Preocupante escassez de recursos humanos
Sporting, 1 - Wolverhampton, 1
Se esta equipa do Sporting fosse uma empresa, diríamos estar perante uma preocupante escassez de recursos humanos. Este início de época será muito desgastante: face à paragem de seis semanas em Novembro e Dezembro, devido ao Campeonato do Mundo no Catar, as competições europeias vão desenrolar-se com vários jogos em prazo curto. O que pode causar estragos suplementares no plantel. Já vamos no terceiro, ainda as competições não começaram: Daniel Bragança, Ugarte e Adán lesionaram-se em fase de preparação. Ou por mero azar ou devido à implacável intensidade dos treinos.
Foi, portanto, um conjunto já desfalcado que entrou ontem em cena no Estádio do Algarve para defrontar a equipa "mais portuguesa de Inglaterra", o Wolverhampton, com cinco compatriotas no seu onze inicial - só menos um do que a nossa. Dois deles, Moutinho e Podence, foram assobiadíssimos do princípio ao fim. O problema da "cultura do assobio" agora instalada nos adeptos leoninos é que em vários casos acaba por constituir um incentivo suplementar para os visados. Aconteceu com Podence, o mais vaiado e também o melhor em campo.
Seria mais importante, creio, aplaudirmos os nossos do que xingarmos os outros. Porque o assobio também pode soar a prémio.
Mas aplaudirmos quem, entre os sportinguistas?
Não seguramente Matheus Nunes, que voltou a fazer um jogo muito abaixo das suas possibilidades. Nem Gonçalo Inácio, que logo aos 13' cometeu um penálti óbvio sobre Pedro Neto em nova demonstração de que devia ser central à esquerda e não improvisado à direita, como acontece devido à prolongada lesão do reforço St. Juste, ainda por estrear. Nem o inoperante Paulinho, com mais tendência para cair na área do que para rematar à baliza.
Ontem o ex-Braga não fez um só remate, mas caiu duas vezes: à segunda justificava-se mesmo a marcação de grande penalidade, convertida aos 44' por Pedro Gonçalves. A quem só por isto elejo o melhor dos nossos. Tenho pena que não tivesse actuado como na meia-hora final frente ao Sevilha, recuado uns metros, como médio ofensivo - posição que parece potenciar-lhe as qualidades.
Morita também voltou a justificar nota positiva, mas trabalha muito desacompanhado e não vai chegar para as encomendas sem ajustes urgentes no corredor central. O japonês está a integrar-se mais depressa na equipa do que Trincão, que continua a parecer carta fora do baralho como ala direito, sempre com um toque a mais na bola.
Dos restantes reforços, destaque óbvio para Franco Israel, agora titular da baliza leonina devido à inesperada lesão de Adán: será ele, tudo o indica, a integrar o nosso onze contra Braga (fora), Rio Ave (casa) e FC Porto (fora) nas primeiras três jornadas da Liga 2022/2023, prestes a iniciar-se. Ter o compatriota Coates à sua frente deve transmitir-lhe segurança: o jovem guardião merece nota positiva. No penálti convertido por Rúben Neves, nada a fazer.
O ganês Fatawu, de apenas 18 anos, voltou a parecer um prometedor reforço nos escassos minutos que esteve em campo neste último desafio da pré-temporada. Dando mais nas vistas do que Rochinha, outro recém-contratado.
Esta foi a pré-época dos empates - exceptuando a tangencial vitória contra a Roma, de José Mourinho, por 3-2. Reforçando a pertinência dos reiterados alertas aqui feitos sobre a necessidade de termos outro avançado, de preferência mais vocacionado para o golo do que Paulinho.
Por outro lado, é evidente que nem Palhinha nem Sarabia têm por enquanto sucessores do mesmo nível. O facto de Rúben Amorim não ter ontem utilizado Tabata parece confirmar que o brasileiro - criativo, desequilibrador e com golo - poderá mesmo estar de abalada. O que acentua a preocupação para o futuro próximo num início de temporada muito exigente não apenas no plano táctico mas também no plano físico.
Disputar a Liga dos Campeões é excelente por proporcionar grande receita financeira, mas tem este ónus suplementar: há que saber gerir com pinças o grupo de trabalho em várias frentes.
Breve análise dos jogadores:
Israel - Oriundo dos juniores da Juventus, sem jogos de equipa principal no currículo. Sofreu penálti (15'), saiu bem (19') e saiu mal (84') da baliza. O titular agora é ele.
Gonçalo Inácio - Pressionado por Pedro Neto, o esquerdino que actua no lado direito da defesa cometeu penálti (13'). Ficou algo marcado por este lance.
Coates - Pêndulo habitual da nossa defesa, que tem sofrido mais golos do que estávamos habituados - em todos os jogos da pré-temporada.
Matheus Reis - Outra adaptação: o lateral esquerdo continua a jogar como central. Momento alto: impediu um golo certo, na linha de baliza (84'). Evitando a derrota.
Porro - Parece andar com os nervos à flor da pele. Não foi fácil enfrentar Podence. Grande remate aos 56', para defesa difícil de José Sá. Substituído aos 78'.
Morita - Tornou-se titular muito depressa devido à ausência de Ugarte por lesão. Bom a transportar e a colocar a bola. Parece com elevado índice de confiança.
Matheus Nunes - Combinou pouco e mal com o japonês no meio-campo. Perdeu a bola (6' e 29') e falhou alguns passes. Incapaz de mostrar o seu melhor até agora.
Nuno Santos - Tem vontade de ser titular absoluto na ala esquerda. Oscilou nos cruzamentos, mas é dele o centro que gera o nosso penálti. Tentou remate, sem êxito.
Trincão - Melhor momento: um remate ao ângulo que saiu a rasar do poste direito da equipa inglesa (73'). Quase sempre desinspirado. Saiu aos 83'.
Pedro Gonçalves - Mais apagado do que no jogo anterior. Mas marcou o penálti - sexto golo dele na pré-época. Excelente passe para Trincão (73'). Saiu aos 83'.
Paulinho - Teatralizou um lance, caindo na grande área, aos 33'. Voltou a cair aos 43': desta vez foi penálti. Saiu com amarelo mas sem remates, aos 68'.
Edwards - Substituiu Paulinho, mas sem fazer a diferença, numa fase em que a equipa já parecia resignada ao empate. Falhou passe aos 77'.
Esgaio - Rendeu Porro aos 78' talvez para poupar o espanhol a algum desgaste físico e emocional. Cumpriu no essencial, sem rasgo nem erros.
Rochinha - Substituiu Pedro Gonçalves aos 83'. Está ainda em fase de adaptação à equipa, o que salta à vista.
Fatawu - Entrou aos 83' para o lugar de Trincão, voltando a agitar o jogo. Não no remate, pois continua com falta de pontaria, mas na pressão alta e na disputa da bola.