Podia ter feito um courato mas a bancada faltaria sempre e era aí que queria estar
O que eu gostava de ter estado em Alvalade, ontem, está na ordem do inqualificável, imensurável. Era lá que mais queria ter estado, isso posso afirmá-lo. A vocês abraçar-me e convosco saltar no primeiro e mais ainda no segundo golo, e no fim gritar alto Sporting, quero ver-te campeão. O punho cerrado à Porro festejando leonino nova vitória. Importantíssima vitória. Construída por tantos dos nossos que estiveram melhor que bem. Na defesa, no meio campo, no ataque. No banco. E saindo dele.
Matheus e Sporar entraram a meio da partida e mataram-na para nossa glória. O jogo já tombava para o nosso lado, diga-se. O Braga já caía ao tapete. Ao chão atirado pelo virtuosismo e pelas infidáveis ganas do enorme Porro, que, porra!, joga que se farta. O Braga estava já atordoado pelos inúmeros e consecutivos choques frontais contra a nossa muralha defensiva, primeiro chocando com os nossos três centrais que parece que jogam juntos há anos; e a seguir batendo de frente na intransponível parede Adán. O Braga que não encontrou antídoto para a inteligência, técnica e visão de jogo do craque João Mário.
Temos a melhor equipa do campeonato e o jogo de ontem confirma-o. Atesta que o rumo vitorioso da equipa leonina (merecedora de todos os elogios!) não é um acaso. A consistência do Sporting é notável. Invaravelmente entra em campo para ganhar e ganha, sofre sabendo reagir nos momentos em que o adversário está por cima do jogo, e, sobretudo, age melhor que os adversários para, isso mesmo, ganhar.
Dá gozo também o pós-jogo. Acompanhar a entrevista curta, as reacções dos nossos jogadores, até a cassete do Emanuel Ferro soa bem, sendo o aperitivo ideal à cereja no topo do bolo que é sempre a conferência de imprensa do líder Amorim. Inteligente, inspirador, confiável, fiável, responsável, humilde, dando o protagonismo "aos rapazes" e grande líder, ontem, outra vez. Disse ele: "Marcámos e agarrámos-nos uns ao outros. O Matheus entrou para segurar o lado direito e mexeu com o jogo, Sporar entrou bem, todos os que entraram mudaram o jogo. Fomos eficazes, felizes mas fizemos por merecer. Estamos preparados para tudo e vencemos justamente."
Em boa hora Frederico Varandas o trouxe para Alvalade. E este é um facto que não me cansdarei de repetir, porque, o seu a seu dono. E gosto de dizer bem de quem o merece.
A este propósito e puxando o filme atrás, não consigo parar de rir ao lembrar-me da alucinação de alguns jornais que há umas semanas escreviam ter sido chumbada a iniciativa de alguns sócios do Sporting com vista à realização de uma assembleia destitutiva e consequente marcação de eleições antecipadas. Reflectindo sobre a loucura noticiosa, convenço-me que a coisa deve ter sido um fenómeno tardio, o impacto da lenta onda de choque saída de Woodstock e que só agora, décadas depois, bateu na tola da malta dos jornais.
Alguma vez no Sporting isso aconteceria? Há alguém? Algum sócio? Algum adepto? Alguém no seu plemo juízo que quisesse ou queira eleições no clube? Agora? Com a equipa de futebol à frente do campeonato há várias jornadas? O mesmo acontecendo em várias modalidades? É! É isso. A malta dos jornais deve ter flipado. Pôs-se a alucinar dando notícias daquelas.
Devo também confessar que além da conquista dos três pontos, da manutenção do primeiro lugar, ganhar a este Braga tem sabor especial. Pretendente ao estatuto de clube grande, pateticamente a isso já elevado pelos não menos patéticos comentadores que tanto poluem a antena; a agremiação de Braga é dirigida por um pretensioso presidente que deve ter os bicos dos pés em ferido de tanto neles se apoiar para parecer maior do que é. Gosto muito de ganhar ao Braga do boçal Salvador que por várias vezes nos faltou ao respeito e que ontem de forma categórica e onde isso tem de acontecer foi posto no lugar dele.
Uma palavra ainda para a azia de Carlos Carvalhal (com quem simpatizo e a quem reconheço mérito) e a sua indisfarçável irritação com a derrota. Reacção só explicada pelo auto-convencimento de que iria a Alvalade ganhar. Enfim, é esse o espírito que se deve ter quando numa competição, mas não devemos confundir essa postura com a outra do possuidor do direito natural de vencer.
É verdade que a sensação tida nas 12 jornadas já realizadas, em geral, e no jogo de ontem, em particular, não anula 19 anos de travessia do deserto, mas que maravilha é ir à frente de todos os emblemas. Sermos a melhor equipa do campeonato. Ganharmos e nunca perdermos com mérito e sem ajudas. Mesmo a sorte que às vezes nos bafeja (e ontem tivemo-la) é nossa por direito, que a mesma só protege os audazes. "Fomos eficazes, felizes mas fizemos por merecer. Estamos preparados para tudo e vencemos justamente", disse Rúben Amorim. Não diria melhor.