Políticas
É indispensável ler este texto d'O Artista do Dia. Nele se mostra que o Sporting foi a equipa mais indisciplinada da Liga 2018-19: foi a oitava equipa mais faltosa, a que mais cartões amarelos teve e a segunda que mais cartões vermelhos teve. Neste último caso, a par com o Benfica, é verdade, mas com consequências muito diversas, dependendo da altura do jogo em que as expulsões ocorreram: o Benfica jogou apenas 25 minutos em inferioridade numérica durante todo o campeonato, o Sporting jogou quase quatro vezes mais, 95 minutos, mais do que o tempo de um jogo inteiro. Este ano, a coisa chegou a estes extremos, mas há vários anos que vem sendo mais ou menos assim. E parece-me que é deliberado. Num campenonato em que grande parte da táctica dos pequenos contra os grandes é a sarrafada, o Sporting só pode aparecer em conjunto com eles por um esforço propositado para que assim seja.
Eu não acredito em teorias da conspiração, mas acredito em políticas. Não acho que exista uma cabala contra o Sporting, mas acho que existe uma política deliberada para criar um ou dois superclubes portugueses, como já existem por essa Europa fora, excepto em Inglaterra ( entre os cinco grandes): o Barcelona domina o campeonato espanhol (com o Real Madrid muito próximo), o PSG domina o francês, a Juventus o italiano, o Bayern o alemão (praticamente sem oposição em nenhum destes casos). Cá em Portugal, parece-me que há uma política de promoção do Benfica a este estatuto (com o Porto muito próximo). Mas para isso é preciso afastar o incómodo Sporting e pô-lo a competir numa espécie de segunda linha, onde estaria também o Braga (outro dos grandes beneficiados dos últimos tempos). Esta política não nasce propriamente da maldade de ninguém, mas dos planos cada vez mais insistentes para criar uma superliga europeia, eventualmente fechada, i.e. sempre com os mesmos clubes. É verdade que alguns desses planos não incluem muitas vezes sequer qualquer clube português. Mas haverá aqui uma tentativa de não perder o barco e dizer que há pelo menos dois que merecem lá estar (um exemplo desta conversa pode ser visto aqui). Não se julgue que isto é assim tão exótico: já existe pelo menos no basquetebol, com a Euroliga, onde jogam sempre os mesmos e entram depois uns quantos numa pequena janela de oportunidade; estes acabam invariavelmente de regresso ao seu nível secundário, por incapacidade para mobilizarem meios que os ponham a competir ao nível mais elevado.
O anterior presidente do Sporting tinha demasiados defeitos para ser presidente do Sporting, mas tinha, pelo menos, uma ideia certa, expressa na célebre "teoria das nádegas". Eu acho que essa teoria é verdadeira e que o desafio mais decisivo do Sporting nos próximos anos será resistir a estas pressões para a sua secundarização. Só espero que a direcção do Sporting tenha identificado o problema e concebido uma boa estratégia para o vencer.