Prognósticos só no fim do caminho do Rúben
O Sporting de Rúben Amorim é muito mais que um caso de sucesso no mundo estrito do futebol. Para lá dos resultados em campo, sublinhados outra vez na sexta-feira, há todo um modo de as coisas serem feitas que estamos a testemunhar e que devemos notar para poder aprender.
Gostamos muito de falar em lideranças porque somos uma cultura que gosta de homens providenciais e isso tem sido apodado também ao jovem treinador do Sporting. Ele é um bom líder. Também gostamos de histórias bonitas de fracos que vencem fortes e por isso se repete que o Sporting tem menos dinheiro e jogadores menos valiosos. Por último, na nossa cultura e enquadramento mental coletivo, parece-nos importante sublinhar a aplaudir a cultura do trabalho e da transparência, ainda que possa não ser essa a nossa doutrina.
É como se se o repetíssemos muitas vezes e assim também nós e os que nos rodeiam passassem a fazer mais e a falar menos, cromados pela tal dimensão de humildade e franqueza hábil que Amorim faz transparecer de cada vez que é obrigado a falar pelos regulamentos (as conferências de imprensa antes dos jogos e as declarações a seguir são obrigatórias). Não digo que este triunvirato de qualidade não pese, mas não explica tudo.
O que temos visto ser menos referido - talvez porque nos seja estranho - é a alquimia perfeita que Amorim faz entre competência, determinação e confiança no seu processo. Para todos os efeitos, o sucesso do Sporting de Amorim até à data, onde a percentagem de vitórias é até superior à dos tempos de glória de Mourinho no Porto, não é por causa do carisma, por ele ser ungido ou porque fala bem. É a prova provada de que a competência, a determinação e a fidelidade a um modelo e uma ideia compensam. Mesmo quando corre mal, verificamos que Amorim não transige e por isso Plata ou Joelson não têm lugar nem nos suplentes. Por isso, não quer craques em fim de carreira a preço de saldo. Por isso, escrevo eu, nem sequer quereria quase todos os jogadores na nossa selecção (talvez apenas Bernardo, Cancelo e Félix).
O que os sportinguistas devem aspirar, acima de qualquer outra coisa, é que fique qualquer coisa desta fórmula tão simples como difícil de atingir, no dia em que Amorim saia do clube.