Que os títulos não se meçam aos palmos
Se todas as equipas do Sporting devem ter o apoio de sócios e adeptos leoninos, raras são as que o merecem tanto quanto a equipa feminina de futebol. Dois anos passados desde a criação, aproveitando um ‘wild card’ da Federação, as jogadoras ‘limitaram-se’ a conquistar dois campeonatos, duas taças e uma supertaça. Nunca perderam contra equipas portuguesas e caso mantenham tão bonita tradição neste domingo juntarão uma segunda supertaça à sala dos troféus.
É sempre um gosto assistir às arrancadas e cruzamentos de Ana Borges, ao faro para o golo de Diana Silva, às enormes defesas de Patrícia Morais e Inês Pereira (juntar as duas melhores guarda-redes portuguesas é um luxo) ou ao perfeito entendimento entre as Pinto (Fátima e Tatiana) do meio-campo, complementado pela norte-americana Sharon Wojcik. Isto sem esquecer a segurança de Rita Fontemanha, Carole Costa e Joana Marchão, a experiência de Patrícia Gouveia e Solange Carvalhas e o potencial das muitas jovens que evoluem nos escalões de formação. E, ‘last but not the least’, a avançada Ana Capeta, habitual arma secreta que gela o sangue das adversárias e dos seus adeptos desde o instante que se levanta do banco para dar início ao aquecimento.
Até hoje bastou para suplantar as ‘guerreiras’ do Sporting de Braga. E os primeiros indícios apontavam para que nesta temporada fosse mais fácil, na medida em que a recém-criada equipa feminina do Benfica foi buscar reforços ao Minho, de onde também saiu, mas para emigrar, a talentosa Andreia Norton. Só que António Salvador não se deu por vencido e quis provar que os títulos se podem medir aos palmos. E recrutou para o meio-campo e para o ataque três norte-americanas com mais de 180 centímetros, uma avançada nigeriana e uma avançada camaronesa de 1,72 metros e uma defesa canadiana três centímetros mais alta. Juntam-se à defesa brasileira Jana e às portuguesas Diana Gomes e Vanessa Marques, todas acima dos 1,70 metros.
Do lado do Sporting, que reúne quase todas as melhores futebolistas portuguesas que jogam em Portugal, apenas a guarda-redes Patrícia Morais e quatro jogadoras de campo (as centrais Carole Costa e Nevena Damjanovic, e as avançadas Carolina Mendes e Ana Capeta) atingem ou ultrapassam (por pouco) essa fasquia. Nevena e Carolina são os dois reforços desta temporada, que voltou a começar com o falhanço na qualificação para a fase seguinte da Liga dos Campeões, mas as leoas continuam a entregar a zona defensiva do meio-campo à norte-americana Carlyn Baldwin, uma jovem esforçada na tentativa de superar as evidentes limitações técnicas e físicas de quem aparece nas estatísticas oficiais com apenas 1,59 metros.
Se a vantagem no futebol jogado com a bola na relva deverá manter-se, dificilmente poderão as leoas impedir a superioridade aérea das rivais que encontram hoje em Viseu, tendo que ultrapassar essa desvantagem para saírem do Estádio do Fontelo com mais uma supertaça. Acredito que a equipa voltará a dar alegrias aos sportinguistas, mas para que seja possível disputar a Liga dos Campeões e antecipar o embate com o Benfica - e a sua armada de jogadoras brasileiras - na próxima época, conviria chamar mais algumas das melhores portuguesas que estão em equipas estrangeiras (Cláudia Neto, titular absoluta da Selecção, até é sportinguista...) e reforçar posições-chave (meio-campo defensivo e ponta de lança) com talentos internacionais que aliem qualidade técnica à eficácia nas bolas paradas natural em quem mais longe desenrola a fita métrica.
Espero que os novos dirigentes do Sporting, a quem desejo a primeira conquista do mandato já nesta tarde, tenham em conta que um pequeno investimento é necessário para manter uma hegemonia que enche os adeptos de alegria e é um excelente exemplo para as adeptas mais jovens do clube.