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És a nossa Fé!

Pós-Tondela

Little Nemo.jpg

 

Tocou o despertador e caí da cama, coisas de Tondela. Sei que passo do 80 para o 8 (vá lá, do 40 para o 8, que também não estava assim tão entusiasmado). Há tempos aqui mesmo anunciei que ia comer (e comi) o meu gorro para me penitenciar da desconfiança que tivera quanto a este projecto-Varandas. Pois gostei da abordagem de Keizer, futebol de ataque, golos, descompressão dos jogadores - e tão necessária era, depois do stress provocado pela tacticose de Jesus e do tétrico 2018 - e, talvez acima de tudo, da confiança nos miúdos, nos ex-júniores como gosto de continuar a dizer.

Agora acordei do sonho. Algumas fragilidades, como o jogo do Nacional, onde me foi óbvio que "o meio-campo do Sporting parece os júniores do Alfeizerão, saboroso será mas é puro pão-de-ló.", e a derrota em Guimarães, mas ali sabe-se que é sempre difícil passar, tinham-me despertado, mas em registo de sonâmbula visita à casa-de-banho, quais pressões da próstata envelhecida de que (por enquanto) ouço falar. Mas agora não, caí mesmo da cama. Fim do sono, fim do sonho. Duche, e "bom dia", um café. E um bagacito, ali na tasca da esquina, pretexto para trocar umas palavritas em português.

Para dizer o quê, aos patrícios ali ao balcão? O que repeti antes: que neste campeonato os velhos "lobos do campo", sabidos e rijos, como Vidigal ou Castro por exemplo, trituram o futebol "romântico" de Keizer. Portugal tem, porventura, a melhor escola de treinadores do mundo. Ou, pelo menos, ombreia com a italiana. E se nunca fomos terra de futebol aberto muito menos o somos agora, no predomínio da táctica, no seguir dos grandes mestres desta geração, como Mourinho, Fernando Santos, Jorge Jesus, bem seguidos pelos actuais expoentes, Fonseca, Jardim, Pereira, e mais alguns, todos já muito galardoados. 

Aqui no blog muitos percebem bem mais de futebol do que eu, e bem melhor escrevem. E vão aos jogos, o que lhes dá uma muito melhor percepção do que a mera tele-visão permite. Por isso pouco posso adiantar que outros não digam, e bem mais ajuizadamente: o guarda-redes é elástico mas não é um grande guarda-redes (e não é grande); os laterais-direitos são fracos (um vindo no mercado de Inverno, do qual é sempre de desconfiar, o outro das contratações de última hora de BdC, para mostrar trabalho). Coates é um Polga, minha tese lacrimejante, ainda que haja (até aqui) quem muito dele goste. Jefferson é melhor do que o que o pintam mas desgosta-se no Sporting. Acuña é deficiente intelectual - já agora, e sem alijar a perfídia da ralé claqueira e as responsabilidades advindas da degenerência catastrófica de Bdc, conviria lembrar que a desgraça de Alcochete foi provocada por este jogador. Veja-se que Ribéry insultou na sua página pessoal os que o criticaram por comer um bife pelo preço de mil euros e o Bayern foi implacável. Acuña mandou os gajos das claques para as putas que os pariram e o clube aceitou. Isto mostra a dimensão do profissionalismo de um clube. Enfim, e por aí adiante, poderia continuar a resmungar sobre os jogadores, uns melhores, outros piores. Mas a questão não é essa, o plantel é o que é, constituído da difícil forma como o foi. Mas dá para ver uma coisa: a defesa é fraca. E talvez por isso um tal de Peseiro tenha trancado o dizimado meio-campo, para desespero dos intelectuais da bola. Deixando a equipa relativamente perto da liderança do campeonato, ainda assim.

O problema é o treinador. Se dúvidas houvesse sobre isso (e eu tinha-as, em formato de esperança) ontem dissiparam-se. Maus jogos sempre acontecem, derrotas inesperadas em campos de equipas menos sonantes também. Por exemplo, o tal de Peseiro perdeu em Portimão, uma coisa inadmissível (como o sabe Rui Vitória). Por causa da táctica, ineficaz, disseram (até aqui). Ora o Sporting ontem jogou meio jogo contra 10. Ainda assim a perder o meio-campo. Nos últimos vinte minutos a jogar em "chuveirinho", coisa que eu não via há anos. Onde é que ainda há "chuveirinho"? Em Inglaterra nem na II Divisão. Talvez na Escócia, talvez na Escócia, nas Irlandas. E em Tondela, onde se joga em chuveirinho para o jogo de cabeça e o porte físico de Diaby e Montero. Pungente. Não o mau jogo, que acontece (já vos disse que Peseiro perdeu em Portimonense? Uma coisa inadmissível ...). Mas a inexistência de programas de jogo ("planos"). 

Para a semana muito provavelmente o Porto ganhará em Alvalade. Não é uma equipa excepcional. Mas está consistente e eficaz. Se isso acontecer e o Moreirense ganhar o Sporting acabará a primeira volta a 3 pontos do quinto lugar. E com o Guimarães de Luís Castro, um muito bom treinador, logo a seguir. Depois?, com os jogadores menos crentes neste novo modelo, com os adeptos mais nervosos e menos presentes, com a imprensa mais caústica? Moreirense (o tal neo-rival) em casa, Vitória de Setúbal (de Lito Vidigal, um dos "velhos lobos dos campos") fora, Benfica (com Lage já em cruzeiro ou com o tal grande treinador que o vieirismo estrebuchante promete) em casa, Feirense fora (outro daqueles jogos rasgadinhos, quais Tondelas), Braga em casa, um Braga em que o Abel Ferreira não virá com sorrisos, por amarelos que sejam. 

E nisso julgo saber que actualmente o quinto lugar não dará acesso automático às competições europeias - depende da final da Taça. E este descalabro bem possível, que não está no horizonte porque está muito mais perto, levanta essa questão. Pois de derrota destas em derrota destas é bem possível que isso venha a acontecer. E no estado financeiro e moral em que o clube está não se apurar a equipa para as competições europeias, ainda por cima no âmbito de um projecto excêntrico, por mais bonito e esperançoso que seja, do presidente, isso terá efeitos. Pesadíssimos. Por outras palavras? Eleições.

Em suma: Keizer canta bem, declama bem, é galã, dança bem. Mas isto é um filme de acção, porra. Mudem já, pois daqui a uns breves meses será já tarde demais.

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