a Roma no estádio do Algarve, a do ataque móvel, que até funcionou bem nas competições europeias mas que fracassou internamente.
Esta época começou também no mesmo estádio, agora contra o Genk, com um esboço de ideia de jogo bem diferente. Um futebol mais directo, de "tracção à frente", com um ponta de lança possante apoiado de perto por um avançado móvel, alimentados por dois alas ofensivos, dois organizadores de jogo e um passador à distância tipo "quaterback" do futebol americano que torna bem menos previsível o futebol da equipa. Uma ideia muito à medida de Gyokeres, Trincão e Inácio, em que Pote e Morita ainda estão a procurar o melhor encaixe.
Por outro lado começa também com uma estranha "purga" de jogadores contratados ou emprestados com intenção de compra na última época, como Arthur, Rochinha, Sotiris, Fatawu, Tanlongo e Alcantar, e de alguma desvalorização do trio proveniente do FC Porto: Gonçalo Esteves, Diogo Abreu e Marco Cruz. Estranha porque para além de terem sido avaliados e seleccionados por Amorim, são quase todos jogadores de inegável valor que poderiam integrar o plantel deste ano. Se calhar a mudança de ideia de jogo teve alguma coisa a ver com isso.
A contrapartida é uma aposta ainda mais forte na formação, com alguns jovens de Alcochete a darem tudo para aproveitar a oportunidade, como foi visível neste último jogo em Chermiti e Afonso Moreira, e mesmo em Quaresma e Jovane. Afonso demonstrou que, depois de Chermiti, é um valor seguro, não para competir com Nuno Santos ou Matheus Nunes a fazer todo o corredor, mas para actuar no terço ofensivo quando o 3-4-3 se transformar num 3-3-4 pela sua entrada a substituir o ala e o adiantamento de Gonçalo Inácio.
Não existe grande equipa sem grande espinha dorsal. No 3-4-3 a espinha dorsal é constituida pelo guarda-redes, o defesa do meio, o médio defensivo, médio ofensivo e o ponta de lança. Neste momento não se percebe bem se o 3-4-3 é para manter, e quem assumirá esses lugares, se Coates ou Inácio serão os centrais do meio, se o médio defensivo será ou não Morita, e o ofensivo Pedro Gonçalves. Mas fica claro que não existe nenhum Palhinha nem nenhum Matheus Nunes no plantel para as posições de médio - jogadores altos, fortes, rotativos, resistentes, que durem toda uma época em bom nível. O único com esse perfil é Essugo, que ainda tem enorme dificuldade de gerir a sua intensidade e escapar a amarelos que muito o condicionam para o resto do jogo.
Fixada a espinha dorsal, tudo o resto se encaixa. Pode haver maior rotatividade noutras posições de forma a garantir frescura física sem prejuízo da qualidade de jogo. Mas com jogadores pequeninos, macios e tecnicistas nessas posições centrais, sem conseguir impor o físico nas bolas divididas e manter a intensidade nos 90 minutos de jogo, tudo se torna mais difícil.
Não é preciso ser um Conceição qualquer para perceber esse ponto fraco, lançar contra-ataques pelo corredor central solicitando no momento certo em profundidade um atacante ou cavando faltas perigosas e tentando a sorte nas bolas paradas.
Estamos em plena pré-época, o fecho do mercado vem ainda longe, a primeira prioridade em termos de reforços está realizada, importa agora fazer os acertos restantes.
Sem pressas excessivas, importa contratar soluções e não novos problemas como parecia ser o caso do defesa direito do Sevilha.
Na terça-feira temos mais uma jornada dupla no Algarve. Podemos então confirmar ou não as ideias que aqui deixo para debate.
Todos os pontos de vista contrários são bem vindos. Comentários idiotas dos "trolls" do costume seguem directamente para o lixo.
SL